terça-feira, 22 de março de 2016

QUIZILAS

Há sopro nos vales,
Tempestades nas calmarias,
Brisas azuis que são alegorias
Que fantasiam noites estelares.

Há fogo no fundo dos oceanos,
Liberdade nos campos e prisões,
Há desertos claros nas monções
Que o tempo leva de contrabando.

Há o gosto amargo dos açúcares
E doce peçonha que vive alhures
Catando vermes em sua colheita...

Há o preto no branco que reluz
Sob a estreita vereda que conduz
A utopia que é uma prece rarefeita!



DE Ivan de Oliveira Melo   

RECORDAR É VIVER...

Senta-te no sofá e pega do livro da tua vida...

Eis que escreveste sobre secretas peripécias
Em que te envolveste ao longo dos caminhos

Que trilhaste perante as décadas da existência
E que agora afloram na colheita da consciência
Perfumada pelos sonhos ousados que partiram...

Busca nas entrelinhas o cofre dos teus valores
E te identificarás com cédulas e moedas arcaicas
Já amareladas pela incubação do tempo, laicas...
Então verás tua fotografia a sorrir dos dissabores

Que te fizeram sorrir ou chorar nas horas amargas...
Lê de frente pra trás, de trás pra frente e recordarás
Que a vida em nada mudou, mas tu te transformaste
Repleto de experiências e saber, ou quem sabe...
Paraste e fincaste em teus passos a usura constante!



DE  Ivan de Oliveira Melo  

domingo, 20 de março de 2016

DESCENSO DA MORALIDADE

A sem-vergonhice precisa ser castrada...

Ronda-nos uma falta de pudor que é dolo
E o mundo se enfeita de prazeres iníquos...

Tanto aqui como acolá retrato é podridão,
O verbo é imundo, seu odor não é sedução,
Mas um prevaricado orgasmo sem lirismo...

Macula-se a beleza que a sexualidade tem
Com depósitos infelizes de sensualidade lixo
Que não satisfazem libidos, senão atrofia-os,
Degenerando inocências na flor da idade...

Perverte-se o bom-senso, adorna-se o imoral
Com flores adúlteras de jardins de excremento,
Vulgariza-se a intimidade que fede alucinação
E o amor cede lugar a um exibicionismo insosso
Em que a receita é o atestado de óbito da pureza!



DE Ivan de Oliveira Melo

sábado, 19 de março de 2016

SOMBRAS

Nada é perene nesta vida,
Além de caótica é caudal,
Intercepta o que é nobre
E tudo se ofusca, tudo é mídia...

Vê-se o povo bebendo jornais
Do jornalismo capcioso, hipócrita,
A lavar notícias que dão ibope
Enquanto verdades são travestidas...

Traumas de ontem estão aí de novo,
Retomados por interesses escusos,
Baila-se trôpego conforme a música...

Tombos apoteóticos que se repetem
Para esmagar-se o vulto ainda indeciso
Que há muito é sombra de cemitério!



DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 17 de março de 2016

DOSSIÊ

Minhas lágrimas lambuzam minha face...

Então choro que choro sem saber por que...
Em vão me pesquiso, desvendo meu dossiê

E página a página rasga a consciência aflita
Que pranteia azedume sem mesmo entender
Conflitos que cerceiam uma alma destemida,

Mas profundamente em crise diante do ego...
Um longa metragem se associa à consciência
E uma fita desenrola peripécias duma ciência
Que é o sentimento abatido, abandonado, cego...

Um longo Saara é a estrada que não tem fim,
Caminho espesso de sol a pique... muito suor
E uma fadiga sem antídoto que desate os nóis
Que trancafiam rebeliões íntimas em segredo
Tostados sob uma égide que se mostra enredo!


DE Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 11 de março de 2016

MISTÉRIOS

Seco ou úmido,
O solo é incógnita
Que tapeia homens
No patamar da vida.

Debaixo dos palmos
A existência dorme,
Quiçá desperte solene
Em tempos vindouros...

Talvez engendre um fim
Tão patético que o sonho
Seja apenas bastarda ilusão...

Ou uma inspiração a mais
Que evoque da alma o libido
Que tece palavras em poesia!


DE  Ivan de Oliveira Melo