segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

ÚLTIMO LANCE

Sobre bancos dourados de areia
Lentamente meu pensamento pranteia
Ícones farpados de vida movediça...

Sobre chaminés de argênteas verdades
Ebúrneas hipocrisias são ígneas vaidades
Que tostam solos enlameados onde se pisa...

Concatenados aos massacres de ventos hostis,
Os sonhos são lapidações de dúvidas atrozes
Que jorram lágrimas sobre senis alforjes
Donde se contempla a liberdade dos bem-te-vis!

Singrados pela anistia de incontestável sorriso,
Nas brumas do amanhecer meu seio guarda
Envelopes de amor, de certezas e vanguardas
Do convulsivo choro que tateia um devaneio contrito!



DE  Ivan de Oliveira Melo


domingo, 21 de fevereiro de 2016

ATRITO

O sonho cavalga sobre a ortodoxia da consciência

E formata angústias que sobressaltam o cotidiano
Nas vagas revoltas dum mar íntimo onde procelas

Dirigem os sentimentos às catacumbas do oceano
E os enterram sob lápides que escutam no silêncio
O feitiço de um tempo em que as horas inexistem...

Tempestades submersas de areia são puro efeitos
De causas que congestionam a liberdade do pensar
Tornando complexa a mediatriz do raciocínio lógico
Que não traça no tear da perfeição veredas de vida.

Torvelinhos homicidas perfuram incertezas no solo,
O sangue que jorra é a bissetriz dos planos úmidos
Desenhado alhures pelas correntes dum sal marinho
Que é o tempero inusitado dos estertores da morte...
No sonho que cavalga há a inconsciência em atrito!




DE Ivan de Oliveira Melo    

sábado, 20 de fevereiro de 2016

SUPRA-REALIDADE

Às vezes me faço rir com minhas próprias bobagens...

Há momentos em que me julgo deveras eclético,
Porém noutros instantes me vejo um artista paraplégico,

Dependente das rodas de uma cadeira fictícia e de bengala,
À procura das palavras que me fogem sorrateiras, indecisas...
Então me oculto dentre as letras do alfabeto e escrevo à toa,

Sem aquela preocupação de colocar no papel o que é lógico,
Permito-me invadir pela fantasia e, através dela, crio e crio...
As alegorias nos tornam super-humanos, portadores de assaz
Poderes enquanto a imaginação divaga rodeada de adereços...

Não há prudência em relação à arte... É um mundo mágico
E quem dela se atreve a produzir não conhecer o teor da magia,
Certamente perambulará em terrenos baldios onde há lama...
Necessário é conduzir a inspiração fora de todos os limites,
Pois ilimitado é este universo possuidor de mundos diversos!




DE  Ivan de Oliveira Melo 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

PERCEPÇÕES

A alma se desnuda dos traumatismos terrestres
E se entrega ao dossiê da contemplação humana,
Vira e revira cada página de sua existência profana
Para concluir autoanálises do êxodo e das pestes.

O vestuário da vida é a espessa matéria grosseira
Que inibe a ótica das paradisíacas estações celestes,
Perambula o indivíduo pelos cerrados e pelo agreste
E desemboca na magia do respirar sertão sem peneira.

Livre das imperfeições que cerceavam a consciência,
Tem agora o pudor extrativista de conhecer o caminho,
Mune-se dos alfarrábios para descrever no pergaminho
As nuances que perlustrou dizimado pela incoerência.

O produto da pesquisa a que se submete em solidão
Traz o bálsamo da metamorfose que opera o coração!



DE Ivan de Oliveira Melo

   

PRIMEIRA VEZ

Noite fria
Travesseiros úmidos
Corpos quentes
Pernas que tremem
Mãos que acariciam...

Gemidos: dor!
Delírios: amor!

Tez molhada
Boca orvalhada
Pelo beijo que silencia...

Sensações: húmus!
Pelos arrepiados
Sexo atordoado
Entre coxas macias...

O voo da gaivota
Membro que vai e volta
Alucinado!

Sussurros, mordidas!
Pela primeira vez na vida
Momentos frenéticos
Excitantes...

Mergulho fatal
No viço infinitesimal
Da volúpia extrema...

Sorriso que inflama
Dois corpos sobre a cama
Que navegam sobre a lama
Do orgasmo pleno!

As luzes de apagam
Os rostos se afagam
As línguas se tocam agradecidas
Por tudo o que se fez...
Está consumada
A primeira vez!




DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 14 de fevereiro de 2016

GRATIDÃO

No  exercício da gratidão revela-se o favor maior...

