sábado, 2 de novembro de 2013

A Vida Continua...

A vida Continua...
CAPÍTULO III

Três meses à frente. Com bastante trabalho, os advogados conseguiram, finalmente, desvendar o cartório onde Marco Aurélio houvera sido registrado. Pediram o registro e, dele, várias cópias. Deram entrada na Justiça ao pedido de adoção e diversas audiências aconteceram. O que se buscava nessas audiências? Tinham como objetivo tentar descobrir 
parentes do garoto, mas, até então, tudo fora infrutífero. Só na sexta audiência, após percorrerem várias estradas, localizaram senhor Manoel, ex-amigo de Alexandre, pai de Desdêmona. Velho, porém ainda lúcido, senhor Manoel fora levado à audiência, pois, ele como avô de Marco, tinha em si, em primeiro direito, a prerrogativa de ficar com o menino, contudo essa não foi sua disposição.
- Não posso ficar com ele - disse - além de estar quase caduco, faltam-me condições financeiras para dar-lhe uma boa educação. Definitivamente, não posso tê-lo em minha companhia.
- Sendo assim - afirmou o Juiz - aceitarei a solicitação do Senhor Flávio Vasconcelos que deseja adotá-lo. 
- Pois que se cumpra a vontade deste senhor - dispôs senhor Manoel - além do mais, não sou verdadeiramente avô deste jovem... 
- Como não, vô ? - Indagou Marco Aurélio sem compreender o que Senhor Manoel afirmava - como pai de meu pai Fabian, o senhor é meu avô, sim... 
- Essa é uma longa história - confirmou senhor Manoel - Fabian não era seu pai, na realidade. Você foi doado a Desdêmona e Fabian para ser registrado por eles como filho verdadeiro. 
- Quem foram esses doadores? - Interrogou Marco.
- Seus verdadeiros pais: Esmengarda e Alexandre.
- Então, ao invés de ser filho de Desdêmona, eu sou irmão dela - asseverou Marco.
- Exatamente - concordou senhor Manoel.
- Mas... por que agiram dessa forma ? – Indagou Marco, impaciente.
- Porque Desdêmona não podia engravidar, logo doaram você assim que nasceu. Foi um ato de amor de Esmengarda e Alexandre a Desdêmona e Fabian.
- Moisés, então, era meu irmão e não tio...
- Está decepcionado ? - Perguntou senhor Manoel.
- Nem sei o que dizer – respondeu Marco - estou é surpreso, porém, decepcionado, nunca... sim, foi um ato de muito amor... muito amor...
Dizia e enxugava as lágrimas com a ponta da camisa.
- Compreendo tudo. Não tenho mais parente de sangue vivo... Mas acabo de ganhar uma família. Estou bastante feliz. Por favor, senhor Juiz, conceda a Flávio Vasconcelos minha adoção. Amo a ele, sua esposa e meu irmão, Lucas. Deus me abençoou...
Assim foi feito. Marco Aurélio até pediu para adotar o sobrenome Vasconcelos, no que foi prontamente atendido. Todos saíram do fórum sorridentes e felizes. Imediatamente se dirigiram à escola onde Lucas estudava, ali Marco Aurélio igualmente estudaria. Foi feita a matrícula numa série inferior a de Lucas, no entanto tal fato pouco importava, o que interessava mesmo era que o jovem já pertencia oficialmente à família, era irmão de Lucas e filho de Flávio e Margarida, tão quanto o próprio Lucas. Marco Aurélio contara em que escola houvera estudado e para lá rumaram em busca de sua documentação de transferência. O diretor do estabelecimento, professor Juvenal, parabenizou-o. 
- Que bom, Marco. Você está vivo e ganhou uma família, isso é tão importante! Meus sinceros parabéns e que Deus ilumine você e seus novos familiares.
- Grato, professor. Deus também o ilumine.
