sexta-feira, 25 de outubro de 2013

DESDÊMONA

Desdêmona
CAPÍTULO III

Através de Desdêmona, Alexandre conseguiu a cura. Ele, pai terrível, às vezes desumano, olhava para a filha sem entender bem a razão de sua atitude. Ela o tirou da morte certa, fora o último recurso, a única que foi compatível. Em seu olhar havia um brilho de interrogação e de contentamento. Um misto de sentimentos o fizera pensar, refletir o momento em que a vida o pôs à prova.
Desdêmona acabara de entrar em seu quarto, trazia-lhe o suco solicitado.
-Minha filha, tenho algo a falar para você. – Tomou coragem - muito obrigado por haver salvo minha vida. Disse.
- Não acho que seja a hora certa pare relatar o que tenho vontade. – Respondeu. – haverá sim uma conversa entre nós, meu pai, porém não hoje. Para tudo há adequação.
- Pode falar, minha filha. Sei que nunca fui um verdadeiro pai para você – desculpou-se – talvez seja esta a hora de fazermos uma reconciliação.
- Não há reconciliação onde jamais houve conciliação - protestou Desdêmona - você nunca me olhou como filha, nunca gostou de mim. Eu, idem, como posso admirar alguém que jamais me deu afetuosidade? Indagou e continuou . – eu não queria falar agora, contudo já que puxou o assunto, escute. Você me sonhava um menino, viu uma menina. Nunca me perdoou por isso, como se eu fosse culpada pelos desígnios da natureza.
- Hoje compreendo meu erro, Desdêmona - frisou - quero reparar todos esses anos de aspereza de minha parte. Perdoe-me, minha filha.
No olhar de Desdêmona as lágrimas brotaram. Por mais que odiasse aquele homem - ele era seu pai!
- Perdoado está desde o instante em que resolvi doar-lhe minha medula, nada mais há para ser perdoado. Está tudo certo, meu pai.
- Não, claro que não está – rebateu Alexandre - diga-me o que posso fazer para saldar esta dívida com você. 
Desdêmona pensou em Fabian, todavia desviou o pensamento.
- Não há o que pague a salvação de uma vida. Portanto, estamos quites.
- Temperamento nada fácil, o seu. Parece-me fria, às vezes. – Comentou.
- Sou do jeito que você me fez ver a vida. Muitas vezes insensível, reconheço. 
- Você pelo menos gosta de mim, minha filha?
- Serei sincera: não gosto! Só gosto de quem gosta de mim, é natural.
- Por que então salvou minha vida?
- Primeiro por minha mãe, ela morreria se você morresse. Segundo porque você é meu pai, independente de ressentimentos.
- Dureza! O que faço para amolecer este coração? - Quis saber Alexandre.
- Amolecer meu coração em relação a você? Nada! Tudo o que quero é viver minha vida da maneira que sonho, somente.
- Com o que você sonha, minha filha?
Desdêmona não queria, mas não deixou escapar a chance de falar.
- Sonho com minha felicidade. Não sou mais uma criança, sou uma mulher e toda mulher busca sua outra metade.
Alexandre impacientou-se, não era aquilo desejava ouvir, entretanto Desdêmona salvara sua vida. 
- E quem é sua outra metade? - Interessou-se.
- Não adianta dizer-lhe, você jamais me permitirá.
- Diga! – Alexandre exasperou-se.
- Fabian, filho de seu amigo Manuel. Nós nos amamos faz tempo. – Confessou.
Alexandre coçou-se todo. Ainda considerava Desdêmona muito nova, teria que aprender muito da vida. 
- Um bom rapaz – disse-lhe - dou-lhe o meu consentimento para o namoro.
Desdêmona fora pega de surpresa, não esperava que o pai houvesse o consentimento.
- Então ele pode vir aqui? - Perguntou ansiosa.
- Pode, mas antes quero ter uma conversa com ele, dar-lhe minha permissão cara a cara e que seja o mais breve possível.
Desdêmona não havia em si de alegria. Narrou à mãe, mandou recado para Fabian e este veio às pressas à sua casa. Navegava de felicidade.
- Então ele nos permitiu?
- Sim, quer conversar com você. Veja o que vai dizer-lhe. – advertia Desdêmona.
- Não há nada para esconder, Desdêmona. Nós nos amamos, resta-nos apenas buscar nossa felicidade. Eu a amo!
- Também o amo, Fabian - e muito!
Fabian foi diretamente à presença de Alexandre. Entrou nos aposentos com as pernas trôpegas, sabia que era um diálogo nada fácil.
- Entre, Fabian, seja bem-vindo! - Recebeu-o Alexandre.
- Obrigado.
- Sente-se. Esteja à vontade.
Alexandre deixou Fabian bem à vontade, bem folgado para a conversa.
- Só quero saber de uma coisa – afirmou Alexandre - você ama minha filha?
- Sim, amo-a!
- Não é qualquer paixão efêmera?
- Pode ter certeza que não, senhor Alexandre.
- É tudo. Dou-lhes minha bênção, desejo que se entendam e sejam felizes.
Muito pouco tempo namoraram... Tanto que se amavam e o casamento foi breve. Dez meses depois, já estavam habitando a mesma casa, apesar de tão jovens: 18 anos! 
Alexandre mudou totalmente seu temperamento , sua conduta dentro de casa. Tratava com muito dengo o filho Moisés e enchia de amor o coração de Esmengarda. 
O inverno chegara forte. Chuvas fortes ameaçavam a região, pois os rios, os açudes e as lagoas poderiam romper a qualquer momento. Esta era a preocupação de todos e, aliada a essa problemática, uma doença esquisita deixou Moisés à beira da morte. Não havia médico que conseguisse dar um diagnóstico preciso. Aos poucos definhava, para o
desespero de Esmengarda e Alexandre. Estavam todos reunidos na sala. O nervosismo tomando conta das faces tristes e esperando pela pior notícia. Foi neste ambiente pesado que Desdêmona pensou e teve uma luz em seu pensamento. Afastou-se de todos, concentrou-se e orou... orou... com profundo sentimento. Depois houve um brilho em sua mente, como se suas orações houvessem sido escutadas pelo Alto.
- Mãe, pai... tive um sonho acordada... disse - Moisés precisa de um especialista em rins – não sei como estou dizendo isto, mas é o que sinto após as preces que fiz.
Moisés foi levado às pressas a um especialista.

Fim do III Capítulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe o seu comentário.