terça-feira, 31 de dezembro de 2019

AVENTURA DE MENINO


Eu era garotinho...
Fugi de casa
Com um guarda-chuva rasgado
E meias trocadas,
De cores diferentes.
Uma calça
Que não cabia em mim
E um rosto de querubim.
Fui de porta em porta
Suplicando uma esmola
Pelo amor de Deus.
Levei uma manhã inteira
Subindo e descendo ladeiras
Daquela bairro distante.
Um sorriso à toa
Mostrando os dentes a cada instante.
Esse fato não me sai da lembrança,
Eu era uma inocente criança
E não entendia o que estava fazendo...
Meus pais em polvorosa
Mandaram meu irmão mais velho
A procurar-me em cada esquina,
E eu, ingênuo, seguia minha sina
Sem saber por onde ía.
Lá pelos confins da tarde
Meu irmão me encontrava suado,
Agradecendo ao Deus amado
Por haver me encontrado.
Saliente, eu entrei em casa,
Não levei qualquer palmada
E a vizinhança toda na calçada,
Procurava compreender
O que estava acontecendo.
Coloquei o resultado da aventura
Sobre a mesa:
Era uma banana e alguns trocados.
Perguntei a meu pai muito sério:
"Foi só o que consegui,
Dá pra ajudar nas despesas?"
Apesar da forte preocupação
Com o meu sumiço repentino,
Todos se espantaram com o meu tino.
Eu tinha apenas dois anos
E nesta vida cheia de desenganos,
Provoquei sorrisos com minha aventura de menino!

DE Ivan de Oliveira Melo

POEMA ESCRITO EM 2008

domingo, 29 de dezembro de 2019

ÚLTIMOS INSTANTES



É madrugada. Meu rosto está lívido!
A boca amarga os dissabores da ilusão...
Terrível angústia me assalta e, em vão,
Busco respirar, mas é azado meu libido.

Deitado e frente ao espelho, vejo-me tonto;
Tento sorrir, porém é o choro que me afaga
E, fatigado, o corpo procura por uma adaga
Para pôr fim a este malfadado confronto.

Sinto em mim que é chegada a despedida...
Lamento profundamente o que não fiz na vida
E peço compaixão para um coração sofredor!

Parto. Talvez no espaço eu seja bem mais feliz
Já que lutei e lutei e meu regaço a terra não quis...
Morro, enfim, como quem viveu só por amor!




DE  Ivan de Oliveira Melo 

REVIRAVOLTA




Gente, eu nasci feliz!
Gritei, chorei, como todo bebê!
Logo da existência me consumi
De uma patologia infecciosa...

Chegaram até mim
Os efeitos da bactéria malsã
E um atroz sofrimento foi, aos poucos,
Dizimando minha saúde, já precária...

Meu corpo queimou,
A enfermidade lambia meus órgãos
E eu cada vez mais demente
À espera de uma cura milagrosa...

O tempo foi senhor do meu destino!
Crescia que crescia e me sentia átono
Perante uma doença maquiavélica
Que me desnutria, acintosamente.

Um dia, repentinamente, caí...
Levaram-me às pressas para um hospital
Onde me puseram numa ala de UTI.
Eram raras as chances de sobrevivência,
Mas meu coração se recusava
A deixar de pulsar
E a mente estava distante, desgovernada.

Em derredor do meu leito
Vozes discutiam sobre meu futuro:
Algumas eram a favor da eutanásia,
Outras nutriam uma breve esperança
De recuperação...

Não poderiam dar cabo de uma vida
Que, embora simbólica naquele momento,
Ainda respirava, talvez, os últimos acordes.
E uma confusão de instalou...
Quem venceria aquela batalha
Entre a vida e a morte... Quem?

