segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O JURAMENTO - CAP. III

O JURAMENTO
CAPÍTULO III

III

Por ironia do destino, combinaram entrar para a mesma ordem religiosa. Ele, na ala dos rapazes; ela, do outro lado dos muros altos... Pouco se viam, só mesmo durante o horário dos ofícios, às 5 da manhã, às 11 e 30 e às 18 horas, diariamente. Trocavam muitos olhares, mas não era permitido que se falassem.
Os anos se passaram rapidamente. Chegou o dia da ordenação de Eduardo, o que foi uma festa. Seus pais e familiares compareceram, bem como a família de Alice. Alice já havia cumprido votos e servia na mesma ala, só separada pelos imensos muros altos... Neste dia, Alice conseguira uma permissão especial para assistir à ordenação. A igreja estava lotada. Após a ordenação, depois de muitos anos, Alice e Eduardo voltavam a dialogar.
- Parabéns, Dudu! Você é um homem de palavra. Está feliz?
Eduardo tinha lágrimas nos olhos, procurou disfarçar, mas não conseguiu...
- Veja só, está chorando de emoção...Que coisa linda, Dudu!
- Sim, estou feliz, muito feliz... Disse, enganando seu coração. Não tendo mais coragem de ali permanecer, pediu licença e se retirou. Os convidados já haviam ido embora e Alice, igualmente com os olhos marejados , dirigiu-se aos seus domínios.
Eduardo era homem de poucas palavras. Ficou, inicialmente, a servir ali mesmo, sendo o responsável pelo ofício das 5 horas da manhã. Alice o via todos os dias, mas ficava perturbada pelo fato de Eduardo não dirigir-lhe o olhar. O sacerdote olhava para o alto, para os lados, para o chão, menos para os cobiçosos olhos de Alice. Ela estranhava, mas não havia em si coragem para inquirir de Eduardo sobre o fato. E o tempo passando...
Um ano depois, Eduardo solicitou uma audiência com o seu superior, no que foi prontamente atendido.
- Irmão Heitor, tenho cumprido fielmente minhas obrigações de religioso, o senhor é testemunha disso...
Sem entender, o Superior perguntou...
- A que se refere, Irmão Eduardo?
- Quando entrei aqui, anos atrás, li no regulamento da Ordem, que o religioso que desejasse ter algum compromisso fora dos muros da instituição, teria a permissão desde que o que viesse a fazer servisse para o andamento de sua casa religiosa.
- Sim, isto é verdade. O irmão pensa em alguma coisa?
- Penso. Tenho o sonho de estudar Direito, gostaria de contar com o apoio inconteste de Vossa Paternidade para realizar esse intento...
- Brilhante, meu filho! A permissão está dada. Providenciarei tudo para que o irmão realize seus desejos.
Assim ocorreu. Eduardo prosseguia com o ofício às 5 da manhã, logo depois encaminhava-se para o refeitório, tomava seu café matinal e saía para a faculdade. Isso levou exatamente 5 anos. Formara-se em Direito, porém Alice não sabia dessa novidade.
Certo dia, após o ofício da manhã, Alice procurou Eduardo na sacristia, antes mesmo que ele saísse.
- Dudu, necessito de falar com você.
- Não temos nada mais em comum para nos falarmos, desculpe. Além do mais, sabe que é proibido vir até aqui, como se atreve?
- É urgente. Minha madre superiora está delirando, a qualquer momento morre, precisa da extrema unção.
- Há outros sacerdotes na Ordem, pode procurá-los.
- Não! É necessário que venha agora!
Eduardo lembrou-se de que não poderia negar. Saiu em companhia de Alice da sacristia e tentou localizar o Superior. Obteve a ordem para ir até a outra ala, além dos muros altos... Deu a extrema unção à referida Madre que já agonizava, inconsciente. Depois, sentou-se, desanimado.
- Que há, Eduardo? Não passa bem ? - Interrogou Alice.
Eduardo levantou o olhar, encarou os lindíssimos olhos azuis de Alice. Não estava conseguindo mais suportar... Levantou-se de repente, abriu o verbo...
- São muitos anos de agonia em minha vida. Maldito juramento!
Pega de surpresa, Alice recuou. Não conhecia este lado do amigo.
- Acho que você está cansado, Eduardo, é isto. Deveria pedir ao seu superior umas férias. Desde que aqui entrou, só aqui atua, não seria melhor conhecer outras paragens?
- Não, Alice! Minha única paragem é você! Eu a amo, Alice! Não suporto mais esconder meus sentimentos. Vou terminar enlouquecendo...
E, sem dar à Alice qualquer chance de reação, tomou-a nos braços e a envolveu num profundo beijo. A freira não esboçou reação, mas logo o separou de si.
- Você enlouqueceu? Hoje somos religiosos, não repita mais isso...
Não obstante Eduardo pareceu não escutar o que dissera Alice. Novamente investiu contra ela, beijando-a sem parar... Levada inconscientemente por seus desejos mais íntimos, Alice levou Eduardo até seus aposentos, a poucos metros dali. Então aconteceu o que há muito deveria ter ocorrido. Ainda bem que estavam a sós...

FIM DO CAPÍTULO III

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