terça-feira, 29 de dezembro de 2015

REVISTA DA COMPOSIÇÃO

Sim, as letras são minhas tietes...
Revelo-me através das misturas
De consoantes e vogais: palavras!
Assim, com o alfabeto sou vedete...

Sincronizo o que penso e escrevo
A fim de tecer dentro das viaturas
Gramaticais e semânticas as larvas
Que codificam mensagens de peso!

Do lírico ao gótico: mente taciturna
Que mergulha na força das cataratas
E se banha em riachos de alegorias...

Senso febril dum frenesi que depura
A linguagem despojada das cascatas
Onde o amor é síndrome que fantasia!



DE Ivan de Oliveira Melo


domingo, 27 de dezembro de 2015

PERSONALÍSSIMO

Quem não ordenha a consciência não vive...

Diariamente somos videntes da realidade
E esta nos impõe seus prospectos apelativos

A fim de que a mente das pessoas consuma
Uma série de informações e atitudes perigosas
No mais das vezes funestas a sadias aspirações.

Somos produtores do nosso leite intelectual,
É fundamental saber separar o joio do trigo
E aquilo que for nocivo para sempre deletado
Dos objetivos que traçamos para o novo dia.

Ordenha-se a consciência eliminando o mal
Que se habilita a corromper o coração humano,
Neste caso a prudência deve assumir seu papel
Para que o bem possa equacionar o equilíbrio
E a vida possa dar a nós o caráter da felicidade!




DE Ivan de Oliveira Melo

INDEFINIDO

Sem caráter, sem personalidade, sem nome...
Indivíduo adversativo da realidade, indigente
Sonegado por uma sociedade que não o vê gente,
Por isso sempre identificado por um pronome.

Pessoa eternamente invisível perante semelhantes,
Rastejante duma sobrevivência que lhe é ingrata,
Morto-vivo que come sobejos aos pés das escadas
E bebe da indecência humana pejorativos e consoantes.

Criatura que perambula sem destino, como irracional,
Seu direito à dignidade é a moeda e a cachaça
Que inebriam sentimentos e o faz exemplo de desgraça...

Vergonhoso paradigma que sacia e fotografa o mal
Antegozando o bem e o enfurnando em catacumbas
A fim de que o que for nocivo possa dançar a rumba!




DE Ivan de Oliveira Melo

sábado, 26 de dezembro de 2015

FRAUDULÊNCIA

Às vezes percebo que à toa mentes
Tentando enganar-te , jogando sujo,
Tua aparência se torna um caramujo
Onde se escondem muitos duendes.

Engolfa-te em tuas próprias mentiras
Tratando-as como espelho e verdade,
Por isso hipócrita é tua sensibilidade,
Criadora dos anelos inúteis e caipiras.

Embustes nascem livres em teus vales
E mesmo que a sinceridade de ti exale,
Certamente é rebate falso, não anistia...

A impostura enterra-te em amplo tijuco
Tornando-te de jovem precoce caduco
Que, capenga e trôpego, virou alegoria!



