terça-feira, 19 de novembro de 2013

O JURAMENTO - CAP. IV

O JURAMENTO
CAPÍTULO IV

IV

Exatamente quatro meses depois daqueles acontecimentos, outra vez Alice procura Eduardo após o ofício da manhã, na sacristia.
- Dudu, é muito sério o que tenho para dizer-lhe, não pode ser aqui. Arranje uma desculpa e saia, eu o espero na floricultura a cinco quarteirões daqui.
E não deu oportunidade a Eduardo para qualquer resposta. Retirou-se. Eduardo ausentou-se com uma desculpa. Alice estava à sua espera no lugar combinado.
- O que tem assim de tão sério para dizer-me?
- Você não imagina, Dudu?
- Claro que não, não sou adivinho.
- Estou grávida, Eduardo, e estou desesperada!
Eduardo, pego de surpresa, ficou meio atônito. Nem raciocinou direito...
- O que foi que disse?
- Eu disse que estou grávida, que fazer agora?
- Isto é maravilhoso! Depois de tantos anos!
- Não brinque, você é o pai...
Finalmente Eduardo compreendeu do que se tratava e da seriedade do problema. Então, com calma, elaboraram um plano de ação. Neste plano, nem a Ordem, nem a família de Alice poderiam saber o que estava acontecendo.
- Entrarei em contato com meus pais, você passará o restante da gravidez em nossa casa de campo, onde tranquilamente trará nosso filho ao mundo. Depois, você retorna para a sua vida normal de religiosa.
- E seus pais concordarão com isso?
- Não tenho dúvidas e a eles deixaremos a incumbência de criar a criança. É tudo o que temos de fazer, Alice.
Tudo foi feito como combinado. Alice logo tratou de pedir uma licença em sua vida de religiosa, no que foi atendida. Alegou motivos de saúde e de que necessitava de ar puro para restabelecer-se. Meses depois, trazia um lindo garoto ao mundo, que se chamou Moisés. Três semanas após o parto, Alice estava de retorno à sua costumeira vida. Sempre que podia, Eduardo visitava o filho, era sua cara...
Certa madrugada, Eduardo saiu dos seus aposentos e foi dar um passeio pelos jardins da Ordem. Estava muito quente e ele estava a precisar de ar fresco. Coincidentemente, Alice fizera o mesmo, mas os portões estavam fechados e eles se descobriram e se falaram pela grade, quase sussurrando.
- Que faz por aqui a estas horas da noite, Eduardo?
- Certamente, o mesmo que você, Alice. O calor está insuportável e agora piorou, depois que vi você.
E tomou uma atitude intempestiva. Pulou as grades dos jardins e foi ter com Alice.
- Meus Deus! Eduardo, você é louco mesmo!
Novamente foram para os aposentos de Alice. Entregaram-se ao amor, nada mais podiam contrariar aquela paixão...
Eduardo acabara de celebrar o ofício. Alice o esperava na sacristia, estava nervosa.
- Você, por aqui?
- É. E como não há ninguém aqui, digo-o imediatamente: estou grávida outra vez.
- Não! Mas que sorte a sua!
- Que faremos, Dudu?
- O mesmo da outra vez, não há outra saída...
Mais uma vez Alice pede licença à Ordem e segue com destino à casa de campo da família de Eduardo. Meses depois, traz ao mundo dois lindos garotos: Isaac e Ismael. Gêmeos!
Na quarta semana após o parto, lá está de retorno à sua vida, agora já meio sem sentido. Tentava, de todas as maneiras despistar, levar uma vida de concentração, porém seu pensamento se encontrava em seus filhos. Por mera coincidência, foi chamada a fazer as compras da semana para a ala feminina, e quem ela encontra na supermercado: Eduardo!
- Matando o tempo, cavalheiro?
- É, matando o tempo... Que bom vê-la!
- Digo o mesmo.
- Venha, quero confidenciar-lhe meus projetos, isto inclui você. Sente aqui um pouco...
- Inclui a mim...por quê?
- Porque você é a mãe dos meus filhos e eu a amo, Alice!
- O que pretende fazer, Eduardo?
- Peço que não me atrapalhe, deixe-me falar até o fim.
- Está bem, prometo...
- Há algum tempo, com autorização dos meus superiores da Ordem, consegui estudar direito e tenho atualmente me dedicado em todas as minhas horas livres, a estudar, sempre me atualizando, pois pretendo fazer um concurso...
- Eduardo, você é um padre !
- Sim, por enquanto, sou. Pretendo pedir baixa de minha vida religiosa e dedicar-me aos meus filhos e a você... você também pediria baixa e nós nos casaríamos, afinal temos 3 filhos para criar. Temos tudo para sermos felizes, Alice.
- Não! Nunca! Jamais deixarei minha vida de freira, jamais! Cumprirei meu juramento até o final dos meus dias!
E, dizendo isso, retirou-se e desapareceu no meio da multidão...

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