terça-feira, 28 de janeiro de 2020

ERA UMA VEZ...





Era uma vez uma ingratidão
Que teimava em ser ingrata
Até que dos rios e da cascata
As águas rolaram pelo sertão.

Era uma vez uma vil teimosia
Que não se julgava tão teimosa
Até que das críticas e da glosa
Houve a censura que a seduzia.

Era uma vez um tédio de orgulho
Que não se orgulhava ser entulho
Diante de ferimentos e cicatrizes...

Era uma vez um deserto inóspito
Que desertificava a vida e o óbito
Dos que buscavam orvalhos felizes!


DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 26 de janeiro de 2020

PROVAVELMENTE POSSÍVEL






É provável que te esqueças
Das madrugadas que tivemos juntos
Quando colecionávamos carinho boca a boca...

É possível que te esqueças
Dos problemas que vivenciamos lado a lado
E que trouxemos para dentro de nós soluções...

É provável que te esqueças
Dos pesados dias de chuva que passamos,
Mas que sob a égide do abraço nem nos molhamos...

É possível que te esqueças
Dos lindos dias de sol nas praias desertas
Quando, desnudos, mergulhávamos nos sais da vida...

É provável que te esqueças
Da fome e da sede que se houve entre nós,
Porém sob o alimento do amor nos saciamos...

É possível que te esqueças
Das promessas que conjugávamos no leito
Até que a morte se instalou entre nós...

Enfim, nós compartilhamos vida e amor
E, agora, somos obrigados a partilhar
Saudade e solidão!



DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

ANAMNESE




O passado atenta e me espiga,
Passo a passo a lembrança destoa
Em meu cérebro o que deixei à toa,
Por isso recordo as coisas antigas.

Num labirinto o pretérito que me diga
Onde guardei reminiscências das pessoas,
Pois me vejo cego diante de coisas boas
E não consigo relembrar as mãos amigas.

O ontem é um hoje deveras nublado,
Amanhã me esquecerei do que for fardo,
Porque na memória só haverá alegoria...

Meu presente só existe no que for agora,
Não sei onde minha alma donzela mora,
Dentro ou fora de mim, ela é especiaria!


DE  Ivan de Oliveira Melo


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

ALQUIMIAS





Adormeci atônito... O sono foi traquinas!
Logo que acordei me vi numa escuridão
E me percebi perdido dentre a contramão
De uns versos que compus nas esquinas.

Não havia claridade para as minhas pupilas,
Então tudo me pareceu falta de inspiração...
De repente me lembrei dum sonho meio anão
E minh’alma descreveu devaneios de argilas!

Penumbra, penumbra, nada claro na mente...
Nem as sombras das árvores vi claramente,
Era o sonho que não queria ser interrompido...

Tudo é fictício, pois devanear é ter alegoria
E certamente assim a verdade nunca viria
Porque sonhar alquimias é ter tudo indefinido!


DE  Ivan de Oliveira Melo


segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

ATMOSFERA


Nuvens brancas se atropelam sobre as cidades.
As tempestades castigam o litoral desnudo...
É outono. Pelo chão espalham-se folhas secas
Que correm para diversos pontos ao sabor dos ventos.
No céu há riscos que traçam relâmpagos
E, logo, fortes trovoadas inundam os tímpanos.
Sobre planaltos e planícies ouvem-se os ruídos
E intensa chuva galopa encharcando os prados.
O dia morre e a noite se aventura no tempo.
Pássaros alucinados buscam os alojamentos.
Extensa solidão se debruça sobre as horas
E um profundo silêncio se instala no deserto.
A calmaria transpõe a madrugada sinistra
Enquanto os sonhos desenham desejos impossíveis.
Logo um novo dia surge ressabiado.
Com o orvalho da manhã, as aves cantam
Saudando a aurora fria e submersa
Dos vales e campos dum matinal exaurido...
Molhadas, as árvores salpicam gotas de suor,
É o esforço inaudito dum arrebol gripado
Pelos vírus que se aproveitam da enxurrada.
Timidamente o Sol desponta no horizonte
E enche de claridade os recantos inóspitos.
Chega um calor que dissipa a névoa
E, o litoral antes desnudo,
Veste-se de sal sobre a areia faminta!
DE Ivan de Oliveira Melo

POSTURA





Libertar o pensamento,
Colocar palavras na boca,
Isso não é coisa pouca,
Depende de cada momento.