Subitamente. meus dedos se mexeram,
Deram sinais de que a vida em mim não cessara.
Abri os olhos.
Encontrei forças para movimentar os braços
E, num magistral impulso,
Arranquei de mim aqueles fios companheiros
Da morte.
Noutro esforço, conseguiu sentar-me sobre o catre.
Observei em derredor.
Percebi que estavam todos estupefatos.
Sorrisos e lágrimas, concomitantemente.
Apenas indaguei:
Alguém morreu?
E aqui estou até hoje,
Cheio de saúde
E retratando esta história.
Saúde, meus amigos!



DE  Ivan de Oliveira Melo

BORRALHAS






A morte acampa lícita sobre nós
Trazendo o húmus da desventura...
A vida sublime que foi tão pura
Desterra da existência nossa voz.

Hino fúnebre tocam nossos dedos,
Anuncia-se a podridão nauseabunda
Que se espalha no éter e deslumbra
Os corvos vorazes, somos esqueletos.

É no íntimo curto espaço da cova rasa
Que os vermes saciam toda a sua tara
E nos abandonam ilícitos e abissais...

Só a cremação nos liberta desse horror
E nossas cinzas jogadas seja lá onde for
Mantêm as lembranças dos nossos sais!


DE  Ivan de Oliveira Melo


sábado, 28 de dezembro de 2019

ESCREVER




Escrevo porque o mundo existe
E, se não existisse, eu criaria um
Só para escrever o que é comum
E, também, para não ficar triste.

Escrevo porque isso é uma arte
E, se não fosse, eu a faria como tal
A fim de que o bem repelisse o mal
E, igualmente, dela me encantasse.

Escrevo porque escrever é amar
E, se não escrevesse, enlouqueceria
E a existência não teria razão de ser...

Escrevo porque viver é sempre sonhar
E, não se sonhando, não haveria magia
E na vida só haveria aflição, não prazer! 



DE  Ivan de Oliveira Melo

LUJURIA







Mi alma está en lo cio
Y camina aburrido en la lluvia...
Mi boca me parece tan sucia,
Pues sólo besa el tiempo vacio.

Dónde está el amor de mi vida?
Por las calles desiertas yo estoy solo,
Entonces no puedo parar y mis ojos
Están ciegos... Mi vida está urdida!

Por las noches lloro mucho... Decepción!
No hay quien llena el pobre corazon
Tan lleno de amor para sinceramente donar...

Nuevos días surgen y el Sol brilla,
Pero en mi vida hay las ortigas
Que rascan mi cuerpo e no puedo amar!




DE  Ivan de Oliveira Melo

ÚLTIMO DEGRAU





Não pense que só a mentira me consola,
Preciso de mais que isso... Sou exigente!
Pouco a vida oferece a esse bando de gente
Que sonha e sonha, porém apenas quer esmola!

Não imagine que a mentira me atraia...
Longe disso! Autenticidade é o meu emblema,
Contudo se vive na fantasia, na ficção e cinema
E o povo a nutrir hipocrisia e cair na gandaia!

Não reflita que esteja este mundo perdido!
A escada no fundo do poço não é para bandido,
É para quem não permita que a esperança morra...

Não existe o “salve-se quem puder”, isso é alegoria!
Matute que, de mãos dadas, uníssonos nesta agonia,
Todos vencerão as angústias e irão à desforra!



DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

MOCIDADE






Mocidade é vigor. Vida de vigor!
Tudo é fácil... Nada parece árduo,
Lentidão não existe e o indivíduo
É força, enquanto preguiça é dor!

Ah, juventude! Existência sem fadiga,
Tempo áureo de um clímax intenso!
No marchar das horas nem o vento
Em seu assaz furor, nada desobriga.

Período o qual a vontade determina
Realizar sonhos e escavacar a mina
Para no futuro saborear o regalo...

Igualmente época de muitas fantasias,
É necessário não se perder, todavia...
Por entre as estradas, o tempo é vassalo!




DE  Ivan de Oliveira Melo

INVESTIGAÇÃO




O homem é imortal,
Comenta-se isso a todo instante,
Porém para um instante único
É pouco...
Necessário é repetir tal ideia
Centenas de vezes
A fim de que se possa compreender:
O que sou?
Donde vim?
Por que estou aqui?
Aonde vou?

