domingo, 22 de março de 2015

ESTRESSE

Percebo que o tempo aprisiona meus sonhos
E meu pensamento é refém de minha agonia,
Estou num cativeiro onde é a alma que alumia
A solidão encarcerada do mundo enfadonho.

Minha tela mental parece um rascunho sem giz,
Totalmente isenta de rabiscos que me fazem ser,
Vagueio num sono branco sem me reconhecer
E desperto num ambiente sem saber do que fiz.

O raciocínio é entravado num cosmos sem nada,
A consciência batalha para lembrar o pretérito,
Contudo mergulha num redemoinho frenético
E se afoga dentre as vagas que rugem, sazonadas.

O tempo que aprisiona meus sonhos é maquete
Das horas que bailam no infortúnio do estresse!




De  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 21 de março de 2015

CERTEZA DO VIVER

A ilusão dos imortais
Morre no mesmo instante
Em que o tempo enterra ideais
Para guardar em seus anais
O destino cruel das horas mansas.

Herdeiros? Onde estamos?
Onde não estamos? A vida
É um sepulcro talhado, é vulto,
Mas quando a sombra aparece
Envolta em retalhos de luz
Tem-se a certeza de que se vive

E doce é o néctar desta sensação.

sexta-feira, 20 de março de 2015

INCENSO

Agora cai a água das nuvens,
O solo árido é o cálice que a recebe,
A terra seca então se depura
E sementes alimentam a verve.

Bebe-se da umidade um aroma em flor
E em taça de cristal o mel da redenção
Que mitiga a sede e a sacia a fome
Dum mundo que sofre estiagem no coração.

No chão fulvo surgem os primeiros brotos
E no augúrio das mentes varre-se o lodo
Da infertilidade que sentenciou os campos...

Tempos novos... Há nas árvores o incenso
Que faxina consciências, traz bom-senso
Para que nas noites haja a luz dos pirilampos!



De  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 15 de março de 2015

TRIGONOMETRIA GEOGRÁFICA

Partindo-se do princípio de que a Terra é redonda,
A vida é circunferência e, os seres humanos, raios...
Em círculos concêntricos a respiração é um ensaio
Que produz energia vital liberada em tubos e sondas.

Na maquete universal o homem é a experiência maior
Cultivado em seu eixo nos extremos do bem e do mal,
No livre arbítrio há uma senha que o torna infinitesimal
Quando o bom-senso decodifica o que há de melhor...

Durante a rotação do orbe os sentimentos são medidos
E o amor é a magnificência que ejacula sonhos floridos
Num jardim onde a consciência e a felicidade namoram...

Se na isometria de translação o raciocínio é falso pudor,
O indivíduo sucumbe perante o istmo que o trancafiou
No deserto onde solidão e esperança malograda choram!




De Ivan de Oliveira Melo 

sábado, 14 de março de 2015

COEFICIENTE ZERO

Meu equilíbrio facilmente não se desmonta...

Futebol, política, religião... temas não incipientes,
Tão caducos que perderam as bengalas da vida...

Desequilibrados são os que se regem nesta cartilha,
Desde criança sei que políticos vivem em quadrilhas
E quem discute suas atrocidades não vive, vegeta...

Quem se mete a digressões religiosas é fanático,
Estresse que vara as madrugadas de ponta a ponta
E o passional desnutre o raciocínio e se desencontra
Com a lucidez que, atrofiada, faz do indivíduo lunático.

Futebol? Nem em sonho ouso compartir discussões,
Os cartolas dissiparam do esporte o slogan da arte,
É o dinheiro que comanda vitórias, derrotas, empates
E já não choro como criança que teve roubado o picolé,
Pois o mundo se traveste, ninguém sabe o que quer...   



PRINCÍPIOS

Nada do que escrevo é em dose homeopática,
A alopatia é parte integrante do meu veneno,
Às vezes vejo tudo grande e o que é pequeno
Se transforma e assume proporções enigmáticas.

O mundo me parece ontológico... o que fito
Leva-me a pensar que o homem soterra valores,
Afugenta de si a essência dos verdadeiros amores
E nas figurinhas que troca engana o próprio fisco.

Perante o ecletismo da vida há hediondos parasitas
Que difamam o social em suas teias assaz infinitas,
Imiscuindo da existência o aroma que é salutar...

Que a boca grite... Que a pena descreva desaforos,
Mas que a responsabilidade seja a tônica dos fóruns
Para que em solo firme não haja ondas, nem mar...




De Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 4 de março de 2015

SAÚDE

Meus órgãos protestam em passeata,
Reivindicam alimentação mais saudável,
O que como excita a digestão inflamável
E os intestinos roncam nada diplomatas.

Diariamente mastigo overdose de frituras,
Meu organismo consome muita gordura,
Dieta irregular que me percorre em viaturas
Elevando taxas que não me são miniaturas.

Comer é bom, mas exige apurada educação,
O sangue reclama quando chega ao coração
Tamanho o índice de açúcar que o envolve...

É imprescindível o controle quanto ao sal,
A pressão oscila e se  desvenda o anormal,
Saúde arrebentada é uma vida em pagode!




De   Ivan de Oliveira Melo

domingo, 1 de março de 2015

PEREGRINO

Sou um transeunte da vida,
Pululo por estradas de fantasia,
Seduzem-me os adornos das vias
Que me engajam nas áureas lidas,
Pois cada passo é meteoro de ouro.

O compasso da existência é breve,
No espaço da sobrevivência o tempo
Constrói ilusões e soterra vaidades
Mostrando que no cérebro humano
A terra seca sepulta anseios e vontades.

Há um istmo que me liga ao metafísico,
É uma frincha onde o pensar dormita,
Muitas vezes faminto, preso numa cripta
Donde a melancolia domina o mundo
Que vive sedento sem provar seus lírios.

Navego num deserto onde areia é chama...
Intenso clamor assedia-me os sonhos
Que desenham fulgores que me enganam
Por serem trovoadas de teor medonho
Mescladas ao cinismo de hediondas tramas.

Sentir e esquecer... Planejar é devaneio
Que singra sobre as horas pesado fardo...
O relógio que é adúltero segue seu embalo
Confiscando do mar a vaga secreta que veio
Remir das consciências ideais que a brisa ufana!