quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Desejos Alados

Flerto com os pássaros...

No orvalho da manhã
Eles beijam minhas mãos

E os osculo com minha emoção...
Voo com eles em pensamento
E cruzo os espaços da imensidão...

Pouso nas nuvens fadigado
E sonho um universo encantado
Saboreando augustos hinos do infinito
E minha mente não é razão, é instinto...

Ruflo as asas de minha fantasia
E em voos rasantes prolato preces,
Sinto as pernas trôpegas que estremecem
Perante lascivos gritos de liberdade...

É a vida me despertando para a realidade!

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Consumação

Eu posso sentir o cheiro da chuva
Que cai espessa sobre o asfalto,
Milimetricamente ela vem do alto
E deixa alagadiços e a noite turva.

Eu posso ver lágrimas nas estrelas
Que pranteiam da terra desilusão
E envolvem o metafísico de tesão
Para que alguém possa entendê-las.

Eu posso ver o sol doente e escuro,
Sem brilho e perecendo em desuso
Clamando socorro por uma bateria...

Eu posso perceber greve no tempo,
Pois, as horas dormitam ao relento

Vencidas por retalhos de fantasia!

DEITO SOBRE VOCÊ...

Deito sobre você palavras de ambição,
Sou meio coroa, mas tenho jeito moleque,
Meus cabelos grisalhos são inspiração
E amar é um sonho que me apetece...

Sou fascinado pela arte, louvo a poesia,
Para mim escrever não é “hobby”, é profissão
E entrego meu indelével e cristo coração
A descrever mazelas que são pura hipocrisia...

Deito sobre você um devaneio de artista,
Não sou fisicamente belo, cultivo beleza interior,
Leia o que escrevo, pois, fica bem a vista
Como enxergo o mundo e retrato o amor...

O universo está depravado: luxúria e devassidão
E estou sozinho numa luta que é epopeia,
Deito sobre você magia e sincrética devoção
Na esperança de ter ao menos uma plateia...

Eis que o tempo urge... a hora é inflação
Dos dias e das noites que rolam sem cessar,
Deito sobre você minha obra que é religião
E as notas musicais que me pedem para sonhar!


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

POEMA NATUREZA

Certamente poesia e amor são parentes,
Bem como coração e um buquê de rosas,
Na primavera as flores palpitam fogosas
E deixam no ar um aroma que é presente.

Meu olfato campeia entre místicos odores,
Apaixona-se por orvalhos que são perfumes
E me torna ramalhete em pétalas de ciúme
Adocicando de magia silhuetas de amores.

Canteiros floridos... realce de nudez no ar
Que dá coloração virgem ao ato de amar
Sobre galhos que adornam as copas rasas...

Troncos eruditos inspiram papel e caneta
E o poeta escreve munido de sua ampulheta
Que são os versos azuis da plenitude casta!  


domingo, 28 de dezembro de 2014

PROPINA DE AMOR

Bem que eu gostaria de sonhar
A falta intensa que você me faz,
Provar intrínseco de todos os sais
E cair sobre a flor do seu olhar...

Como seria eu tão feliz ao seu lado,
Sentir em si o perfume da primavera,
Nas folhas do outono o vento quisera
Tapear amor que despencou malogrado.

Nas chuvas de verão o dia fica acanhado,
No sol de inverno cada lágrima é cadeado
E presos ficamos a sorrir de emoção...

Quero sentir em tua boca o mel que alucina,
Nas noites de lua ser seu pecado e propina

Para envolver de carícias seu augusto coração!

sábado, 27 de dezembro de 2014

COTIDIANO PSICOPATA

Não preciso me dividir entre farras e sono,
Não piso nos extremos dessa vida cambalhota,
Prefiro curtir meu silêncio a escutar lorotas
E deixar que as horas consumam cromossomos.

Talhado estou para refletir esse mundo complexo
Cheio de nódoas e cicatrizes ainda bem abertas,
Minha sensibilidade vive atenta, em sinal de alerta
Pronta para relatar papel e caneta num amplexo.

Debaixo da chuva deixo que a água me molhe,
Respiro sensações através de dois tênues foles
E meu olhar investiga iniquidades deveras psicopatas...

Ouço as turbinas de um cotidiano que grita,
Meu radar é racional, ele interpreta e palpita

Perante um cinzel de imperfeições que adoece e mata!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

DEVANEIOS

Esse sonho que faz de mim um anão
É grande suficiente para dar-me calor,
Nele deixarei impressos gestos de amor
Tal como faço com meu velho violão.

E quando de repente cessar a melodia
Outra sutil canção haverei de entoar,
Acordes semelhantes às ondas do mar
Para que eu possa alimentar a fantasia.

Caso você chore porque a música existe,
É meu coração que não sabe ser triste
E tudo o que quer é evitar seu adeus...

Esse sonho é intenso milagre de amor
Que vem seduzir um âmago sonhador
E saciar-me a vontade dos braços seus!


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Certidão de Amor

Do pano acinzentado que cobre teu rosto
Basta-me arrancá-lo e deixá-lo no chão.
Muito é pouco diante de uma ocasião,
Por isso sei que não morrerei de desgosto.

Fechei teus sonhos perante o tempo,
Deixei que teu véu escondesse teu disfarce,
Agora resta conhecer do que me provocaste
E tecer a melodia que arrebate teu sentimento.

Hoje não é ontem... amanhã será depois,
Em ti vejo sombras que são imagens de nós dois
Sobraçados num regalo de amor sem sacrifício...

Teu semblante não é vergonha, nem limite,
Desejos são os grãos de areia que me seduziste...
Teus olhos mostram que é amor desde o princípio!


Lamento

Suor do rosto – retrato de intenso trabalho
Que ao longo dos anos me fez professor...
Grito bem alto perante depauperado clamor
Em que a inadimplência do conhecer é assento.
Em cada lousa deixei suntuosas marcas
Assinadas por argumentos de muitos conteúdos
Que tentaram inundar mentes vazias e apócrifas,
Carentes do saber e preguiçosas do aprender
Onde o descaso foi o prêmio de cabeças neófitas
Que fugiram atônitas do banquete deste prazer.

Hoje o lamento baila sobre arrependimentos,
Sobre a chuva do meu corpo reconhece-se o valor
De uma dedicação dada com energia e amor
E que as horas deixaram impregnadas no tempo...
Cantam-se tristezas diante de ventos perdidos
Num velho violão em que há acordes consumidos
Pelas cinzas que os fizeram obscuros e tolos
E que, agora, invés de vinhos e deliciosos bolos
Há o sofrer e as lágrimas que rolam desnutridas,
Pois, se fossem risos, seriam alegrias de vida!



De: Ivan de Oliveira Melo



terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Tela do Destino

Ando descalço por vales e campinas,
Não piso azulejos, é chão e terra dura
Que abrem espaços à minha aventura
E sigo catando do tempo,  minha sina.

Verde é tapete aéreo em copas altas,
No solo ressequido dormito a vergonha
Da cruel fadiga que faz a vida enfadonha
E os sonhos reprimidos das horas peraltas.

Em derredor só silencio e floresta doente
Tragada pela indecência inconsequente
Da humanidade que come e bebe ambição...

Não vejo cerâmicas... não noto mármores,
Só mosaicos partidos em torno das árvores
Já velhas onde se pinta de ilusões o coração!


Delém..Delém...Delém...