Então é na penumbra
Que tenho as respostas,
Porque tudo em relação ao homem
É só esplendor...
E eu, o que sou?
Sou imortal.
Sou homem!



DE Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

ESCOLÁSTICO






Homem sem tino, mala sem alça,
Roupas imundas, perfeito otário,
Chapéu sem abas, falso e vigário
Cujas pernas há falsete de tralha.

Querer compor, escrever um soneto,
É brincadeira de muito mau gosto,
Leva amigos e o público ao desgosto,
Não sabe nem sonhar e sem respeito.

É um ermitão que esmola no mercado,
Fala abobrinhas, tem rosto mascarado
Para driblar o sabido ao estender a mão...

Faz continhas, na certa ver o que ganhou
Visto que não come, só sabe beber sua dor
Para não enganar o coronário anda são!




DE  Ivan de Oliveira Melo

TROUBLES






Troubles in my mind...
When I look at the world
I can’t get to find words
To describe what is life…

In each corner a problem,
In each problem much fear,
In each fear some tears
Asking for help and amen…

It’s necessary to cry together,
To swear and play for ever
Because all men are brothers…

Nobody gets to survive alone,
In life we can see many stones
But the men can put all in order!



Written by Ivan de Oliveira Melo

INTIMISMO





E o Sol se traveste de Lua,
A Lua se veste como estrelas,
Então se pode compreendê-las,
Pois na homoafetividade flutuam.

Meninas que desejam ser meninos,
Meninos que se parecem meninas,
Transformações que estão nas esquinas,
Vivendo conforme os seus instintos.

Desde os primórdios que tudo isto existe,
Jamais a Ciência conseguiu explicar...
Pouco importa! Vale a liberdade de amar
Visto que o livre arbítrio não impõe limite.

No foro íntimo de cada ser humano...
É aí onde permeiam o que é explicação,
Deve-se viver o que lhe dita o coração,
Tudo o mais se dane! O amor não é profano!

Se é pecado de acordo com as Escrituras,
Cada qual que se justifique perante às Alturas!



DE  Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

ABSOLUTO



Rasguei a dor e a embrulhei na panela,
Queimei o frio com a neve da madrugada
E ensopei o lenço com a secura das lágrimas,
Porque o silêncio é zoada de primavera.

O mudo gritou diante do surdo ambulante
E este, ao escutar a quietude do barulho,
Manteve-se sorrindo, porque nada é entulho
Dos calados que tagarelam e são petulantes.

Rabisquei num rascunho sem lápis ou caneta
Enquanto a vida, gargalhando, me fez careta
Diante duma escada sem degrau e sem chão.

Trabalho ocioso é aquele em que tudo é nada
E, no deserto de uma multidão de camaradas,
A liberdade é uma prisão onde vive o coração!


DE  Ivan de Oliveira Melo


REFLEXÃO DE NATAL




Observo as estrelas que cintilam alegremente
A espiar os homens do alto do firmamento
E elevo às alturas o pensamento.
Lá, elas são cúmplices de todos eles
E, também, alados como os ventos,
Voam silentes entre as nuvens
Em busca dos sagrados mantos
Que protegem o encantamento do momento
E nos dá o real discernimento,
Trazendo à tona a magia que contagia
O saber compreender o que representa a manjedoura.

Matutando sobre este sublime acontecimento,
Juntam-se as mãos em sublime agradecimento,
No agradecer a dádiva e o dom da vida
Que trouxe ao mundo um lindo menino
Em missão de compartilhar a paz e espalhar amor
E, ainda a viver, sempre ensinou
Que todos são irmãos,
Igualitários da plena existência,
Filhos de um mesmo Pai...
Assim, cabe aos homens ser muito mais
Solidários, humildes no real sentido da palavra
A fim de que na essência do Divino
Possam se encontrar
E se tornarem melhores,
Pois no Natal celebra-se a vinda
Do Deus Pequenino
Que só emana amor
De forma simples e universal
Para que no aspecto religião
Deva o homem ser unilateral.