DE  Ivan de Oliveira Melo




ESTRANHO VIZINHO

                                            ESTRANHO VIZINHO

                                                       -CONTO-


                                                                I



          A rua era sem saída. Não havia calçamento e em seus espaços grandes poças de água a inundavam, quase sem condições para que  os transeuntes pudessem caminhar livremente. Foi  nesse  cenário que  Regina  Abrantes, uma jovem de 18 anos, chegava   em casa. Eram 3 horas da manhã. Estava só. Ela aproveitara uma carona.    Calmamente
retirou as chaves do bolso da calça a abriu a porta principal. Fechou-a  com     cuidado e
se dirigiu às escadas, longas escadas até o segundo   pavimento,    onde habitava com os
pais. A passos lentos foi vencendo os degraus e,   quando adentrara em seu último lance,
repentinamente as luzes se apagaram. Faltara energia... Regina estacou, olhou para todos os lados e tremeu, de medo. Suava frio. Havia em si intenso medo   de   escuridão.
Buscou apressar-se, todavia estranha voz invadiu o espaço onde se encontrava. Tal fato a fez arrepiar-se... Quem seria?
- Não tenha medo – disse bonita e pausada voz – não vou fazer-lhe mal algum. Sei que treme, porém já que estou aqui, posso muito bem ajudá-la.
- Quem é você? Não o conheço! – Respondeu Regina.
- Permita apresentar-me. Meu nome é Sandro. Sou o novo morador do apartamento 22, vizinho ao seu. A mudança chegou agora à noite e ainda estamos em arrumação. Resolvi descer para refrescar-me já que o calor está forte e foi neste ínterim que as luzes se apagaram. Sorte sua, pois aqui estou para acompanhá-la até sua porta. Qual sua graça?
- Meu nome é Regina Abrantes. Prazer conhecê-lo, Sandro.
- A satisfação é totalmente minha, Regina. Levo-a até sua porta...
          Regina deu-lhe a mão e se deixou conduzir. Vagarosamente subiram. Finalmente estavam à porta de Regina. Neste mesmo momento as luzes voltaram a clarear o recinto. Regina ficou pasma. Olhou fixamente para seu acompanhante, era belíssimo. Profundos olhos azuis e uma longa cabeleira loira, pele muito alva, dentes perfeitos e da mesma altura que a sua.
- Nossa! – deixou, sem perceber, escapar esta interjeição.
- O que há? – Interrogou-lhe Sandro.
- Ah... Nada! – Disse Regina.
- Perdoe-me, mas alguma coisa houve, do contrário não teria prolatado tamanha interjeição. – Colocou Sandro.
- Está bem, direi. Estou impressionada com sua beleza... É profundamente belo! – Confessou.
- Obrigado! – Agradeceu Sandro, sentindo-se lisonjeado com o elogio de Regina. – Você igualmente é bastante linda. Quantas primaveras tem?
Meio embaraçada estava, no entanto respondeu, sem mentir.
- 18 anos recém completados.
- Uau! Que coincidência! Também faz poucos dias que cheguei aos 18 anos... – Sandro afirmou. Amigos? – Sandro ofereceu-lhe a mão.
- Sim. Amigos!
          Como era muito tarde, logo Regina apercebeu-se da hora e se despediu.
- Tenho de entrar, é tarde. Voltaremos a nos encontrar. Boa noite, Sandro.
- Com certeza. Boa noite, Regina. Tenha bons sonhos...
- Obrigada!
          Regina Abrantes abriu a porta. Rapidamente entrou e trancou-a. De imediato dirigiu-se aos seus aposentos. Estava encantada com a beleza de Sandro. Nunca vira em sua vida rapaz tão bonito, tão perfeito. Trocou suas vestes e caiu na cama, entretanto não conseguiu dormir. Seus pensamentos voavam e a imagem do rapaz não saía de sua mente. Estava o dia clareando quando, finalmente, o sono a dominou. Contudo foi um sono agitado, a fotografia de Sandro flutuando na inconsciência...


