quinta-feira, 31 de julho de 2014

Entre a Cruz e a Espada

NOVELA - ROMANCE
Publicarei a partir de hoje e em capítulos diários, meu romance ENTRE A CRUZ E A ESPADA. Espero que gostem!
I
Nasceu de Novo...
Fazia duas horas e meia que o avião decolara. O piloto havia perdido contato com a torre de controle. A aeronave perdia altura cada vez mais e foi caindo... caindo... afinal engolido pelas águas do largo oceano. Duzentos e trinta e seis passageiros. Aparentemente sem sobreviven-
tes. A notícia tomara conta da mídia. Parentes, conhecidos e amigos dos passageiros buscavam, aflitos, informações sobre a possibilidade de sobreviventes, mas... nada! A tragédia fora dada como perda total, ninguém houvera conseguido escapar. Difícil fora a remoção dos corpos,
muitos haviam desaparecidos, embora os destroços, quase intactos, pois não houve explosão, mostrassem ter sido quase impossível que alguém haja logrado sair ileso da catástrofe. Constatou-se, posteriormente, que a pressão do mar abrira uma das portas, por onde, talvez, alguns corpos hajam sido sugados pela correnteza. O fato foi que a empresa aérea divulgou uma lista com os nomes dos 236 passageiros, todos considerados mortos.
Alguns dias se passaram após o acidente. O mar permanecera agitado e uma leve chuva trazia do horizonte um friozinho que causava leves arrepios. Mesmo com o tempo incerto, Fernando Cintra saíra para seu costumeiro “cooper” da manhã. Eram 5 e meia, o dia ainda nascia, o sol
permanecia meio escondido. Fernando Cintra agora caminhava pela areia, tudo estava deserto. Já perto de casa, divisou um corpo jogado sobre as pedras. Percebeu tratar-se de um jovem que, se muito tivesse, haveria 15 anos. Chegou perto. À primeira vista parecia morto, porém Fernando observou uma tênue respiração. Estava vivo! Colocou-o nos braços e o levou para sua casa, era evidente que necessitava urgentemente de um socorro. As roupas do jovem estavam ensopadas e, nos pés, apenas um sapato. Deitou-o no sofá, tirou-lhe aquelas vestes
molhadas, trouxe uma toalha e o enxugou. Era preciso banhá-lo com água quente, a pele parecia engelhada pelo frio cortante. Foi à cozinha e colocou água numa chaleira para esquentar, depois dirigiu-se ao banheiro, onde juntou água numa bacia. Preparou sabonete, xampu
e os demais acessórios. Ao notar que o banho estava pronto, voltou à sala terminou de despir o jovem e o carregou até o local em que pusera a bacia. Lavou-o com carinho em todas as partes daquele corpo magro, contudo bonito e bem dividido. Concluído o banho, enxugou-o
com uma toalha e o depositou em sua própria cama. Penteou os cabelos e o deixou desnudo, porque suas roupas estavam molhadas e Fernando não havia em casa roupas adequadas para ele. O jovem parecia estar melhor da respiração e Fernando percebeu que mexia com os dedos
das mãos. Aos poucos foi despertando daquele torpor e, finalmente, abriu os olhos. Tentou reconhecer onde estava, que ambiente era aquele. Tudo era-lhe desconhecido, inclusive a voz que lhe deu boas-vindas ao lar.
- Não sei quem é você, nem o que ocorreu, só sei que o encontrei desfalecido sobre as pedras e o trouxe para minha casa. Meu nome é Fernando Cintra...Prazer em conhecê-lo! Qual é mesmo seu nome?
O garoto o olhou desconfiado e em seus olhos percebia-se um nuvem de lágrimas.
- Diga-me seu nome – insistiu Fernando – e o que aconteceu com você...
- Tenho fome! – Foi o que conseguiu balbuciar.
Imediatamente Fernando foi à cozinha e lhe preparou um alimento pastoso de aveia, pois, julgou que, com a fraqueza em que se encontrava, ele não conseguiria mastigar sólidos. Arrumou-o na cama, subiu o travesseiro a fim de que houvesse uma posição confortável para o desconhecido se alimentar. Fernando sabia-o faminto, porém não viu qualquer movimento em direção à comida, então sentou ao seu lado, à beira da cama e com uma colher alimentou-o, delicadamente. Com certeza o menino estava com fome visto que nada sobrou do que Fernando trouxera.
Mais uma vez falou, mas de modo quase ininteligível.
- Tenho sede!