Em nosso íntimo há várias moradas, ricas e pobres,
Só não há espaço para uma classe média, porque

A consciência trabalha em dois faustosos extremos:
Num dos polos convivem em harmonia bons predicados,
Noutro residem as ervas daninhas que subornam o eu...

A personalidade é responsável pelo equilíbrio interior
E quando permeia o salutar daí advêm apenas alegrias,
Porém enquanto se deixa iludir por orgulho e soberba
A lama dos infortúnios abate todos os objetivos previstos.

O Bem é ouro que se garimpa nas profundezas da alma
Eliminando-se a apatia do egoísmo, do ciúme e da avareza...
Lubrifica-se o amor na prática do perdão e da gratidão
E se pondo em disposição para o auxílio urgente ao próximo.
Agradecer é reconhecer na pedra angular o que é misericórdia!




DE  Ivan de Oliveira Melo  

sábado, 13 de fevereiro de 2016

NADA

Nada é nada. É branco. É vazio...
Nada é um deserto. É um zero.
Nada é o vácuo. É o espaço livre,
É signo filosófico escuro, sombrio.

O nada é baldio e não tem perfil,
Simplesmente é o que não existe,
É a ausência do tudo, estado cego
Em cuja essência o tempo é hostil.

É um estágio donde tudo se parte
E de uma intolerância acromática
Em que coisa nenhuma tem forma...

Nada é a imensidão lar do infinito
Que oculta da visão o que é bonito
De um lugar onde o abstrato decola!




DE  Ivan de Oliveira  Melo   

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

PEDÁGIO

Às vezes paro e penso.
Tento enxergar-me o íntimo.
Há horas que me reconheço.
Há momentos que não sei quem sou...
Então durmo nas brumas do sonho!

Às vezes reflito. Vejo-me morto-vivo
A dardejar-me com as próprias mãos
A consciência que refuta as verdades
Que me assaltam o equilíbrio insano
Das inconsequências dum mundo vil...
Então desperto de devaneios utópicos!

Às vezes matuto. Compreendo o tudo
Já que o nada inscreveu-me no vazio
Onde a hipocrisia faz sua sutil morada
E me condena ao eterno aconchego
De uma fantasia que deprava o real...
Então corro ao encontro de mim mesmo!

Às vezes me avalio. Sou grão de areia
Que o vento sopra à mercê do destino
Condecorando a loucura do estar só
Perante uma imensidão de raciocínios...
Então outra vez estaco. Sou alegoria!

Às vezes me compreendo, às vezes...
Sinto-me poeira de uma estrada solitária
E me cobro de mim o pedágio de viver
Diante de uma plateia que é o cosmos...
Então sei que luto pela sobrevivência!




DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

DEVANEIOS

Esse sonho que faz de mim um anão
É grande suficiente para dar-me calor,
Nele deixarei impressos gestos de amor
Tal como faço com meu velho violão.

E quando de repente cessar a melodia
Outra sutil canção haverei de entoar,
Acordes semelhantes às ondas do mar
Para que eu possa alimentar a fantasia.

Caso você chore porque a música existe,
É meu coração que não sabe ser triste
E tudo o que quer é evitar seu adeus...

Esse sonho é intenso milagre de amor
Que vem seduzir um âmago sonhador
E saciar-me a vontade dos braços seus!



DE  Ivan de Oliveira Melo


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

ESTRADA

Serei a alma nua das esquinas cinzentas
A tropeçar nos cascalhos da gruta infinita,
Terei desnuda a face para que a pele sinta
O desejo embutido que o prazer incrementa.

Serei o espírito devorador das ruas solitárias
A caminhar dentre pedregulhos pontiagudos,
Terei o corpo marcado pelos lábios carnudos
Da donzela hipotecada por mãos monetárias.

Serei o hóspede sedutor das avenidas vazias
A flutuar perante os alicerces da melancolia
Como a traduzir as sensações não malogradas...

Terei da anfitriã tertúlia seixos dos becos ocos
E serei o Dom Juan dum tear poético barroco
Para nos conflitos contraditórios ser a estrada...




DE Ivan de Oliveira Melo  

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

PODER

O poder é uma questão de inteligência,
Não é na intransigência que se atua,
É uma simbiose do saber ser líder
Dentro de um alçapão de inimigos.

A liderança é uma situação de conquista,
É um atrevimento em cuja audácia se apoia
Mesmo que um olhar ou outro use a tipoia
Para envenenar a reputação do malabarista.

O poder provoca ambição que recruta orgulho,

Todavia que o sabe ter, sabe confeccionar embrulho!




De  Ivan de Oliveira Melo

DEVANEIO MARINHO

Em meus devaneios vi-me um mar...