                                                                   II



          Pela manhã o ar fresco dominava a paisagem. Já não chovia e gostosa brisa penetrou nos aposentos de Regina, pois deixara aberta a janela, que era gradeada. Não se levantou no mesmo instante. Abriu os olhos e curtiu o majestoso dia que vislumbrava de sua confortável cama. Logo seu pensar trouxe, outra vez, a lindíssima imagem de Sandro. Pensava que pensava e uma dúvida assaltou-a. Começou a mastigar com prudência aquele encontro imprevisto. Em sua mente a dúvida: “Como sabia Sandro do apartamento em que residia se nunca o havia visto antes?”  Por mais que tentasse desvendar, era um terrível enigma e teria de perguntar-lhe posteriormente. Após longos minutos a tricotar o pensamento, levantou-se e se cuidou. Agora estava à mesa a fazer o desjejum ao lado do único irmão, Sílvio Abrantes.
- Bom dia, irmãzinha querida!
- Bom dia, Sílvio.
- E aí, foi boa a festa? – Sílvio quis saber.
- Maravilhosa! Sílvio, diga-me uma coisa: você, que ficou em casa, viu quando a mudança do apartamento vizinho que estava desocupado chegou?
- Sim, vi. Era meia-noite quando ocuparam o apartamento vazio. Na verdade, quando ele ocupou o apartamento...
- Ele quem? – Indagou Regina.
- Um rapaz bem apessoado e elegante. Inclusive perguntou-me se eu poderia ajudar em carregar os poucos móveis que tem. – Sílvio retrucou.
- E você o ajudou?
- Sim, eram poucas peças e não eram pesadas.
- O rapaz não lhe disse o nome dele?
- Claro! Chama-se Sandro. Ficamos amigos! Por que estas perguntas?
          Regina, que nada escondia do irmão, tudo lhe relatou, em detalhes.
- Muito cavalheirismo! Ainda bem que ele estava por perto, assim você pôde chegar bem em casa. – Afirmou Sandro.
- Também ficamos amigos. Coincidentemente, Sandro é da mesma idade que a minha e mais novo um ano que você.
- Verdade. Só achei estranho o fato de ele morar sozinho. Fiz-lhe algumas perguntas, porém ele fugiu pela tangente, enrolou e nada me respondeu.
- Realmente, é bastante esquisito. Ah!!! Mas que ele bonito bem que é... aliás, é lindo!
- Percebo que ficou interessada nele... Olha lá, não se esqueça de que possui um irmão ciumento...
          Alguns dias se passaram. Regina não encontrara mais com o vizinho. Estava “louca” para vê-lo outra vez e procurar saber mais dele, todavia o fadado encontro não acontecia. Quem o viu, novamente, foi exatamente Sílvio. Eram 10 horas da noite. Sílvio gostava de jogar bola na praça com os amigos. Depois iria para casa, tomaria um banho, comeria qualquer coisa e mergulharia na cama. Havia terminado de jogar e caminhava em direção ao seu lar. Foi na calçada, bem em frente ao prédio que o notou. Sandro estava de bermuda, camiseta de alça e chinelos. Ao percebê-lo, Sílvio o cumprimentou.
- Olá, Sandro. Boa noite!
- Õpa! Boa noite! Donde vem tão suado? – Sandro perguntou-lhe.
- Estou a retornar do meu costumeiro jogo noturno. Gosto de bater uma bolinha com os amigos ali na praça. Faço isso com certa frequência. Você não gosta de futebol?
- Eu não sei jogar, não obstante admiro quem joga. Como você está?
- Bem... Ainda estou em gozo de férias da faculdade. Quando do retorno às aulas, certamente pararei com esta folga. E você não estuda? – Sílvio questionou.
- Sim, durante o dia, numa cidade próxima daqui. Passo o dia inteiro em aulas, só volto para casa à noite.
- E não está em férias?
- Não! Estou a fazer um curso na própria faculdade, trata-se de um curso de extensão curricular.
- Que curso você faz?
- Farmácia. E você?
- Estamos na mesma área, só que em cursos diferentes. Eu estudo Biologia.
- Ah, legal. Você é irmão de Regina, não é?
- Sou.
- Com todo respeito, muito bonita sua irmã... Gostei muito dela... – Afiançou Sandro. Onde está ela agora?
- Com certeza em casa das amigas, acho até que hoje não vem dormir em casa. Bom, como está vendo, estou muito suado e vou subir para tomar um banho...
- Vou subir também... Posso acompanhá-lo?
- Lógico, afinal moramos no mesmo pavimento.
          Lentamente subiram dialogando e sorrindo. Ao aportarem na porta do apartamento de Sílvio, Sandro convidou-lhe.
- Não fique constrangido, mas venha tomar banho em minha casa. Depois nos serviremos de um gostoso vinho e nos fartaremos com uma deliciosa pizza de atum. Gosta?
          Embora estivesse considerando muito estranho o convite de Sandro, a proposta para uma pizza de atum o deixou atordoado... era sua pizza favorita...
- Você venceu. Irei.
          Sandro abriu a porta e eles entraram. Levou-o até sua alcova e lhe deu toalha, sabonete, xampu e roupas íntimas limpas e cheirosas.
- Fique à vontade, Sílvio. Enquanto você toma seu banho, vou preparar a mesa para nos servirmos. – Sandro prometeu.
- Obrigado!
          Sílvio entrou no banheiro e fechou a porta. Tomou um gostoso e demorado banho. Posteriormente saiu apenas de cuecas. Sandro estava à sua espera.
- Venha à mesa. Como lhe disse antes, não fique constrangido. Aqui só há nós dois mesmo.
          Sandro ofertou-lhe vinho do Porto e também se serviu. Ambos se fartaram de beber. Quando chegou a hora da pizza, Sílvio já estava meio sonolento, devido à quantidade de vinho que ingerira.
- Estou meio tonto, Sandro. Não quero beber mais, prefiro agora a pizza. Vamos nela?
- Escute: só mais algumas doses e logo estaremos na pizza que prometi.
          Assim foi feito. Sílvio bebeu mais algumas doses do apreciado vinho. Já não estava só tonto, estava embriagado. Seu raciocínio um pouco confuso, porém com alguns poucos reflexos.
- E a pizza? Não vai me servir a pizza, Sandro?
          Sandro tirou a camisa e deixou à mostra seu belo tórax.
- Sim, aqui está. Gosta do cheiro?
- Uma delícia! – Respondeu Sílvio. Posso comer à vontade, quer dizer, bastante?
- Claro, farte-se.
          Sílvio estava quase fora de si, mesmo assim não desperdiçou um de seus pratos prediletos. Comeu que comeu e nem percebeu que Sandro também só estava de cuecas ao seu lado, acariciando seus cabelos e beijando seu pescoço...
- Puxa! – disse Sílvio – Você está com os olhos tão vermelhos? Por quê?  Ah, como você é carinhoso...
          Sandro não se conteve. Este era o instante esperado. Sedento por sangue, fez penetrar dois afiadíssimos dentes no pescoço de Sílvio e sugou-lhe grande quantidade do líquido vermelho, até saciar-se plenamente.
- Agora você é meu, Sílvio. E através de você, vou chegar até Regina. Preciso dos dois ao meu lado. Para sempre viveremos juntos em verdadeira comunhão de amizade e de sentimentos. Você estará totalmente sob o meu controle, fará tudo o que eu ordenar,  para o seu bem.
- Sim, Sandro, eu o obedecerei cegamente, cegamente...
          Sílvio adormeceu profundamente. Sandro estava, agora, revigorado. Colocou Sílvio nos braços e o postou em larga cama, num quarto junto ao seu. Foi necessário conquistar o amigo a fim de que tivesse mais facilidade para chegar até Regina, a mulher que mexera intensamente com seus sentimentos. Estava apaixonado pela moça e faria dela sua eterna companheira e vassala.


