domingo, 31 de maio de 2020

DETENÇÃO


De tudo eu sei que sou detento...
Da vida, pois sou avesso às suas fórmulas.
Do destino, porque o confronto freneticamente.
Do amor, porquanto amo educadamente
As circunstâncias impolutas do seu vício
E me torno coadjuvante das paixões.
Do trabalho, pois suas regras me exaurem.
Da preguiça, porque sua função é a indolência.
Do sofrimento, porquanto alimento sua verve.
Da felicidade, pois alegria é episódio.
De tudo eu sei que sou detento...
Do orgulho, porque o homem é insanidade.
Da humildade, porquanto a existência é caótica.
Da fidelidade, pois escrever não é casualidade,
Mas a expressão da inspiração que é liberdade!


DE Ivan de Oliveira Melo

sábado, 30 de maio de 2020

CONTEXTURA


A morte é meu crepúsculo;
A vida, a minha alvorada,
Se o vento parece esdrúxulo,
A Lua é minha namorada.
O arrebol é minha volúpia;
O sonho, um íntimo desejo,
Se o tempo contém astúcia,
O Sol é meu tesão benfazejo.
A noite é minha bela musa;
O dia, minha paixão reclusa
Onde camuflo a minha dor...
O universo é meu tear poético;
A inspiração, dom do arquiteto
Que fecunda estrelas com amor!



DE Ivan de Oliveira Melo

NADA


Se a alma chora empedernida,
No silêncio carrega sua cruz
E, enquanto a dor a solidão traduz,
Menos tédio consome a ojeriza.
Quando os ventos gritam assobios,
Há avalanches de sentimentos sutis
Que fantasiam o paladar dos colibris
E tatuam no tempo os aromas bravios.
Quiçá as sombras sejam vultos niilistas
Onde os rouxinóis pousam exacerbados
Diante dos cabelos negros dos prados
Onde há a fumaça branca dos parasitas.
Decerto as lágrimas umedecem os vales
Dos bem-te-vis que chilreiam amenidades!


DE Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 29 de maio de 2020

ORGANISMO HUMANO


O corpo humano é um vasto oceano
Cercado de ilhas por todos os lados,
Não há peixes nestes mares lotados
De enfermidades e muito desengano.
Os órgãos navegam sobre a água tinta
Semelhante ao Nilo do Egito Antigo
Que diante das pragas viu que era findo
O tempo cativo que a História repinta.
Sobre a maquete invadem os parasitas
Inimigos da saúde: os vírus e bactérias
Que infectam a água em ações deletérias...
É fundamental conter indesejáveis visitas
A fim de que as águas sejam cristalinas
E se possa boiar suave nestas piscinas!


DE Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 25 de maio de 2020

CONTRASTES


Compus um poema numa noite tão fria
Que as palavras respingavam labaredas,
É um consórcio místico em que envereda
Fantasia e realidade que me consumiam.
Declamei uma poesia em noite tão quente
Que a inspiração congelou o meu glossário,
Foi um aliciamento exótico, meio perdulário
Em que compreendi o cosseno e a tangente.
Escrevi uma crônica em um dia tão chuvoso
Que o sol bronzeou-me do pensar umbroso
Todos os versículos do meu fugaz Evangelho.
Resolvi ler um romance em plena madrugada
E, repentinamente, o dia chegou em alvorada,
Então entendi que o novo hoje amanhã é velho!



DE Ivan de Oliveira Melo

domingo, 24 de maio de 2020

...te amo tanto!


Sou teu, meu amor, não chores!
Por ti, meu coração bate avesso,
Pois só tu conheces do endereço
Onde vive uma paixão sem trote.
Tanto te amo que me enlouqueço
Só de pensar que posso perder-te...
Não és para mim nada de cacoete,
És uma paixão, és o amor espesso!
Vivo em ti, sem ti eu sei que morro.
Se adoeço, és meu urgente socorro,
O antídoto que me anseia só delirar...
Ah! Só penso em ti, te quero tanto!
É para ti somente que sempre canto
A doce canção de viver o verbo amar!