Delém... Delém... Delém...
Os sinos repicam festivos,
Os homens tragam aperitivos
Numa noite de intenso vaivém!

Delém...Delém... Delém...
Tocam os campanários das igrejas
E todos choram alegrias benfazejas
Dentre Salmos que chegam do Além!

Delém... Delém... Delém...
Anunciam os bronzes repletos de luz,
É Natal do Santo Menino Jesus
Que nasce todos os anos em Belém!

Delém...Delém... Delém...
O bater renova a mensagem do Divino.
Solidariedade é dever de todo peregrino,
Pois, todos os dias há Natal também!

Delém...Delém... Delém...
O amor tem de ser uma constante,
Fraternidade é vida... Viver é importante

Sempre com Cristo no coração. Amém!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Razão e Esperança

A vida é um filme:
O começo é ilusório;
O fim, inconcebível!
Desde os primórdios
Tem-se um cenário único:
O palco do planeta Terra!
Através dos séculos
O homem metamorfoseia
Ambientes e costumes,
Mas seu tirocínio principal
É o mesmo: a ambição!
Em derredor da ganância
Fomenta guerras, violência...
Agregam-se aos seus objetivos
O orgulho, a vaidade e o egoísmo.
A impiedade é clarividência,
A hipocrisia, moeda social.
A devassidão campeia afortunada,
A ingratidão dorme ao relento.
Sentimentos daninhos eclodem-se,
Sucessivos e reiterados,
A ignorância alimenta a alma.
Fome e sede: ausência de escrúpulos.
Natureza deteriorada: embrião de enfermidades.
A esperança dói, a razão se enclausura.
Os ventos sopram tempestades,
Consequência da inanição intelectual.
O bem dormita, o mal governa.
Pandemias adoecem os espíritos,
A morte ceifa inocentes...
Retrato indecoroso do que foi um éden,
Hoje pantanal de todas as vicissitudes.
Há lágrimas nas faces ingênuas,
Há sangue de mártires clamando urgências...
A vida é bela, porém tais quais certas espécies,
Perambulam rumo à extinção
Na moldura acidentada do coração humano.
Nunca é tarde, também nunca é cedo...
O raciocínio necessita de despertar
E saciar a esperança de possibilidades.
A prece conforta,  contudo não renova...
É preciso de ação, luta desenfreada
Para que o otimismo se alevante
E, invés de lágrimas, possa-se sorrir,
Conectando-se fidelidade à felicidade.
As fraudes precisam de perecer
E o amor deixar de ser saudade...
Assim se evitará que abismos profundos

Devorem a essência... a essência do viver!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

TROCADILHOS

Hei de passar minha vida em revista
Porque nas revistas do mundo
Meus poemas são entrevistas...

Hei de pintar meus cabelos grisalhos
Porque brancos me deixam coroa...
Meu espírito é jovem, quero ser rei
E adornar-me com uma coroa
Sem precisar de tomar de uma moeda
E jogá-la de cima até embaixo e ver
No que deu: cara ou coroa?

Hei de aguar as plantas do jardim
Porque na planta de minha casa
Edifiquei um jardim da infância
A fim de curtir o sorriso das crianças...

Minha casa é um imenso tesouro
Onde guardo meu cansaço
E ofereço hospedagem a um amigo
Que casa e, em lua de mel,
Abre a casa dos seus botões...

Hei de ofertar uma rosa da roseira
Que há em meu quintal e dar à
Rosa o vestido cor-de-rosa
Para que ela não vá colher flores
Dentre as urtigas do matagal...

Hei de barbear minha cara
Com aquela loção cara
Que um cara me ensinou...

Hei de estudar Física
Para entender certos movimentos
Porque na Educação Física
Muito me machuco e sofro tormentos...

Hei de ir ao zoológico ver os macacos,
Mas antes necessito de vistoriar o carro,
Pois tenho dois macacos para alevantar
O veículo e sou alto o suficiente
Para botar macaco no regulador de energia...

Por hoje é o bastante... É que estou só
E só eu para entender
Que dois mais dois são cinco...oh, são quatro!



INSTINTO METAFÍSICO

Vejo-me seduzido por pensamentos acrobáticos
Que contracenam amiúde com sonhos malabaristas,
Em vértices perpendiculares sinto-os idealistas
Consumidos pela vertente do consciente alopático.

Meu raciocínio faz piruetas num céu de fantasia
E a inconsciência se vê rachada por uma ideologia tosca,
As estrelas luzem alegorias pálidas no céu da boca
Consorciando-se à memória na confecção da nostalgia.

Percebo-me verdugo de uma imaginação quadrangular
Em que perímetros tímidos se unem para sonhar
Num trapézio onde sutis devaneios são os artistas...

Noto-me exausto... meu campo cefálico pede socorro,
Então encaro a realidade e em minúcias discorro
Sobre o que é aventurar-se no onírico sem ser cientista!


PERDAS & DANOS

A vida estuprou-me os ideais mais urgentes,
Em derredor de mim restam tons depreciativos,
Porém não vou conciliar-me aos conectivos...
Sou independente seduzido por vilãos dependentes.

Há rodovias justapostas que exprimem condições,
Os atalhos parecem aglutinados pelas encostas,
Aventurar-me em possibilidades estéreis pressupostas
É deixar-me envolver pelo labirinto das sensações...

Sou andarilho solitário em busca de planos traçados,
Há retalhos febris  de pensamentos por todos os lados
E grande temor se apossa dos meus ingredientes...

Reestruturar perspectivas... encontro-me cabisbaixo,
Porque é enorme o assédio e já não sei se me encaixo

Diante dos torvelinhos que destroem o que é da gente!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Episódios

Descrevo episódios sustenidos perante as horas...

Minutos e segundos se reversam sem marcha ré
Diante do tempo que é indomável e não perdoa...

O novo e o velho estão em constante mutação,
Cenas aparentemente iguais apenas são semelhantes,
Pois, nada se repete com perfeição, nada é como antes.

O princípio científico da transformação é realidade,
De tudo se aproveita, nada se perde, é a lei...
O húmus intrínseco do homem se renova
Aperfeiçoado mediante inéditos preceitos da vida.

Os ventos sopram e consomem as tempestades individuais,
Diuturnamente a natureza retruca mostrando novidades...
O que é arcaico dorme no mausoléu das conveniências
E a consciência cósmica do universo é rica padronagem...

Por isso, descrevo episódios sustenidos consumados... 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Lauda Poética

Posso despir as palavras e rasgar suas vestes,
Deixar que o conteúdo semântico cause taquicardia,
Fantasia é universo deveras indispensável à poesia...
Sem ela,  quem escreve não é poeta, é herege!

Versejar é criatividade, a imaginação alimenta o texto,
Na tessitura do vocábulo amplia-se o tear linguístico,
A sensibilidade atua como matriz do senso estilístico
Que roga ao campo ideológico ineditismo sem incesto!

Intimidade com a linguagem é recurso que o artista
Deve dar prioridade sem que se torne preciosista,
Pois, os vícios do idioma podem triturar sua obra...

Elegância e concisão... atributos do escrever bem,
Ilusionismos são fragrâncias que a arte não contém
E o contexto necessita do primor que a beleza implora!



segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

TUDO EM TI...

Teu nome está inscrito nas asas do vaga-lume,
Pisca-pisca que é convite para um colóquio particular...
Eu e tu... nós dois, singrando o espaço, buscando voar
Sobre o manto da terra: livres, audazes, impunes...