A boca é sempre o instrumento,
Ás vezes a voz fica meio rouca,
As sílabas parecem usar touca,
Pois é grande o engarrafamento.

É interessante o vocabulário,
Deve-se cuidar da temática
E reprimir assunto perdulário.

Enfim, julga-se pelo que se fala,
Melhor manter-se postura atávica
A fim de que não se receba bala!


DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 19 de janeiro de 2020

PSICANÁLISE




A vida ensina por postulado e axioma
Que nutrem o intelecto e a inconsciência...
Se o consciente não trabalha com eficiência,
Certamente essa consciência está em coma.

Preceitos são regras e neles não há diplomas,
É a experiência que faz da vida uma ciência...
Fundamentos psicanalíticos por excelência
Mostram que na existência há as maratonas.

O que o inconsciente recebe amanhã espalha
Através das lições que o dia a dia transborda...
O íntimo deve manter sempre aberta a porta
Para que na aprendizagem não haja falha.

Os provérbios estão carregados de sabedoria,
E sonhar é desejo de realizar o que é fantasia!


DE  Ivan de Oliveira Melo

INDULTO




Jamais consumei a glória
Nem consumi a derrota...
Nunca vivi em bancarrota
Nem fui o ômega da história.

Audacioso, lutei pela vitória
Sem o orgulho dos hipócritas,
Sempre exprimi sensos agiotas
Para emprestar minha oratória.

Enquanto trazia do alfa a vida,
Senti do mundo a revolta, a ida
De ancestrais para o mausoléu...

Ao passo que canto minha poesia,
Observo uma fresta no ar que anistia
Dos antepassados, engodo e solidéu!


DE  Ivan de Oliveira Melo


METÁFORAS DO MUNDO MODERNO







A vida é um rio de muitas flores
Cercada por oceanos de espinhos...
Os homens são os efeitos daninhos
E, as horas, os cataclismos de dores.

O tempo é uma assembleia de valores
Adornado por cofres de pergaminhos...
A inteligência, lendas e mitos velhinhos
E, a existência, um quintal de pudores.

O saber é um órgão de leis ilimitadas
Dotado pela preguiça de mentes alienadas
De uma juventude que é apenas ócio...

O mundo é um pátio de ofensas e guerras,
O lar é hospital de esperanças e quimeras
Onde se nutre a espera por um sacerdócio!



DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 18 de janeiro de 2020

THINGS OF THE LIFE





It was a long time ago.
I was a boy still.
The day was dark.
There was rain during the night
And the roads were wet.
I walked alone, I was alone.
Only I could hear the wind
That blew on my ears.
I kept my secrets inside me
But the wind discovered them.
Then I sat down on the ground
And a lot of tears fell from my eyes…

I was lost.
Nobody knew me
And I did not know anybody.
Suddenly I noticed that I was hungry.
My stomach shouted!
I needed to eat something.
But what?
Without money, without food…
Also suddenly I noticed that I was thirsty.
I needed to drink something.
But what?
Now without water too.
My throat also shouted!
Probably I would die…

I stood up.
I followed my destiny.
I have continued along the wet road.
The trees were wet.
I was wet by my sweat.
The time was cold
But I was hot
Because I needed to eat and to drink.
Suddenly I felt in me some drops of water.
It was the rain that arrived again.
So I joined my hands.
I got water to drink.
After a little time
I saw some short trees.
They were bananas.
Then I ate a lot of them
And I Killed the hunger.
As I was tired
Under the trees I fell down.
I have slept for a long time.
I could dream that I was in a paradise.
When I woke up
I discovered a new day
With a nice sun shining on me.
I smiled a lot.
I was in sky
Because I had died!


By Ivan de Oliveira Melo

THE MIRROR




My eyes are blind.
My life is blind.
I am naked.

My body is tired.
My dreams are tired.
I am mad.

My mind is absent.
My heart is absent.
I am lost.

My soul is dead.
My hours are dead.
I am alone.

My wishes are invisible
Because my mirror broke.