DE Ivan de Oliveira Melo

CANTANTE


Eu canto porque a vida insiste,
Agora e sempre estarei pronto
Mesmo em meu olhar o pranto
É a exegese que em mim existe.
Desejo cantar a todo instante
Mesmo exaurido, corpo demente,
Só eu sei o que meu coração sente
Diante da solidão que é uma amante.
Portanto, se a existência é madrasta
Fico eu a perceber o sonho da casta
Da qual sou filho e pai amantíssimo...
Nada posso falar, o devaneio assalta
E tudo o que escrevo está em pauta
Perante o delírio de qualquer feitiço!



DE Ivan de Oliveira Melo

CONSPIRAÇÃO


Existem diversos tipos de composição poética: o soneto, o madrigal, a ode... Abaixo você tem o TALENTAI, criação minha. O TALENTAI é um poema de forma fixa, composto por 15 versos, assim distribuídos: 1 monóstico, um dístico, um terceto, uma quadra e uma quintilha. O TALENTAI é livre de metrificação e a rima é facultativa ( opcional ).

CONSPIRAÇÃO

A maldade trapaceia o coração dos incautos...
A malícia se desenvolve tão sorrateiramente
Que, aos poucos, agiganta-se dentro da gente
E o trigo, fermento do bem, é assaz manietado
Pela sutileza dos orgasmos impuros que o joio
Lança na atmosfera pessoal... Lá vai o comboio
Da perversidade diluindo o que é mais arretado:
O caráter divino da expressão do belo: a honra!
De repente tudo soa desnudo como uma bomba
E a personalidade mergulha nas ondas bravias
De um mar tenebroso... O mundo gira, aturdido,
Plenamente compartilhado por tons degradantes
Das sociedades que perderam os dons elegantes
E se transformaram em trevas onde é consumido
O veneno que destrói e mata... blasfêmia, todavia!


DE Ivan de Oliveira Melo

sábado, 23 de maio de 2020

TROPICALISMO POÉTICO






A inspiração atrevida engravida o poeta
E o faz contracenar com um abstrato absinto,
Tece fantasias mediante um inconsciente retinto
Pelas imagens criativas que o intelecto coleta.

A sensibilidade dialoga com a mente insana
Que reproduz os alicerces da obra literária,
Em cada linha há um arbusto sem indumentária
Onde o silêncio evoca uma hermenêutica cigana.

O eu-lírico é o protótipo crucial da mensagem
Que se revela paradoxal à pluma selvagem
Intumescida pela extração de termos prosódicos...

Assim se consuma uma elegante arte poética
Que é elaborada de maneira sublime e eclética
E que traz bálsamo eficaz para todos os trópicos!


DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 22 de maio de 2020

O PARTO






Desaba sobre mim uma nostalgia frenética

Que me põe grávido diante dos sentimentos
E me faz enjoar perante uma crise estética

Do meu íntimo que pranteia as desilusões...
Percebo-me em mim um desejo de solidão
Próprio das parturientes que ensejam o amor.

Vomito infinitas doses dos pensamentos
Que me retém prisioneira a consciência
Já contrabandista das egrégoras ufanistas
Do pecado extraído dos sonhos dantescos.

Eis um pré-natal que se dilui no tempo
Alcançando as esferas do zodíaco impessoal,,,
Chega o instante do parto: as dores intensas
Perfuram-se todos os desejos inconcebíveis
E no minuto final nasce o rebento: a saudade!’



DE  Ivan de Oliveira Melo  

sábado, 16 de maio de 2020

DIZIMADOS





Com o tempo se desgasta o asfalto,
Na atmosfera declina-se a poluição
E os ventos carregam na contramão
As incertezas impuras que decalco...

É o tempo anfitrião das atrocidades
Que se debruçam sobre o universo,
Em cada ponto há o sentido inverso
Que camufla o teor das inverdades.

Sob o éter em que se respira a vida,
A fuligem se espalha tão destemida
Que derrama incenso sobre a morte...

Quão inútil é o desespero das gentes
Que, alucinadas, morrem de repente
Trucidadas diante do fel passaporte!


DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 15 de maio de 2020

FOGARÉU




Perante o mundo entoei meu canto,
Escrevi em verso e prosa a fantasia
Que me fotografou na alma arredia
A simbiose catártica do meu pranto.

Diante do cosmos descrevi estrelas
Que salpicavam luz sobre os mares
E jogavam em suas vagas ondulares
Os sonhos líricos que são incertezas.

Pude navegar insólito sobre as dunas
Dos vícios... Ver as horas importunas
Que regem o mergulho sobre a areia...

