domingo, 13 de outubro de 2013

Consciência de Fraternidade

-CONTO-
Meu nome é Paulo. Andei por muitos becos do mundo, porque havia uma sugestão em minha cabeça: “Você é pobre... pobre não anda por avenidas, pobre procura atalhos, ruas paralelas, nunca a principal, lembre-se disso...”
Fui crescendo com essas palavras na mente... De fato, cheguei a pensar que pobre não era gente, minha conclusão era ser o pobre espúria da sociedade... Por essa razão, passei a ter medo dos ricos e em várias noites acordei chorando e gritando, pois, em meus pesadelos, eu os sentia bem perto de mim...
Quando estava na puberdade, um garoto rico desejou ser meu amigo. Era colega de es-cola, estudávamos em colégio público.
- Não posso - disse-lhe - você é rico, eu sou pobre. Ricos e pobres não se misturam.
Percebi no menino os olhos marejados, úmidos e uma vontade enorme de dar-me um abraço.
- De onde você tirou essas conclusões? Achegou-se e segurou-me a mão. Nunca ouvi tamanha asneira! - falou-me. - Vai, fale-me, com quem aprendeu isso? 
Exigia-me uma resposta. Eu, cheio de temores, procurava fugir, esconder-me, afinal, ele era rico; eu, pobre...
- Vamos, diga-me de onde tirou essas ideias - prosseguia insistindo por uma resposta.
Calado eu permanecia. Olhei para meus pés, notei a diferença. Eu usava sandálias; ele, um luxuoso e bonito sapato.
- Eis a diferença! Respondi-lhe apontando nossos calçados. Você é de um mundo, eu sou de outro. Jamais haveremos de nos concordarmos. É impossível!
- Quanta tolice! Resmungou. – Não importa donde você aprendeu isso... quero ser seu amigo e pronto...
Levantou-se. Tirou dos pés os sapatos e as meias. Entregou-me.
- É tudo seu. Leve para casa. Deixe-me suas sandálias, elas agora são minhas e não aceito recusas... 
Dito isso, calçou as sandálias e se retirou. Notei que ele se afastou chorando e não consegui atinar o motivo.
Duas semanas passei sem voltar à escola. Fiquei muito perturbado com a atitude daquele garoto. Quando retornei, lá estava ele com minhas sandálias nos pés e umas roupas mais simples. Parecia pobre como eu...
- Ah! Você voltou... Pensei que houvesse sumido. Trouxe-lhe um presente. É aquele pacote ali. Abra-o. Tudo dentro dele é seu e não me venha dizer que não aceita. 
Olhei ressabiado para o tal pacote. Era grande e meio pesado. Tive receio...
- Não se sinta humilhado. Eu ia mesmo fazer uma mudança em meu guarda-roupa.
Tremendo da cabeça aos pés, abri o pacote. Dentro havia as mais lindas roupas, nunca vira algo nem parecido.
- Não posso aceitar seu presente! Você é rico, eu sou pobre. Pobre não é gente.... Frisei.
- Que calamidade! Retrucou. Meu pai me ensinou que ser pobre ou ser rico é uma questão de consciência, não de bens materiais. Um dia morremos e tudo fica para trás. Por favor, diga-me, hoje, quem incutiu isso em sua cabeça? Mais uma vez exigia-me uma resposta. 
Não suportando mais aquela situação, desatei a chorar, copiosamente.
- Chore e desabafe... você é meu único amigo de verdade. Confessou-me. – Claro, depois dos meus pais. 
Consegui controlar-me. Enxuguei as lágrimas.
- Por que insiste em ser meu amigo? Nada tenho a oferecer-lhe... perguntei-lhe.
- Porque sei que é justo e sincero, honesto. Nunca olhou para o que tenho ou deixo de ter. É de um amigo assim que preciso. Em todos os outros desvendei mentiras e interesses e são ricos conforme você diz que sou. Eles não me interessam, são pobres de espírito...
- Quem ensinou você a falar tão bonito?
- Meus pais. Eles querem conhecer você. Falei-lhes que descobri um amigo de verdade e ficaram ansiosos por vê-lo. Afinal, aceita ser meu amigo?
Ainda meio desconfiado, apertei-lhe a mão.
- Sim, aceito. Acho que andei confundindo muito as coisas. Parece que estou a nascer de novo. Vejo um novo mundo a descortinar-se à minha frente. Obrigado por tudo isso!
E, de repente, estávamos nos braços um do outro, celebrando com o entusiasmo de um forte abraço o início de uma grande amizade.
- Mas você não me disse quem incutiu aquelas coisas em sua cabeça...
- Foi uma professora que tive antes de vir para cá... Ele me ensinou durante alguns anos, depois morreu, coitada! 
- Coitada mesmo! Deve perdoá-la, assim terá a cabeça livre e tranquila.
Fomos os melhores amigos por muitos anos e ainda hoje somos, apesar de ele ter par- tido para a Eternidade. Deus o abençoe, Daniel, em seu amor Infinito! 

FIM

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