segunda-feira, 30 de novembro de 2015

INSOLÊNCIA

Eu sou ousadia: contemplo defeitos e vícios
Que o homem adquire ao longo da existência,
Jornada pedregosa que o faz refém da vida
E de sua própria consciência ascética e brumosa.

Eu sou petulância: observo a desnudez de fantasia
Que os indivíduos se dão a si mesmos de adereços
Que travestem sua imagem perante cristais foscos,
Embaciados na hipotética aventura de ser exemplo.

Eu sou imodéstia: percebo as cavalgaduras feridas
Que as criaturas se moldam diante de falsos altares
Adornados à luz de velas coloridas que são arreios...

Eu sou irreverência: uso da palavra para desmistificar
Os arroubos coléricos das gentes que se escondem
Debaixo de prefácios hipócritas... na real, sou humano!




DE  Ivan de Oliveira Melo


CONSULADO DA CORRUPÇÃO

Dissabores rondam os hemisférios da sociedade

Que se vê embargada perante ausência de escrúpulos...
Há timoneiros que guiam às cegas os tripulantes do dia

E os desembocam em refúgios onde a sujeira é incolor
E o pecado reina acima das convenções salutares do belo,
Condicionando o passo a passo das gentes à covardia...

Roncos hermafroditas controlam o despertar da orgia
Em que os bacanais da corrupção são impérios de glória...
Em cada esquina desvendam-se mortalhas de voos rasantes
Que trucidam os bem-me-queres e atropelam seu perfume.

Nos caramanchões da liberdade a poluição é o atrevimento
Dos que singram seus ideais e perlustram sobre a homeopatia
Que cura os males advindos da intrujice dos conceitos alopáticos...
O ringue é a convivência lúgubre em que a luta é a faina diária
Daqueles que não se envenenaram e ateiam soro aos enfermos!




DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 29 de novembro de 2015

DESARRIMO

Debruço-me sobre o chilrear dos pássaros
Que me convidam a participar da sinfonia
Na cinzenta manhã em que se desenha o dia
Dum inverno que tosse chuva aos pedaços...

Latejo no cortante frio e me agasalho solene
Com as colchas de algodão sobre minha cama,
Então lembro versos que minh’alma declama
E me envolvo no ápice que fecunda meu gene.

Meus dentes tiritam e minha boca umedece,
O corpo é ladainha de movimentos e estresse
E os olhos são interrogação em busca do sono...

Às horas tontas se ultrapassam todos os limites
E nos sonhos enclausurados é que se permite
Que as vagas do mar íntimo cifrem o abandono!



DE Ivan de Oliveira Melo


INSANIDADE

Maluquices destrambelham juízos
Que se enterram na desconfiança,
Sobrevivem nas carapaças e guizos
Como cascavéis que não se cansam.

Doidices modificam o que é cenário
Que se fecham mediante as torturas
Da injustiça que grassa nos armários
Do silêncio e nos birôs sem ataduras.

Loucuras obscurecem a visão do ser
Que já não sabe tal como preencher
As vagas dos que morrem ali e acolá...

A demência não aprisiona vicissitudes,
Restam os cravos que pregam atitudes
No madeiro dos pecados de além-mar!




DE  Ivan de Oliveira Melo

CHUFAS

Pondero vexames
De uma aristocracia que não fala,
Que se cala perante um desdém
Que é o escárnio de uma sociedade
Que vomita gracejos que são galhofas...

Pondero remoques que são excrementos
De indivíduos que fazem das mofas
A seta que ferirá pernas e braços dos homens...

Pondero risotas que enfeitam os lábios do povo,
Motejos que despertam interesses da vergonha
E que trazem às criaturas chacotas que ensinam
A vigiar os torpedos dirigidos aos embriões
Que parecem zombaria de gestação.

Pondero a ironia em que seres que usam desprezo
Sejam a troça que se escreve no dia a dia
Para que na caçoada dos vícios possam
Ultrajar a misericórdia dos que perecem
Na mangação de uma semântica que
Dignifica o que chamamos homem!



DE  Ivan de Oliveira Melo


sábado, 28 de novembro de 2015

MURO DA VERGONHA

Sinto um muro imaginário na consciência
Que faz limite entre os lados da reflexão...
Em cada perímetro há uma gama de ideias
Que se acoplam de acordo com seus temas.

Constantemente dou azo aos pensamentos
E viajo nas inconstâncias dos erros e acertos.
Os lados são coordenados entre si, libertos
Das artimanhas da vida e externos palpites.