Fernando lhe trouxe água gelada num copo e já pensando que ele não teria acesso por si só ao conteúdo, trouxe também canudos. O rapaz sugou a água num segundo e, depois, repentinamente, adormeceu de forma profunda. Ainda bem que Fernando Cintra se encontrava em gozo de férias por conta própria. Era autônomo, trabalhava com vendas de peças para carros, motos, caminhões, tratores, bicicletas... Era viúvo, perdera a esposa fazia 4 anos e não tinha filhos. Morava só, contava 30 anos. Precisou sair para comprar alguns mantimentos e o fez apressadamente. Em sua mente havia algumas interrogações: quem seria aquele menino? O que positivamente houvera ocorrido a ele? Deveria entregá-lo às autoridades competentes? Tomou a seguinte resolução: até que o menino pudesse falar e esclarecer tudo o que desejava saber, mantê-lo-ia em sua casa e no mais absoluto silêncio, não havia motivos para comentar o fato com quem quer que fosse. Dedicou-se inteiramente à recuperação daquele jovem a ponto de, no quinto dia, sentir-se
afeiçoado a ele como se o mesmo fosse seu filho. Enquanto não voltava à realidade, o menino era tratado com dedicação e bastante carinho. Fernando fazia a higiene quando de suas necessidades fisiológicas, dava-lhe banho, alimentava-o. Somente no quinto dia Fernando perce-
beu-o bem melhor, o olhar mais vivo e um maior interesse em saber onde estava.
- Onde eu estou? Quem é você? – Indagou a Fernando.
- Eu sou Fernando Cintra. E você, quem é? Qual é seu nome?
- Meu nome é Alan. Alan Pinheiro. Onde estão meus pais e minha irmã? – Perguntou.
- Eu não sei – respondeu Fernando – preciso saber de você o que aconteceu. Tem alguma lembranca do que possa ter ocorrido?
- Vaga lembrança... avião... água... gritos...
Foi quando Fernando Cintra entendeu o que mais ou menos acontecera. Estava diante de um sobrevivente do acidente aéreo ocorrido há poucos dias.
- Não se esforce muito agora, Alan. Descanse, posteriormente eu o ajudo a concatenar suas ideias. Diga-me apenas: que idade tem?
- 14 anos e... por que estou nu?
- Porque suas roupas não prestaram mais, no entanto vou comprar tudo novo para você...
- Eu tenho vergonha...
- Não necessita ter vergonha, aqui só há eu e você.
O menino nada mais disse. Voltou a adormecer. Fernando ficou a prestar atenção ao seu sono, agora mais leve e mais profundo. A verdade é que Alan melhorava e, logo, estaria de pé. Para não contrariá-lo, no dia seguinte saiu e comprou algumas roupas leves, como calções de algo-
dão e camisetas, somente por enquanto. Desta vez, Alan dormiu durante longas horas. Quando se acordou no dia seguinte, verificou-se vestido e estava mais disposto. A cama em que Fernando dormia era cama de casal, a única existente ali. Olhou e percebeu que Fernando ressonava ao seu lado, mas logo despertou.
- Bom dia, Fernando! – a voz estava bem mais legível – Posso tentar levantar-me?
- Calma – disse Fernando – deixe-me ajudá-lo.
Alan conseguiu ficar de pé, porém foi acometido por uma tontura, talvez pelo fato de tanto tempo deitado. Fernando o segurou, evitando que ele levasse uma queda.
- Devagar você vai tentando e eu o ajudando, logo estará bem – confortava Fernando.
- Tenho muito de agradecer a você por tudo o que está a fazer por mim.
- Nada faço esperando agradecimentos ou recompensas. Faço por ser cristão e o ensinamento bíblico é bem claro: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.”
- Sim, é verdade. Você é um santo...
- Não diga isso, Alan. Sou uma pessoa igual a você, apenas mais velho um pouco.
- Estou com calor – disse Alan.
Fernando o despiu e o levou para o banheiro onde lhe deu um banho. Trouxe-o de volta à cama e o vestiu com roupas limpas.
- Está com fome? – Fernando perguntou.
- Sim.
Fernando providenciou seu desjejum. Agora ele já comia coisas sólidas. Aos poucos se restabelecia.
- Quero conversar. Você me escuta?
- Claro – respondeu Fernando – fale-me sobre o que quiser.
- Tenho agora lembrança de tudo o que me aconteceu. Posso dar-lhe em detalhes, se assim tiver interesse em conhecer minha história.
- Conte-me tudo – pediu Fernando – há muito desejo saber o que se passou com você.