Agora eram dois a se acordarem cedo para ir à escola. A condução ganhara mais um passageiro. Marco precisou de empenhar-se bastante nos livros, porque o nível daquela escola era alto, muito puxado, todavia como inteligente que era, venceu facilmente esses obstáculos. Sua relação com Flávio, Margarida e Lucas era de profundo amor.
Sábado. Festa na escola. O aniversário de fundação do colégio foi comemorado com um grande baile que se iniciou às 20 horas. Havia muita gente, quase todos os alunos compareceram e ainda levaram seus convidados. A festa prometia. Marco ficou visivelmente encantado com Pollyanna, uma garota que ali estava a convite dos amigos e que, por sua vez, também se impressionara com Marco.
- Vamos dançar ? - Pediu Marco.
- Sim, é um prazer! - disse a moça.
Dançaram a noite inteira, não se largaram mais. Beijaram-se, trocaram carícias e Marco perguntou.
- Onde você mora?
Pollyanna forneceu-lhe o endereço. A festa acabara, porém Marco não tirou Pollyanna da cabeça. Na primeira oportunidade que teve, foi vê-la em sua casa num dia à tarde, pois, não saía à noite e, nos fins de semana, estava fora, com a família.
- Posso subir? -Perguntou Marco. 
- Estou só em casa, mas pode...
E, ambos sozinhos, deixaram-se levar pela ousadia dos sentimentos e tudo aconteceu...
Pollyanna também conhecera Lucas e, da mesma maneira, impressionara-se com ele. Igualmente a Marco, tinha Lucas em suas mãos. Só que Lucas não imaginava que Marco se relacionara tão intimamente com Pollyanna. Nem mesmo desconfiava que havia namoro entre eles e se deixou seduzir pela moça. Encontrou-a da mesma forma em sua própria habitação , Pollyanna, estando outra vez sozinha, entregou-se por completo a Lucas Vasconcelos.
Pollyanna namorava a ambos. Conseguia despistar um do outro e, em horários distintos, consumia-os. Na verdade, estava indecisa em relação aos dois jovens... Lucas ou Marco? Esta dispunha-se a ser sua grande dúvida. Conscientemente sabia que haveria de decidir-se por um deles, entretanto quando por um se decidia, o outro chegava em sua mente. Não conseguia escolher! Estava apaixonada por ambos... Assim levou por algum tempo,
mas houve um momento que não deu para livrar-se dos dois ao mesmo tempo. Foi no dia do seu aniversário. Lucas e Marco, apegadíssimos um ao outro, viram-se de repente envolvidos por numa situação que poderia manchar aquela amizade, aquele sentimento que os unia cada vez mais.
- O que você faz aqui, Marco? - Perguntou Lucas.
- Eu que pergunto: o que você faz aqui, Lucas ?
E se olharam, ambos, com os olhos molhados, pois, em seus íntimos, já desvendavam ser a mesma razão.
- Vim ver minha namorada - retrucou Lucas - hoje é o aniversário dela.
- Que coincidência! - afirmou Marco - eu também vim ver minha namorada, hoje é, da mesma forma, o aniversário dela.
- Qual o nome de sua namorada? - Questionou Lucas.
- Pollyanna! - disse Marco.
- Não pode ser... – frisou Lucas - Pollyanna é minha namorada...
Neste exato momento, Pollyanna aparece. De imediato entende o que se passa. Havia em si a consciência de que isto um dia aconteceria.
- Preciso explicar-me - disse - sou a culpada por isto. Eu namoro a ambos porque os amo do mesmo jeito. Não consigo escolher um...
Lucas e Marco se olharam. Tomaram a mesma decisão. Marco, que trazia um fino ramalhete, jogou-o no rosto da jovem... Lucas, que trazia consigo um presente, atirou-o ao chão.
- Esqueça –me a partir de hoje, Pollyanna - disse Lucas chorando - você não presta!
Marcos imitou-o.
- Vagabunda! Não me procure mais...
Aos prantos, Pollyanna interveio.
- Esperem! Tenho uma solução para este impasse - sugeriu - ficarei com um só dos dois, com aquele que vencer a luta. – Propôs.
