sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Eu te amo!

Tuas mãos viajam
Pelo meu corpo desnudo...
Sinto arrepios, tremo, grito,
Fico mudo,
Tamanha é a sensação
Que me faz vibrar o íntimo...

Teus dedos são mágicos,
Invadem afoitos
Minha privacidade
E dela extraem
O orvalho branco
Que é minha felicidade
E meus pelos se lambuzam
Com o néctar que me deixa
Em frenesi...

Recebo teus lábios macios
A percorrerem arestas
De minha pele em volúpia
E te entrego minh’alma
Para sentir, inebriado,
O prazer que vem de ti
Em emoções compartilhadas
De uma sensualidade astuta...

Singras minhas nádegas
Com beijos alucinantes
E me envolves no suntuoso
Abraço em que os amantes
Depois, juntos, dizem
Baixinho e ao mesmo tempo:
Eu te amo!



Decote

Em meu raciocínio há um imenso decote
Que põe à mostra o que comigo se passa,
Secretos segredos que guardo das massas
A fim de que meu eu galante tudo suporte.

Há aclives e declives... é intenso latifúndio
Onde semeio urgências da vida que é tola,
Bastardos pensamentos estão numa ampola
Para evitar a dor e não me causar infortúnio...

Região calcária onde se escondem os medos
Alimentadores de mistérios que são desejos
Que, constrangidos, ficam assaz embutidos...

Não os deixo vir à tona... morrem sucateados
Pelo excesso de zelo que são fortes cadeados

E meus devaneios são tímidos e reprimidos!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Fake Words

My heart is crying because of you,
My eyes are hurt and they ddidn’t see
What last night you said aganist me
That I was a dry moon into my own soul.

I have a sun and it shines during the day,
I live in space and I am owner of sky,
Around my neck you can see a thick tie
So with me for ever  you must stay.

I forgive you... I know it was a mistake,
The world told me that  you are a fake
And the birds sang yesterday an ugly song...

Please... turn off the light of your room,
Come to me slowly and speak that soon
Together we will be or then so long... 





Written  by  Ivan de Oliveira Melo

The Pillow

There is a great difference
Between your pillow and I...
The pillow is smart, I am shy...
Houses are among the fences...

Always I am lost on your bed,
I don’t know why you eat the pillow,
Everything I watch through the mirror
And this scene let me very sad...

Of course this pillow must be a dream
Then I am out of this strange team
Because my little eyes aren’t blue...

Your room is nervous... It’s not food,
On the bed only one thing is good,
To make love whole night with you!




Written  by  Ivan de Oliveira  Melo


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Recado

Não sou aquilo que aparento ser:
Para uns, anjo;  para outros, monstro...
Francamente, nada disso demonstro,
Apenas busco ser sincero com você.

É evidente que estou ao lado do bem,
Porém isto não faz de mim um anjo,
Eu labuto cada dia, sempre me arranjo
Com os ingredientes que a vida tem.

Tenho horror às trevas, odeio maldades,
Luto sempre pela consumação do amor,
Trabalho sem esperar em troca favor
E vou alicerçando minha personalidade.

A imperfeição é o molde que nos cerca,
Não há entre nós alguém que seja Messias,
Quem habita a terra evolui a casa dia,
Ou estaciona nos degraus da vida eterna.

Orar e vigiar as ações e os pensamentos,
Distribuir carinho e caridade a quem precisa,
Olhar amiúde o solo onde o pé entra e pisa
A fim de que a existência seja ensinamento.

Eis o refrão de quem ama e quer ser amado:
“Amar uns aos outros como nos ama Jesus,
Saber que em vão não foi sua morte na Cruz,
Lembrar disto sempre é ser Bem-Aventurado!”



Meeting

Don’t go away...
My life belongs to you,
Beside me you always must say
I love you and I answer:  Me too!

It’s Spring! I give you flowers
From the garden of my heart...
Don’t let me alone... It’s so hard
To live without you under the shower...

If the time is hot I think about you...
If the time is cold my mind is full
Of love and I don’t wish to die...

But if you go away
Nothing I will have to say
Because I will meet you in the sky!



Written  by  Ivan de Oliveira  Melo


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Sanguesugas

Este é nosso Brasil: país deveras desunido...
Nauseabundas idiotices, discriminação daninha!
Vai gente, ver o que fazer, cuide de sua cozinha
Antes que, mais sapiente, o cupim haja tudo ruído...

Preconceito é falta de oração, é corrupção idealista,
A nação é imensa, mas língua e governo são um só,
Quem abandona sua casa não sabe o que é rococó,
É fofoqueiro parasita e da vida alheia propagandista.

Politica é como futebol: o resultado é no apito final,
Numa eleição o povo é livre: voto é secreto, universal,
É o livre arbítrio que decide a competência que governa...

É interessante conhecer os primórdios de sua História...
Vasculhe, pesquise, analise o que se guarda na memória

E verifique que nordestino é gente, tem braços e pernas! 

domingo, 26 de outubro de 2014

Conditional

The ground is wet by your tears,
In my ways I can see your kisses
Asking me the love made by peace
And  I am ready to receive you, my dear!

There are feelings changed by the wars,
The world drinks lies mixed with blood,
From the sky  there isn’t  the real food
Because the countries opened their doors...

A deep silence it’s necessary to build love,
Each one must think how to avoid abroad
And  to cry on the floor of  the mind...

The truth was caught through the afraid,
The voices shout freedom from the cage...
The courage needs to appear and to shine!



Written by   Ivan de Oliveira  Melo

Solidão da Praia

O dia cai.
A noite invade meus pensamentos.
A lua surge imponente
Clareando o oceano em púrpura.
Olho para o céu estrelado
E meus olhos cintilam, igualmente...
No delicioso frio,
Meus dentes tiritam,
Os lábios sentem arrepios
E meu corpo treme...
Meus cabelos esvoaçam,
Minhas mãos se cruzam,
A consciência matuta...
Sou levado a muitas milhas
Que se perderam no tempo
E percebo a face úmida
Pela saudade de ontem...
Encaro as nuvens,
Nelas desenho com a mente
Facetas de felicidade,
Enredos inebriantes,
Episódios surripiados
Por hediondas horas
Que são madrastas
E chicoteiam recordações...
Os ventos tramam,
Mortalhas rasgam a escuridão
E me permito seduzir-me
Pelo cheiro das ondas
Que se partem nas pedras
Onde sentado estou
A contemplar meu destino...
No espelho das espumas
Enxergo luzes distantes
Que me convidam a sorrir...
Não posso!
Que venha a madrugada
A cochichar-me seus horrores
Neste templo de solidão...
Noto transformação
E gotas d’água desabam
Sobre minha cabeça...
O céu se fecha,
A cortina tapa minha visão,
Então me deixo despencar
Na areia... E adormeço
Diante de mim
E perante um mundo
Que me desconhece...
Jogado ao relento,
Sonho no tapete
De um litoral imberbe
E de uma vida vivenciada
Por ideais apócrifos...
Amanhece...
No dia lindo, sim,
Sorrio para a imagem
Que se fez em mim
E que me torna príncipe
De uma natureza cúmplice

Do meu oportunismo!  

