sábado, 22 de março de 2014

Monógo Interior

Parte 1

O silêncio intenso é um convite
Para que eu me analise sem medos
E arranque de minh’alma segredos
Que se envergonham dos meus palpites.

Não quero luzes... Meu íntimo é escuridão
E na penumbra de mim mesmo dialogo
Com minha consciência que tece in loco
Fantasias que são utopias de solidão.

Se o pranto que me invade é hipocrisia,
Meu âmago haverá de torná-lo verdades
E inspirar-me a combater as adversidades
Que me fazem pintar o ego de alegorias.

Eu sou vida, portanto, pulso um amor
Que vive camuflado por meus pensamentos
E deteriorado por lúgubres sentimentos
Que roubam de mim a energia do ardor...

Na avareza da paixão sinto-me egoísta
E delinquente do que poderia ser meu destino,
Mas uma força estranha que vem do menino
Me consome o húmus da razão otimista...

Parte 2

Há um fogo em mim sem tempero
Que apenas me bronzeia as ilusões,
Não há labaredas que me tostem as emoções
Nem o calor que possa assanhar-me desejos...

Minha vitrine é oca e por pouco se quebra,
Os adereços são miragem de fogo fátuo
Que se esconde e não posso tomar contato,
Pois, percebo que são mosaicos de pedra.

Vistorio no tempo o que foram as horas
E observo que desprezei os focos de alegria,
Tento decifrar se algumas vezes senti nostalgia
Então, aí, revela-se uma existência peremptória...

Os ventos que sopram sobre mim são efêmeros
E quando me rondam furtam-me as lembranças,
Logo me noto sem alqueire e os brinquedos de criança,
Enxergo-os carcomidos sem pedaços, mas inteiros...

Os dias e as noites têm um mesmo fim,
Há flores murchas em pleno auge de primavera,
Vislumbro folhas de outono que cobrem as passarelas
Tão secas quanto o orvalho que existe em mim...

Parte 3

Tenho imensa vontade de sentir saudade,
Contudo não existem recordações, a memória é vazia,
Preciso renascer e sufocar em mim a agonia
Que me obriga a adormecer a sensualidade.

Sou pivete de mim mesmo, um eu vilão
Que me assalta diuturnamente a esperança,
Que me corrói o interior em suas andanças
E me deixa sem partido, a nocaute o coração.

Talvez a sensibilidade ensine-me a sonhar,
Então eu busque banir de mim este Saara,
Encarar o universo com uma nova cara
E sorrir... Porque com o sorriso aprende-se a amar!

Não tenho júbilo... Minha lágrima é o carinho
Com que adoço a possibilidade de sobreviver,
Jogar para o alto a toalha, procurar o prazer
Que ao longo dos anos dormiu sozinho...

Ave! Afinal são sensações de um despertar...
É que só agora o moleque embutido faz bagunça,
Quer gritar e arrancar os dentes da atmosfera dentuça
E nadar... Navegar envolto pelas flores dum profundo mar!

Sete



Concomitantemente sagrado e profano,
Este número é mágico, transforma ideais,
É a sentença exata das notas musicais
E nos exprime sacramentos que respeitamos.

O mentiroso tem em conta o índice sete
E sua pena prevista em anos de azar,
Pelas maravilhas do mundo é de se observar
Que Branca de Neve do seu limite se apetece...

Conhece-se a fronteira dos pecados capitais,
Mesmo assim o homem o pinta em suas orgias,
Na concepção oriental candelabros são alegorias
Em que os sábios gregos evocam a paz!

A Perfeição divina o fez nas colinas em Roma
E nos relógios da Grécia o Espírito da Terra nos ama!

sexta-feira, 21 de março de 2014

Poesia



POESIA
( Homenagem ao Dia Internacional da Poesia )
2014.


Debutar é solfejar a inspiração,
É tecer retalhos de sensibilidade e magia,
Dar ao êxtase átomos que descrevem poesia
Perante o clímax passional enamorado da emoção.