BY  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

REGALOS DA EXISTÊNCIA





Enxergo na areia pedaços de mim
E mais além... Fragrâncias de um perfume
Que me inebria o olfato...
É o meu próprio cheiro que me invade
E me traz, dos lençóis marinhos,
A ousadia de ser como as vagas
Que se jogam sorrateiras sobre as pedras...

Sinto do vento que me sopra
A brisa que me paralisa os sentidos
E me faz desvendar o prazer da vida,
A excelsa magnitude dum respirar
Que se junta à excelência de ser humano...

Percebo em meu caminhar
O suor do meu corpo
Que transpira o orvalho duma existência
Onde não existem cicatrizes,
Porém, simplesmente, lágrimas afrodisíacas
Que labutam, em mim, o odor do amor...

Desvendo dos meus olhos
A sinestesia das percepções
Que me ensinam a compreender
Que viver é um ato divinal
E cabe, a quem tem um coração que pulsa,
Saber entender os valores de um universo
Que é metafísico, não obstante, concomitantemente,
Exemplo de altruísmo e sapiência,
Algo que, inegavelmente,
Andam distantes das consciências terrestres.

Afinal, descubro de minha boca e do pensar
As auréolas que nos foram doadas
A fim de que usemos da palavra para edificar
E instruir... E do pensamento
Para alavancar o amor e construir um mundo feliz!



DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

ATROPELOS



Lentidão parece preguiça
Subordinação torna-se ócio
Leveza é falta de pudor.

Há animais que buscam viver na depredação
E no constante martírio dos mais fracos,

Contudo num circunlóquio onde há trevas
Certamente o silêncio é o alimento da alma
E os sentidos divergentes se associam, então.

Há lutas infrutíferas perante os insubordinados
E a maldade campeia oferecendo o terror
Para que não haja desperdícios dentre inimigos,
Porque contra as rejeições existem os castigos
Que ameaçam a paz e faz do mundo uma guerra.



DE  Ivan de Oliveira Melo

FRENESI



Quem se ama demais, ama-se a menos,
Pois no amor há de levar em conta o cio
Que envolve a personalidade e, arredio,
O íntimo busca devorar o efeito veneno.

É verdade que acontece de existir o chio,
Momento em que os corpos são obscenos
E fantasiam no estresse psíquico os acenos
Dados pelas mãos para afastar o que é frio.

Quem sabe amar, sabe também comandar
Todos os instantes de uma relação aberta
Para que, no amor, tudo esteja em alerta...

Nos efeitos da sensualidade, o bom é voar
Num frenesi de paixão em todas as partes,
Porque o amor é a mais perfeita das artes!



DE  Ivan de Oliveira Melo



quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

DIACRONISMO



Há espectros selvagens, não muito sinceros...
Todos prolatam que o amor não mais existe
E que há tão somente afeição fora do limite
Dentre a volúpia humana em seus hemisférios.

Tudo é efêmero num mundo que está em crise,
O sentimento se afogou perante vários critérios
Que a vida promulgou sem haver laços etéreos
E que provam à alma que sem amor não se vive.

O bem-querer é uma dádiva que nunca se altera
E dissipa os obstáculos, vivenciando-se a quimera
A fim de que a felicidade seja sempre uma tônica...

Embora o universo navegue sobre as águas turvas,
Além das retas há também inúmeras linhas curvas
Donde se obtém o real sabor duma vida diacrônica!



DE  Ivan de Oliveira Melo


ALÉM DA MORTE



Sou cadáver e durmo eternamente.
Sobre meu túmulo colocaram flores,
Murcharam tais como meus amores
E ébrio tornou-se meu inconsciente.

A vida esvaiu-se assim tão de repente
E no infinito sono eu guardo rancores
Duma existência donde só senti dores
Diante dum povaréu falso e descrente.

O tempo sublevou-me perante a morte,
Mesmo habitando numa cova, sou forte,
Pois minha memória se tornou imortal...

Pouco importa se meu corpo é carnificina,
Agora mais do que nunca sigo numa sina
Até que renasçam em mim mar e litoral!



DE  Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

RETOQUE



Sobre um chão de barro vive a esperança,
Perante um teto de palha a chuva desaba,
Em portas e janelas de madeira de cascata
O vento sopra e a tempestade me alcança.