Pensar nas atitudes é necessário...
Para compreender Deus não é preciso de abecedário,
Porque em sua supremacia já se transborda
Todo o conhecimento
Que livra a criatura de qualquer sofrimento
E a resgata com seu amor Paternal...
E, em tudo isto,
Atente-se para o perdão e o sentido do Natal...
É tempo de perdoar,
Amar de forma única e plural,
Porquanto, afinal, é o homem,
Eleito filho do Infinitesimal!



DE  SOCORRO CALDAS  /  IVAN DE OLIVEIRA MELO

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

GELIDEZ



Dentre quatro paredes, tilinto...
O inverno se impõe, o frio é arrogante.
Minha alma está aflita, soluça diante
Dos espasmos do corpo ao sabor do vinho tinto.

Arrepios me congelam... Estou neve
Perante o espelho carrancudo que me assiste...
Tremo. Na voz embargada não há palpite,
Só a frigidez do tempo que não é leve.

Geada rabugenta arrebenta minha mente
E traz a aspereza que trota intermitente,
Deixando no olhar um codo de selvageria...

Granizos. Algidez me deixa a pele sem cor
E a alma, alucinante, é volúpia de cio e amor
Diante da nevasca que traça e desenha fantasia!


DE  Ivan de Oliveira Melo



segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

CONCEITOS




Das lembranças, não se magoe...
Quero, então, um mundo plural,
Mas se for singular, conheça-o,
Não pestaneje !

Das amizades guarde respeito
Embora nem sempre seja respeitado...
Nada de medo e infidelidade,
Pois a traição é nojenta!

Siga a vida, confie no tempo
E dê asas à imaginação,
Porque, às vezes, nada é óbvio.

Olhe o mundo em derredor,
Interpele-se a si mesmo
A fim de que se conheça por dentro
Visto que, por fora, as aparências enganam.

Busque o conforto das palavras
E tenha paciência consigo...
Os momentos são alucinógenos
Para quem não se comunica fácil.
Nunca se divulgue para a vida deitado
Já que a preguiça pode tolher seu senso.
Trabalhe, ócio é podridão!

Tenha diversidade, porquanto o adverso é úmido...
Não se apoquente com os pelos grisalhos,
A experiência deve falar mais alto.
Transforme sua dor em exemplo,
Assim contribuirá para uma existência salutar.

Esteja sempre alegre
Para que os oprimidos não se constranjam.
Um sorriso doce é capaz de metamorfosear
Todos os encaixes onde a tristeza faz morada.
Viva, nunca deseje a morte,
Posto que, se na Terra está,
Certamente tem algo a cumprir,
Nem que seja uma satisfação
Ao seu próprio eu...
Não se esqueça:
Sobreviver, apenas, é pobreza de espírito!

Ame suas fronteiras,
O amor é o bem mais caro,
Contudo igualmente o mais barato,
Haja vista que se vulgarizou
A ponto de vender-se por poucos níqueis,
Não obstante a sensibilidade humana
É o seu ordenador e dia virá
Em que será a única moeda em voga
Para todos que almejem palmilhar a Terra!



DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 21 de dezembro de 2019

TONS PESSOAIS




Meu pensamento navega sobre a areia do meu corpo.

Minha inconsciência mergulha no fogaréu dos tempos.
Minha liberdade cavalga sobre os trilhos da imensidão.

Meu amor mergulha nas raízes do bem, da aventurança
E minha sensibilidade caminha sobre os dons da poesia,
Enquanto minha felicidade sobrevoa os alicerces da paz.

Meus dons percorrem o infinito e, dele, sou tão só nauta
Que viaja dentre as estrelas em busca do conhecimento...
Meus sentimentos pilotam naves que singram o espaço
E pedalam, em derredor dos sonhos, as estradas oníricas.