Era eu águas salgadas do gigante oceano
E minha correnteza vagava mundo afora

Levando comigo saudades dum outrora
Quando em plena limpidez borbulhava feliz
Sem a solidão desenfreada que é poluição...

Mudou o tempo. As águas se tornaram bravias,
Minhas vagas passaram a formar torvelinhos
Anunciando procelas que enrugaram as horas
E alucinógenas tempestades vibraram meu sono...

Sobre as pedras das enseadas joguei desabafos
E sobre a areia branca do litoral deixei lágrimas
Que eram as espumas encardidas onde bolhas
Transgênicas se partiam desoladas e descontentes.
A água doce dos rios contaminou a pureza do meu sal!



DE  Ivan de Oliveira Melo


POLÍTICA

Não gosto de política, tenho sim, asco...
Contudo sou obrigado a reconhecer
De que muito a necessito para bem viver,
Pois sem ela sou analfabeto alfabetizado.

Não tolero as engrenagens da politicagem,
Todavia não devo olvidar o que ela planta,
Porque no dia a dia é a política que canta
E tenho de acompanhar esta malandragem.

Tudo em derredor de nós enfim é política...
Alimentação, transporte, educação, saúde...
Também o salário no fim do mês,  amiúde,
Não dispensa os disparates desta encíclica.

Para quem não liga o que faz a politicalha,
Pode ter certeza de que é submundo canalha!




DE  Ivan de Oliveira  Melo 

RETRATO NATURAL

O mundo respira sob as águas plácidas dos oceanos
Metamorfoses que costuram o tempo sem tempo
De aconchegar-se perante a doutrinação metafísica...
As horas correm no embalo das estações heterogêneas
Inundando as carcaças de uma atmosfera inconsequente.

Os ruídos atravessam as aurículas dos viventes ressabiados
Diante das inundações que sofre o ambiente natural...
Os ventos proclamam destruição sobre uma ecologia frágil,
Dementada pelas ações que violam a originalidade espacial
E trazem como prêmio as intempéries que assassinam o sadio.

Enfermidades corroem a saúde dos que trilham as avalanches
Do solo excessivamente bronzeado pelo calor violáceo do sol
E uma seca sem precedentes nomeia a destruição dos campos
Já capengamente desnutridos pela ausência do líquido que é vida.
Assim perecem indivíduos sem a noção exata das arbitrariedades.

A ambição e a falta do respeito acomete a existência pouco a pouco,
O sangue que jorra das veias dos organismo vivos está estropiado,
Amalucadamente incolor e portador de viroses e bactérias letais
Que comungam da insalubridade que as consciências temperam
E fazem dos jardins, um dia edens, pandemias que saciam a morte...

E o mundo já não respira oxigênio, mas substâncias que atrelam
Adversidades que contaminam a extensão infinita do universo...
Nas paisagens destruídas proclamam-se o destempero das nuvens
Que deságuam veneno e comovem as enxurradas descontroladas
Que abatem o silêncio e transformam o dia em noites hediondas!





DE  Ivan de Oliveira  Melo  

domingo, 7 de fevereiro de 2016

ANISTIA

Tempestade de agonia,
Farrapos humanos deserdados
Da herança da solidariedade
Tropeçam no lodo dos esquecidos
E gemem socorro à luz do dia.

Paupérrimas criaturas sem tom
Dobram-se e dormem nas esquinas
Tendo como únicas testemunhas
Paredes esburacadas de velhos prédios
Já obsoletos na moderna engenharia.

Abandono inclemente jaz indivíduos
Caricaturados pela apoplexia do tempo
Que asfixia faces jovens e senis
Perante a lavoura dos arranha-céus
Que ignoram o respirar da fraternidade.

Silêncio e gritos se misturam à dor
Que dilacera estampas desconhecidas,
Mas heróis da resistência e da ignorância
Que reina mediocridade e petulância
Esquecendo que o fim é igual para todos...

Chuva de indecência é apoteose do mal
Que assola a superfície dum orbe sem cura,
Insanidades são coercitivas do meio social
E as gentes que blasfemam sede e fome
Serão absolutamente anistiados diante do fim!




DE  Ivan de Oliveira Melo

SEIO IN NARURA

Nas sementes que cultivo no seio da terra
Semeio gratidão e flores que são dilúvio
Do amor que me faz lobo... Então eu uivo
Perante as madrugadas de minhas quimeras.

Em solos áridos faço germinar rosas azuis
Diante das fantasias onde alegoria é criação
Da sensibilidade que me enternece o coração
Sensualizado pelas águas onde vivem os atuns.