- Éramos quatro: eu, minha mãe Olívia, meu pai Arthur e minha irmã Sulene. Vivíamos numa cidade do interior do Pará. Meu pai estava endividado, devia até os cabelos da cabeça. Como ele não tinha como pagar, tiraram-nos tudo o que puderam: casa, móveis, pertences pessoais... tudo! Meu pai havia guardado uma pequena quantia e, com esse dinheiro, comprou nossas passagens de avião, estávamos indo para São Paulo, onde pretendíamos recomeçar nossa vida. Fomos obrigados a sair de nossa cidade, pois, como já não possuíamos bens para resgatar as dívidas, estávamos ameaçados de morte. Foi aí que tudo ocorreu. Pegamos o avião, mas houve o desastre e eu acho que fui o único sobrevivente dessa tragédia.
- A empresa aérea informou que todos morreram, que não houve sobreviventes. Você se lembra de como conseguiu escapar?
- Tenho uma ligeira lembrança de que, quando o avião chocou-se com a água, uma das portas se abriu e consegui passar. Cheguei à tona e nadei o que pude, acho que a correnteza marinha levou-me e me deixou onde você me encontrou. É o que posso lembrar-me...
- Quando estiver recuperado, o que pretende fazer? – Quis saber Fernando.
- Eu não sei! Não tenho aonde ir. Também não desejo que saibam que sobrevivi, certamente os credores de meu pai procurarão por mim e tentarão matar-me...-Alan chorava.
- Ninguém vai saber que você sobreviveu. Ninguém sabe que você está aqui. – Falou Fernando.
- Com certeza você tem seus afazeres e sua família para dar atenção, não vai querer preocupar-se mais comigo. – Alan se lamentou.
- Que eu tenho meus afazeres, não há dúvidas, porém familiares, não. Vivo só. Sou viúvo há quase 5 anos e não tenho filhos. Você gostaria de recomeçar sua vida morando comigo definitivamente?
- Você faria isto? Por quê? No fundo, sou um desconhecido..
- De tanto cuidar de você nesses dias, de tanto dar-lhe banho, dar comida em sua boca e até fazer sua higiene pessoal, eu me afeiçoei a você. Estou disposto a aceitá-lo aqui ao meu lado para sempre, ou até quando desejar...
Alan era um garoto bastante emotivo, então se emocionou profundamente com o que estava a ouvir de Fernando Cintra.
- Eu quero ficar com você!
Disse isto e buscou o abraço de gratidão. Deixou-se cair sobre o ombro de Fernando e chorou, e chorou, e chorou...
- Tenho uma ideia. – Disse Fernando.
- Qual?
- Diante de tudo o que você me relatou e estando você oficialmente morto diante da lei, poderei dar a você um novo nome e sobrenome. Já que é uma vida nova, então que se faça tudo novo.
- E como você conseguiria isto?
- Tenho amigos importantes como donos de cartórios, advogados, donos de escolas... Todos há muito meus clientes. Sou autônomo, trabalho com vendas e representações de peças de carros, automotores e bicicletas. Eu falo com um tabelião amigo meu e ele registra você como se fosse filho meu e de minha esposa que faleceu... de posse da nova certidão de nascimento, eu falarei com uma dona de escola e ela me facilitaria já com seu novo nome, uma ficha 18, isto é, como se você houvesse concluído o fundamental e o restante, daqui em diante, seria por sua conta, porque eu o matricularei numa escola. Tiraremos sua identidade, seu CPF, tudo
regularizado para você ter uma existência normal.
- Na realidade eu tenho o fundamental completo... iria matricular-me em São Paulo no 1º. médio.
- Você quer que eu faça tudo isto para você? – Fernando inquiriu.
- Sim, eu quero. Serei oficialmente seu filho e isto me agrada.
- Isto me agrada também a mim.
- Como é seu nome completo?
- Fernando Cintra Oliveira de Souza.
-Posso escolher meu próprio batismo?
- Claro! Que nome pretende dar a você?
- Matheus. Passo a chamar-me Matheus Cintra Oliveira de Souza. Fica bem este nome?
- Perfeito!
Tudo ficou combinado entre ambos. Aguardavam, agora, que Alan se recuperasse totalmente para pôr em prática o que houveram combinado. Não foi difícil, em duas semanas Matheus já estava de posse de sua certidão de nascimento, da ficha 18 da escola e tinha identidade e CPF.
Uma nova vida estava a começar para ele e para Fernando Cintra e os ventos iriam soprar sobre eles, ora forte, ora leve e as folhas das árvores iriam sorrir perante aquela suntuosa harmonia que surgia, uma relação de amizade que prometia singrar as mais altas montanhas e trazia do infinito, as bênçãos dos céus.
FIM DO I CAPÍTULO