Meu temperamento dirige veículos arcaicos, puxados por
Forças atrativas de átomos que perambulam no universo,
As veredas onde se rasteja a consciência da sensualidade
Primitiva, abandonada pelos vícios ultrajantes do moderno
Despertar dos homens... Uma enciclopédia de hipocrisia!




DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

ASPECTOS MARINHOS




Ficam incompreendidas as avalanches da natureza,
As ondas são episódios concomitantes
E aqui e acolá, atropelam-se...

O mar salgado às vezes escurece
E, em redemoinhos, torna-se bravio
Alimentando a fúria das tempestades.

Vez por outra, o horizonte chora
E suas lágrimas são abundantes,
Pois vento e chuva se cutucam nos ares
Deixando a atmosfera densa, quase imperceptível...

Gaivotas e albatrozes navegam em voos rasantes
Enquanto o Sol e a Lua se beijam, amantes,
Diante dos tornados que se alevantam antes
Que o dia se enamore da noite em caudal paixão.

Assim é o ambiente natural,
Vernáculo dos torvelinhos de amor
Mesmo que perante as madrugadas sombrias
As estrelas pousem num porto cadente
E, silenciosas, cintilem sobre o ardor
Que a menopausa da Terra furtou
Do frio e do calor da aurora orvalhada...

Sobre os mananciais das colunas de pedra
As vagas vomitam as vicissitudes oceânicas
E o planeta, constrangido, rebola em movimentos
Permitindo que na seara da existência em penumbra,
Possam os oásis saciarem a sede dos umbrais!



DE  Ivan de Oliveira Melo

HARD FIGHT





I kept the love in a Crystal ball
And there it became a symbol…
I put in my heart a great bowl
Then I could choose the leaves of Fall.

There were roses on the ground of my body
And in the smell of their flowers I felt
When the love turned off all my belt
So I could write a single and nice story.

There were shy big trees inside me
But I fought hard and I could see
The love looking for a place to survive…

Then the crystal ball fell down… It was broken!
In the whole world the feelings were stolen
And the love among the persons was still alive!


Poem by


Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

PRESUNÇÃO




E a vida trouxe-me a este planeta repentinamente,
Enlaçou-me pelo pescoço e, em silêncio, conduziu-me
Através das alfândegas metafísicas que são imortais,
Alojando-me diante dos acordes da existência milenar...
Viva! Assim minhas aurículas compreenderam os tons
Manifestados sob a vontade hipnótica que se me abateu
E se me debruçou perante os homens que traçam o bem,
Uma trilha repleta dos seixos que agonizam perante a noite
Donde se obtém o totem da beleza encardida do dia...
O coração, inalienável, pulsou compulsivamente e me sentenciou:
Serás o poeta das substâncias híbridas que compõem o universo
E desmontarás sobre a Terra em corcéis de outo e prata
A fim de que teus versos sejam relíquias da natureza humana
E, tua vontade, as estrofes que combaterão o ódio e a injustiça...
Assim, diante dum cosmos acinzentado pela pobreza assimétrica,
Desbotarás do azul, o branco que manipulará a paz e a concórdia!


DE  Ivan de Oliveira Melo

Escrito em 18/12/2019


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

NA DOIDA...