No lodo em que lama é algodão de primavera
Os pássaros edificam seus ninhos e paqueram
Debaixo da chuva que nutre o amor instinto...

Em meio a fortes tempestades o espaço chora
E deixa cair sobre o chão batido do tempo agora
Gotas de um orvalho doce que é vinho tinto!



DE  Ivan de Oliveira  Melo



sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

SEGREDOS

Há segredos que são invioláveis...

Há segredos que não são segredos,
São apenas cochichos e sussurros

Que os ventos espalham por aí...
Há verdades conhecidas de todos,
Mas que são tão verdades que se

Tornam segredos e ninguém os fala...
O silêncio se arrasta no meio do povo
E as bocas têm receio de comentá-los,
Talvez inconvenientes ao bem-estar.

A própria realidade guarda segredos.
Só o que não é segredo é a mentira,
Posto que vive nas bocas do que é fofoca
E as comunidades nunca se cansam dela...
Segredo é o que não se sabe do íntimo!




DE  Ivan de Oliveira Melo 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

TEDIOSO

Vou caminhando por lugares apagados
E os pensamentos furtivos
Levados alhures pelos ventos.

Vou em busca das verdades hipotéticas
Tentando concatenar as ideias que se apagaram
Na escuridão das estradas sem nome.

Vou flutuando sem rumo na penumbra da noite
E o tempo consome horas que parecem amargas
Perdidas nas entranhas do espaço deserto.

Vou tateando de cansaço por lúgubres alamedas
E me deixo cair sobre um solo que não me entende
E que me recebe sem honras na atmosfera inóspita.

Vou dormindo sobre as mazelas que me afogam
Nas ondas impiedosas de uma vida sem teto...


DE  Ivan de Oliveira  Melo


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

VELHOS REFRÕES

“Quem não caça com cão, caça com gato”,
Velho ditado popular hoje repleto de tapurus...
Quem não come arroz e feijão, come cuscuz,
Este é o ditado real de uma pobreza, de fato...

“Em terra de cego quem tem um olho é rei”,
Arcaica mensagem mais atual do que antiga...
A vida do hoje é reflexo da hipocrisia, é a intriga
Dos que governam, mas o olhar do povo é rei...

“Mas vale um pássaro na mão que dois voando”,
Mais do que nunca isso se aplica na atualidade...
Segurar o que se tem é honra conta a falsidade
Que impera perante o humilde que vive labutando...

“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”,
É não perder a esperança do melhor na vida futura!




DE  Ivan de Oliveira  Melo 

HAMBRE

En el fondo de mi corazón
Hay una isla de mucho amor,
En esta isla no hay ninguna dor,
Solamente melodía y canción.

En el fondo de mi dulce íntimo
Hay un oceáno de aguas profundas
Donde las emociones viven juntas
Y los pecados parecen tan ínfimos.

En el fondo de mis suaves palavras
Hay un telar de sensaciones caras
Que yo imprimo con cariño y ternura...

En el raso de mi vida tierna y robusta
Yo tengo el apetito de la felicidad pura
Y para siempre la hambre del amor dura!


DE  Ivan  de  Oliveira  Melo

         

BALANCE

El espírítu humano es coleccionista de creencias,
Hay una diversidad de situaciones muy ocultas
Que engañan la conciencia y el razonamiento
Poniendo en peligro la vida y adornando la realidad...

Infiltrar-se demasiado en lo desconocido provova locura,
Todo debe tener la lógica y no una fe ciega que es ilusión...
Cuando se permite entrar en fantasías isso es la intuición
Que actúa en el cerebro y la persona pasa a ser instinto...

Todo es diferente en relación a la arte que es creatividad,
Aquí existe la ficción que inventa carrozas para deleitar
La criatura que sueña el posible sin llegar hasta las utopias.

El imposible jamás será atributo de la verdad, es ensueño...
La naturaleza no cambia sus leyes porque es cosa divina,
Y nosotros hemos de vivir sólo la sustancia del equilibrio!





DE  Ivan de Oliveira Melo  

LENDA DE MIM

Às vezes eu deveras me irrito,
Aí chegam termos baixo calão;
Claro, depende muito da situação
E eu não sei o que ocorre comigo.

São instantes em que me desconheço
Desse meu íntimo escuro e incógnita,
É uma verdadeira ação antibiótica
E tudo o que faço vira pelo avesso.

Eu me pesquiso, tento entender o ritmo,
Desvendo que de mim mesmo sou mito
E me acho entre o singular e o excêntrico...

Difícil aceitar que seja assim bifurcado,
Pois em minha higiene mental sou libido
E viajo pelos vértices do ângulo concêntrico!




DE  Ivan de Oliveira Melo