Terapêutica Filial

Certamente eu não me amei nem um pouco,
Apaixonei-me da vida apenas pelas fantasias,
Hoje lembro o que meus pais videntes me diziam,
Agora vejo que minhas paredes perderam reboco.

Ligação filial é sorte grande, jamais é indiferente,
A experiência de vida escolhe o que há de melhor,
A essência da existência ramifica-se, sopra-se o pó
Para que o fruto da razão seja o que se aprende.

Ao longo da jornada há abrolhos e sutis espinhos
Sempre alerta a fim de trancafiar todos os caminhos
Que levem o ser humano a salvaguardar conquistas...

Amar-se e não se olvidar dos conselhos dos genitores
Que são na terra ensinamentos repletos de amores,
Preocupação constante contra falsos propagandistas!


quarta-feira, 30 de julho de 2014

Efeitos de Saudade

Quanta vontade sinto de brincar
E relembrar meus tempos de garoto...
Quanta nostalgia me vem sem esforço
Apascentar as ovelhas que insistem em gritar
Dentro dum íntimo que chora ventos idos
Perante um mundo que me cerceia os sentidos!

Quanta vontade de voltar a ser menino
E desarrolhar de mim estas vestes caducas...
Quanta melancolia me envolve que é insulto
Diante dos cabelos grisalhos que me deu o destino
Perante uma vida que zomba de minha idade
E me faz sonhar com a alegria de minha mocidade!

Quanta vontade de correr debaixo da chuva
E saborear ao relento a mansidão das horas,
Deixar o corpo mergulhar nas lamas de outrora
E não permitir que os efeitos da visão turva
Seja da minha velhice chacotas de uma puberdade
Que abandonou em mim esta coisa chamada saudade!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Peças e Acessórios

Lentamente encaixo a porca no parafuso...

As vias estão livres, uso a chave de fenda
E acocho diretrizes para que se compreenda

Que os planos cotidianos não dispensam o alicate
E em algumas partes faço uso da tesoura
Para nos detalhes os projetos terem vida duradoura.

Mas passarelas de solo batido usa-se a enxada
Para aparar-se a grama imprestável para o gado,
A foice abre passagem entre arbustos orvalhados
De cujas lágrimas lavo a alma dos desalmados...

O alpiste ao relento sacia a fome dos pássaros...
Nas mãos calejadas dos homens, marcas e o peso da pá
Que remove a sujeira e dá gosto novo ao paladar
Já tão cítrico com a faina incansável do martelo

Que, aqui e acolá, na cabeça dos pregos, remove farelos...

domingo, 27 de julho de 2014

Franquia Bélica

O homem vomita sua sanha assassina
Perante as inocências das populações civis,
Hediondo massacre que as consciências vis
Derramam impunes putrefazendo carnificina.

Os céus tornaram-se astrolábios de fogo,
No constrangimento das estrelas, pranto redimido
Que um mundo indiferente observa consumido
No vaivém da gangorra que enfeitiça tolos.

Séculos de uma guerra que nomeia marginais
Que comerciam o bélico dum universo em tédio
Diante dos trogloditas homicidas do Oriente Médio...