- Que luta ? - Interrogou Marco.
- Proponho que vocês briguem, lutem e, aquele que vencer, fica comigo e eu só com este...
Lucas topou...
- Aceito, porém não pense que esta luta seja em sua frente, nós resolveremos em casa. O que aqui retornar será o vencedor e ficará com você. O que perder a esquece e se conforma.
- Concordo - disse Marco - aguarde o vencedor.
Partiram em silêncio. Grande angústia os dominava. No íntimo não deviam medir forças por uma garota que já demonstrara não possuir caráter e ambos sabiam que haviam si- do enganados. Chegaram em casa sem dizer palavra. Só em seus olhares se percebia o momento difícil que haviam de enfrentar. Os pais não estavam, tinham viajado a negócios e os garotos estavam sós. Cada qual ficou em si mesmo, no aguardo do instante em que uma conversa definitiva haveria de ocorrer. Esperaram anoitecer. Após o jantar e
logo que os empregados se foram, afinal, resolveram pôr em pratos limpos aquele desagradável incômodo.
- Então, Marco, ela é sua namorada? - Perguntou Lucas.
- Sim... e também é sua ?
- Sim, mas ela é minha...
- Nada disso, Marco - ele é minha.
- É minha!
- É minha!..- contestou Marco.
- Eu a beijei várias vezes - afirmou Lucas.
- Ah, eu também por diversas vezes a beijei. – confessou Marco.
- Eu tive relações íntimas com ela – Lucas disse.
- Grande coisa! - debochou Marco - Eu a tive, igualmente.
Chegaram junto um do outro. Choravam... Ironicamente Lucas passou a mão pelo rosto de Marco. Este devolveu, provocantemente... Lucas foi para cima de Marco, agarrou-o, esbofeteou-o no tórax, várias vezes. Marco livrou-se do golpe e o prendeu entre as pernas, espancando-o nas costas, depois no tórax. Lucas conseguiu escapar e o atacou pelas costas, esmurrando-o, repetidamente. Ambos caíram e rolaram pelo chão, abraçados e tentando atacar-se mutuamente. Lucas fugiu, empurrando-o para longe, Marco foi ao seu 
encalço. A luta estava eletrizante, contudo, nos golpes que davam, embora fortes, havia um tremendo respeito dos dois lados para que um não machucasse o outro.
- Chega! - gritou Lucas - estamos brigando por uma causa pedida - Eu amo a Pollyanna, mas muito maior é o que sinto por você...
A estas alturas, estavam ambos rasgados, sujos, com marcas de mãos em seus corpos.
- Realmente - replicou Marco – sejamos prudentes. Muito mais forte é o que existe em meu coração em relação a você. - Confessou Marco - vale a pena, Lucas, levar adiante uma luta por alguém que não nos merece ?
Lucas Vasconcelos não deu resposta. Apenas sorriu. Depois despiu-se totalmente , colocou as vestes rasgadas sobre uma cadeira da piscina e caiu na água. Marco o imitou. Despiu-se, juntou àquele vestuário esfarrapado , suas roupas, no mesmo lugar onde Lucas pusera as dele e também caiu na água.
- Não - disse Lucas - é claro que não vale a pena. Nunca valerá...
Brincaram na piscina até 3 horas da manhã. Saíram. Com as roupas imprestáveis se enxugaram e entraram em casa. Foram direto para o quarto e adentraram ao mesmo tempo no chuveiro e tomaram um banho de verdade. Estavam em silêncio e com uma enorme vontade, ambos, de se abraçarem e apagar de suas mentes aquela luta que tiveram. Finalmente aconteceu o abraço, choraram um no ombro do outro. O restante da
madrugada foi criança para a intensidade de sentimentos que os envolveu. Nunca mais haveriam de esquecer aqueles instantes, momentos que seriam guardados para sempre em suas memórias.

FIM DA CAPÍTULO III

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