A maternidade artística traça do abstrato
O sentimento que permeia a visão poética,
Não há chão nem teto nessa alegoria eclética,
Mas uma paisagem utópica de fino contato.

Os versos escorrem sonâmbulos pela pauta
Pontilhando as linhas da imaginação como um nauta
Que percorre sem licença um espaço infinitesimal...

A poesia concretiza todos os pendores da arte,
É a mãe que amamenta o belo para manifestar-se
Como senhora absoluta do universo real e transcendental!


Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 20 de março de 2014

Dragões da Fantasia



Estreitas vielas contornam o apêndice da razão
Tão confiscada por vermes que invadem a mente
E fazem do raciocínio uma horta de eloquentes
Vampiros que sugam princípios e instintos da emoção.

Horda nefasta que rola ideais rumo a precipícios
Donde se prevê argumentos nauseabundos da derrota,
Peçonha que tramita entre arbustos e importa
Uma verve funesta que impõe desolação e sacrifícios.

A dor é a respiração do pensamento castrado e enfermo
Que sobrevive à margem hedionda do próprio desterro
E se insinua por pequenos vértices à luz do dia...

A persistência é a sensação da luta não inglória
Que faz renascer a vontade que, senão busca a vitória,
Pelo menos desvia os dragões com destino à fantasia!  

quarta-feira, 19 de março de 2014

Cálculo das Dimensões


Tijolos sobre tijolos na arquitetura de um perfil...

Alvenaria que se acumula na edificação da vida humana,
Mãos artesãs acoplam pedaço a pedaço este tesouro

Que singra o espaço doutrinário dos logaritmos
Em cujos expoentes se calculam os diversos ritmos
Que fazem do universo o anfiteatro das estações...

Em cada ângulo o homem desvenda uma equação exponencial
Que tece em seus quadrantes os mistérios da natureza,
Na multiplicação dos pães há incógnitas que traduzem a certeza
De que em sua origem o mundo foi protegido de todo o mal.

Há perímetros que abrem estradas rumo a novas galáxias,
Mas é o indivíduo da Terra que tem de entender o binômio
E fazer da sagrada existência o produto dos hormônios
Que habitará em cada região deste sacrossanto planeta
A fim de que a índole das criaturas seja plataforma de fina etiqueta!

Doutra Vez...



Várias vezes me afoguei em teu soluço
E pereci na agonia desse mar bravio,
Ensopado por tuas lágrimas, tiritei de frio
Ressuscitado pela aurora dum oceano bruto.

Teu delíquio formou uma cachoeira negra
E na pororoca de sentimentos te busquei aflito,
Mas a tempestade era densa e meu grito
Mergulhou na ventania que me maltrata a cabeça.

Caminhei pela enseada do teu nome... Litoral obeso...
Na areia assinei a saudade do meu eu confesso
E adormeci sobre os recifes de minha solidão...

Quisera eu doutra vez afogar-me em teus soluços
E navegar sobre balsas de amor, resoluto
A acasalar nossas lágrimas no templo do coração!

terça-feira, 18 de março de 2014

Sufoco



Perdi-me em mim,
Segreguei-me a essência,
Não sei onde deixei a consciência,
Nunca me vi assim...

Quem sou?
Por que vivo?
Quê faço aqui?
Aonde devo seguir?

Respostas vazias,
Estou sem identidade,
Irônica realidade...
Acho que sou fantasia!

Destino cretino, obeso
Que caçoa deste passageiro
Sem rumo, sem terreiro,
Maltrapilho vagabundo indefeso...

Os humanos me abduziram.
Trouxeram-me canhestro da eternidade,
Largam-me aqui por perversidade
E nem ao menos me consumiram...

Percurso final...
As linhas estão sinuosas,
As alamedas são perigosas,
Estou passando mal!

Luzes acesas. Fim do ato,
Intenso alívio faz-me chorar,
Pensei que o mundo iria acabar...
Que nada! Sou ator de teatro!