Brinca-se de matar...  Vilipendia-se a paz
Com a conivência dos que elaboram planos

E se dizem pacíficos, mas na realidade, desumanos!

Choro, sim...


Às vezes eu choro, sim... Por que não?
Minhas lágrimas lavam-me o rosto
Enferrujado perante as velhacarias do mundo...
Às vezes eu choro, sim... O quê há de anormal?
Minhas lágrimas correm-me a face
Envergonhada diante do desprezo social...
Às vezes eu choro, sim... O que é que há?
Minhas lágrimas despencam num chão
Deprimido perante a desfaçatez dos homens...
Às vezes eu choro, sim... Que mal há nisso?
Minhas lágrimas inundam-me o corpo
Cansado de ver e sentir a hipocrisia humana...
Às vezes eu choro, sim... É feio um homem chorar?
Minhas lágrimas anestesiam-me o olhar
Desesperançado diante das injustiças e humilhações...
Às vezes eu choro, sim... Perco a honra se pranteio?
Minhas lágrimas fazem-me perceber que o amor
Está enfermo e que a vida se plasma em ilusões...
Às vezes eu choro, sim... Deveria sorrir, por acaso?
Minhas lágrimas libertam-me de um êxtase inócuo
Quando verifico que o mal campeia pelos corações...
Às vezes eu choro, sim... Deverei parar de chorar?
Nunca! Minhas lágrimas fazem-me beber tristezas
Logo que observo uma total ausência de emoções...
Não é nem mais às vezes... Eu choro sempre
Porque o mundo se transforma, a mentira grassa
E a verdade, sem forças para resistir, acovardou-se...
Eu choro, choro, sim... As emoções estão carentes
Do sorriso que cedeu lugar à melancolia ...
Eu choro, choro sim... Vem chorar comigo!


sábado, 26 de julho de 2014

Estresse

Nossas maluquices são retratos da carência
Que o ego enfrenta nos declives da vida...
Nossa sintonia com o universo é falha
Porque a introversão bloqueia o sensitivo.

Há momentos em que desconhecemos o eu
Que existe e sobrevive solteiro em nós...
Quem nunca se perguntou: “Fui capaz disso?”
Quem nunca se inquiriu: “Será que consigo?”

A ausência de comunicação é tão intensa
Que os extremos “interior” e “exterior”
Parecem falar em idiomas tão distintos
Que o entendimento fica a mercê das hipóteses...

O mundo exige que sejamos deveras pragmáticos,
Não se encontra tempo para reflexões íntimas
E quando as horas nos doam alguns minutos
Simplesmente boicotamos os pensamentos...

Covardia? Absolutamente! É que navegamos
Pelas ondas do cansaço mental e a exaustão
É a plataforma que conduz a mente ao repouso
Para que tenhamos força para o dia seguinte...

O relaxamento é indispensável ao equilíbrio,
Todavia viver tornou-se aventura e coragem...
As técnicas do espreguiçamento são volúveis
E a concentração para o descanso é fantasia...

Uma boa música ou um filme interessante
Ajuda a combater o inconveniente estresse,
No entanto é necessário banir o cotidiano
Que nos apoquenta e faz vibrar preocupações...

Bom é quando se pode curtir inteira a natureza,
Tê-la perante o olhar durante horas seguidas
E mergulhar com consciência no âmago enfermo
E retirar de dentro de nós as ervas daninhas...

Um diálogo proveitoso com pessoas inteligentes
Igualmente coopera na restauração da anatomia
Que necessita de voltar a acreditar na existência
Para que o sonho de ser feliz se torne realidade!



sexta-feira, 25 de julho de 2014

Poética Grega

( Escrevi este poema estruturado em radicais gregos )

Eu tenho uma impressão singular do cosmos,
Na grafia de cada metro busca-se do psiquê
Os filos de amizade consignados em terapia
E que estão ligados ao empírico universo de Sofia.

Dígitos são mazelas que tentam enfeitiçar o cromo,
Mas se afogam em pseudo ventos do crono
Que sopram apaixonados sobre espessos litos
Donde de obtém a grama certa para evocar o amor.