Através das experiências que os olhos veem,
Enriquecem ou paulatinamente empobrecem
Passando a mim sensações que são cartilhas
Donde me espelho para o cultivo do equilíbrio.

As mazelas do mundo bailam diuturnamente
Engendrando na inconsciência apelos febris,
Adocicados mediante a exibição do prazer
Que é falso refúgio onde habitam os miasmas.

Testo o raciocínio quando faço a leitura do dia
E me elevo ao estágio alfa, êxtase paradoxal
Que me mantém atento ao apelo da hipocrisia,
Mutante desvairada que joga sujo e é cobarde.

Intimamente me asseguro d’algo muito forte
Que é a confiança que me rege a latifundiária
Observação dos valores codificados no tempo
E ergo em meu âmago um templo de oratórios...

As peripécias do quotidiano tentam manchar
As notificações aprazadas no púlpito da verdade
E galgar degraus que bebem sinais de insistência,
Entretanto convido a memória à execução do bem...

Teço raízes que me alimentam contra adversidades
E sobre o muro jamais ponho a sapatilha da dúvida,
Respeito absoluto governa as áreas em que respiro
E a atenção é redobrada durante todos os intervalos.

Não ofereço aos ventos caronas que me derrubem,
Mantenho meu silêncio na ótica do saber onde piso
A fim de que caso venha a tropeçar diante de mim,
Possa ter eu testemunho de que lutei para não cair...

Assim são os minutos que dão a satisfação do viver,
Sou holofote dos meus passos e não os empresto,
Que cada qual espione sua vergonha e personalidade

E evite ser fantoche que fica sobre o muro, indeciso!

DEVANEIOS INSULARES

Há ilhas de sentimentos em derredor de nós...

São arquipélagos vários que se parecem pólvora,
Explodem acintosamente qualquer que seja a hora

E machucam indubitavelmente painéis físicos
Que se dobram às intempéries dum mundo molambo
Em que as catracas rangem perante tais contrabandos...

Nos estertores da existência os corações tudo sabem
A respeito das maquiavélicas enxurradas de dores
Que maltratam intelectos ainda virgens das imprudências
Controladoras das maquetes sociais que são evidências...

Cursos de águas cristalinas são raros diante da vida,
Há uma catarse que modifica causas e tornam os efeitos
Nocivos à contemplação de uma natureza que transporta
A perfeição através das veredas que tentam usufruir o belo,
Contudo os arquipélagos sentimentais degelam as purezas...





DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

AUTOCONHECIMENTO

Alguém olha dentro de si mesmo,
Busca entender o que ali se passa,
Muitas vezes engoda-se de trapaça
E manipula sua existência a esmo...

O reflexo do íntimo é só conjectura,
Porque ninguém se conhece total,
Qualquer um é capaz de ser anormal
Ou se eclodir em ressabiada mistura.

No âmago há deserto sem semântica,
Tudo ali é hipotético sem faixa branca
Sob o comando da ilusão e da mentira...

Misteriosa seara desconhecida do ser,
Vasto mundo onde tudo pode ocorrer
E produzir surpresas em quem delira!




DE  Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

PESCADOR DE ESTRELAS

Noite de calor intenso,
Céu de estrelas povoado...
Meus olhos, fino cadeado
A trancafiar meu senso.

Minha ótica é anzol cósmico
A capturar astros cadentes...
Vagueio taciturno, uso lentes,
Estou num universo gótico!

Viajo milhas, mente inseticida
A divisar N estrelas sem vida,
Mortas por bactérias nucleares...

Órbita de retorno...cheio o cesto
E eu a lapidar triste um contexto
De poluição da terra e dos mares!




DE Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 24 de novembro de 2015

TUDO E NADA...

TUDO E NADA...



Dá-se o vento...
Folhas secas caem dos galhos,
Passarelas recheadas de esperança,
Poeira encardida inunda o ar
Deixando o tempo ressabiado...

Dá-se a chuva...
Torrentes de água nos campos,
Rios abandonam seus leitos,
Lama escorre pelos vales
Deixando a vida insossa...

Dá-se o sol...
Bronzeados enfeitam os corpos,
Suor encharca rostos contritos,
Calor dinamita o bom-humor
Deixando a preguiça hibernar...

Dá-se o sono...
Noites tumultuadas de pesadelos,
Tímido orvalho anuncia a madrugada,
Mortalhas cruzam os espaços
Deixando sonhos castrados ao relento...

Dá-se tudo,
Dá-se nada...




DE  Ivan de Oliveira Melo