No more...

Can I open the gate of your heart?
My mouth is blowing like a wind
Then I can destroy the song that you sing
Because love is the real and true art...

Let me hear the words from your mind,
I want  to discover what you feel
When the time rains over your meal
And  at this moment love I need to find.

Don’t run alone across the danger places
In my body you can always draw your face
Spelling a word which has four letters: love!

Come... in my little world  I wait for you
Offer my life where you keep  your soul
And together we can cry and smile, no more!   




Written  by  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 25 de outubro de 2014

Último Sonho

Intenso abismo me põe entre dois mundos:
O de uma realidade onde tudo se vê imundo
E o da fantasia em que o sonho é divina magia...

Revolta-me um cotidiano hipócrita e doentio,
Mas edifico sonhos em que mentira vira estio
E numa realidade apócrifa faço da vida alegoria...

O sol não é o mesmo, então bronzeio a inspiração
Sob a lua que brilha sobre o teclado das palavras,
Cultivo em cada letra o ensaio que meu eu lavra
Para dar feitiço de verdade às estradas do coração.

Não mensuro o tempo, em meu mundo mando eu,
Chorar e sorrir são antíteses presentes aqui e acolá...
Caminhar... cair... levantar, posto que isso é sonhar
Com a realidade que virou utopia, mas não se perdeu!


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Esperança

Eu quero fazer um pagode em teu portão,
Cantar em alto e bom tom o que me apetece,
Louvar a música sem ladainhas, mas em prece
A fim de que o mundo escute a voz do coração.

Quero dançar qualquer ritmo em teu terraço,
Fazer estardalhaço sem ferir os bons costumes,
Plantar apenas sementes de amor em teu tapume
Para que no dia a dia haja tempo para um abraço.

Desejo gritar felicidade e alegria em tua cozinha
Para não mais se consumir tantas ervas daninhas
No prato onde se alimenta o saber e se sacia a fome...

Preciso muito dormir só uma noite em teu quarto
A fim de se evitar que a ignorância seja o real parto

Das circunstâncias esdrúxulas que esta vida consome!  

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Flor & Paixão

Leva, mar, a flor agonizante
Que cedeu pétalas aos ventos,
Deixa que corra entre mirantes
E seu perfume seja sentimentos.

Vem, flor, seduze meu olfato
E embriaga minha solidão
Tão carcomida pelo retrato
Que envelhece meu coração.

Deixa, mar, a flor na passarela
A remoer uma saudade sem cor,
Mas cujo caule é sabor e procela
Que pelas águas descreve amor.

Oh, flor! Teu cheiro virou ternura

E desnudou as ondas sem censura!

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Trem de Fantasias

O trem passa apitando em minha janela
E um bronze de cor branca que é fumaça
Invade os contornos do olhar que disfarça
Não entender que o grito do trem é tagarela.

Do alpendre contemplo o azucrinar dos trilhos
E o trem segue destino entre curvas e retas
Consumindo horas sob o despontar das setas
Que demarcam caminhos entre rosas e lírios.

Lá se vão em comboio alqueires de esperanças
Irradiando alegrias e arrancando das crianças
O sorriso imberbe que enche o ar de fantasia...

As saias rendadas rebolam e o povo se agita,
Donzelos contemplam o desfilar das raparigas

Que boicotam a sensualidade acenando utopias!

sábado, 18 de outubro de 2014

Bênção

( De  Ivan  para  Luc. )



Meu corpo estava deveras murcho e sem cor,
Tuas mãos nele aterrissaram como miragem,
Enfeitiçaram de magia doce e sublime massagem
Embriagada por um íntimo divino chamado amor!

Percorreram livres uma clausura de assaz segredos
E as dores circunstanciais sugadas por teu carinho,
Átomos de energia cósmica que são o pergaminho
Expeliram cura através dos teus sacrossantos dedos.

Ternura ímpar derramada com atrito sobre minha tez
Que ressabiada sentiu o constrangimento da anciã nudez
Embalsamada perante o olhar de cristal que a contemplou...

Gratidão é a palavra que meus lábios urgem pronunciar,
Pois, meus olhos também divisaram teu corpo nu navegar
E em lágrimas de algodão tecer do mais puro amor!

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RESPOSTA  DA  BÊNÇÃO

( de  Luc.  para  Ivan )


Perdoa-me por invadir tua secreta intimidade,
Dentro de mim havia um desejo de contemplar-te
E deixar por minhas mãos um registro em cada parte
Sem erotismo e sem as nuances da promiscuidade.

Vês... Agora sabes o que em mim de real se passa...
Do meu âmago retiro e te oferto meu pequeno coração
Repleto do amor consorciado à sublimidade da paixão
Que devora e que do nosso sangue bebamos da mesma taça.

Eu te amo... Tu me amas... Desfaçamos juntos  todos os nós
Que nos acorrentam à vida... Sejamos únicos a uma  só voz
Sem trapacearmos o destino, sem marcar cicatrizes...

Caiu a venda do olhar que nos fazia um tanto reprimidos...
Estendamos as mãos... Sejamos muito mais que entes amigos,

Somos irmãos em Cristo... Nada melhor para sermos felizes!

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Meditação

Meu mar secou,
As ondas sumiram,
A areia mudou de cor,
O vento sopra inverso...

Procuro pelas gaivotas
Num céu híbrido, incolor...
Escuto músicas sem notas,
São as palavras dos meus versos...

Deito o olhar sobre as nuvens,
Mas estão vazias, sem gotas d’água...
As árvores estão desnudas, só penugens
Então perambulo por caminhos incertos...

O sol quase se apaga... vejo sombras
Onde bronzeio o pensamento que chora
Pelo alimento que desce por sondas
Perante vidas que veem a morte de perto...

Sou vulto que anda sobre cascalhos
Ferindo os pés, mas sem sentir dor...
Existências camufladas em atalhos
Em becos que são enigmas perpétuos...

Pranteio na solidão que me desnutre
As vísceras duma saudade que é tenda
Onde dialogo perfume com os abutres
E durmo encaracolado em meu deserto...