Teu sorriso parece asas de borboleta: beija tímida flor
E o colibri que amamenta as pétalas suga o pólen, demente...
A essas alturas, eu e tu... tu e eu... juntamos docemente
Nossos lábios para divinizar o mel: essência de amor!

Teu corpo é catedral onde preces sensuais são átomos
Que, em sua indivisibilidade, energizam dois bálsamos
Fundidos numa só carne temperada à exaustão das delícias...

Teus olhos são êxtase que inundam meu índigo incolor
Seduzido pelo orvalho que brota sereno do teu ardor
E me regaça entre os lírios cristalinos das carícias!



De: Ivan de Oliveira Melo


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Bolsas

Vou inscrever-me para o bolsa família,
Há uma criança dentro de mim que chora,
É necessário mandar esta fome embora
Para bem distante de mim em muitas milhas...

Vou inscrever-me para o bolsa escola,
A criança dentro de mim quer aprender,
Abandonar esta vida que é só puro lazer
E deitar sorrisos visto que isto consola...

Vou inscrever-me em todas as bolsas,
Assim posso garimpar com belas moças
E ter na vagabundagem uma vida soçaite...

Caso haja outros programas hei de descobrir,
Pois, faço desde já  pé de meia para o porvir

E jogos búzios e cartas em todos os naipes!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Eu e o Mundo

POEMA-CRÔNICA

EU  E  O  MUNDO...







Sou um daqueles estranhos que chega e ninguém vê...

Sou esquecido, solitário,  vagabundo porque curto solidão,
Mas que estou atento diante do tudo em derredor de mim...

Sou delinquente porque vivo abandonado... não, sobrevivo!
Sou louco porque minha voz se tranca e pareço mudo...
Mas de quê adianta falar se a resposta é o silêncio?

Sou inoportuno porque apareço perante certas intimidades,
Contudo meus olhos não veem o que não quero, são cegos...
Sou chato porque não ofereço meu guarda-chuva quando chove,
Não obstante o ônibus para quando sinalizo e me suja de lama...

Para muitos eu nada sou, apenas estou, porque tenho carne e osso...
Será que apenas brinco de fazer um coração bater? Sei lá...
Enxergo o mundo, porém o mundo não me enxerga. Céticos!
Sempre fui assim, desde criança, apenas olho meu espaço
E nele tudo está vazio... Sou meio ermitão, pareço ninguém...

Acho que sou mesmo nada... Nem meus sonhos gostam de mim,
Simplesmente não me deixam lembranças... Seara inóspita!
Verdade seja dita: tenho fome, sede, fadiga... muito, muito sono!
Caminho sem destino, pelo menos as estradas me conhecem,
Todavia diante do meu próximo pareço invisível: não me notam...

Sou esquisito, não sei se sou gente, certamente indivíduo sou:
Tenho identidade, certidão de nascimento, menos conta bancária...
Para quê? Meu trabalho é refletir, observar a natureza, dobrar esquinas...
Sentar num banco de praça, pegar caneta e papel e escrever, escrever...

A arena é imensa, mas meu mundo é ínfimo, isento de valores...
Talvez eu precise falecer e nascer de novo: ter olhos azuis, ser loiro,
Possuir uma grande cabeleira, botar brinquinhos,  tatuar-me...

É isso o que percebo nas criaturas... valores iníquos, efêmeros...
Nada disso há mim... Tudo é normal, sem fantasias, nem adereços...


Talvez por isso tenha escutado certa vez:  o senhor quer dez centavos?

Exéquias

Balbúrdia! Sentimentos que vagueiam aturdidos,
Ofendidos diante de catres que semeiam ilusões
Numa fisiologia promíscua onde se fabricam tesões
E torna o sexo sucata... mercadoria de teor bandido!

Socorro! Venéreas são as identidades deste vaticínio
Que edificam um futuro lúgubre associado à morte...
A centelha da vida chora e não há quem se conforme
Perante uma insensatez que deixa vesgo o raciocínio...

É ululante a destruição da etnia que apenas sobrevive
Sobre pinceis opacos que pintam a existência em declive
E já não se alimentam do sol que é energia fã da saúde...

Silêncio! Eis o velório que ameaça o respirar do mundo,
Palco inóspito donde o amor foi expulso pelo vagabundo
Prazer que tiraniza a relíquia ventura do belo,  amiúde...   

  

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Eixos da Existência

Posso dar-me o luxo de engatinhar: sou imperfeito!
Sou remelexo de exemplos em que a vida ensina
Valores que modelam o caráter isento de propinas
E, mesmo assim, sou humano, estou cheio de defeitos!

Intensa é a luta para educar a personalidade que tudo vê...
O mundo é preto e branco, coloridas são as fantasias
Que levam o bom-senso a proceder como não se gostaria,
Pois, por mais que se instrua, o indivíduo prioriza o prazer...

É preciso olhos de ver, ouvidos de ouvir e viver em ladainha,
Porque no ambiente social tentações são ervas daninhas,
Verdadeiros precipícios, convites imoladores da inocência...

Refletir não é covardia, é engatinhar em derredor do juízo
Carente, mas também exausto na busca do que é conciso
Visto que lapidar-se conceitos e atitudes é emergência!


Passo a Passo...

Gostaria que as estradas por onde sigo fossem retilíneas,
Nelas não houvesse pedregulhos, rachaduras ou lamas,
Mas dá-se o contrário... muitas são curvilíneas, perigosas,
Faltam sinalizações, a mão é dupla, pedestres se chocam...

São veredas intransitivas e perdulárias, o luxo é apócrifo,
Transeuntes ressabiados se perdem em labirintos inóspitos,
Coniventes diante de uma arraigada aventura que enferma
As consciências inconscientes que perseguem seu destino...

Gostaria de crestar o solo sem preocupar-me com sua aridez,
Confiar no húmus que brota sob meus pés sem chiados e vícios
E diagnosticar ser um caminho liberto de mazelas e ratazanas...

Gostaria que as vias me levassem ao gozo púrpuro da vida,
Delas pudesse retirar a confiança que mergulha no tempo

E sentir o benfazejo aroma que fecunda anseios de felicidade! 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Identidade

Eu vou engravidar as estrelas...
Fazê-las parir em corações vadios
Que balouçam como velhos navios
Em águas turvas que parecem cera...

Eu vou sussurrar amor no espaço...
Derramar magia e carinho sobre a terra,
Assim o sentimento acorda, prospera
E a violência cede seu lugar ao abraço.

Eu vou beijar a afeição e pedir ternura,
O mundo precisa respirar relações puras
E ser um éden onde haja fraternidade...

Eu vou fazer serenatas em noites de lua
Para que seja amor o que cada um possua
E que mãos dadas sejam nossa identidade!


domingo, 7 de dezembro de 2014

Cumplicidade

Eu vou ninar a noite
Com canções de pelúcia,
Vou acalentar o orvalho
Com carinho de algodão...

Vou adormecer na relva
E sonhar com as estrelas,
Vou correr na chuva
E morar no arrebol...

Vou comprar a aurora
E brincar com o sol
Nas folhas do outono...

Vou chorar com as flores
Porque espinhos de verão

Deixaram ferida a primavera!