Fármacos curam as enfermidades dos nautas
Que viajam em pensamento sobre floras e faunas
E trazem de héteras paisagens intensa polissemia...

Há cárdios que palpitam no odor sublime dos lírios
E num meso sentimento produzem dores e martírios
Que vilipendiam micros e macros de sutis anatomias!


RADICAIS GREGOS UTILIZADOS NESTA COMPOSIÇÃO:
cosmos ( mundo ), grafia ( escrita ) , metro ( medida ), psiquê ( alma ), filos ( amigos ), terapia ( cura ), Sofia ( saber ), dígitos ( dedos ), cromo ( cor ), pseudo ( falso ), (crono ( tempo ), litos ( pedras ) , grama ( letra ), fármacos ( medicamentos ), ( nautas ( viajantes ), flora ( plantas de uma região ), fauna ( animais de uma região ), (héteras ( diferentes ), poli ( muitos ), semia ( sentidos ), cárdio ( coração ), ( meso ( meio ), micro ( pequeno), macro ( grande )...

Fotogravação


Em tudo há acordes e melodia,
Sensações do mundo em aquarela,
Notas agudas de um tom tagarela
E graves oscilações de melancolia...

Num todo os dons são ressabiados,
Os ritmos atropelados por cisões
Que aqui e acolá maculam corações
Num frenesi de êxtases desafinados.

Qualquer semelhança é coincidência
Embora a música seja de fino trato,
É inevitável haver profundo contato
Entre contrapontos dessa experiência.

Fotograva-se a vida em seus estertores
E, em cada ser, há rebelião de amores!


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Palco Intimista


Pálidos vultos vagueiam incansáveis
Pela diocese do meu pensamento,
Talvez em pesquisa das ladainhas
Que perlustram de forma afrodisíaca
Veredas desenhadas ao longo dos anos...

Meus sacramentos sensuais são etéreos,
Dogma algum deixo tripartido, às avessas...
Num catecismo de sensibilidade crio preces
Que me elevam aos pedestais do infinito
E, de repente, sinto-me preso ao Paraíso...

No Éden há provações que são letais pecados,
Então ajoelho-me perante as misericórdias
E enxergo minha sombra altruísta em êxtase
Suplicando aos deuses de minha mitologia
Que me cedam o barco da solidariedade...

E velejo solitário nos mares das circunstâncias,
Vez por outra tenho de levantar alhures as velas,
Pois, fico a mercê do enxerimento das procelas
Que tentam desviar-me de aveludadas estradas
E jogar-me de maneira homicida diante das vagas...

Os perigos ficam encarcerados na mente sã
E, um a um, vou vencendo obstáculos de reflexão,
Chego à terra firme do raciocínio liberto dos males
Que ousaram entravar minha comunhão litúrgica,
Contudo os vultos fenecem desapropriados de mim...


Perspectivas


O tronco da árvore está seco,
As folhas murchas,
Os galhos despencados,
As raízes esfareladas...
Este é meu testemunho de rancor
Perante um mundo que comercializa amor
E torna a vida sem sentido...
Ainda bem que do ar sinto oxigênio
E posso respirar flores de inspiração...
O céu está cinzento e o espaço nublado
Desenha fortuitas imagens dizimadas
Pelos ventos enfermos de poluição
Que derramam sobre a terra
A acidez que maltrata o orvalho...
Dias e noites se consumam nas horas
E o tempo indiferente não faz terapia,
Nem agasalha a doença do universo...

Na atmosfera frívola e doente dos homens
A chuva é o sol que mata,
Desmata e enterra...
Em espessos nevoeiros de areias escuras
A fuligem deixa carcomidos os sobrenomes
Que teimam em dilapidar o ambiente
Já deserto nos pântanos da agonia...

Salve-se quem puder, não há antídoto,
Cambaleia-se pelos vales
E a última esperança
São as lágrimas dos inocentes
Que deixam no solo úmido
O húmus de novas perspectivas...


terça-feira, 22 de julho de 2014

Esquinas de Inspiração

O poeta é o verso e o inverso de si mesmo,
Nos extremos da consciência há encruzilhadas
Que bifurcam inspirações surgidas do nada
E que edificam nas esquinas suntuosos espelhos.