Afinal a água romanceia o infinito
E meu mar ressurge bravio e límpido...
Na nova areia a espuma é o pito
Que estoura quando do sonho desperto!



segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Eu e o Mundo

O mundo pensa que me faz de bobo,
Tolo sempre será este mundo para mim,
Pois, sobrevive em aparências de cetim
Que me produzem frio, náuseas e nojo...

Bom é que as víboras consomem insetos
Posto que são nocivos ao meio ambiente,
Vivem em trajes a rigor misturados às gentes
E massacram o social desfilando de espertos...

Da hipocrisia hedionda projetam sacanagem
Sobre anseios que vegetam sem estiagem
Numa atmosfera densa, enferma, paraplégica...

O véu caiu... Sobre mosaicos reina indecência
E eu e o povo, o povo e eu, temos aguda sapiência:
Somos enfermos crônicos da contemplação cosmética!


Lero-Lero

Dizem que te conquistei
Na base infalível do lero-lero,
Mas bem sabes que comecei
Sendo atrevido e muito sincero...

Nem me lixo, boca fala o que quer...
O que me importa: és tu que quero,
Sem o estigma: homo ou hetero?
Amor é livre para homem ou mulher...

Os dogmas sociais estão falidos,
O amor não é mais tão reprimido
E em preconceito cuspo, enterro...

Cada qual que mostre o que tem,
Seja feliz, não incomode ninguém
E faça como eu: use do lero-lero!


domingo, 12 de outubro de 2014

Combate ( Ficção )