                                                                  III


          Manhã seguinte. Sílvio despertara às 9 horas. Procurou por Sandro e não o encontrou. Apenas divisou um bilhete que estava debaixo do jarro sobre a mesa. “Sei que despertará bem, ainda não se transformou por completo, porém já sabe o que sou e o que você também será. Mantenha absoluto segredo sobre o que descobriu de mim, lembre-se de que me prometeu obediência e esta obediência é para sempre. Se quer viver eternamente ao meu lado e ao lado de sua irmã, faça tudo o que ordeno abaixo. Nada mais a acrescentar, por enquanto. Sandro”.
- Sim – falou para si mesmo – Eu o obedecerei eternamente. Não quero perdê-lo e nem quero deixar de viver, agora de forma mais intensa...
          Muitos dias se passaram. Todas as noites Sílvio estava em companhia de Sandro, seu amigo maior, seu mestre. Sílvio o adorava, achava-o o máximo dos máximos e tinha agora a missão de trazer a irmã para os braços do vampiro.
- Quer que seja hoje, Sandro?
- Não, por enquanto tenho me alimentado de você, todavia em breve terei a minha sonhada Regina em meus braços. Ninguém notou a marca dos dentes em seu pescoço?
- Lógico que não, sou muito cuidadoso em relação a isso. Não pretendo decepcioná-lo, meu rei, nunca...
- Assim que se fala... Eu o prezo muito, Sandro, muito mesmo. Durante minha longa vida até hoje, jamais me deixei impressionar por alguém homem, só mulheres e elas apenas para saciar-me a sede. Com você e sua irmã é diferente, eu os amo de verdade e sonho vivermos um trio de felicidade até que o infinito nos acolha.
- Também o amo, Sandro, meu mestre, E o amo muito, mais do que você possa imaginar!
- Eu sei que ama, mas só me terá por completo quando eu tiver Regina em meus braços, esta é minha condição para você e você sabe disso. Então cumpra minhas ordens e, com o êxito da missão, ter-me-á como deseja, não já...
          Alguns meses à frente. Regina chegara em casa exausta. Estranhou que Sílvio estivesse em seus aposentos e à sua espera.
- Que faz em meu quarto, irmão?
- Hoje é uma data especial para Sandro. Ele convida para irmos, eu e você, a fim de comemorarmos alguma coisa muito importante na vida dele...
- Estou enfadada, irmão. Que ele me desculpe a ausência. Vá você e me represente...
- Não! Você terá de ir comigo, não jogue fora esta oportunidade de tê-lo tão perto...
- Ué, cadê o irmão ciumento que sempre tive? Ele comprou você?
- Que nada! Ele é um sujeito muito do bacana e adora você, está apaixonado...
- Ele confessou tal coisa a você?
- Sim, com todas as letras... Com todas as letras... E, em relação a ele, não consigo ter ciúmes de você. Estou na sala à sua espera. Não demore muito. – Pediu Sílvio.
          Foi quase uma ordem. Regina, também apaixonada por Sandro, não se fez de rogada. Tomou um bom banho, vestiu-se da melhor roupa e colocou leve perfume. Logo estava em frente a Sandro.
- Vamos, estou pronta.
- Ah, por favor, retire do pescoço este trancelim... Sandro não gosta de suntuosidades... Ele é muito simples... – Sílvio suplicou.
- Não vejo nada de suntuosidade num trancelim que nem de ouro é... É bijuteria barata...
- Siga meu conselho, irmã... Deixe que ele tenha de você a melhor das impressões...
- Que tolice... Está bem, se ele vai sentir-se melhor assim, então deixo o trancelim em casa. E colocou o trancelim sobre a mesa...
          Saíram e foram ao apartamento do vizinho. Bateram e logo foram atendidos. Sandro estava impecavelmente vestido e exalava de si um perfume que deixava os convidados extasiados, especialmente Regina.
- Sejam bem-vindos, amigos. – Disse Sandro.
- Uau! – Falou Regina – Como você está mais lindo do que já é...
- São seus olhos, querida Regina...
          Entraram. Sentaram-se em confortável sofá e seguiu-se uma conversa de amenidades.
- O que você comemora hoje, Sandro? – Interrogou Regina.
- O aniversário de meu pai. Se estivesse vivo, estaria completando 48 anos de existência...
- De quê ele morreu? – Mais uma vez Regina interpelou – Desculpe-me a curiosidade...
- Sem problemas. Meu pai foi assassinado num assalto, porém não gosto de ficar lembrando detalhes desta tragédia...
                                                             