Sobre os móveis rústicos de velhos troncos
Apinho meus pertences de alumínio e vidro,
Meu corpo se deita sobre as folhas do trigo
E meu sono é tiroteio sem cessar de roncos.

Diante do dia que amanhece sou névoa fria
Que, sem agasalho, me torturo sem agonia,
Porque na vida todos os rumos são distintos...

Sobre o massapê que desforra a minha cama,
Observo que meus sonhos sempre enganam
O tempo para que eu renasça no que sinto!



DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

IRRUPÇÃO




Amiúde há um complô em data vênia
Que enriquece tudo o que foi destarte,
Embora haja uma reflexão doravante
Estratificando os enunciados pusilânimes.

Uma balbúrdia incidental trouxe alarido
Dentre as ardilosas manifestações trucidas,
Todavia manietou-se a operação bélica
A fim de se aquietar o êmbolo de indexação.

Conquanto se permita parodiar o elixir vital,
Nada mais concorre para a euforia fleumática
Em virtude do homizio de certas construções.

Tudo parece pândego perante as venetas,
No entanto as raízes tergiversam-se isoladas
E não há qualquer individualidade pachorrenta.   



DE  Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

TERRA MARINHA



O mar em que nado é de areia,
Pedregulhos são seus peixinhos,
As rochas maiores são as baleias
E, os seixos, são seus golfinhos.

Na alta poeira que sobe, às vezes,
Aí estão os terríveis maremotos
Que poluem o ar e são ainda estes
Causadores dos resfriados remotos.

As depressões são os redemoinhos
E estes provocam os afogamentos
Dos que se atrevem a fazer ninhos
Nas enseadas onde há movimentos.

Pássaros que voam são as gaivotas
E também outros que são albatrozes,
Mas há os tubarões que dão voltas
E vivem armados... parecem ferozes!

Esses oceanos são imensos, sem fim...
Neles, os camarões são camundongos
E, as lagostas, os gambás; no ínterim,
Tais painéis são tsunamis oblongos!




DE  Ivan de Oliveira Melo  

TERROR NOTURNO



Um grito ensandeceu a madrugada...
As luzes se apagaram. Vi o horror!
Vultos provocaram grande torpor
E meus olhos olhavam para o nada.

Gigantescas sombras sopravam medo
E nas cortinas havia muitos espectros,
Pois balançavam hediondos e eretos
As janelas que ruíam pavor e degredo.

Grande chuva invadiu o tempo denso,
As árvores mostravam a fúria do vento
E no céu havia relâmpagos e trovoadas.

Noite estranha que importou das trevas
E dos umbrais mefíticos as vis egrégoras
Das vicissitudes lúgubres das covas rasas.



DE  Ivan de Oliveira Melo

CICLO DAS IDIOTICES





Às vezes o homem se pergunta:
Onde é que estou?
Ah, não importa onde se esteja,
O que interessa é que sempre
Se estará lá!

Não se deve dar importância às horas,
Porque aquele que cedo desperta,
Certamente no dia todo estará sonolento.

A reciprocidade nem sempre funciona:
Vez por outra, entre dois, um não quer,
Mas sempre haverá quem saia apanhado.

A preguiça tomou conta da maior
Parte das pessoas:
De repente, alguém se lembra de trabalhar,
Contudo a espera faz com que
Tal desejo se dissipe....

Vive-se num mundo enlouquecido
Devido ao fascínio pela hipocrisia...
Algo deve ser dito sobre isso:
Quem mente fala verdades
Que nunca acontecerão...

O amor desse ser plantado e cultivado,
No entanto não se pode esquecer
Que, em qualquer dia,
O cavalo chega e acaba com tudo!

Sabe-se que a felicidade é efêmera,
Porém Adão a teve por excelência
Visto que nunca teve uma sogra...

Assim é a existência:
Ninguém pede para nascer
E se morre sem querer,
Então é sapiente aproveitar-se o hiato...

É importante ficar alerta,
Porquanto chefia é semelhante às nuvens,
Quando se ausenta,
O dia se torna maravilhoso...

E não se constranja:
Amigos existem, é verdade, mas...
Parecem-se demasiado com parafusos,
Só são enxergados na hora do aperto!


DE  Ivan de Oliveira Melo


POEMA INSPIRADO EM IDIOTICES DO DIA A DIA.