Câmeras do intelecto focam o universo criativo
E no arcabouço da mente a palavra ganha vida,
Não há esconderijos, a transparência é seduzida
Por estradas de cristais que abastecem o cognitivo.

O mecanismo da criação associa-se à fantasia
Que tece intercâmbio com a realidade do dia a dia
E traça parâmetros para que no papel haja arte...

Então: em quantas esquinas se esconde a inspiração?
É sempre o poeta que interage domicílio com a razão,
Sua fecundidade é infinita, N de inúmeras partes!


Embriaguez


Braços que se cruzam entre taças de vinho,
Hora amena... o líquido tempera os lábios,
Mentalmente vislumbro amarelos alfarrábios
E me vejo trôpego... artisticamente sozinho...

Amplexo da poesia ao que parece efêmero,
A vida é infinita, mas a sedução se desgasta
E serei vilão duma existência ingênua e casta
Enquanto minha dor adormece no ibuprofeno...

No teor da bebida tenho de tear a palavra
E encaixotá-la lúgubre onde não existam larvas
Para que sua semântica não a transforme o tempo!

E numa lua em que o mel é a doce inspiração
O cio de escrever copula singular com a solidão
Tornando a embriaguez menopausa do sentimento!



sábado, 12 de julho de 2014

Psicose


O mundo é uma lousa onde se pinta criatividade,
O homem a ficção que se finge de protagonista,
A verdade um argumento travestido de utopia
E, a vida, o tom artístico que caracteriza adereços.

Nos pincéis que dão forma ao enredo que se proclama
Há mãos que traduzem efeitos duma supra realidade,
O raciocínio do artesão tece ângulos bastardos e postiços
E a natureza é um cosmos impalpável do pensamento.

Divagam-se estertores indiferentes ao intelecto
Porque o sonho é tão somente uma possibilidade
Do ser ou do não ser, do estar ou do não estar...

São premissas alucinantes que vagueiam num espaço
Em que os traços não têm diretrizes, são anômalos

E aí se arquiteta a fotografia do que é a loucura!

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Cio Insosso


Não adianta esquivar-se para os lados,
Nas esquinas há frêmitos de beijos tarados
E a boca pode ficar inevitavelmente ferida...

Nas encruzilhadas do desejo amor é  tesão
Da necessidade fisiológica da pura excitação
E o sentimento é a grana na hora da despedida.

Violenta-me esse coito isento de atrativos,
Melhor masturbar a consciência com leituras
Que levem o indivíduo a gozar aventuras
Num espaço onde o saber não é aperitivo.

Que as cordas do violão embalsamem a virtude
E a melodia teça seu papel de inspirar
Os argumentos profícuos que são o patamar

Donde se extrai a essência da virgem plenitude!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Interpessoalidade


Sinto-me enfermo ao diagnosticar certas reações...

O caráter ideal de uma relação é a temperança,
Contudo observo uma síndrome de arrogância

Entre contatos humanos das mais variadas esferas
E tal propósito apodrece os liames da solidariedade
Tão carcomidos por efeitos nefastos de interesses pessoais.

As guerras não estão restritas aos campos de batalha,
O convívio social da modernidade é aparato de lutas
Em que a peçonha dos mais fortes violenta os mais fracos
Que, indefesos, sucumbem e são atirados ao lamaçal das desgraças...

Bocas se fecham retalhadas por temor à perseguição,
Então a hipocrisia deita e rola fecundando a vaidade
Que, por sua vez, sacia a sede indomável da ambição
Já travestida pela exaustiva busca de um referencial
Travestido pelos átomos do poder, da cobiça e da maledicência...

Assim a humanidade caminha pelas profundezas do orgulho
Que reina soberano sobre os alicerces da fraternidade
E faz do recrutamento do indivíduo poços de crueldade
Levando-o plenamente ao desconforto de uma vida indigna
Que aniquila qualquer advento de uma possível ressurreição...

O mundo está oco... Maldade é lei e centelha de terror
Que transforma o intercâmbio pessoal em viadutos de objetivos
Num tráfego trevoso em que peculiaridade é a perdição
Que se encaixa numa vitrine de falsas aspirações...

A água que jorra da fonte encontra-se contaminada,
Bebe-se do sangue escravizado que é tertúlia
Para um exército de ímpios que não dorme... cochila!