Senhas Adversas

No sonho tudo vejo de verdade acontecer:
Mãos dadas, carícias, abraços fulgurantes...
Beijos profundos, sorrisos e dois amantes
Num carnaval que é a relação entre eu e você...

Na realidade o cotidiano é intenso climatério:
Você me xinga, chora, grita... é circo armado...
Tranca-se em si... Cada qual se vire pro seu lado
E a convivência é vela... Um silêncio de cemitério!

Entre o mundo real e o devaneio, prefiro a utopia,
Assim posso desabafar nos versos de uma poesia
E soterrar você nas catacumbas do esquecimento...

A solidão é aparente, pois, imaginar e criar é vida,
Saudade não é delinquência da existência rapariga,

Porém um arrebol íntimo que é tesouro e monumento!

Prisão de Alegorias

Brinco com as letras, as palavras surgem maciças.

Tomo do pincel para torneá-las em Semântica,
Mas muitas vezes somem rumo à Atlântida

E fico a decompor as sílabas com Prosódia
Para que não sejam fantasmas nem História
Em derredor do processo linguístico da Gramática...

Minha Estilística persuade-me a visitar a Fonética
Numa investigação parental à parede dos sons,
Contudo sinto-me envergonhado ao desnudar os tons,
Pois, tal procedimento constrange, via de regra, a ética...

Vejo-me obrigado a consultar os preceitos da Morfologia...
Onde se escondem os vocábulos dos torneios sintáticos?
Ah... Melhor mesmo descrever a ocorrência em Oratória
E aguardar que, arrependidas, as palavras sejam a Retórica
Que me embala nas entrelinhas de minha fantasia!



sábado, 6 de dezembro de 2014

Desnudo de Mim...

Acalento em mim um sonho tímido e bucólico:
Desnudar-me e nu caminhar pelos campos,
Sentir o tempero silvestre que diante de tantos
Florais acaricia-me o corpo em todos os trópicos.

Descortina-me o devaneio de ser natureza somente
E perante sol e chuva poder curtir todos os anelos
Que singram minh’alma puros, carentes e singelos
Desenhando em mim a fotografia do que sou expoente...

Ter do semáforo a liberdade do verde paisagístico
Que embalsama n’alma o tom sublime de um dístico,
Tópico da ventura que se instala no arrebol humano...

Despido das profanas senzalas que adornam o corpo
Hei de adormecer solene sobre ideais que discorro
Que são o mel que adocica e deleta os desenganos!


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Dimensão Oscular

Saborear o néctar do teu beijo
É transformar cuspe em esperma,
Lábios juntos são quatro pernas
Que se colam na linha do desejo...

Línguas são membros enrijecidos
Que soltam faíscas em combustão,
Orgasmo facial com volúpia e tesão
Que acaricia cios maviosos e atrevidos...

No céu da boca consome-se a dose
Do coito que é vitamina e overdose
Na relação que estremece os ventos...

Os dentes mastigam carinho e prazer
Enfeitiçados num romântico atelier
Em que o amor se multiplica aos centos!




quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

ARTESÃO DE VIDAS - VI -Epílogo

S E R I A D O
ARTESÃO DE VIDAS
CAPÍTULO - VI
E P Í L O G O
Uma enquete internacional apontava Tádzio Albuquerque como o garoto mais lindo do mundo. Estava no clímax dos seu 17 anos. Durante os últimos tempos percorrera o mundo inteiro. O auge de sua carreira parecia não ter fim. Quanto mais anos ganhava, mais belo e perfeito ficava. Joab o convidara para uma nova tela, desejava mostrar ao mundo a nudez do menino que crescera e que mais bonito ficara. Tádzio refletira e resolvera aceitar o convite do irmão. Joab, por sua vez, se já
era perfeito em seu ofício, tornara-se agora mais que perfeito. A tela logo chegou aos parâmetros internacionais. O original, ele conseguira vender pela bagatela de 80 milhões de dólares a uma grande organização da Inglaterra, fora o que renderam as réplicas. Estavam a nadar em muito dinheiro. Elza se mostrava feliz, porém, sentia-se cansada. Era uma mulher realizada e muito amada pelos dois filhos.
Em uma de suas viagens à Europa, Tádzio conheceu Monique, uma tiete francesa. Apaixonaram-se, perdidamente. Tádzio resolveu trazê-la consigo, mesmo sem falar em casamento. A moça era realmente muito bonita, de uma beleza singular. Os olhos de Tádzio brilhavam e ela tudo fazia para não desgostar seu príncipe encantado. Joab e Elza receberam com bons olhos a moça. Um dia, Elza disse a Joab:
- Meu filho, você precisa fazer como seu irmão, arranjar uma namorada... Você já tem 18 anos e nunca o ouvi falar em uma mulher.
Joab se sentiu incomodado com o comentário da mãe. Tentou mudar de assunto, contudo Elza insistia.
- Você vai levar a vida inteiramente só? Um dia Tádzio se casa, vai morar na casa dele... Eu não nasci para semente, com certeza chegará o momento em que deverei prestar contas a Deus... você vai ficar sozinho?
Joab mordeu os lábios. Não gostava de dialogar com ninguém sobre sua vida íntima, muito menos com Elza.
- Mãe, certamente a minha ainda não chegou, pode ser que a descubra um dia. Não irei me casar com qualquer uma. Tádzio teve sorte, porque Monique é apaixonada de verdade por ele e vice-versa... No meu caso, as garotas que de mim se aproximaram não o fizeram por amor a minha pessoa, mas por amor ao meu dinheiro. Não darei a nenhuma delas esta “colher de chá”... de forma alguma. Só me casarei por amor... se não aparecer uma em que haja um sentimento verdadeiro e recíproco,
não me casarei, nunca.
E Elza, então, via-se obrigada a mudar de assunto. De tanto olhar-se e contemplar-se ao espelho, Joab Matias Santiago conhecia detalhe por detalhe do seu corpo. Houvera tido uma ideia e a pôs em prática. Ele mesmo se pintou em sua nudez. Levou alguns dias trancado em seu quarto preparando esta surpresa. Ao final de quase quinze dias, dava por finalizado seu trabalho. Ficara uma obra-prima. Logo expôs em público sua nova faina. O sucesso foi estrondoso. Sobre ele caí-
ram as mais tentadoras ofertas para a venda do original. Por enquanto recusava a todas elas. Ganhou cem milhões de dólares apenas com a venda de réplicas. Para o original não colocara preço, ainda. Deixaria guardado, um dia venderia pelo preço que sonhava.
Mais um ano se passou. Tádzio e Momique marcaram casamento. Foi o casamento mais comentado nos meios sociais do mundo inteiro. Tádzio e Monique, ambos com 18 anos e uma vida inteira pela frente. O casamento fora assim às pressas, porque a moça estava grávida e Tádzio desejava ampará-la e ao futuro filho. Eles eram felizes.
Joab continuava a guardar o original da tela de sua nudez. Um dia recebeu a oferta que esperava. Esta chegou num envelope lacrado e destinado a ele. Abriu-o, ficou feliz com o valor proposto, todavia não havia um remetente legível. Este fato o deixou com uma pulga atrás da orelha. Quem seria que lhe ofertava milhões de dólares por seu original? Havia tão somente o nome de um representante legal do
interessado... Quem seria esse interessado? Ou interessada? Matutava que matutava e não conseguia desvendar-lhe o nome.
Estava Joab no auge de seus dezenove anos. Mais lindo do que nunca. Mais réplicas do seu original foram pedidas e ele as mandou fazer e obteve espetacular lucro: trezentos mil dólares. Ficava horas e horas a conversar consigo mesmo. Este era um hábito que não morrera dentro de si. Filosofava, buscava respostas às suas perguntas mais urgentes. Antes era apenas uma, mas agora eram duas: “Espelho
meu, existe no mundo algum garoto mais bonito que eu?” “Ou espelho meu, quem que me oferta milhões de dólares pelo original de minha nudez? Quem?” Tais perguntas ficavam sem resposta. Lembrou-se do dia em que Tádzio lhe dissera: “Não sei por que você fica aí se questionando diante do espelho quando sabe que ele jamais dará uma resposta a você...”
Relembrou Tádzio em seus 14 anos, no dia em que o conhecera. Como era lindo e perfeito... Era tão lindo que resolvera pintar, dissecar sua nudez numa tela e, graças a isso, aí estavam eles, ricos, milionários, possuidores de tudo quanto desejavam. Tádzio teve tudo... e ele? Já tivera tudo da vida? Assim levava seus dias, numa solidão de fazer dó, especialmente agora que estava somente em companhia
da mãe, pois, Tádzio se casara e morava noutro ambiente com sua linda mulher.
Mas o tempo não perdoa... Chegara a hora de Monique trazer ao mundo o primei-ro filho de Tádzio. Estavam aflitos todos na maternidade... Estavam em Paris. O menino seria um francês... exigência de Monique que desejava ter a criança perto dos pais. E nasceu François, cheio de saúde e vitalidade... Tádzio era só alegrias em seus 19 anos. Joab chegara aos 20 e foi nomeado pelos pais de François
para ser padrinho ao lado da mãe, Elza.
Novamente chega às mãos de Joab a proposta para a compra dos originais da tela de sua nudez. Contudo, prosseguia desconhecendo quem seria, quem estava a interessar-se pela compra do mesmo... Joab estava maluquinho, não conseguia atinar o mistério. Passava noites e noites sem dormir, tentando mentalizar e descobrir, mas de nada adiantava. Ou será que aquilo era apenas uma brincadeira?
Quando completou 21 anos, outra vez a mesma proposta... Não, estavam querendo enlouquecê-lo, era isso. Não iria mais incomodar-se com isso, tornara-se uma rotina anual muito chata, bastante desagradável.
Uma certa noite estava só em casa. Elza havia ido ao apartamento de Tádzio, que havia em si uma novidade para contar-lhe: Monique estava grávida outra vez! De lá mesmo comunicou a Joab por telefone e este desejou parabéns para o irmão.
Joab sentou-se numa poltrona do terraço. Estava mergulhado em suas reflexões, como sempre sem respostas. Neste exato momento toca a campainha da porta. Muito preguiçosamente se levanta e vai atender.
- Boa noite, Joab? Lembra de mim?
- Como poderia me esquecer de você, Breno Allende? Por onde anda? Que tem feito? – Joab interpelou.
- Depois da tela que me fez... fiz sucesso, sim. Ganhei muito dinheiro, estou rico. Trabalhei como modelo em várias oportunidades, mas parei, não tive a sorte que teve Tádzio, que continua arrebentando por aí... Disse Breno.
- Mas o que o traz à minha presença, a esta visita? Quis saber Joab.
- Você não tem recebido minha proposta para a compra do original da tela de sua nudez? Sou eu que oferto os milhões de dólares por ela...
- Você? E por que tem feito isso? Manda a proposta, porém não se apresenta para vir buscá-la... Que mistério é esse,?
-É o mistério do amor, meu amigo – Frisou Breno.
- Sinceramente, não entendi... Pode explicar-se mais diretamente?
- Claro... Lembra o dia em que me convidou para posar para a tela que fez de mim?
- Lembro... Por quê?
- Bem, não sei se percebeu... mas fiquei muito nervoso, não porque fosse posar nu para um trabalho artístico, porém porque o artista era você...
- Ainda prossigo sem entender... – Joab disse.
- Serei mais claro... Desde aquela época, aliás, muito antes das telas, que era apaixonado por você, Joab... temi que, diante de minha nudez, você descobrisse este meu segredo...
- Eu sinto muito... Perante este alvitre, eu tenho INTOLERÂNCIA... Desculpe!
- Sempre soube disso... Tenho o dinheiro para a compra da tela em uma conta minha na Suíça...Passe-me seus detalhes bancários a fim de que eu possa fazer a transferência... Será imediata! Só não me pergunte como foi que obtive tão elevada quantia... não posso lhe dizer, faz parte de minha vida privada...
Joab passou os detalhes de sua conta bancária e, no dia seguinte, pôde positivamente comprovar que o dinheiro estava depositado, então pediu à sua secretária que mandasse alguém deixar uma encomenda no endereço de Breno.
Quando se viu a sós, despiu-se totalmente e fez, talvez, pela milionésima vez em sua vida uma pergunta ao espelho:
“Espelho meu, não farrape comigo e me responda: há na face desta terra algum homem que seja mais lindo que eu... há?”
FIM

