quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Orvalho

Na manhã fria a paisagem desperta
E os pássaros entoam sagrados hinos,
A umidade segreda no tear matutino
Sussurros que são arrepios de alerta.

Tímido sol desponta como elixir da vida
E o vento assopra perante as nuvens,
No solo molhado e rasteiro se reproduzem
Jovens esperanças; as velhas,  despedidas!

As plantas choram e as folhas se renovam
No apêndice natural que é o retrato
Da odisseia progressiva de todos os anos...

No decorrer das estações mistérios inovam
Caracteres que respiram no tom do orvalho

A fotossíntese do que realmente somos!

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Bengala

Minhas pernas de vez em quando cambaleiam
Esgotadas pelo frenesi laico e vagaroso do tempo,
Incorporo a velhice como algo onde me assento
Sobre experiências adquiridas e sonhos que incendeiam...

Não estou morto e nem me frustro com a bengala
Que é uma nova perna e não acumula cicatrizes,
Sou idoso de cronologia, mas guardo crianças felizes
Num íntimo que ama a vida e os dias são de gala.

Não se rechaça na corrida das horas o aprendizado,
Mais cedo ou mais tarde ele é vintém assaz valorizado
E vai exigir que se aplique o seu real valor de moeda...

É fundamental encarar-se a bengala com devido respeito,
O branco dos cabelos é sabedoria, imolem- se preconceitos,

Ancião é gente e é tão importante quanto caduco de favela!

domingo, 14 de setembro de 2014

Estrelas

As estrelas foram seduzidas pelo meu libido,
Uma a uma despencou sobre minha graça,
Em desespero os céus pediram: desfaça
Este feitiço... Estamos desnudos e maltrapilhos...

Quê serão das noites sem o luzir das estrelas?
Intensas trevas derramam solidão e melancolia,
Num universo inóspito nas palavras não há poesia
E a morte será porvir... não há vida sem percebê-las!

Isento-me de culpas...Elas se renderam aos talentos,
Viçam na arte emoções, volúpia e sentimentos
E no coração do poeta fazem idílio e morada...

Espesso pranto cobriu a face triste dos astros
E numa atmosfera de sensações vi-me ingrato

A compilar no cosmos uma desfaçatez sazonada!

Retalhos de Luz

No desabrochar da flor há luz de pirilampos
Que incendeia a retina do transparente olhar
Da navegação fugitiva que busca encontrar
Os barcos revoltos que chispam tanto...

Não há escuridão na noite de quem ama,
As estrelas são a lua de um paradisíaco arrebol
Que talha cada centímetro do alvíssimo lençol
Onde vaga-lumes depositam essência que é chama...

Vez por outra um tenebroso mar se agita
A regar sensações idôneas que são urtiga
Que faz coçar secretos desejos assaz inauditos...

No clamor da tempestade as horas ficam grávidas
Fecundadas por volúpias que parecem fábulas

A parir sensuais epopeias de dons atrevidos!

O quê somos?

Vinculo-me às necessidades humanas,
Mas estou assaz envergonhado
Perante atitudes que são abjetas...
Em derredor de nós há mistérios
Indissolúveis à nossa precária compreensão
E isso dá à existência um paladar insípido...

Diante da morte somos um nada!
Há um imenso vazio em nossas carências
E o viver é pautado por reticências...
Objetivos são sonhos impalpáveis
Que nos amedrontam a cada amanhecer
E nos fazem naufragar no vale das incertezas...

Em nosso íntimo não há estatutos,
Não somos capazes de desvendar
Os hieróglifos que norteiam nosso ego
E nos achamos dízimos das próprias consciências
Que desconhecem os caracteres intrínsecos
Que fazem moradia em nosso âmago...

É traumatizante tentar entender
O que em nós parece tão cristalino...
A ótica é ofuscada por pernilongos
Que são invisíveis e padrastos
E nos atolam nos lamaçais de um destino
Antiético às aspirações que nos absorvem...