I
Lena estava só em seu quarto. Convulsivamente chorava com a cabeça enterrada ao travesseiro. Trancara a porta, apagara a luz, talvez envergonhada de sua própria imagem ao espelho ou possivelmente receosa das consequências do que acabara de fazer. Houvera tomado atitudes estranhas, completamente contrárias aos seus modos
finos e recatados, provenientes do esmero educacional da família. Foram momentos irreconhecíveis. Agora derramava o pranto do desespero e do arrependimento. Por que fora capaz de assumir comportamentos tão absurdos? Estaria sendo vítima dos sintomas “alucinatórios” do avô? Estaria herdando o verme da loucura? Tais perguntas sem respostas deixavam-na amedrontada, atormentada e mais lágrimas fluíam
dos olhos avermelhados, cansados e irritados pelas gotas lacrimejantes.
Na completa escuridão do quarto, nada conseguia enxergar, mas foi como se uma força irresistível a impelisse levantar a cabeça e desordenadamente começou a procurar algo que nem ela mesma sabia explicar. Buscou todos os pontos do aposento: as quinas das paredes, as cadeiras, o guarda-roupas, a janela hermeticamente fechada, a própria cama... Tremeu... Como poderia perceber, agora, tudo aquilo se estava
envolta na mais densa escuridão? Sentiu calafrios e um horripilante medo. Notou aquela dor fina na espinha, nas costas, que se iniciava na parte inferior e subia até a nuca. Suava e seu corpo mais parecia molhado após o término de uma boa ducha fria. Não conseguia articular um gemido sequer. Subitamente, seu olhar divisou a porta fechada e um intenso facho de luz vermelha inundou todo aquele ambiente. O pavor dominava-lhe, todavia perdera as forças e se sentiu presa sobre o colchão, incapaz de
qualquer movimento. Nem mesmo conseguiu mover os olhos, totalmente fixos que estavam na vermelhidão que assolava a alcova. Então observou a presença de um homem alto, atlético, abundante cabeleira loira e olhos incrivelmente azuis. Caminhou em sua direção e se pôs à sua frente. Fitava-a diretamente e ela percebeu o largo sorriso. O intruso parecia elegantemente trajado: usava uma calça preta, uma camisa vermelha e um casaco da mesma cor. Havia botas tipo “cano longo”, pretas e no pescoço
deixava à mostra inúmeros colares, trancelins e voltas que pareciam ouro reluzente. À mão esquerda, uma espada em riste e, na direita, ostentava enorme e espesso cajado de madeira tosca. Quem seria aquele homem? Donde viera? O que desejaria dela?
Lena nem ameaçou pensar, não houve tempo. A voz daquela figura e atingiu em cheio os tímpanos, bloqueando toda e qualquer atitude do seu ser material. Encontrava-se plenamente dominada por ele, hipnotizada.
- Você, Madalena, está completamente ao meu dispor. De hoje em diante serei o comandante de todos os reflexos de sua vida. Não adianta tentar desvencilhar-se do meu domínio. Eu a escolhi para ser uma das minhas ovelhas vermelhas. Não se preocupe, jamais a permitirei afastar-se do meu rebanho. Você é minha!
E, sem dizer mais nada, aproximou-se dela e acariciou-a os cabelos. Sentou-se ao seu lado e a puxou para si num demorado beijo. Posteriormente deitou-a e retirou-a peça por peça. Despiu-se igualmente num toque de mágica e consumiu-a com volúpia. Satisfeitos todos os desejos, estalou os dedos e, outra vez, estrava impecavelmente vestido,
como antes. Lena permaneceu imóvel e, assim, adormeceu profundamente. Contudo, antes de retirar-se, a mesma voz soou em seus ouvidos de forma terna:
- Não tema. Você nunca esquecerá este momento tão bonito pelo qual acaba de passar. Jamais haverá alguém que a ame como eu a amei. Brevemente estarei de volta para mais um colóquio amoroso. Adeus, minha ovelhinha vermelha...
II
Lena despertou no dia seguinte com uma vaga lembrança do que ocorrera. Atribuía tudo a um sonho, porém estranhou o fato de achar-se nua, nunca dormia nestes trajes. Intrigada, levantou-se e correu a banheiro. Tomou um longo banho e se vestiu. Só então recordou-se dos
acontecimentos da noite. Como estariam seus pais? Seus irmãos? Nem imaginava... Criou coragem, abriu a porta e desceu para a primeira refeição. Aparentava tranquilidade, porém , por dentro se sentia temerosa e assustada. Todos estavam à mesa. Sentou-se.
- Papai, quero pedir-lhe desculpas pelos inconvenientes de ontem. Não sei o que houve comigo. Foi como se me sentisse obrigada a fazer tudo aquilo. Estou tão envergonhada...
Dr. Pedro olhou docilmente para a filha, examinando-a. Trocou um rápido olhar com Suzana, sua esposa, depois dirigiu-se à Lena:
- Esqueçamos o que houve ontem, minha filha. Com certeza você foi vítima do próprio cansaço, haja vista que tem trabalhado e estudado muito ultimamente. Que tal uma viagem de férias? Você está tão abatida...
- Eu acho que seria ótimo para Lena, Pedro – Concordou D. Suzana – Afinal ela sempre foi a mais calma de todos em nossa casa. Encaro os fatos como estafa e um repouso prolongado ser-lhe-ia o sedativo ideal.
- Como é, minha filha, aceita nossa sugestão?
Lena não sabia o que responder, no entanto, lembrando-se do sonho, foi irredutível.
- Não, papai. Descansarei em casa mesmo, não me sinto com disposição para viagens.
E ficou por isso mesmo. Lena deu a si mesma umas férias, não obstante resolveu não sair para lugar algum. Só saía do quarto para fazer as refeições, fora disso, passava as demais horas absorta em seus pensamentos. Conseguiu reprisar o sonho todas as noites, pois, lá estava aquela mesma figura, os mesmos gestos, os mesmos fatos. Não contou a ninguém dos seus sonhos, guardava o segredo só para si.
Numa das noites, em pleno êxtase da aventura sexual, perdeu o medo que a devorava e indagou ao seu desconhecido:
- Quem é você? Donde vem? Por que se utiliza de mim assim? Como consegue entrar e sair daqui sem ser visto?
A estranha figura irritou-se. Esbofeteou-a em pleno rosto e retrucou:
- Como se atreve a me fazer perguntas? Aqui eu falo e você só ouve e obedece às minhas ordens. Nada mais.
Lena contorceu-se de dor e de seus olhos escaparam espessas lágrimas. Não sabia quem era aquele homem, não entendia o que ele desejaria dela daquele modo e muito menos compreendia como ele ali se infiltrava sem ser notado. Era um mistério para sua mente dominada e
obscurecida. No entanto, o mais estranho, era o fato de haver-se apaixonado perdidamente por ele. Amava-o, loucamente...
- Perdão. Sei que não tenho o direito de interrogar. É que não suportei mais a curiosidade. Apaixonei-me por você e o amo...
O personagem bruscamente afastou-a de si. Deu uma sinistra gargalhada e deixou o coração de Lena descompassado, desordenado de pavor. Numa faísca de segundo, ela compreendeu a situação.
- Você é mau, terrivelmente mau. Você é o demônio disfarçado. Suma-se de minha frente, Satanás! Deus meu, amparai-me neste transe difícil!
O intruso dobrava e triplicava a gargalhada medonha. Seus olhos crispavam fogo e suas mãos criminosas alçavam-se no ar e desciam ferozes sobre o corpo de Lena, numa sova das mais audazes.
- Você mesma destruiu seus momentos de prazer, víbora. Agora que descobriu quem eu sou, nada mais poderá haver entre nós. Víbora! Víbora! Importuná-la-ei até levá-la à loucura total, tal como agi com seu avô. Hoje, em meus domínios, seu espírito é um dos meus fiéis seguidores. Além do mais, já não preciso deste corpo horrível e desta massa disforme. O que eu queria, está implantado em seu ventre. Víbora! Víbora!
E prosseguiu a castigá-la até vê-la caída e sem sentidos.
- Jamais me verá outra vez enquanto viver. Perturbá-la-ei até seus últimos resquícios de vida. Seu espírito me pertence, transformou-se em ovelha vermelha do rebanho do Príncipe das Trevas. Tarde demais para pedir socorro ao seu Deus imprestável e egoísta. Em seus primeiros sintomas de loucura, você quebrou os móveis de sua casa, estraçalhou as vidraças da porta e das janelas, danificou eletrodomésticos e, agora, fará coisas piores. Víbora!
Dizendo isto, retirou-se do ambiente, gargalhando sinistramente.
III
Lena fora encontrada desfalecida sobre a cama, após passar o dia inteiro trancada em seus aposentos. Estranhando a atitude da filha, D. Suzana chamou-a repetidas vezes e, como não obtivesse resposta, ordenou que aos empregados que arrombassem a porta. Ela estava esticada sobre a cama, nua e apresentava profundos hematomas por todo o corpo. D. Suzana gritou e teve forças para suportar aquela cena. Dr. Pedro acercou-se do leito e tomou as devidas providências. Imediatamente vestiram a moça e a levaram para uma clínica particular. Ninguém, absolutamente ninguém, conseguia entender nada daquilo. Terrível mistério
envolveu a família, parentes e amigos que vieram a saber do caso. Explicações inúteis, tentativas em vão. Enquanto isso, Madalena permanecia internada, completamente desacordada, sobrevivendo graças ao trabalho dos médicos.
Mesmo assombrado com os episódios. Dr. Pedro gastava rios de dinheiro em busca de salvar a filha, mas um golpe muito forte sacudia a firmeza de todos: Lena estava grávida!