                                                    EPÍLOGO


            O ambiente estava festivo. Regina estava bela dentro de vistoso vestido azul. Ela era parecidíssima com Sílvio, seu irmão. Ambos possuíam cabelos pretos e lisos, olhos negros e assaz brilhosos, pela alvíssima e macia, narizes afilados. Eram lindíssimos e este o motivo que fez com que Sandro desejasse a ambos para sempre perto de si. Estava caído de amores pelos dois, especialmente por Regina. Serviu-os com o delicioso vinho do Porto e logo uma dose atrás da outra foi deixando os convidados meio capengas, embriagados.
- Sandro – Disse Regina – estou quase bêbada... Não me dê mais vinho... por favor...
- Ora, deixe de ser boba... Você fica mais e mais linda à medida que bebe...- Colocou Sandro.
- É que não estou acostumada ao álcool – defendeu-se a moça.
- Tolice – afirmou Sandro – Com álcool ou sem álcool você é a mulher de minha vida... Eu a amo, Regina, eu a amo deveras...
- Eu também o amo, Sandro, você é irresistível...
          Sílvio deu uma desculpa boba e se retirou do recinto, foi para o quarto a si designado quando estava no apartamento de Sandro. Torcia para que nada desse errado, não podia e nem queria falhar em sua missão. Pensou que pensou e chegou à seguinte conclusão: “Tudo fiz conforme ele me instruiu, se algo der errado, a culpa não será minha, já que agora só depende dele mesmo levar tudo á frente e consumar...”
          Sandro acariciava os belos cabelos de Regina. Fazia gostoso cafuné ao passo que seus lábios buscavam afoitamente o pescoço da jovem onde seus dedos percorriam carinhosamente. Regina retribuía tamanha carícia do mesmo modo, estavam ambos entregues à profunda sofreguidão... Regina estava totalmente entregue e Sandro não podia mais perder tempo. Foi lentamente a despindo... Tirou-a do vestido, tirou-a do sutiã que prendia dois belos e róseos seios e a colocou nos braços, carregando-a até sua confortável cama. A moça ardia de desejo e seus olhos nem piscaram quando Sandro iniciou-se a desnudar-se, deixando à mostra seu corpo perfeito. Com extrema facilidade Sandro deitou-se ao seu lado já inteiramente nu e tirou-a de suas vestes mais íntimas. Seus lábios percorriam com intensa volúpia aquele belo corpo. Neste instante, Regina percebeu que os olhos de Sandro estavam vermelhos como fogo... Ardiam como brasa, tanto de desejo como de sede pelo sangue virgem da jovem. Não soube interpretar o que se passava, apenas sentiu que dois afiados dentes penetraram em suas carnes, sugando precioso e delicioso sangue.
- Você me furou... Por quê?
- Porque você será minha eterna e infinita companheira. Amo-a e a desejo como nunca em toda minha vida desejei alguém. – Confessou Sandro.
          Nada mais Regina pôde fazer... Agora era parceira inseparável do mais belo vampiro que existia na face da Terra.     
- Só falta algo para consumar esta nossa eterna ligação – Disse Sandro.
- O quê? – Indagou Regina.
          Profundo beijo os uniu para sempre e ambos se entregaram totalmente a ele...


                                                            FIM

        

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

ESPÍRITO DO NATAL

Por mim passou o Espírito do Natal...

Percebeu que eu não estava sobre,
Tímido eu estava, estava eu sob...

Perturbado, entender-me não soube
E soprou em mim... Então dopou-me,
Congelando meu sono fausto e pobre.

Foi longo o tempo... até plantei couve
Nos sulcos das adjacências dum sonho
Em que me vi só, transeunte do alfobre
Donde com lágrimas me reguei bisonho.

As horas se foram... O espaço encurtou
Devaneios que trouxeram ventos nobres
E num despertar tirei os olhos do alforje
Que protegia minhas horas adormecidas...
Alegria! Compreendi que já era carnaval!



DE  Ivan de Oliveira Melo


quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

ILUSÃO DE ÓTICA

Em meio as mil maravilhas do pensamento,
O raciocínio ruborizou-se diante das imagens
Que focalizavam incidentes dum tear erótico
Em que dois corpos dançavam nus à luz de velas.

Perante o remelexo da melodia faziam trapézio
E ardentemente bailavam no ar traçando piruetas
Que excitavam as horas e produziam no silêncio
Da noite o ritual que completa a essência do prazer.

Rodopiavam acintosos na textura das peles macias
E se lambuzavam na frenética busca do orgasmo
Enquanto beijos desnudos consumiam salivas cruas...

Rebolados e extasiados diante do festival mental,
Finalmente entregaram-se ao desfecho da ousadia
E, assim, ao olhar de ambos, deitou-se a tela ilusória...   




DE Ivan de Oliveira Melo

PONTOS GEOMÉTRICOS

A vida tomou-me as mãos, fez-me compêndio
De aventuras e desventuras, sal a mais e a menos,
Deu-me ao paladar a matemática dos cossenos
E a meu olfato propiciou terremotos e incêndio.

Em torno de mim descreveu todas as tangentes
Que ciciam as guerras no relampejo das revoltas,
Sejam os signos e as palavras minhas escoltas
A fim de guardar-me do assédio dos indecentes.

A vida tomou-me a vida, escreveu suas histórias
E me adicionou congruências assaz peremptórias
Que fazem do tempo anistia para desavergonhados...

A vida segredou-me o degelo do ópio e das traições
Que em constante vanguarda estiola nobres corações
E me deixou absinto... livre, solteiro em meu roçado!




