segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Refeição Macabra



O  caixão  estava  na  sala  ampla
O  corpo  do  moribundo    exalava  odor,
Alguns  oravam  circunspectos,  outros  com  rancor
Daquele  homem  que  em  vida  tivera  fina  estampa.

Ao  redor  da  sala  onde  o  morto  descansava,
Abutres    sobrevoavam  afoitos  e  famintos,
Aves  tesudas  que  aos  poucos  o  cadáver  iam  consumindo
Até  restarem  apenas  ossos  que  então  desprezavam.

O  fenomenal  mau  cheiro  precipitou  o  funeral
E  o  povo  seguiu  o  féretro  de  modo  descomunal,
Pois  o  aroma  nefasto  causava  repugnância...

Os  vermes   receberam  com  entusiasmo  o  finado,
Fizeram  festa  sobre  aquele  defunto  abandonado
E  viajaram  sonolentos  encharcados  de  abundância!

Politeísmo Moderno

Os santos vivem bem, são milionários...

Conglomerado das riquezas da Imensidão,
Os príncipes celestes gozam da fartura eterna,

Pois levam da terra o tesouro das esperanças
Que veste a fé das criaturas que neles creem...
O mundo se ajoelha perante homens endeusados pela História...

Sabe-se que Deus é único em trono e poder,
Todavia se observa um Cristianismo politeísta,
Porque muitos reconhecem que canonizados são divindades
Que possuem força para dar soluções aos seus dilemas...

A vida evolui e retroage de forma compulsória...
A abastança se resume ao exacerbado número de promessas
E, para cada tema de ação, há uma potestade disponível
Como a lembrar os deuses que enfeitam a Mitologia...
Santos são homens assim nomeados por outros homens: imperfeitos!

( Não sou evangélico, mas é o que minha consciência vê! )

domingo, 29 de dezembro de 2013

Caos Sertanejo


Eu  sou  peão,  tenho  as  mãos  calejadas
De  tanto  labutar  na  roça,  na  enxada
Não  para  ter  fartura,  mas  para  sobreviver...

Quatro  e  meia  da  manhã  o  galo  canta
E  muita  gente  que  nem  teve  janta
Com  a  barriga  vazia  chora  no  amanhecer...

Realidade  que  oprime  o  homem  do  campo
Que,  sem  água,  não  cultiva  seu  sustento
E  deixa  a  família  à  míngua,  morrer  ao  relento...
Lágrimas  e  suor  são  a  chuva  que  esperam  tanto!

Promessas  se  perdem  na  secura  das  estradas...
Sai  ano,  entra  ano...  fotografa-se  idêntica  miséria,
Personagens  de  gravata  discutem  assíduos  a  matéria
Que  no  papel  fica  impressa  e  não  se  resolve  nada!

Fuxico


Quem  convive  com  dilemas
Sabe  onde  o  sapato  aperta...
Meus  pés  feridos,  sempre  alerta
Contra  as  peripécias  desses  sistemas!

Até  sandálias  me  deixam  calos,
Imaginem-se  as  marcas  das  alpercatas...
Meus  dedos  evitam  meias  de  burocratas
Porque  são  eles  que  torcem  meus  talos!

É  assim...  Sempre  legislam  contra  o  povo
E  em  suas  mãos  tudo  novo,  novo...
A  massa  que  se  preocupe  com  validades...

Terrível!  Às  vezes  ando  descalço,
Na  sola  dos  pés  a  história  de  cada  passo
E  os  ditos  importantes  a  produzirem  veleidades!

Temperamento Esdrúxulo



Meu  temperamento  é  meio  gigolô,
Recebe  ofensas  e  violência:  fica  calado!
Até  parece  político,  sabido  deputado
Que  esvazia  sacos  e  não  tem  cor.

Óbolo  não  recruta,  diz  estar  bem,
Apesar  das  evidências,  coloca-se  vítima
Do  torneio  de  palavras  que  o  crucifica
E  quando  busco  respostas,  não  as  tem.

Oportunista,  escora-se  em  meu  trabalho,
Vive  a  induzir-me  a  desvendar  atalho
Porque  é  moroso  e  gosta  de  sonhar...

Necessário  modificar-se  sua  personalidade,
Romper  a  vitrine  de  ter  com  facilidade
E  adestrá-lo  a  métodos  para  faxinar!


Sucesso


 
Não  amarrote  o  silêncio,
Desértica  é  a  dúvida
Que  baila  esdrúxula
Num  barulho  intenso.

Não  exorcize  a  calmaria,
Pensamento  é  vestiário
Onde  os  ideais  primários
Despertam  à  luz  do  dia.

Do  silêncio,  as  fortunas...
As  medalhas  inoportunas
Têm  mensagens  nevoentas...

Aquartela-se  o  tranqüilo,
Zoada  e  mentira  sem  abrigo,
Verdades  não  se  inventam!

sábado, 28 de dezembro de 2013

Cara e Coroa



Não  atire  jamais  a  primeira  pedra,
Intenso  remorso  pairará  sobre  seu  ventre,
Vingança  é  caminho  tempestuoso  que  se  sente
E,  em  si,  fomenta-se  uma  angústia  que  não  cessa.

Não  permita  que  suas  mãos  ensaiem  justiça,
A  peçonha  é  letal  e  não    antídoto,
A  amargura  o  fará  desvendar-se  tão  raquítico
Que  os  ventos  tornar-se-ão  adversativos  de  preguiça.

Não  se  compactua  com  sentimentos  pequeninos,
A  aldeia  que    em  si    expurgou  o  menino
E  sua  consciência  responde  imperativa  pelos  atos...

É  difícil, mas  não    vergonha:  ofereça  a  outra  face!
Sinta-se  superior  ao  vendaval  que  parece  massacre,
Porém,  na  verdade,  é  libertação  em  estágio  consagrado!

Milhão



Eu  tenho  um  milhão  de  motivos
Para  aliciar tresloucadamente  teu  perdão,
Banhado  e  umedecido  de  lágrimas,  o coração
Pede  entristecido  para  estar  contigo!

Sei  que meus  desejos  também  são  teus
E  naqueles  milhão  de  beijos  me  afoguei...
Não  fujas...  O  amor  que  nasceu  em  mim  é  lei
E  não    em  mim  sentimentos  plebeus!

Num  milhão  de  sonhos  haveremos  de  navegar,
E  te  carregarei  nos  braços  e  te  deitarei  sobre o  mar
Onde  faremos  de  suas  águas  aconchegante  ninho...

Um  milhão  de  açúcares  para  fazer-te  doce,
Num  milhão  de  carícias  o  amor  desvendou-se,
Por  isso  preciso  de  ti  para  não  amar sozinho!


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Telas do Tempo



Um  mar,
Areia  branca,
Esperança  na  retranca
Pronta  para  flutuar...

Um  rio,
Areia  escura,
Dor  sem  cura
A  tremer  de  frio...

Espaço  aéreo,
Nuvens  carregadas,
Raios  e  trovoadas,
Noites  de  mistérios!

Sertão  e  caatinga,
Seca,  sede,  fome...
Água  não  se  consome,
Vida  estéril,  coringa...

Sentença  de  morte,
Adeus, lágrimas, despedida...
Chaga-se  ao  fim  da  vida...
Viver:  é  preciso  ser  forte!