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

ARTESÃO DE VIDAS - V

S E R I A D O
ARTESÃO DE V I D A S
CAPÍTULO V
Alguns dias se passaram. Elza Santiago desmarcou algumas viagens de negócios que havia de fazer, motivos inadiáveis fizeram com que ela assim procedesse. Além de estar à frente dos trabalhos artísticos de Joab, igualmente recebera uma intimação do Juizado da Criança e do Adolescente. Estava marcada a primeira audiência sobre a adoção de Tádzio. Havia no recinto muita gente: Elza, Tádzio, Joab e Dr. Inaldo, advogado da causa. Do outro lado havia as presenças da madrasta de Tádzio que estava acompanhada do marido e do seu respectivo advogado. Foram apresentadas todas as queixas e as provas irrefutáveis de como a criança era torturada. O próprio Tádzio deu seu depoimento, acusando veementemente a madrasta e seu marido. Tudo
relatou e o advogado mostrou as fotos que comprovavam aquilo que ali estava sendo colocado. Os oponentes tentaram defender-se, mas
diante de tantas evidências, não tinham como expressar qualquer posicionamento. O Juiz pediu que se retirassem e que aguardassem do lado de fora sua sentença. A expectativa era intensa e um fato veio debelar em definitivo aquele caso. Sem pensar no que dizia, o que dizia e onde dizia, a madrasta de Tádzio não se conteve e falou em voz baixa, mas o suficiente para que Dr. Inaldo gravasse no celular:
- Claro está, Tádzio, que não perderemos sua guarda. Os pratos, o banheiro e as roupas esperam por você, além da sova que levará quando chegar em casa por nos colocar nesta situação tão deprimente.
Todos ficaram perplexos com a audácia da mulher e ela nem imaginava que o que dissera havia sido gravado. Foi sua total perdição.
Algumas horas depois, o Juiz pede para que todos entrem, já havia pronta a decisão.
- Escrivão, anote aí os seguintes dizeres forenses que é a minha decisiva palavra sobre este caso em questão...
Antes que o Juiz iniciasse a sentença, Dr. Inaldo, calmamente, pediu a palavra:
- Palavra concedida, Dr. Advogado.
Inaldo então ligou o celular e mostrou a gravação... O Juiz não tinha mais dúvidas a respeito do que se resolvera...
- Concedo a guarda definitiva do jovem TÁDZIO ALBUQUERQUE à senhora Elza Santiago, sem direito a recursos e apelações de acordo com...
O marido da madrasta de Tádzio assim disse a ela em frente a todos ali presentes:
- Estúpida!
Dirigiram-se ao Cartório do Fórum e pegaram a certidão de nascimento de Tádzio e toda a documentação em que constava a irrestrita adoção da criança por Elza. Nada mais havia de ser feito. Saíram dali muito felizes e foram comemorar.
Dias após estes acontecimentos, Tádzio recebia em sua residência os documentos escolares que lhe dariam direito de matricular-se e Elza o matriculou na mesma escola onde estudava Joab, só que Tádzio estava bastante atrasado, iria cursar o 6º. ano do ensino Fundamental, enquanto que Joab já cursava o 1º. do Médio.
Antes de todos estes fatos, Elza e os garotos foram até a residência de Breno Allende. Elza carregava consigo uma réplica do extraordinário trabalho de Joab.
Foram muito bem recebidos pelos pais do jovem, que ficaram perplexos diante do que estava ali sendo mostrado.
- Santo Deus! – disse a mãe do garoto – este é meu filho! Como puderam fotografá-lo assim nestes trajes?
Foi o pai de Breno quem interveio.
- Mulher, isto não é uma fotografia, é uma tela, um trabalho artístico feito pelo amigo Joab. Eu estou pasmo, não pela audácia do teor da tela, mas pelo fantástico talento do garoto. Nada tenho a contestar e, de minha parte, dou minha autorização para que este trabalho seja divulgado. Você quer, meu filho, que sua nudez seja exposta em público? Percebe-se que não é nada maldoso ou malicioso, porém um extraordinário trabalho de pintura que, de tão perfeito, conseguiu enganar sua mãe. Que diz Breno? A palavra é sua...
- Eu quero sim. Noto que é o começo de uma carreira que nunca pensei trilhar, mas este trabalho de Joab certamente fará com que as portas se abram para mim na profissão de modelo. Obrigado, Joab!
No dia seguinte todos estavam no cartório e assinaram as autorizações que concediam a Tádzio e a Breno o direito de verem as telas expostas em público. Diante da autorização dos responsáveis, o Juiz consentiu a divulgação e a comercialização da arte, bem como permitia que os mesmos pudessem trabalhar como modelos profissionais caso houvesse convites neste sentido.
Elza levou réplicas dos trabalhos numa exposição de arte. As réplicas foram arrebatadas por um preço altíssimo: cinquenta mil reais cada uma!
Expôs os trabalhos na internet e em sites especializados. O sucesso não se fez esperar. No e-mail de Elza choviam convites para que Joab pintasse personagens importantes, tanto da música como de atores e atrizes de televisão, teatro e cinema. Elza começou a viajar pelo Brasil inteiro, eram muitos os convites e os pedidos. O talento de Joab crescia que crescia. Estava ganhando muito dinheiro. O mesmo se pode dizer de Tádzio e Breno. Ambos entraram para um curso de modelos profissionais. Como eram belíssimos, sempre estavam sendo requisitados para comparecerem às passarelas de moda do país inteiro. Elza foi obrigada a pedir demissão de seu trabalho, porque não havia como conciliar seus interesses aos interesses dos meninos.
Acabaram de regressar de uma viagem que fizeram a São Paulo, onde Joab pintou telas de personagens famosas do meio artístico. Estavam confortavelmente sentados no sofá da sala e foi Tádzio que trouxe uma grande notícia, posto que estava a navegar pela internet.
- Joab, mãe Elza, vejam isto que acabei de imprimir e que se encontrava na linha de tempo de Joab.
Ficaram perplexos. Era um pedido de compra. Uma grande organização francesa estava a oferecer o equivalente a dez milhões de reais pelos originais das telas de Tádzio e Breno.
- Como é, mãe, vende? – Perguntou Joab.
- Você acha que podemos recusar uma oferta destas? É claro que vendo! Com o dinheiro compraremos nosso apartamento próprio. Vocês trabalham e eu os represento.
Elza entrou em contato com a organização francesa e fez o negócio. Em poucos dias o dinheiro estava creditado em sua conta e os originais remetidos para a França.
De posse de tão elevada quantia, finalmente começaram a percorrer a cidade em busca de realizar um grande sonho: a casa própria! Percorreram vários imóveis e se apaixonaram por um apartamento à beira-mar, na Zona Sul da cidade. Compraram à vista e desembolsaram a bagatela de 4 milhões pelo respectivo imóvel. Era um apartamento enorme: sala para quatro ambientes, 4 dormitórios sociais, todos