                               
                                                    -CONTO-




          Era muito linda a cidade de S. Bem cuidada, limpa e bastante organizada. Não era à toa que a ela chegavam inúmeros turistas dos mais variados recantos do país e, até, do exterior. Havia bastantes praças, todas arborizadas e demasia-damente frequentada. Todos para corriam todos os dias, especialmente à  tarde  e à noite, quando o calor se fazia insuportável.
          Apesar de bastante aprazível o lugar, a cidade não contava com  a  existên- cia de hotéis. Havia, em derredor do Centro, como chamavam,  algumas  pousa-das, todavia todas asseadas e concorridas.
          Chegou  numa   determinada   tarde   à  cidade,   um   jovem  casal. Vieram conhecer o município e fazer uma reserva na mais  famosa  pousada  que ali  ha- via: a Pousada Requinte. Era ali que passariam a lua de mel.
- Boa tarde! – Cumprimentou Anderson, o noivo -.
- Boa tarde! – Respondeu D. Orquídea, proprietária do estabelecimento -.
- Meu nome é Anderson e esta é minha noiva, Salete. Somos da Capital.  Estare-mos nos casando no próximo sábado, às 16 horas. Estamos aqui para fazer  uma reserva, posto que será aqui na cidade de S onde vivenciaremos a lua de mel.
- Pois não! – Retrucou  D. Orquídea –  Com  certeza,  fizeram  a melhor  escolha. Nossa pousada é a melhor e a mais confortável da cidade.  Obrigada  pela  prefe- rência.
- Ah – Disse Salete – Nós já passeamos muito pelos arredores e nos informamos
de tudo. Todos a quem indagamos sobre alojamentos, foram  unânimes:  indica-caram a Pousada Requinte para que nos hospedássemos.
- É porque o povo reconhece o quanto prezamos por nossos hóspedes,  o  quanto  os tratamos bem. Sejam bem-vindos! – Finalizou D. Orquídea.
          E preencheram as fichas de hospedagem e fizeram o pagamento  adiantado de 5 diárias. Tudo ficara acertado. O  casal  saiu  e  ainda  continuaram a passear por mais algum tempo. Depois, entraram no carro e retornaram à Capital.
          Quem ficou um pouco nervosa com a presença dos noivos foi Nadege, filha  de D. Orquídea. Nadege contava 22 anos e era filha única  da  dona  da  pousada, contudo era uma moça que havia em si  problemas  mentais.  Ela  era  conhecida  como “a doida”.  E Nadege assistiu à entrevista de sua genitora com o  casal  que viria no próximo sábado ali hospedar-se. Ficou eufórica, porquanto não  sabia  o que era lua de mel e, agora, havia diante de si a possibilidade de uma vez por  to-  das de tirar isso a limpo. Mentalmente tudo planejou,  não  poderia  perder  esta  magnífica chance que a vida lhe oferecia. “Agora ou nunca”, matutava, feliz.
          Logo chegou o tão esperado sábado. Nadege olhava o tempo inteiro para  o  relógio, a ponto de D. Orquídea perceber uma certa ansiedade em si.
- Por que está tão nervosa, minha filha? – Interpelou sua mãe –  Está esperando alguém?
- Oh! É claro que não, mainha. Por que me pergunta?
- Porque você está o tempo inteiro a olhar para o seu relógio como se estivesse  a  aguardar algum horário especial. Nunca a vi assim, filha.
- Ah, mainha, não é nada, você não sabe que sou “doida”?
- Pare  com  isso! – Repreendeu  D. Orquídea – Já  a  proibi  de  prolatar   esta  palavra.
- Está bem, mainha, desculpe. Foi um lapso, não tornarei a falar esse termo.
- Assim espero!
          E, assim, desligou-se de tudo em derredor. Esperou  pacientemente   a  ho-
ra a fim de colocar em prática os seus planos. Ela ouvira   bem:  o casamento  se-   ria na Capital e às 16 horas. Como a cidade de S ficava a   umas  2 horas de carro,
Nadege imaginou o seguinte: “Acredito que as  festividades  devam terminar   aí  em torno das 18 horas e deverão chegar aqui,   no máximo, às 20 horas.  Quando  for 19,30h, eu entro no quarto onde eles   ficarão hospedados e  me  escondo  de- baixo da cama, então saberei, de uma vez por   todas, o que é essa danada  de lua de mel”.
          Da maneira  como planejou, executou. Às sete  e meia  da noite,  Nadege se
dirigiu para os  aposentos onde Anderson e Salete ficariam. Até  ali,  tudo  estava  dando certo, não poderia falhar estes seus planos. Aboletou-se embaixo da cama  e aguardou, tranquilamente, e de olhos bem abertos.
          Para uma “doida” arquitetar um plano desses, era necessário que não fosse  assim tão “maluca”, haja vista que tudo aconteceu conforme previra. Anderson e   Salete chegaram no horário aprazado e  logo  estavam  no  quarto,  ansiosos,  um  pelo outro. Despiram-se totalmente e se jogaram sobre a  cama,  onde  se  derra- maram em carícias mil. Era um tremendo folguedo sobre o colchão,  total  reme- lexo... Nadege, debaixo da cama, tudo ouvia  e  ficava  arrepiada,  da  cabeça  aos  pés. Só que, por mais que tentasse, Anderson não conseguia atingir o ponto cru- cial da questão e Salete já estava angustiada, suados ao extremo, ambos.
- Ah, Anderson, meu amor – Disse a noiva – bota isso de qualquer jeito, bota na  doida mesmo...
          Ao ouvir estas últimas palavras, Nadege se desesperou. Plenamente  amas-sada e despenteada, saiu debaixo da cama e perturbada como era, retrucou:
- Oh, não! Sem essa... Em mim mesmo, não!