Este é o universo que identifico como estepe
Da sobrevivência que grita e blasfema socorro


Perante as incertezas das horas na edificação de um mundo novo!

terça-feira, 8 de julho de 2014

Seca


Sou um eterno servo de mim,
Ronda-me uma inadimplência intelectual
Que me aprisiona os meteoritos da inspiração
E fico a galgar estresse no campus da consciência.

Estou ferido... Não consigo parir palavras
E na escassez de que me vejo vítima
Apenas enxergo réstias do que foi fantasia,
Pois, o vulto da eloquência diluiu-se...

Atormenta-me este Saara de reflexões,
Perante meu juízo sou nulidade de essência
E uma infinidade de pedregulhos ferem meus pés...

Minhas mãos acenam para o passado distante,
Preciso de resgatar o baú repleto de alegorias

A fim de que seja infinito o produto de minha arte!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Desonra


Morder é astúcia de “mala sem alça”,
Coisa de capeta com índole de travesti
Que rebola, arranha, grita como sagui
E, sendo masculino, é apenas perna de calça!

Característica insana, própria de irracionais
Que usam os dentes como mecanismo de defesa,
Ser humano que morde tem sua língua azeda
E raízes presas em antros macabros e infernais...

Usa-se a dentadura para saciar-se uma fome
Ou para sentir-se o paladar do beijo que se consome
Numa atmosfera romântica do mundo sensual...

Ah...É inconcebível morder, seja qual for o sexo,
Mesmo em crianças é atitude hedionda, algo perplexo

Que macula a idoneidade e o pudor... é atributo venal!

Tabloide de Mim


Parece-me que o espermatozoide
Que fecundou o óvulo que me fez criatura
Era meio agitado, meio zonzo...
Simplesmente assassinou os congêneres
E ficou só a germinar um embrião...

Havia em si caracteres alucinatórios,
Pois, derivou um DNA rebelde,
Às vezes cismático, meio revolucionário...
De vez em quando altruísta e sapiente,
Mas vez por outra plenamente solitário...

Guardou em mim acervo de raízes várias,
Porque do grotesco ao sublime,
Da razão primitiva ao tom lunático
Há diodos que nutrem transformações
E a lucidez baila sobre fontes mentecaptas...

É uma enxurrada de pensamentos febris
E um holocausto em que paixão é brasa,
Experiências de extremos paradoxais
Ora profundamente maltrapilhos,
Ora circunstancialmente envoltos em enxovais
Em que a personalidade é mistério...

Vejo o mundo num tabuleiro de perfídia
Ou numa redoma que protege o que é fino...
Vejo-me ladeado por extremos cabíveis e incabíveis
E o que foi em mim implantado já é peça de museu

Visto que ora sorrio, ora choro... este, sim, sou eu!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

TURBULÊNCIAS


Perante certas criaturas sou fiapinho de gente...
Ressabiado, vou e volto pelo fundo da agulha,
Meus olhos atônitos atentos vasculham
Uma assembleia que tudo bebe indiferente.

Abrem-se as cortinas para um palco de lorotas
Que flutuam sobre a crendice de imbecis
Recalcados por equações em que todos os xis
São incógnitas que alimentam os idiotas.

No espaço frenético a festa é dos cretinos
Que saciam suas verves doravante os desatinos
Compilados por uma plêiade de embusteiros...

Isentos de reações adversativas, ocorre o massacre
Que a turba aplica impiedosa com o gosto acre

Dos objetivos letais confeccionados por feiticeiros!

terça-feira, 1 de julho de 2014

Estrume Social


Não pense que a mentira consola,
Trata-se de vírus que envenena o leme,
É um senso maltrapilho que ofende
E não serve nem para ser esmola...

Estapafúrdia vereda, esdrúxula conduta
Que congrega consigo as trevas à tiracolo
Maculando o pensamento que vira dolo
Da árdua sobrevivência que se disputa...

A hipocrisia é mancebo que se traveste
Do mocinho que se proclama cabra da peste
Na escuridão que deteriora bons costumes...

Não há chantili no plasma de um engodo,
A verdade não é vulto, não é nada de novo,
É consciência para soterrar esse estrume!