com suíte, imensa copa cozinha, dependências para 2 empregados do lar, biblioteca, despensa, enorme área de serviço, dois banheiros sociais... um imóvel de luxo!
Havia espaço para três carros na garagem. Botaram mobília nova e, um mês depois, já habitavam na nova residência.
Tádzio acabara de receber um convite: desfilar no maior e mais importante desfile de moda dos Estados Unidos. Estava radiante:
- Então, mãe Elza, eu aceito o convite?
- Lógico, meu filho. Iremos nós três. Quando será?
- Daqui a quinze dias. – Tádzio respondeu.
E se prepararam para a viagem. Compararam roupas novas, sapatos novos, tudo novo. Três dias antes do desfile, embarcaram. O evento dar-se-ia em MIAMI BEACH. Desfile muito concorrido. Tádzio fazia um grande sucesso. Era lindo e a pintura de sua nudez endoidava a tietagem. Estavam hospedados em importante e concorrido hotel da cidade. A imprensa não dava descanso e andavam tentando uma reportagem especial com o mais famoso modelo profissional do mun-
do no momento: Tádzio Albuquerque, um garoto de apenas 15 anos.
Tádzio e Joab resolveram conhecer a piscina do hotel. Era num dia pela manhã, o espaço estava tomado de gente e o rebuliço foi grande quando da chegada de ambos. Corre-corre, gente para todos os lados e a segurança teve muito trabalho para conter os fãs. Quem por perto estava, deliciou-se ao contemplar ao vivo as beldades, em especial Tádzio, que era o centro de todas as atenções. Tiraram muitas fotos dos garotos e os mesmos não puderam curtir a piscina em
paz, foram obrigados a se retirarem, para a frustração dos tietes. Assim que entraram de retorno aos aposentos, Elza estava com uma correspondência em suas mãos.
- Tádzio, importante revista americana convida você para uma sessão especial de fotos. Será publicada uma edição especial, só sobre você. Aceita?
- Quando eles querem que isto ocorra? – Interrogou Tádzio.
- Hoje à tarde. Caso dê uma resposta positiva, eles mandam buscar você. Claro que eu e Joab o acompanharemos, nada fará sozinho, especialmente enquanto for menor.
- E eles falam em cachê?
- Sim, oferecem trezentos mil dólares pelas fotos. – Confirmou Elza.
- O que você acha? Devo aceitar?
- Sim, mas não por esse cachê. Cobre o dobro. Se eles toparem pagar, você vai, caso contrário rejeite...
E a revista aceitou de imediato a contraproposta de Tádzio. À tarde deste mesmo dia, lá iam os três em condução especial para o local onde as fotos foram realizadas. O lugar era muito bonito. Tádzio foi fotografado com vestuário social, esportivo e de banho, em vários modelos. Ao regressarem ao hotel, estavam exaustos.
Estavam nos aposentos quando o telefone tocou. Elza atendeu:
- Sim, pois não...
- Aqui é da recepção. Há uma emissora de televisão que está a desejar uma reportagem com Tádzio Albuquerque. Trata-se de uma entrevista ao vivo e que será realizada aqui mesmo no ambiente do hotel, numa área reservada. Pagam excelente cachê por uma reportagem de meia hora. Haverá a presença de fãs, cinquenta ao todo, que chegarão perto do ídolo e receberão dele beijos, abraços e autógrafos. Ah, é a rede de TV de maior audiência nos Estados Unidos.
- Quanto oferecem de cachê? – Elza quis saber.
- Eles pagam trinta mil dólares, na hora, em espécie.
- Tádzio irá, mas não por trinta mil dólares, porém por cinquenta mil.- Elza disse.
- Volto a ligar em poucos minutos.
E não se passaram nem cinco minutos, o telefone toca outra vez.
- É da recepção. A emissora de TV paga o que Tádzio cobra.
E Tádzio arrumou-se e desceu rodeado por Elza e Joab. Foi diretamente levado para o ambiente da entrevista, onde havia muitos seguranças e um público ávido por tocá-lo, ouvir sua voz, ter seu autógrafo, seus abraços e beijos. Tádzio não chegou para quem quis. A tietagem ficou em derredor de si, ele atendia um, atendia outro... Depois o puseram sentado numa cadeira e um jornalista o bombardeou de perguntas e mais perguntas. Ele a tudo respondia com um sorriso nos lábios. Meia hora depois, deram por encerrado aquele encontro e Elza recebeu a “grana” do cachê.
No dia seguinte, Elza tomou uma decisão:
- Tádzio, hoje você não atende ninguém. Precisa repousar para o desfile de amanhã.
Assim foi cumprido. Apesar dos inúmeros convites e dos cachês altíssimos oferecidos, Tádzio Albuquerque obedeceu a Elza. Passou o dia inteiro no apartamento do hotel e até as refeições foram trazidas para eles. Descansou.
Chegara o dia do grande desfile. O local mais parecia um mar de gente. Muitos cartazes exibiam Tádzio: ora em trajes de banho, ora vestido socialmente, ora de forma esportiva e até houve quem trouxesse uma réplica da tela em que posara inteiramente nu. Era, incontestavelmente, um grande ídolo. E ele desfilou para o delírio do público. Primeiro apareceu na passarela com uma bonita roupa esportiva; em seguida, social e impecavelmente trajado... por último., apenas de sunga, numa propaganda para uma marca. Quase puseram abaixo o local do desfile. No final, houve de ser fortemente protegido a fim de chegar ao hotel.
No dia seguinte estavam de regresso ao Brasil. A fama os apanhou assim meio que de repente. No princípio sofreram muito, posto que perderam a liberdade do ir e vir. Com o passar do tempo foram se acostumando e agora nada mais era novidade. Mudaram de escola, foram matriculados num colégio mais caro e onde deveriam estudar mais. Certa noite, Tádzio e Joab dialogavam:
- Parece que foi ontem que tirei você do meio daqueles trombadinhas... –Lembrou Joab.
- Realmente – concordou Tádzio – o tempo passa muito depressa. Também parece que foi ontem que você inventou de me pintar e fazer uma tela de minha nudez... olha no que deu... – Frisou Tádzio.
- É... e seu projeto de estudar para engenharia de pesca, morreu?
- Não, não morreu. Agora eu vou aproveitar bem este momento, pois nem sempre estarei assim tão no auge. Vou ganhar o que tiver de ganhar e quando esta fase passar, eu colocarei em prática o curso que pretendo fazer.
- E você, não vai fazer arquitetura?
- Nem sei, Tádzio... Eu não tenho tempo nem para respirar... São tantos convites para pintar...
- Estamos ricos, não é irmão?
- Sim, estamos... mas será que vale a pena tudo isso se não podemos levar uma vida normal? – Joab quis saber.
- Para mim, vale, sim. No meu caso é mais passageiro, pois vida de modelo não é longa. Tenho de ganhar tudo agora, depois aproveitar a vida.
Adormeceram. Estavam cansados.
AMANHÃ - CAP. IV - O EPÍLOGO