DE Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

MADRIGAL DA INCOERÊNCIA

No que penso eu do mundo
Há várias conotações semânticas...
A hipocrisia absorve intenso pedestal
Que nocauteia singelas aspirações...
Nada são definições, antes são hipóteses
Que perturbam a tranquilidade de viver,
Num mexe e remexe que causa tédio...
No que penso eu do mundo
Há várias situações esdrúxulas...
A violência eclode a cada segundo,
As pessoas não respiram, vegetam
E seus sonhos são casuísmos de enfados
Que tingem a esperança de amarelo...
No que penso eu do mundo
Há várias tonalidades de trabalho
E a preguiça é o testemunho vivo
De que lutar é entrave e perda de tempo...
Fabrica-se sono na indústria pessoal
E o produto enriquece as larvas do ócio...
Responsabilidade é apenas torneio onírico!
No que penso eu do mundo
Há várias espécies de solidão:
Umas se agregam aos prazeres sentidos,
Outras suicidam-se antes da saudade chegar...
É aquele frenesi do ter e do não ter,
Do ser e do não ser, tão somente do estar.
Os indivíduos se esqueceram de chorar,
Porque o sorriso sarcástico virou moda...
No que penso eu do mundo
Há variantes de “pouco importa”, pois
Relaxar perante o tesão da ingratidão
É sonolência que maltrata e mata...
Socorrer necessidades tornou-se óbolo
Dos viciados que esperam algo em troca...
Enquanto isso, as verdadeiras preces
Suplicam a parcimônia do Altíssimo
E, diante de imensa erosão,
Detona-se o ensinamento bíblico:
“Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”.
No que penso eu do mundo
É tudo isso...  E muito mais!   




DE  Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

ARTE DE PECAR

O mundo está recheado de especulações...

Há uma intensa proliferação de heresias
Que governam o santuário das personalidades

E mostram à vida que pecado é ser indiferente
Às modernidades veiculadas em espaços sociais
E nos recintos fechados, destinados à convivência

Sagrada das famílias, templo inviolável de relações...
Não há mais a inocência, essa perdeu seus parâmetros
E, diante da escalada da violência, travestiu-a a realidade,
Realidade apócrifa que denigre os valores do que é moral.

As sociedades estão adulteradas, os princípios pereceram
Mediante à aquisição indevida de uma filosofia amoral
Em cujos fundamentos se envolveram as consciências
Que hoje são inconsciências bastardas de regime feudal...
O raciocínio deteriorou-se e se deixou gangrenar pelas

Inverdades que invadiram o éter das composições unilaterais
E uma bipolaridade determina e expõe que se viva à mercê
Das intempéries de sonhos travessos e por demais devassos
Que obliteram o pensamento saudável e perene do que é bom...
Reflexos da grande metamorfose é o tempero que aflora nas

Comunidades onde o simplíssimo dever foi execrado e morto...
A augusta verdade passou a ser espinhos que ferem a dignidade
E é o câmbio que atrofia e a vitamina que emagrece o consórcio
Dos corações que ainda esperam viver o ascendente do bem...

A luz pisca... O verbo, mesmo agonizante, acende imensa vela
E ora para que as lavagens cerebrais despertem do sono pérfido,
Traumatizante e hediondo que segrega a pureza e dilata o ópio,

Assim não feneceu a derradeira hipótese de uma esperança
E os povos ainda podem dar-se as mãos e expatriar a peçonha

Que corrompe, porém também faz o acordar da grande fantasia!



DE  Ivan de Oliveira Melo





LINGUAJAR DO AMOR

Na linguagem do amor há um tablete de sensações

Que são decodificadas mediante suspiros e delírios
Esparsos... São interjeições que se aglomeram sutis

Expondo significantes que retratam a apoteose do cio
Desvinculado do prazer sedoso que brota das emoções
E que produzem nos amantes variantes de especulações...

Os sibilos articulados pelas bocas são volúpias do coito
Que estremecem as musculaturas das palavras sedentas
Pelo tesão dominante... É uma catarse mágica, singular
E suntuosamente sensível e sensual: apogeu e clímax!

Nesta nomenclatura sentimental há significados untados
Ao derrame de um néctar que se espalha de forma solene
Sobre os labirintos corporais, dão ao momento um êxtase
Indescritível e eloquente... Massa sobre massa e átomos
Formadores do orvalho que nutre os desejos in natura!




DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

ENGENHO FILATÉLICO

Não dou trela aos vaticínios lúgubres
Que congestionam as estradas líricas
Onde a consciência inspiratória versa
E escreve sobre enciclopédias o amor.

Não parenteio anacronismos sensuais
Que achatam a psicose das vertentes
Iconoclastas dos turíbulos verdejantes
Em que a maciez das palavras encanta.

Não dou asas à precocidade do pensar
Que vincula sensações hipocondríacas
Aos manipuladores de receitas inócuas...

Não endosso parcéis submersos da vida
Em que se proclama as sinusites poéticas
Doravante os selos serão marcas utópicas!




DE Ivan de Oliveira Melo 

MARCHA FÚNEBRE

Caíram do caule pétalas e flores feridas
Narcotizadas pela ferrugem do tempo,
Eis um ciclo em que nada parece isento
Do marca-passo que veste horas despidas.