A gravidez desenvolveu-se normalmente, apesar da inconsciência da futura mãe. E, para o pasmo de todos, inclusive dos médicos, o quadro duraria exatamente nove meses, o tempo suficiente para consumar-se o parto e vir ao mundo uma criança sadia e inexplicavelmente
bela. Lena recobrou os movimentos e aparentemente mostrava-se normal, porém estava definitivamente louca. Com o diagnóstico dos médicos, Lena foi interna num sanatório, onde passaria o restante dos seus dias na carne.
A família, à custa de muito sacrifício, conseguiu abafar o caso e criou naturalmente o filho de Lena, que foi batizado com o nome de Cleofas.
Cleofas cresceu e se desenvolveu como todas as demais crianças, entretanto, sempre demonstrava possuir um gênio maquiavélico e perverso. Aos doze anos, tomou consciência de sua identidade e conheceu seu protetor.
- Pai, então minha missão é destruir totalmente a família a que pertenço na carne?
- Sim, meu filho. Foi para isso que eu o trouxe à vida. A partir de agora, doto-o de plenos poderes e espero o cumprimento do dever e da fidelidade irrestrita a mim, Príncipe das Trevas, seu verdadeiro pai.
- Jamais se arrependerá de ter-me trazido ao palco nojento da existência. Ser-lhe-ei fiel por excelência e darei cabal ciência dos meus deveres. Adoro-o, Príncipe das Trevas! Tu que és o verdadeiro Deus! O único e absoluto pai que me deu a vida! Cleofas encheu-se do poder maligno das Trevas e elaborava planos para alegrar a satisfação de seu Pai...
Mas... Como estaria o Bem diante destas coisas? Indiferente? Alheio? Adverso? Não! O Bem sempre espera que o Mal dê mostras dos seus objetivos para poder entrar em cena. O que acontecera até agora não fora motivo específico para o Bem interceder, havia resgates a se-
rem consumados por parte de alguns personagens. Evidente que Lena sofrera os mais graves padecimentos, todavia nada disso ocorrera ao acaso. Simplesmente ela pagou débitos à Perfeição Universal e seu próprio espírito escolhera as provas a fim de que pudesse ver-se livre
de suas faltas cometidas em vidas pretéritas. Tudo consumado, Madalena devolveu à Harmonia as partes por ela mesma danificadas. Agora chegara o instante do Bem provar que o Mal não provém de Deus.
IV
Norma era a filha mais velha do casal Pedro e Suzana. Durante os dias em que Lena sofria as investidas das Trevas, Norma contraía matrimônio com Rossano. Lena fora convidada para o enlace matrimonial, mas declinou do convite, achava-se sob o domínio do Mal, não deu importância ao fato.
O filho de Rossano e Norma chegara dois meses após o nascimento de Cleofas, sendo ambos da mesma idade: 12 anos! Ao passo que Cleofas deixava transparecer o seu gênio maligno, Emílio era o inverso. Calmo, educado, obediente, estudioso, caridoso, religioso, confiável, pro-
fundamente meigo e atencioso aos pais, avós, tios, primos, amigos. Cleofas e Emílio eram dois extremos. E, por motivos que os familiares não tinham como detectar, Cleofas e Emílio não se davam bem. Não por Emílio, que tentava sempre uma aproximação com o primo, mas
por Cleofas, que refutava suas investidas de amizade com grosserias, insultos e, até, com agressões físicas. Por esta razão, os familiares resolveram não permitir mais que os dois se encontrassem.
Emílio estava em seu quarto a orar. Era costume conversar com Deus antes de deitar-se. Ajoelhava-se ao lado da cama, mãos cruzadas e olhos fitos para o Alto. Pedia a paz e a saúde para os membros da família e, em particular, intercedia por Cleofas, rogando ao Pai Celestial compreensão e melhoras para aquela alma enferma.
Estava tão concentrado na oração que não percebeu a presença espiritual de um Ser que fora enviado.
- Emílio, “Paz na Terra entre os homens e Graças a Deus nas Alturas.”
O jovem espantou-se, porém não manifestou qualquer intenção negativa ou de repudio à Entidade que estava em sua presença. Muito pelo contrário, recebeu-a com um vivo sorriso e como se o fato fosse corriqueiro em sua vida.
- Graças ao Altíssimo que te envia a mim.
- Estás preparado para lutar contra o Mal?
- De toda a minha alma. Pertenço ao Todo Poderoso e batalho para seu incomparável e invenvível Exército. Dispõe de minha vida.
- Tua vida não corre perigo, todavia a dos outros, sim. Por ordem Celestial, invisto-o dos Poderes do Bem para combateres Cleofas que se encontra abastado dos poderes do Príncipe das Trevas. Cleofas é filho do rei de Umbra e tua missão é evitar que ele destrua tua família sem,
no entanto, o destruíres. Deixa-o destruir-se por si mesmo. Ao final da contenda, retornarás ao Mundo da Espiritualidade e todos compreenderão tua missão.
- Sim, saberei guardar a integridade do meu lar e de todos os meus entes queridos. Obrigado!
- Renato, sempre ao teu dispor.
E a Entidade lentamente se desfez. Emílio dormiu tranquilamente.
V
No dia seguinte, Emílio fora informado por seus pais de que ficaria hospedado por alguns dias em casa dos avós, porque eles iriam empreender longa viagem de negócios. Cleofas recebeu com desagrado a chegada de Emílio, fazendo questão absoluta de demonstrar
seu descontentamento.
- É bom que você não se aproxime de mim, não fale comigo e nem toque em minhas coisas.
- Seus desejos serão respeitados, primo.
- Primo? Como ousa? Você é um intruso nesta casa e logo darei um jeito de pô-lo fora daqui.
Emílio nada respondeu, dirigiu-se aos aposentos reservados para si.
Cleofas raciocinava rapidamente e decidiu que Emílio seria sua primeira vítima. Esperou que o primo se deitasse e estivesse a dormir. Iria até seu quarto e enfiaria o punhal em seu coração e estaria iniciado seu trabalho. Riu com a ideia e esperou o momento oportuno.
Emílio dormia a sono solto. Nem notou Cleofas ao lado de sua cama, arma em punho, pronto a desferir o golpe. Sem perder tempo, Cleofas golpeou-o: uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes! Qual não foi seu espanto ao verificar que Emílio levantava-se sorrindo, aparentando calma e lucidez, sem mostrar qualquer gota de sangue.
- Mas.. você deveria estar morto! Eu o matei! Eu o matei!
E avançou em direção de Emílio, tentando derrubá-lo e aplicar-lhe golpes mortais. Emílio livravava-se categoricamente das investidas do agressor, o que o deixava cada vez mais furioso.
- Covarde! Covarde! Por que foge aos meus golpes? Por que não ataca?
E inúmeras vezes arremessou-se contra o primo, sendo infrutíferas todas as investidas.
- Quem é você? Que poderes tem para sair-se impunemente? Vamos, diga! Fale, imbecil, covarde!
Emílio apenas sorria. A estas alturas, todos da casa presenciavam o espetáculo, porém não tiveram como interceder. Encontravam-se perplexos, aturdidos, admirados diante dos acontecimentos. Assistiam a uma batalha entre o BEM e o MAL, numa grande luta, uma extraordinária
demonstração de poderes de ambos os lados. Mesmo que tentassem intervir, nada conseguiriam fazer – os contendores usavam poderes tidos como sobrenaturais. Flutuavam no ar, desapareciam de um lugar e apareciam em outro e, agora, estavam nos jardins da residência. Todos pareciam estarrecidos, inebriados a presenciarem coisas e fenômenos fabulosos. Cleofas, notando que não havia em si forças para aniquilar o adversário, investiu contra o avô, Dr.Pedro, porém, Emílio percebeu sua intenção e o protegeu, assim como a todos. Foram vãs todas as tentativas de Cleofas. Debateram-se por mais de cinco horas, até que Cleofas deu
mostras de visíveis sinais de cansaço, ao mesmo tempo em que perdera a razão e flutuara até o topo da residência, lugar de muito alto. Lendo em sua mente a agonia que o assombrava, Emílio tentou salvá-lo, ele que fora incapaz de qualquer investida durante todo o combate e que só fizera defender-se a si e aos demais ( embora houvesse em si poderes para destruir Cleofas.)
- Não, Cleofas! Não faça isto! Ainda há tempo para você redimir-se e livrar-se do domínio de falso pai. Por favor, Cleofas, não!
Cleofas não deu ouvidos aos apelos, estava cego de ódio e sentia-se humilhado!
- Ele me enganou! Traidor infame!
Tarde demais. Cleofas jogou-se ao solo e teve morte instantânea.
E P Í L O G O
No mesmo instante abriram-se clarões nos Céus e todos assistiram ao mais belo lace de todos aqueles acontecimentos. Lindíssima Entidade envolta por nuvem azul e bolas brancas desceu e veio em direção de Emílio.
- Este anjinho salvou uma família inteira da total desgraça. Ele foi especialmente enviado para proteger esta família contra os ataques travessos de Cleofas, filho natural do Príncipe das Trevas e Madalena.. Explica-se o mistério da gravidez e os padecimentos da jovem, que tivera os mesmos sintomas do saudoso e inesquecível avô. Ambos foram vítimas do que se diz Rei do Mal, não obstante o BEM sempre prevalece, aqui se põe um ponto final em tudo isso. Recordem Emílio com saudade e amor, eu o levo em meus braços para seu verdadeiro lugar: OS
CÉUS!
E como todos desejavam saber quem era aquela Entidade de cabelos longos, manto azul, olhos celestiais que subia como dissera, levando consigo Emílio em seus braços, ele atendeu a este desejo de curiosidade: Nas nuvens em que subia, havia um nome escrito em letras douradas: Renato!
FIM