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

ARTESÃO DE VIDAS - IV

S E R I A D O
ARTESÃO D E V I D A S
CAPÍTULO IV
Mais alguns dias se passaram. Os meninos levavam a vida na costumeira rotina. No domingo não saíram de casa, ficaram a assistir filmes na TV e a conversar. Fizeram todas as refeições no próprio lar.
A segunda-feira chegou com muita chuva. Verdadeiro temporal, alagando tudo. Mesmo assim, Joab não perdeu aula. Chegou ensopado à escola...Lá foi obrigado a tirar a blusa e espremer, o que chamou a atenção dos colegas. Alguns apenas brincaram, mas outros adoraram ver aquele tórax bonito e bem dividido, suspiraram...
- Nossa! – Disse Fred , um colega de classe – Você mata todo mundo de inveja...
- Por que? – Joab interrogou.
- Ora bolas! Não se faça de fingido...Você sabe muito bem do que falo... Fred arrematou.
- Não sei – respondeu Joab – quero que me diga.
- Seu tórax... é muito lindo! Vontade imensa de acariciar...
- Nem pense nisto – frisou Joab – INTOLERÂNCIA para essas coisas.
- Calma, Joab – disse Fred sorrindo – estou apenas brincando...
- Ainda bem, ainda bem...
Depois que espremeu a blusa, vestiu-a, mesmo estando molhada.
- Você pode pegar uma gripe – colocou Breno – um outro colega de classe.
- Torcer para que isso não ocorra, não é amigo? – Joab retrucou.
Joab ainda não havia reparado bem em Breno até aquele instante. Teve um estalo:
“Ele deve ter um corpo belíssimo, cairia como uma luva numa pintura...”
- Breno – pediu Joab – depois desejo ter um “trololó” em particular com você, pode ser?
- Claro, meu amigo, estou à sua disposição.- Breno respondeu.
Combinaram um encontro na biblioteca na hora do intervalo, que logo chegou.
- Pode falar, Joab, parece-me que é algo sério...
- Sim, é sério mesmo, porém estou cheio de “dedos” para falar...
- Fale, cara, saberei manter discrição se for alguma coisa íntima.
- É íntimo, muito íntimo... Joab falou.
Criou coragem e disse tudo o que queria...
- Não sei... Posar para você nuzinho em pelo... e por vários dias... o que não irão pensar de nós dois?
- Ninguém precisa saber... só eu e você. É um trabalho artístico, nada há o que temer... Depois de pronto, veremos como faremos... se ficar bom, certamente dará um bom dinheiro...
- O que direi em minha casa?
- Ah, pode dizer que vai à minha casa para estudar... podemos até estudar um pouco, assim não estará mentindo.
- Sei não... Estou como medo, sou bastante tímido...
- Não olharei para você com “olhos de malícia”, mas com um olhar clínico de artista.
- Quando pretende começar,?
- Ainda hoje, claro, não quero perder tempo. Frisou Joab.
- E sua mãe?
- Está viajando... pode chegar a qualquer momento, mas creio que apenas estará em casa na sexta-feira, à noite.
- E o primo que você diz estar passando uns dias com vocês?
- Se achar inconveniente ele assistir ao nosso trabalho, peço para ele ficar no quarto, ele me atenderá...
- Não sei... Está bem, aceito o desafio. Mas silêncio absoluto em torno disto, viu?
- Claro, pode confiar em mim. Obrigado aceitar posar para mim.
- De nada. Vamos ver no que vai dar.
Terminado o intervalo, voltaram à sala de aula. Joab não cabia em si de contentamento... Seria sua segunda experiência... Tinha certeza de que faria um grande trabalho.
Breno Allende, 16 anos. Era alto, 1, 76cm, moreno claro, cabelos castanhos escuros encaracolados, olhos castanhos, também escuros... era tudo o que conhecia do amigo, logo mais o teria ao inteiro dispor...
A chuva não cessara. Joab chegou em casa e, imediatamente, tudo disse a Tádzio.
- Você não está se precipitando? Não seria melhor deixar primeiro sua mãe avaliar a pintura que fez de mim? Bom, mas você é quem sabe...
- Não posso perder esta oportunidade... Breno é um garoto lindíssimo e uma pintura bem feita dele poderá tornar-se uma obra-prima... sei lá... já convidei, não vou desistir. Confessou Joab.
- Está certo, mãos à obra. Ficarei no quarto. Não mostre minha pintura a ele, por favor.
- Jamais faria isso, nem se preocupe. Sua pintura fica guardada no quarto de minha mãe.
Dirigiu-se aos seus aposentos, tirou a roupa molhada do corpo e foi tomar banho. Em seguida estava na cozinha almoçando com Tádzio. Ambos estavam em silêncio e assim permaneceram até o final da refeição.
No horário combinado, Breno chega à sua casa.
- Oi, Breno, entre e fique à vontade. – Convidou Joab.
- Estamos sós mesmo?
- Com certeza, só meu primo, contudo ele ficará no quarto, não aparecerá por aqui. Prometo!
A sala estava toda preparada para o trabalho. Lentamente Breno despiu-se e, a cada peça que tirava, Joab havia em si a certeza de que retrataria com perfeição as linhas daquele belo corpo.
Trabalharam até 18 horas, quando Joab falou:
- Pode vestir-se, por hoje é só. Amanhã no mesmo horário. Quer jantar conosco?
- Não, obrigado, tenho de estar em casa cedo. Até amanhã.
Apertaram-se as mãos e Breno se foi. Logo que saiu, Tádzio surgiu.
- Posso ver o que está fazendo dele? – Tádzio inquiriu.
- É claro que não! Cada qual que guarde suas intimidades.- Joab retrucou.
Os dias continuavam a passar rapidamente. Na quinta-feira, surpreendentemente, Joab deu o trabalho por encerrado. Eram cinco e meia da tarde.
- Venha ver a si mesmo, Breno. Está concluído o serviço artístico.
Breno nem se preocupou em vestir-se antes, correu para frente da tela. Quase que o queixo desaba no chão.
- Se eu não fosse o modelo, jamais acreditaria, pode crer. Isto não é uma tela, mas uma foto muito íntima minha. A pintura principal rodeada por pinturas menores, mostrando em todos os ângulos minha nudez, tanto frontal, como em diagonais e a parte das costas e das nádegas. Perfeito, parabéns! Estou diante de um artista. Levarei comigo para casa? – Quis saber Breno.
- Não – respondeu Joab. Deixarei minha mãe chegar, ela vai opinar e dizer o que faremos que com esta preciosidade.
- Está bem, ficarei à espera da opinião dela.
Breno, então, vestiu-se com vagar e se despediu de Joab.
- Até amanhã. Na escola conversaremos.
Joab levou a tela para seu quarto devidamente coberta a fim de Tádzio não olhar.
Após guardar tudo e arrumar a sala, foi tomar banho e jantar. Ambos estavam se fartando com a alimentação, quando Elza entrou pela porta da cozinha.
- Olá, meus bebês, tudo em ordem por aqui?
- Mãe!
- Dona Elza!
Os três se abraçaram. Elza foi ao seu quarto, largou tudo em cima da cama e veio juntar-se às crianças para jantar. Nem percebeu que no canto da parede havia uma tela e que estava coberta por uma toalha.
Jantaram no maior vozerio. Cada qual que quisesse contar suas novidades. Elza terminou de contar as dela, então Joab falou:
- Mãe, quando você terminar de jantar, temos uma novidade para mostrar...
- Temos?
- Sim, é uma novidade minha e de Tádzio. Espero que você goste!
- Hum... Já estou curiosa... O que é?
- Termine primeiro de comer... poderá até ter uma indigestão e não quero ficar com essa culpa...
- Olha lá, meninos, que arte andaram aprontando?
- É arte mesmo, dono Elza – Informou Tádzio. É muita arte!
Findaram o jantar. Elza perguntou:
- O que é que tem para mostrar-me?
- Siga-me – pediu Joab – está em seu quarto.
E se dirigiram aos aposentos de Elza. Joab foi na frente. Retirou a toalha que cobria a tela e colocou bem diante dos olhos da mãe.
- Minha nossa! Que quadro belíssimo? Quem o pintou, Joab?
- Eu, mãe, fui eu quem pintou. Gostou?
- Virgem Santíssima! Isto é uma obra de arte! E este é você, Tádzio!
- Sim, dona Elza, sou eu mesmo. Eu posei para que ele me pintasse e me colocasse nesta tela. Não ficou uma obra-prima?
- Nossa Senhora do Desterro! Sim, meu querido, ficou... Perfeito!
- Venha cá, mãe, em meu quarto. – Novamente Joab pediu.
- Tem mais? – Inquiriu Elza.
- Tem, só que este você não conhece, é um colega da escola.
E retirou a toalha. Elza babou com a perfeição dos trabalhos.
- Meu filho, você é um artista e eu não sabia...
- Eu já sabia, mas não havia em mim coragem de pedir que os modelos posassem. De repente criei coragem e pedi. Eis os resultados!
Elza estava tão feliz que não sabia o que dizer. Andava para lá e pra cá, feito uma barata tonta... Foi Joab quem a segurou e pediu para que se sentasse na cama.
- Esperei você chegar para discutirmos o que faremos com estas peças... – Colocou Joab.
- Claro está que estes originais são meus – enfatizou Elza – Faremos réplicas e as negociaremos. Isto dará a você, Joab, muito dinheiro...
- O dinheiro que eu conseguir com estes trabalhos serão divididos meio a meio com os respectivos modelos, foi uma promessa que fiz a eles. – Joab falou.
- Concordo com você, meu filho, questão de honestidade. Muito bem! – Expressou-se Elza.
- Por enquanto vamos aguardar. Com relação à pintura de Tádzio, deixemos que se resolva o problema da adoção, é bom não misturarmos as coisas agora. – Aconselhou Elza – quanto ao do seu amigo, iremos falar com os pais dele, nada podemos
sem a autorização dos pais, ele deve ser menor.
- Sim, ele tem 16 anos. O nome dele é Breno Allende.
- Iremos amanhã falar com os pais dele, mas antes levarei a pintura para fazer réplicas, levarei a de Tádzio também. Os originais ficam com o artista.
Estavam muito contentes com a possibilidade de grande sucesso. As coisas deveriam andar com calma, porque, como se sabe, “a pressa é inimiga da perfeição.”
AMANHÃ - CAP. V