Dos galhos as folhas mergulham no solo
E navegam distâncias levadas pelos ventos
Que sopram gases sujos e teores cinzentos
Numa superfície híbrida onde habita o dolo.

A vida é enfermaria duma atmosfera doente
Que agoniza perante a saúde das sementes
Já modificadas pela transgênica ação humana...

A corrente de ar que circula indefesa nos sóis
Invadiu a contramão e uma ópera sobre nós
Toca a marcha fúnebre da vida que virou lama!



DE  Ivan de Oliveira Melo


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

DESBOTADO...

Tudo se desbota em derredor de nós...

O sorriso desbota.
O amor desbota.

A saudade desbota.
A solidão desbota.
O ódio desbota.

Busque algo que não desbota...
Não há. Até o dia desbota.
A noite desbota.
O sonho desbota.

Se nada desbotasse não seria vida.
Seria o quê, então?
Resposta desbotada,
Porque o simples abrir dos olhos
É a alma que está se desbotando... Desbote-se!




DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

PLATAFORMA PATOLÓGICA

Vagueio pela tuberculose do tempo
Que tosse frêmitos nas telas da vida,
Vagueio pela hepatite dos segundos
Que torra açúcares pelos cata-ventos.

Vagueio pela gripe dos homens rudes
Que achincalham miseráveis a pontapé,
Vagueio pelo câncer da aurora boreal
Que tapeia inocentes com seus ataúdes.

Vagueio pela dengue filha do mosquito
Que faz doentes vítimas da microcefalia,
Vagueio pela diarreia que assola crianças
Enclausuradas no colo que é seu abrigo.

Vagueio pelos matagais da febre tifoide
E me torno mosquito do espermatozoide!




DE  Ivan de Oliveira Melo 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

NOITE GLACIAL

O tempo parece gelo
Perante as nuvens cinzentas
Que derramaram chuva nos campos
E na atmosfera meio escura
O vento se fez água,
Os animais choraram desolados
Sem lugar para hibernarem
Diante da noite sombria...
De repente relâmpagos
Riscaram os céus
E trovões melodiosos
Meteram medo na vida
Dos que pretendiam dormir...
Outra vez as nuvens escureceram
E intensa ventania assobiou
Deixando retesadas
Imensa prole de vegetais silvestres
Com suas folhagens molhadas
E úmidas...
E mais uma vez a chuva desabou
Afogando sonhos agora malogrados...




DE  Ivan de Oliveira Melo

DESERTO INFLÁVEL

Eu sou reflexo do mundo,
Meu silêncio é indiscreto,
Meu pensar é deveras opaco,
É falta de luz nos hemisférios
Que direcionam meus passos.

Minha pluralidade é singular,
Meu tempo corre irregular
Entre as cavernas do meu eu
Tão mágico e um tanto irreal
Diante das máscaras sociais...

Vivo num êxtase que blasfema
Em derredor da inspiração nua
Que se eleva nas planícies rasas
Da areia negra que é penumbra
Duma vida cinzenta e sem teor...

O dom que se manifesta é livre,
Alimenta-se do trivial cotidiano
Que demarca razões dum pensar
Que atravessa as trilhas do ócio
E toma de morada ilusões frias...

As bocas se calam e são surreais,
O pensamento assimila a hipocrisia
E derrama sobre toalhas virgens
Uma peçonha sem efeitos danosos...
Reside em mim um amuleto incolor!



DE  Ivan de Oliveira Melo  



  

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

SINESTESIA

Meus olhos veem vultos a cada instante
E mesmo minha sombra é vulto tinhoso
Que se esgueira entre arbustos malicioso
Atormentando meu silêncio mui ululante.

Meu corpo sente picadas que não doem
E mesmo tendo eu uma tez que é verniz
Percebo que a cromagem da força motriz
É terapia que faz de mim ninfeto e algoz.

Meu paladar deglute sintomas do aglosso
E meu olfato tange o aroma que é insosso
A fim de que a solidão possa alimentar-me...

Minha audição confunde os sons místicos
Perante vocábulos que me parecem acrílico
Na intensa camada que cobre minha carne!



DE  Ivan de Oliveira Melo


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

SER HUMANO... MISTÉRIO!

Suponho que uma coceira tenha raízes emocionais

Bem como um roer de unhas, suor nas mãos, bater
Repetidamente os pés no chão e... outras coisas mais...

O estado emocional se faz compreender bem nítido
Com a exacerbação desses detalhes que são o retrato
Que identifica o indivíduo em batalha com seu íntimo...

Tudo em derredor passa a existir apenas na aparência,
Porque a mente truncada não consegue bem raciocinar,
Somente a razão que expele a preocupação se remexe
E deixa em bagunça o pensamento que vibra unilateral...

Há pessoas que se travestem de efeitos comportamentais
Não-identificados em sua estrutura psíquica que apenas
Surgem em circunstâncias imprevistas, são desconhecidos
E por isso mesmo não desenham a personalidade do ser...
Somos mistério, longe de entendermos nossa fotografia!




DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 13 de dezembro de 2015

PAPAI NOEL

Era véspera de Natal...
Em meu coração de criança
Havia algo que não descansa
Que é a esperança, algo real.

Fui para cama despido de emoções,
Só lágrimas havia na face juvenil,
Sabia eu que Papai Noel era senil
E que entendia minhas sensações...

Meu pai vivenciava assaz degredo,
Estava desnudo da vida, sem emprego,
Debaixo da cama não poria meu  presente...

Amanheceu o dia... nem olhei os sapatos,
Certamente lá haveria do cão os carrapatos
Que ali dormia e que me parecia demente.

Não foi isso o que sucedeu... Cheguei à mesa
Para o café. Senti em meus cabelos o cafuné...
Eram os dedos de meu pai que estava de pé
E me indagando com aquele ar de certeza:

Não observou ainda debaixo de sua cama?
Papai Noel trouxe até você grande alegria,
Talvez não seja exatamente o que você queria,
Contudo para isso fez bico e conseguiu uma grana.

Voltei alucinado até o quarto. Vislumbrei o pacote...
Decentemente embalado, papel colorido, um decote...
Meus Deus! Meu pensamento não quis acreditar!

Abri-o... Agarrei-o e o pus perante meu coração...
Chorei. Era o “videogame” tão sonhado... Tensão!
“Já fui criança, meu filho... Nunca deixei de sonhar!”



POEMA  DE 


Ivan de Oliveira Melo

LÔBREGOS INSTANTES

Dentro da gélida sepultura meu corpo geme,
Parasitas desfilam sobre um chorume doentio
Que, inerte, perdeu na consciência o alvedrio
E pouco a pouco se disforma isolado do leme...

Perante a descurada putrefação do organismo
Grande panaceia de bactérias infecta o sendeiro
Que alhures nutre sabujos itinerantes, vespeiros
E tornam a carniça manjar de lírico consumismo.

O túmulo é palácio onde vivem terríveis vermes,
Meu eu inconsciente desconhece sua epiderme
Já lamacenta e entregue à lasciva da senil luxúria...

Meus pelos deitam raízes na catacumba lúgubre
E fazem  da cova mansão de aparência fúnebre
Em que o reino monera serve à infeliz cromatúria!



DE  Ivan de Oliveira Melo

   

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

DESBOTAR-SE...

Não vou te beijar as mãos...

Vou sim, oscular teus pés,
Dar-te estranhos cafunés

E embriagar-me em teu suor,
Sentir-te Afrodite em dó maior,
Em teu perfume cair, desfalecer...

Não há inhaca em pés de princesa,
Há aroma de rosas e flor de lis,
Há o cheiro que inebria colibris
E uma volúpia ardente e obesa...

Na tez dos teus pés fincarei amor,
Debutarei cócegas em teus artelhos,
Lábios que serão amantes e fedelhos
Deixarão no frenesi dos teus dedos
Arrepios que serão tesão, puro ardor!




DE Ivan de Oliveira Melo   

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

MEIO TERMO

Sinto a eternidade num só minuto
Como percebo mil anos num segundo,
Nada é absoluto em meio à relatividade
Dum tempo que é deveras prostituto...

Quando a cabeça roda sente-se tontura,
O mundo gira que gira e não há rastros
Que possam medir tudo o que foi gasto,
Apenas as epopeias da vida, as loucuras...

Minha mente é relógio íntimo embutido,
As horas são trapaças do ser empedernido
Em cuja ótica a existência vilipendia...

Passado e futuro – extremos antagônicos
Do presente que é um meio termo distônico  
Em que se exercita uma impúbere alforria!


DE  Ivan de Oliveira Melo 

domingo, 6 de dezembro de 2015

QUIETUDE

Os cães ladram nas noites bastardas
Semeando peripécias de intelectuais
Que curtem luas e secretos vendavais
Debaixo da sombra de luzes amargas.

Os gatos ronronam tímidos e carentes
Silenciando o dia nas horas argênteas
Que demarcam fímbrias homogêneas
Que tossem perante ritmos adjacentes.

Os pássaros chilreiam canções góticas
Diante da apoteose da música secular
Que invade os tímpanos e vem cutucar
A eloquência das palavras anedóticas.

O mar joga suas vagas na areia úmida
Que vestem as pedras de belas túnicas!



DE Ivan de Oliveira Melo

  

PEDAGOGIA HUMANA

Da existência eu sou um eterno discípulo,
O gira-mundo sempre produz coisas novas,
Docência que inspira o tempo e que inova
Fazendo de nós páginas de imenso fascículo.

A vida é enciclopédia permeada de exemplos
Que fotografam lados camuflados da História,
Verdade que estão à mostra perante a memória
Apenas os ingredientes que edificam os templos.

Os ventos sopram vida e morte que são temperos
Dum respirar de amor e do profundo desespero
Que assolam as consciências diante do despertar...

Em pergaminhos e livros cadastram-se os fatos
E somos nós os únicos responsáveis pelos partos
Naturais ou cesarianos inscritos num intenso altar!




DE  Ivan de Oliveira Melo