                                                                  FIM



                                                       DE  Ivan de Oliveira Melo

O CAMINHONEIRO

                           O CAMINHONEIRO
                                          -CONTO-




          Fernando trabalhava com um velho caminhão. Entregava fretes. Saía de casa na segunda-feira pela manhã bem cedo e apenas retornava na sexta-feira, e tarde da noite. Sempre havia serviço e ele viajava por longas  estra-das. Certamente, era uma faina  cansativa, porém  ele  já  estava  habituado, pois há anos se entregara a esse  tipo  de  trabalho.  Cobrava  bem,  ganhava dinheiro. Já trocara de caminhão umas três vezes. No momento,  seu  trans-porte estava “novo em folha”, fazia poucos  meses  que  o  recebera.  Estava feliz.
             Fernando era casado com  D. Neusa há 18 anos. Tinha 3 filhos:  duas moças ( Sandra, 17 e Regina, 14) e um  rapaz ( Rainer, 13). Seus filhos   eram exemplos, muito educados e estudiosos.
             Uma pergunta que, talvez, mereça de pronto uma  resposta:  Por que Fernando só chegava tarde da noite às sextas-feiras? Bem, o  caso  era  que o caminhoneiro  descobrira  um  posto de gasolina à  beira  da  estrada  e, lá, um ambiente festivo, porque havia um  restaurante-bar,  onde  ocorriam  co-mes e bebes e uma boa música. E Fernando adorava dançar...
             Numa das sextas-feiras, aconteceu algo diferente. Fernando já  ha- via ingerido algumas cervejas e  estava  “louco”  para  dançar.  Deixou  que  o olhar vasculhasse o recinto até que desvendou  uma  “loiríssima”  garota  que  estava solitária numa mesa. A moça bebia uísque e fumava um  cigarro.  Fer- namdo resolveu aproximar-se.
- Permite-me que me sente ao seu lado? – Indagou.
             Pega de surpresa, a moça respondeu:
- Fique à vontade. Estou mesmo  precisando de uma companhia. Obrigada!
- Obrigado digo eu – Disse Fernando.
             Logo entabularam conversa. Ambos se  deram  bem,  porquanto riam demasiado.  Pouco  tempo  depois,  lá  estavam  “agarradinhos”  no  meio    do  salão, dançando efusivamente. Terminaram a noite  num  pequeno  quarto  de aluguel que o posto oferecia aos que desejavam entregar-se de corpo e    al- ma aos prazeres do sexo. Estava amanhecendo quando se despediram e cada qual seguiu seu destino.
             Fernando estava  deslumbrado  com  Iracema,  a “loiríssima”  garota  que conhecera. Todas as sextas-feiras se encontravam ali no mesmo local   e a vida e o tempo eram poucos para eles. Na verdade, o caminhoneiro se  dei-
xou  apaixonar  por  Iracema, moça que era desconhecida do local. Todos fo-
ram unânimes em afirmar e a concordar com  Fernando:  tratava-se  de  belo exemplar feminino, provavelmente nunca antes visto naquelas redondezas.
             Dois meses se passaram. Estavam  mais do  que  felizes, Fernando e Iracema. Nesta sexta-feira, o caminhoneiro chegara com um firme  propósi-
to, logo comunicou à amante sobre seus planos:
- Não estou mais a suportar, Iracema – Confessou – Estou disposto a pedir o divórcio à Neusa e casar-me com você... Você aceita?
- Deus meu! – Replicou a loira, assustada – Tem certeza do que está a me di- zer?
- Absoluta! – Confirmou Fernando.
- Bem, seja feito como planeja – Colocou.
- E hoje vou deixá-la em casa, quero conhecer seus pais, sua família.
- Terá coragem para tal? – Indagou Iracema.
- Por que não? Gosto de assumir meus compromissos...
             E  eram 3 horas da manhã  quando  abandonaram  o  pequeno  quarto onde se entregavam ao amor. Foram até  o  caminhão,  entraram  e  seguiram  o destino traçado por Iracema.
- Mas tem certeza de que é por aqui sua  casa? – Perguntou  Fernando,  meio nervoso – É que não vejo qualquer habitação nesta escuridão.
- Claro, meu amor. Pode parar, chegamos – Disse a moça.
- Aqui? Mas só há mato... E o cemitério do outro lado – Falou Fernando.
             Não houve tempo para que Iracema respondesse, apenas se  despe- diu assim:
- Até a próxima sexta. Tenha uma boa semana.
              Apressadamente caminhou em direção ao muro do cemitério e  nem foi necessário escalá-lo, passou por dentro dele...
              Atônito, o caminhoneiro a tudo assistiu e, antes de desmaiar, disse:
- Santo Deus! O que é isso?