O homem é a mais terrível das incógnitas!
As equações que nos formulam
Apresentam um produto deveras dissociado
Do universo bipolar que nos mantém
Vivos ou mortos numa atmosfera peçonhenta,
Porém concomitantemente bela e aprazível!

Por isso me envergonho...  Estou solteiro
Das sensações que constrangem e felicitam
Este paupérrimo cilindro que é a vida!
Entre enigmas e mistérios vamos
Ultrapassando as fronteiras do tempo

Sem a ínfima noção da terapêutica do que somos!

sábado, 13 de setembro de 2014

Elegia a Bernardo

Quem disse que na Terra não há anjos?

Muitos vêm, cumprem missão, vão embora...
Silogismos são patentes que tais seres apresentam

Mesclados à dor para que sofrimento seja exemplo
Perante uma humanidade carente de fé e coragem,
Por isso eles pousam e vivem em eterna viagem...

Pelos ventos gaúchos aterrissou sublime estrela azul
Que sobreviveu paraplégico da afeição mais cara,
Foi assediado pela psicopatia que se tornou tara
Dum genitor perverso que maculou o Cruzeiro do Sul.

Órfão da maternidade que foi o ouro de sua existência,
Viu-se atormentado pela perseguição implacável de vil madrasta
Que corroborou em família para enlouquecer a consciência casta
E imaculada dum menino cujo sangue exige a diligência
A fim de que os anelos da justiça punam seus homicidas...

Garoto diamante que caminhou dentre maldita gente,
Buscava tão somente o afeto de um pseudo e rabugento herói,
Contudo a ambição desmedida é doutrina que destrói...
Encarapuçados marginais fizeram da santa criança indigente
E impuseram a si a injeção letal da crueldade e da maledicência.

A sociedade se vê chocada diante da inconcebível tragédia,
Uníssonos adotam a vítima com intenso e verdadeiro amor
E conclamam como reparação o castigo e o destemor
Para que o exercício do mártir não seja encarado como comédia...

O silêncio foi a tônica, o pior poderia ter sido evitado,
Mas o papel da potestade aí está indelevelmente gravado
No seio dos homens e que sirva de sublime lição...

Os céus estão em festa... O grande missionário retornou,
Em sua passagem pelo orbe evocou em nome do amor


A santidade das criaturas que olvidam o bater do coração!

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Círculo Concêntrico

Vês, vivemos intensamente amarrados
Numa redoma de pensamentos esferoides,
Tesão turbulento expele cínicos espermatozoides
Que fecundam óvulos por todos os lados.

Vês, na circunferência do mundo há ciganos
Que pululam às margens de lágrimas cilíndricas,
Vaidosas faces tecem através de mímicas
Desejos anatômicos que ferem sonhos mundanos.

Vês, há refluxos que mitigam o respirar
Das emoções frenéticas que teimam amar
Perante o círculo vicioso da malograda vida...

Vês, somos aves de rapina com asas cortadas
E não conseguimos controlar o anseio das manadas

Que se dizem humanas, mas têm existência postiça!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Solidariedade Íntima

Saiba de uma coisa: você nunca está só!
A solidão que nos envolve é apenas aparente...
Não é necessário ser religião, nem ser crente,
Tampouco é engenho ou artifício de catimbó!

Qualquer um é capaz de conviver consigo
Numa relação amistosa ou de profundo amor,
O eu é o melhor confidente seja lá como for,
Pois, traição é conselho íntimo isento de perigo!

Dê a mão à palmatória: desvende-se intimamente,
Seja anfitrião de si mesmo, pergunte à sua mente
E responda sincero sem questionar se é maluquice...

A humanidade fica indiferente se somos secretos,
Talentos e segredos necessitam de cofres concretos...
Para muitos, gênios são loucos ou travestidos patifes!



Quadritempo

Com o escoar do tempo, o dia chora
A ingratidão das horas que vão embora
E torna o passado simples recordação...