Lindóia ( Ficção )


I
A noite estava fria. O vento soprava e espalhava estranhas sensações , causando arrepios. Lindóia vagueava por entre as dimensões. Estava assustada, perturbada, mas plenamente consciente do que queria e procurava. Cansada, alcançou uma nova fronteira e, desejando respirar um pouco e aliviar o cansaço, estacou debaixo de frondosa árvore, onde se sentou e apoiou a cabeça ao espesso tronco. Aproveitando a leve brisa que acariciava o rosto, dispôs o instante para colocar em ordem seus pensamentos, a esta altura confusos e sem esperanças. Afinal, havia percorrido longas distâncias, nada obtendo. Não percebeu que nobre Entidade a acercava, tomando os seus minutos de reflexão.
- Lindóia, o que buscas não se encontra por estas paragens. Está a quilômetros daqui. Por que insistes?
Vendo-se tomada de assalto, Lindóia arregalou bem os olhos e tentou identificar a origem daquelas palavras. Seu olhar imperfeito não conseguia divisar o ser angélico que confabulava consigo.
- Por que insisto? Ora, porque é tudo quanto desejo e nada mais me importa. Hei de percorrer todas as estações, entretanto, encontrarei aquele que seduz as aspirações do meu espírito. Sou uma megera, uma perdida, e só o brilho daquelas palavras trarão alívio ao meu ser combalido.
- Tu estás a blasfemar, irmã! Nada encontrarás nestas condições. O teu espírito encontra-se carente de afeto. Verdade, não te contradigo, mas necessário é que busques no trabalho redentor o merecimento do que pretendes.
- Que trabalho poderei fazer? Isto não me apetece. Aliás, não saberei fazer coisa alguma enquanto não localizar o combustível que alimenta minha fome e sacia minha sede. Dizei-me: onde deverei buscá-lo?
- És teimosa e impertinente. Continuas a blasfemar. Só existe um combustível capaz de alimentar tua fome e saciar tua sede: O AMOR!
- Mas não é por amor que perambulo sem destino?
- Bem o disseste: sem destino. Quem ama é senhor do seu destino. Escuta-me, irmã: entra nas profundezas desta Esfera e procura Irmão Álvaro. Certamente ele saberá recambiar-te na trilha do verdadeiro sentimento e ajudar-te-á a encontrar teu tesouro mediante esforços devidos. É tudo quanto a Luz pode te oferecer, por enquanto. Conforma-te e aceita esta sugestão. Por este caminho garanto-te: mais breve do que possas imaginar, estarás a contemplar a face que tanto dizes amar.
Lindóia compreendeu toda a extensão do conselho dado. Seu espírito imperfeito soube identificar naquelas palavras, a nobreza de uma Entidade Iluminada, o privilégio de escutar sua voz, a candura do aconselhamento. Seus olhos prantearam, emocionados.
- Com quem falo? Pronuncia teu nome para mim, Anjo Divino.
- Sou mais um grão de areia no deserto e ainda estou na imperfeição das veredas enlameadas. Tão carente quanto ti e tão amante quanto teu coração desordenado. Meu nome é Renato e busco auxiliar-te para atinjas teus ideais. Feliz ficarei caso dês escuta ao que te
propus.
- Perdoa-me, Pássaro Alado dos Céus. Tuas palavras conseguiram aquietar meu pensar tumultuado. Sim, farei o que me pediste, percebo ser o melhor para mim, agora. Obrigada por tua caridade...
- Segue e eu apreciarei teus passos. Um dia te levarei em busca do que procuras. Prometo-te! E não agradeças a mim, porém ao Pai que está nos Céus. Apenas cumpro suas determinações e satisfaço Suas vontades, por sinal, justas. Paz em Cristo, despeço-me...
Lindóia estava tão embevecida que não pretendia apartar-se de tão preciosa companhia. Por ela, ficaria ali meses, séculos, somente a escutar os sacratíssimos dizeres e ensinamentos daquele Ser.
- Por favor, não me abandones. Agora que o tenho, não o quero perder. Tu encheste meu coração de esperanças. Sem ti, eu enlouqueceria.
- Não, irmã. Não te deixarei. Já afirmei que te seguirei os passos, confia. É hora de procurares Irmão Álvaro. Entra e acha-o, sem mais tardança.
- Irei neste momento, mas será que não posso ver-te o rosto?
- Não te é permitido, por enquanto. Todas as noites, neste mesmo lugar e hora, aqui estarei à tua espera e tu poderás escutar-me. Quando permitido for, deixarei cair o véu que encobre minha face.
- Virei, sem dúvidas.
Lindóia, transformada interiormente, adquiriu novas forças e seu semblante estava plácido, radiante de esperanças e graciosas perspectivas.
Levantou-se, caminhou e chegou apressadamente ao convívio espiritual de Acácias do Amanhecer, denominação da dimensão onde se achava. Confabulou ligeiramente com algumas Entidades e indagou como encontrar Irmão Álvaro. Foi encaminhada por Luiz à presença
do Coordenador espiritual da região. Adentrou espaçosa sala, cheia de móveis e uma grande mesa, que estava ornamentada por jarros brancos e azuis, enfeitados por belíssimos galhos e flores silvestres. O aroma acolhedor e a simplicidade do local, deixaram-na encantada, segura
de si e envolta em misteriosa paz. Irmão Álvaro não se fez esperar. Penetrou delicadamente naquele ambiente e esboçou límpido sorriso àquela que o esperava.
- Irmão Álvaro, sei que o senhor é o chefe desta Esfera e, por isso...
- Aqui não há chefes, estimada irmã. Somente dirijo esta região, porém em comunhão com todas as almas habitantes do lugar. Que não haja cerimônias, estou informado sobre seu caso e
estou pronto a oferecer-lhe de tudo quanto precisa. Sinta-se à vontade, todos aqui sentir-se-ão honrados em auxiliar a irmã no que for necessário.
Lindóia estava perplexa, não sabia explicar a si mesma como Irmão Álvaro conhecesse seu caso sem que ela ainda nada o tivesse revelado.
- Eu...Eu... não entendo! Como o bondoso Irmão sabe de tudo a meu respeito?
- Amada irmã, breve poderá compreender melhor os mistérios que comandam a Verdadeira Vida. Tudo em Deus é Perfeição e, se somos sua imagem e semelhança, nada mais natural do que dispormos, na medida do nosso adiantamento, de um milímetro do seu harmonioso e in-
substituível Saber. Muito terá com o que entender estando em nossa convivência. Desejo a irmã um rápido aperfeiçoamento e bastante proveito em seus aprendizados.
Lindóia admirava-se cada vez mais daquelas coisas. Irmão Álvaro a recomendou ao seu mensageiro Luiz, que a levou até seus aposentos. Sentia-se cansada e estava a necessitar de um repouso.
II
Vários dias se passaram. Lindóia aprendeu a amar aquela Estação. Devotava-se com ardor às suas tarefas. Pela manhã, ia ao encontro de outras Entidades e, conjuntamente com elas, assistia às aulas dadas pela exuberância de conhecimento do Irmão Álvaro e, às vezes, minis-
tradas por Coordenadores de outras dimensões. Bebia com vivo interesse todas as lições e progredia de maneira notável. À tarde, ia para o hospital da comunidade, onde desempenhava com competência e boa vontade os misteres da enfermagem. Ajudava os irmãos menos esclarecidos a compreenderem suas situações e seus esforços eram baldados de pleno êxito. À noite, sempre todas as noites, não esquecia de ir ao encontro daquele que se tornara afeiçoado do seu coração e, embora ainda não vislumbrasse seus traços fisionômicos,
tinha-o em conta da mais casta beleza. Dele sempre ouvia conselhos do mais alto valor e servia para embalsamar seu espírito, tendo o amadurecimento e o progresso que sonhava.
Assim permaneceu muitos anos, até que, um belo dia, foi solicitada sua presença diante do Irmão Álvaro.
- Amado Benfeitor, estou inteiramente à sua disposição. Conte comigo.
