segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Chocolate da Vida

CONTO
Chocolate da vida

Pedrinho chorava sua vida triste e estéril. Mais uma vez o pai chegara da rua sem trazer o seu tão desejado chocolate.
- Sinto muito, filho, foi mais um dia de tentativas nulas. Tempo jogado no lixo... mas Deus haverá de compadecer-se de seu velho pai.
- Não tem importância, painho, amanhã você traz... e, sentado no sofá, escondia o rosto por trás das almofadas, deixando as lágrimas escorrerem ressabiadas.
No dia seguinte, outra vez o herói de Pedrinho buscava em vão uma oportunidade de trabalho. 
- Lamento, professor, as vagas já estão preenchidas.
Cansado de perambular sob um sol causticante, de bater de porta em porta nos estabelecimentos de ensino, Sandro Medeiros estacou sob frondosa árvore. Sentou-se sobre suas espessas raízes, permitiu que convulsivo pranto lavasse seu rosto, fadigado e de esperanças mortas. Lembrou –se de como trabalhou duro no ano anterior, de como era querido dos alunos, porém... “Positivamente as pessoas perderam o senso do respeito, da fraternidade e da solidariedade humana...” pensava. “O ser humano tornou-se egoísta, maquiavélico”, voltava a pensar. Sua reflexão foi longe, compreendia neste instante a razão de tantos pais de família subirem nos transportes públicos para venderem suas
bugigangas, ou simplesmente para pedirem um óbolo. Eles tinham casa e família que dependiam deles e as portas de um trabalho digno fechavam-se aos seus pés. “Por quê?” Interrogava-se. “Por que sou velho? Por que já não possuo o vigor que os jovens gostam de reparar?” Questionava-se. “E minha experiência onde fica? E o nível de conhecimento que acumulo de nada mais serve? “ Indagava-se.
Ali mesmo onde estava colocou o rosto entre as mãos e... chorou. Chorou a angústia que lhe assaltava o peito. Chorou da amargura que a decepção da vida lhe trazia. Chorou pela hipocrisia das pessoas. Chorou porque o mundo olvidava a necessidade alheia. Chorou pela covardia de que fora vítima no ambiente em que trabalhara, pois, sabia, fora dispensado devido à sua idade e também porque havia um grupo que dominava o ambiente e tudo faziam para serem as vedetes e colocar nos postos de serviços suas amizades mais .”chegadas”...
Recostou a cabeça ao tronco da árvore e dormiu. Foi um breve sono, mas o suficiente para sonhar e seu estado onírico levou-o a regiões em que se destacavam estações floridas, e seres alados. Compreendeu que estava além dos céus, entre os anjos, numa dimensão da vida onde não havia dor, lágrimas, injustiças, só havia sorrisos, abraços, amor... E despertou sorrindo, porque alguém pensando tratar-se de um pedinte, deixou-lhe uma moeda aos pés e, com os centavos, pôde comprar o tão esperado chocolate de Pedrinho. Apenas neste momento sorriu pela alegria que daria ao filho ao chegar em casa, entretanto, ao dormir à noite, nunca mais se acordaria para ir em 
busca da tempestade alheia. O coração cessaria de bater nesta terra em que sempre vence o mais forte.

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