Nas folhas que caem o outono renova
Anseios tímidos escondidos na alcova
Dum anfiteatro onde exala a emoção...

No inverno a chuva varre intenso odor
Que paira sobre a atmosfera cinzenta,
Nas lembranças que o plasma acalenta
Labirintos tecem sentimento multicor...

Primavera: o orvalho é senhor do olfato
Que tinge reminiscências sem alarido,
A vida se transforma num verão florido
Em que o amor é o sol dos enamorados!


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Percepções

Vejo-me cantador da noite sem lua
E das estrelas gripadas que tossem ao vento,
Vejo-me andarilho sem ruas, ao relento,
Esperando o sol abrir-se na natureza nua...

Sinto-me solidão perante a paisagem apócrifa
E da saudade abstrata do pensamento sou dono...
Choro e sorrio, soluço... gritar não há como,
É que me afoguei em mim no dom da retórica...

Percebo-me cego a vagar sem destino certo,
Nas horas que voam não sei se estou perto
Do limbo que me fará navegar em minha aorta...

Observo-me canhestro em busca de sofreguidão,
Mas estou só a travestir de engodo meu coração
Tão fatigado duma seara inóspita e nada mais importa!


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Tudo depende de si mesmo...

Deixe o rio correr livremente pelos campos,
Apenas observe a extensão de suas águas...
Inteligentemente ele ultrapassa obstáculos,
Desvia-se impune das barreiras à sua frente
E finaliza sua caminhada desaguando no mar...

Vislumbre suas pegadas pelas veredas da vida,
Verifique que na areia fica uma dose da fadiga
Que abate sua resistência e mina sua esperança...
Há uma entrega total ao desânimo, a luz se apaga
E uma escuridão que é vácuo elimina suas forças...

É necessário conhecer as virtudes da paciência,
O deserto só existe na imaginação que é enferma...
Faça como o rio, permita-se levar pelas paisagens
Que a existência põe nas estradas do que é destino
E, certamente, o sinuoso transformar-se-á em retas...

Coragem e confiança são os atributos da vitória,
O suor que molha seu corpo é moeda da persistência,
É a alavanca que impulsiona a energia do real viver,
Que faz vibrar em si a certeza de que tudo é possível

Num mundo onde desconfianças e mentiras enodam a fé! 

Epidemia de Ilusões

Insensatos vertem paradigmas que surpreendem...

Na luxúria das palavras há consciências desmioladas
Que singram apanágios das contundências cotidianas

E fertilizam incertezas que se agrupam perante o ócio...
Inteligências diamantinas retiram serpentinas desse sacerdócio
E as transformam de sepulcro em vidas de grande eloquência.

A caráter: O que vilipendia o eixo social?
Os pseudo confetes que adornam a superfície da verdade?
Os inconsequentes ininteligíveis que vivem da vaidade?
Ou o povo assentado na vitrine de sua aurora boreal?

Os inconscientes sobrevivem na fogueira das ilusões...
Diante do extrato verifica-se intensa inadimplência
Dos que consomem alfazema na esteira do mundo
E deixam urtigas permearem o solo da inocência,

Contudo, o tempo é candidato ao alabastro das gerações!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Nicho de Amor

Meu tempero tem ingredientes afrodisíacos
E vós vos debruçais sobre intenso magnetismo,
Em meu corpo tereis vegetação sem ilusionismo,
Ternura em abundância e carinho de teor empírico.

Em meu regaço dormitareis sempre vosso cansaço
E escutareis magia para extasiar vosso ardor,
Viajareis num bálsamo em que eflúvios são amor
E, de mim, podereis patentear cada pedaço...

Não desvendareis aventura, mas simbiose e ventura
Que compartilharei convosco sobraçando a clausura
Onde, num nicho de sonhos, dar-vos-ei alegrias...

Sobre vós derramarei devaneios sem castrar a esperança,
Abrir-vos-ei a memória para que finqueis na lembrança
Um tesão que não é paixão, porém amor sem fantasias!