- É notável sua presteza, irmã. Tão bem se houve durante estes anos de contínuo trabalho e aprendizagem, que a escolha não poderia ser outra. Parabéns, Irmã Lindóia!
De nada entendia daquelas palavras. Sua pulsação aumentou, estava momentaneamente mergulhada em profundos enigmas.
- Explicar-lhe-ei, se assim desejar. Chegou aqui a estimada irmã muito aquém dos recursos da sabedoria e do trabalho. Seu empenho foi tão grande, sua abnegação tão extraordinária, que eu não tive dúvidas em assinalar sua promoção, aliás, dupla promoção.
- Promoção? Como assim?
- Acácias do Amanhecer é uma dimensão de bons espíritos. A irmã chegou aqui enferma e com estágio por fazer. Passando em suas provações, a irmã, sem dúvida, atingiu o objetivo de entre nós permanecer com domicílio. Alcançou-o e com grandes méritos. Lindóia, hoje, é uma
Entidade mais evoluída e acaba de ser escolhida para ser a nova Coordenadora desta região.
- Mas... Isto não é imprudência? – Perguntou nervosa – Não é precoce?
- Nada é precoce ou injusto quanto aos desígnios de Deus, irmã. Chegou a hora de sua recompensa, o instante de uma promoção.
- Sim, compreendo até aí. E mesmo agradeço ao Pai e ao Divino Mestre, humildemente. Se Eles acham que mereço esta promoção, quem sou eu para contradizê-los? No entanto, por quê Coordenadora? Por acaso o irmão voltará à carne?
- A reencarnação é o sonho de todo aquele que busca a Perfeição. É na labuta direta com a matéria e através do sofrimento e da dor, que o espirito se despoja de suas imperfeições, purifica-se e segue em busca de andaimes mais elevados. Esta é um aspiração normal a todo e
qualquer Ser que tenha o objetivo de galgar os degraus do Paraíso Eterno.
- Porém... O Irmão já não precisa retornar à densidade material grosseira, com certeza é uma Entidade angelical...
- Engana-se, dileta irmã. Pertenço, é verdade, a uma posição mediana e um pouco acima do saber dos que habitam Acácias do Amanhecer, contudo, ainda estou muito longe dos meus propósitos. Bastante terei que fazer e sofrer para alcançar patamares maiores. Quanto à sua nomeação ao comando deste lugar, isto cabe unicamente ao seu merecimento, a nada e a ninguém mais. Eu mesmo a indiquei e, embora a irmã tenha em si emoções e conhecimento similar aos que convivem, em nada afetará seu trabalho. Todos aqui se respeitam na mesma igualdade. Caberá apenas à irmã, orientar as decisões finais dos trabalhos e fiscalizar a ordem e a paz por estas redondezas. As mesmas tarefas que foram executadas por mim. Mais uma vez: Parabéns!
Lindóia não se conteve. Abraçou-se ao Irmão Álvaro e pranteou em seus ombros, num choro convulso e, ao mesmo tempo, feliz...
III
Agora era a mais nova Coordenadora espiritual da dimensão e com muita responsabilidade acatou as decisões tomadas para si. Obedientemente iniciou o desempenho das noivas atribuições e foi, também, felicitada por todas as Entidades de Acácias do Amanhecer. Esperou ansiosa a chega da noite. Precisava contar tudo à sua doce e melodiosa “voz” e,
dele, escutar recomendações sábias quanto à administração da esfera.
- Meu Anjo dos Céus, agradeço-lhe por tudo o que tens feito em meu benefício. É por tua intercessão que hoje me encontro em tão elevada situação.
- Amada Lindóia: tu plantaste a semente. É devido ao teu merecimento, unicamente por isto.
- Como tu és bom! Como amo tua aveludada voz! Só o Pai é testemunha do imenso amor que nasceu em meu coração por ti. Obrigada, Anjo Divino!
- Não me faças sentir orgulho por algo que não fiz. Tu o procuraste e tu o encontraste. Prometi a ti e cumpro: Irmão Álvaro é o filho transformado em novas vestes que tanto buscavas naquela noite fria. Ei-lo para o teu coração de mãe!
Lindóia sentiu o corpo gelar de emoção. Grossas e abundantes lágrimas brotaram dos seus olhos e infinita felicidade inundou sua alma. Sentiu-se desfalecer, porém poderosa onda fluidica a reteve de pé e consciente. Era uma espírito vitorioso.
- Como te agradecer, Pássaro Alado dos Céus? Eu, que durante séculos procurei Álvaro por todos os recantos da espiritualidade... Eu, que percorri infindáveis dimensões à sua procura... Eu, que voltei à carne inúmeras vezes em tentativas desesperadas de encontrá-lo... Eu, que o
tive tão perto de mim e não o reconheci... Como sou tonta, meu Deus!
- Tu não és tonta e não é a mim que deves agradecimento. Agradece ao Pai Celestial que te possibilitou o reencontro. Álvaro foi temporariamente afastado de ti a fim de que pudesses resgatar teus débitos que contraíste para com a Harmonia da Perfeição. Agora estás livre, pagaste aos teus credores e só te resta continuares na faina pela purificação do teu espírito e com o objetivo de encontrá-lo beatificado como Entidade de Luz que passou a ser. Se não o reconheceste, isto se deve ao fato de ter tido Álvaro outras encarnações e, assim, haver adiquirido novas romagens da aparência física. Segue-o como Protetora e Guia, porque assim
deseja o Pai, posto que Álvaro reencarna para uma santíssima e especial missão. Cumprindo-a, elevar-se-á nos degraus da Vida Eterna e, a ti, com teu desvelo materno, entrego-te o filho, a fim de que com tua proteção e amor, ele possa sentir-se mais seguro e confiante na execução daquilo de que será portador.
- Como poderei protegê-lo e coordenar Acácias do Amanhecer?
- És bastante inteligente para consorciar com sucesso os teus misteres.
- Continuarei a contar com tua sacrossanta proteção?
- De ti não me apartarei, fica descansada. Tende Fé no Altíssimo.
Após estas palavras, Renato deixou Lindóia em presença daquele que vinha ao seu encontro.
IV
- Meu filho! Meu filho! Como é misericordioso nosso Pai Eterno ao permitir-nos este reencontro...
- Sim, minha mãe. É a ELE a quem devemos render graças...
- Nunca deixei de amá-lo, meu filho. Eu o procurei alucinadamente em tantos lugares...
- Bem sei disso, minha amada Lindóia. Não se lembra do dia em que chegou à Acácias do Amanhecer? Eu disse na oportunidade que sabia do seu caso...
- E me deixou no silêncio durante tanto tempo... Por quê?
- Não me foi permitido revelar, era necessário o silêncio para sua evolução.
- Compreendo. Ah, e por que Renato disse que eu estava a quilômetros de distância de você?
Foi neste exato momento que enorme Luz apareceu diante dos olhos ali presentes. Ficaram imóveis, observando o tamanho e esplendor daquele beleza, daquela maravilha que ali se descortinava. Aos poucos, a Luz foi dando lugar a uma linda aparição e Renato tornou-se totalmente visível e palpável. Caminhou até eles e beijou-lhes as faces. Depois recuou um pouco e os estreitou com o olhar.
- Eu sabia que Renato era lindo, mas está muito acima daquilo que minha alma imperfeita o imaginou. É muito mais lindo, é lindíssimo!
- E sublimíssimo também, minha mãe...
Com um manto azul bordado de faíscas brancas, Renato sorriu e lhes disse:
- Tu, Lindóia, estavas perto do teu filho em presença, mas a quilômetros de distância pelo merecimento. As paragens não se combinavam às tuas intenções. Pediste combustível para tua fome e para saciar tua sede. O Pai, Infinitamente Bom e Justo, concedeu a ti através de mim.
Eu os amo! Sejam felizes! A Eternidade vos espera. Benditos sejam o Criador, o Espírito Santo e os Filhos Siderais do Espaço!
E desapareceu do mesmo modo como se fez presente.
FIM
( Texto escrito por Ivan de Oliveira Melo )