Afinal, afoguei-me indócil no tempo
E tudo o que sei e que ainda eu penso
É que vida sem perfume se incendeia!



DE  Ivan de Oliveira Melo



quinta-feira, 7 de maio de 2020

REFINARIA GRAMATICAL





Vejo-me dialético dentre os vagões filosóficos,
Enveredo por anátemas reflexivos de contrastes
Que tingem do pensamento as veredas anacrônicas
Contraditórias aos inexoráveis argumentos empíricos.

Diante de uma retórica que transcende o ocultismo,
Minhas palavras não se coadunam com a semântica,
Então uma polissêmica aventura no léxico do idioma
Traz efeitos novos perante as estruturas morfológicas.

Sinto-me crítico dos meus próprios estratagemas...
É possível que teares ortodoxos tenham construído
As estradas infláveis que mantêm na diacronia da língua
Os sintagmáticos padrões que auxiliam a sintaxe inversa.

Mediante os vícios que constrangem a estilística,
Navego dentro de uma imprudência normativa e social
Donde os paradigmas excluem, dos neologismos fonéticos,
A formação regencial que se opera em construções chulas.

É mister que os arcaísmos renasçam dentre o vocabulário
A fim de que a concordância possa interagir com o sentido
Exponencial que certos termos adquirem em seu manuseio
E tornem as elucubrações gramaticais denotativas e reais.



DE  Ivan de Oliveira Melo  


REBELIÃO





O pensamento não encontra fronteiras,
Os ventos uivam como lobos famintos,
As tempestades desabam sobre infinitos
Pontos onde o silêncio chora derradeiras

Odes sobre planícies a planaltos distintos.
A consciência sobrevoa pelas ribanceiras,
O medo se instala nas estações primeiras
E as verdades do mundo estão mentindo.

Os sonhos são os costumes inadimplentes
Que fantasiam cada vida tresloucadamente
E se permitem desenhar os ideais frenéticos.

A inconsciência transforma-se em utopias
Que ensejam realidades que são hipocrisias
Diante dos patamares hediondos e tétricos!


DE  Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 6 de maio de 2020

APETITE LÚGUBRE


Os corvos iniciam rituais de bailados,
Dançam freneticamente diante das covas,
Pois estão embriagados e apaixonados
Pelo odor mefítico das podridões novas.
Gritam em pleno ar, o apetite se renova
Sempre que chegam os corpos mutilados
Pela desdenhosa morte que não é trova,
Mas um infortúnio na vida dos flagelados.
Ah, carnificina! Nesta inorgânica panaceia
Os cadáveres sofrem efeitos duma odisseia
Donde se produz o manjar dos vis abutres...
Sem dúvidas, são manifestações macabras,
Os fúnebres são alimento predileto nas aras
Que ardem da felicidade dos que se nutrem!


DE Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 4 de maio de 2020

CONCENTRAÇÃO


Não necessito cansar-me para caminhar...
Sem sair do lugar, perambulo quilômetros,
Ando que ando, corro, viajo com a mente
E chego em qualquer lugar que me destino...
Tudo isso em questão de poucos segundos.
Determino a velocidade conforme o interesse
E tanto faz empregar os passos de tartaruga
Como colocar em prática a velocidade da luz...
A consciência é o combustível de que preciso
Para empreender aventuras pelo universo
E tudo sem nada gastar, inteiramente grátis...
Do mesmo modo, falo sem fazer uso da boca,
Enxergo com os olhos fechados ou vendados,
Escuto o silêncio apenas usando a imaginação.
Eis o caráter do pensamento. Vale a pena usar!


DE Ivan de Oliveira Melo.

IMAGENS


Teu corpo... Vejo-o no espelho d’água
A balouçar dentre a espuma salgada,
A bailar mui sarraceno até a enseada
E no rodopio das ondas o rio deságua.
Teu nome... Prendo-o em minha casa
E nos torvelinhos que o mar enxágua
Há os recifes onde se situa a pirágua
Que leva a inspiração que se consagra.
Tua sombra... Sinto-a em mim atordoada,
Labuzada pelos tons da viola em serenata
A sussurrar da melodia palavras em volúpia...
Teu vulto... Aconchego-o nu ao meu peito
Já consumado a delirar sob o ícone perfeito
Da canção que é o amor sem letra espúria!


DE Ivan de Oliveira Melo