                                                       FIM


                                                          De  Ivan de Oliveira Melo     


quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

CANASTRA



Só meus gestos salpicam inquietude,
Os pensamentos alardeiam os sonhos
E eu, canastra real, não sei onde ponho
Os retalhos da consciência que se ilude.

Meu olhar esbraveja diante da sinestesia,
Os desejos se rompem enquanto choro,
Pois em meu inverno só vejo água e cloro,
Inseticida que alveja por onde eu pensaria.

Minha vontade se alquebra perante o sono,
A inconsciência reflexiona a canastra suja
Enquanto a razão recebe assaz de lambuja
O itinerário duma viagem em papel carbono.

Meus passos retroagem... vaivém de tiracolo
E, finalmente, mesmo atordoado, eu decolo!



DE  Ivan de Oliveira Melo 

MITOLÓGICO



Enalteço os deuses , abomino os demônios...
A Grécia aflora dentro de mim, viajo no tempo,
Desembaraço-me da correnteza dos ventos
E vou em busca, em meio à arte, dos hormônios
Que transmutam da sensibilidade, o êxtase...

Deliro com a Antiguidade... O Olimpo me convida
A descrever as aventuras e as desventuras das peças
Que singram através do cosmos, as horas imersas
Nos paredões donde a poesia nocauteou a vida
E trouxe, lentamente, um cardápio de perífrases...

Simplesmente, da mitologia confecciono tragédias
Que se incorporam a um dossiê repleto de dramas...
É a existência que não dorme, salpica o que se emana
Da inspiração e da apoteose... toda a enciclopédia!



DE  Ivan de Oliveira Melo  

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

ANTAGÔNICOS




Somente a dor ensina a viver,
Apenas o choro ensina a sorrir...
Só a saudade não deixa partir
O sentimento que pode morrer.

Somente a tristeza faz entender,
Apenas no sonho se quer dividir...
Só o medo é que provoca sentir
A coragem que busca sobreviver.

Somente a mentira faz entristecer,
Apenas a covardia alimenta trair...
Só o que é fidelidade faz permitir
O ideal esperança não envelhecer!

Somente a guerra é que faz lutar
Os apenas que a vida quer apagar!



DE  Ivan de Oliveira Melo