domingo, 5 de outubro de 2014

Santuário do Êxtase

Contemplo, sim, extasiado um céu azul
Bordado milimetricamente de ponta a ponta,
Nuvens que desenham esperanças despontam
Dentre estrelas cintilantes que fazem zum...zum...

Meus olhos são faróis que ficam ofuscados
Perante uma tertúlia de anjos em Ave-Marias,
Há sinos íntimos que bradam intensa alforria
Em hinos que são preces aos corações angustiados...

Bênçãos despencam sobre mãos entrelaçadas
Que rogam misericórdia para emoções enclausuradas
No árido tempero que o tempo implacável enfeitiça...

Chovem lágrimas sobre a pirâmide da fé
Que ovacionam milagres que habitam a Sé

Onde se banem hipócritas que enlameiam a justiça!

sábado, 4 de outubro de 2014

Enleio Acrobático

Teu amor é meu hidratado entorpecente,
Droga que me lambuza... e me alucina,
Vejo-te florir qual flor, concha de menina
A deitar-me carinho em corpo recipiente.

Teu afago é ternura que me faz sonhar
Em orvalho de ardor sob luz de primavera,
Teu sorriso é puro néctar, mel de donzela
Onde discretamente semeio meu pomar...

Teu beijo é meu vício secreto e proibido,
Sobre teu corpo aprisiono sedutor libido
E, diante do sol desnudo, tu és aconchego...

Perante minhas noites tu és lua bem amada
Que sob lençóis coloridos mama a alvorada
E despertas no tesão acrobático dos desejos!   






sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Solo & Vitrine

A chuva que molha meus pés
São lágrimas doloridas de ingratidão,
Ainda ontem era teu adorado irmão,
Hoje sou lixo escondido de rodapé...

Respingam esperanças em minha face
Desenhadas sob uma égide de disfarce
Que atropelam meus enredos de amor...

Em meu rosto úmido há lira combalida,
Talvez maltratada por cordas opacas,
Partidas perante uma ótica em catarata
Que me deixa cético no enleio da vida.

Chove que inunda meus trôpegos passos...
Cambaleio, mas o solo que piso é de aço

E de algodão a vitrine que expõe minha dor!