sexta-feira, 30 de maio de 2014

Rebeldia


Visto-me de sol e energizo as reflexões
Que ficam detidas no intenso redemoinho
Do meu pensamento onde desalinho
O raciocínio lógico sob a égide das emoções.

Os filamentos se partem em forte descarga
Deixando às escuras uma mente que chora
A invasão rebelde dos átomos de outrora
Que são ondas que deletam as afeições caras.

Não há penumbra, lágrimas sem socorro
Inundam a consciência do indivíduo tolo
Que faz de sua negritude dantesco rio...

Nado às avessas pelas margens, pareço vulto
Que tropeça sobre pedras que são insultos

Navegantes das turbulências e do pranto frio!

terça-feira, 27 de maio de 2014

Natureza Pura


O orvalho faz-me despertar alegre
E a natureza convida-me para colher com os olhos
A paisagem que canta a beleza do ambiente
E um céu azul salpicado de nuvens brancas.

Meu olfato levita diante do perfume das flores
Plenamente embriagado perante o esplendor do dia,
Meu coração é massageado pela melodia dos pássaros
E sonha acordado embalsamado pela atmosfera.

Vejo nas águas que correm a liberdade inocente
Que dá vida aos campos e sacia a sede dos homens
Que vislumbram as maravilhas do abastado universo.

Com a noite chega a nostalgia e o merecido repouso,
Sob o brilho da lua o pensamento divaga magias
Que o cintilar estrelas transforma em devaneios sublimes!



segunda-feira, 26 de maio de 2014

Princípio e Fim


Sim, é verdade... um dia o mundo se acaba
Para quem inescrupulosamente com a morte se abraça
E, mesmo sendo o homem o rei de todas as trapaças,
Diante deste quesito não tem jeito: a vida se apaga!

O fim deste ciclo evolutivo ocorre com a velhice,
Isto quando se cumprem as etapas da existência,
Contudo há aqueles que prematuramente pedem licença
E se despedem tristes ou felizes, bons ou patifes.

Desde o princípio se consome o Apocalipse individual
Embora com o Dilúvio haja se renovado o ambiente natural
O que em nada modificou as circunstâncias e o pecado...

A crença noticia um Juízo Final quiçá apologético,
É que já se mistificaram sinais que se tornaram patéticos

E, perante fraudes, cada qual vive, morre e deixa seu legado!

domingo, 25 de maio de 2014

Propaganda dos meus livros publicados

RELAÇÃO DE E-BOOKS DE MINHA AUTORIA POSTOS À VENDA PELA
AGBOOK.COM.BR e CLUBEDOSAUTORES.COM.BR
1) Entre a Cruz e a Espada ( romance ) R$ 18,78
2) Sonho & Amor ( poesia em parceria com Lucas Alves ) R$ 16,14
3) Deus também é poesia - vol. 1 ( poemas bíblicos ) R$ 13,99
4) Antologia Poética – ( poemas meus e de poetas convidados ) R$ 14,53
5) Sinfonia de Amor ( poemas - foi meu livro estreia ) R$ 10,76
6) Prosaicamente Poético ( prosa em verso ) R$ 5,38
7) Reflexos ( poesia - este à venda diretamente comigo ) R$ 10,00
AO ENTRAR NO SITE DA agbook.com.br ou clubedosautores.com.br você digita meu nome no espaço de pesquisa e todos as obras aparecem à sua disposição para a referida compra.
Meu nome completo : IVAN DE OLIVEIRA MELO
“Um povo culto se faz com homens e livros.” - LIVRO É CULTURA!

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Preciosismos


Na vida se guardam confidências
E há um arsenal de mistérios e enigmas,
Embora a inteligência do homem seja antiga,
Ainda se vive debaixo de segredos e aparências.

Acredito que se deva driblar a conveniência,
Os arautos não podem nada mais esconder,
É feliz quem de tudo prova e dar a entender
Ao mundo o produto de sua pessoal experiência.

De que adianta trancafiar o que parece secreto?
A existência é curta e quem se julga analfabeto
Precisa dilapidar-se e vivenciar cada momento...

O tempo abre as horas e mostra seus efeitos,
Cabe ao indivíduo libertar-se, enterrar preconceitos

Para que o viver se espelhe no mar dos sentimentos!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Marcas Estéreis


O lamento é a resposta dum povo sofrido
Que pranteia desilusões... desperdício!
Sonhos nefastos são constantes, são vícios
Que soterram da higiene mental salutar abrigo!

Se o pensamento é nômade, a vida é cigana
E o homem peça dum artesanato vil e impuro,
Fantoche que cede suas rédeas e vive aos pulos
Em uma seara mambembe em que solo é lama!

Doce lar... capricho doado às ventanias
Do tempo ingrato que só desenhou fantasias
Nas mentes embebidas pelo sal do prazer...

O futuro é fio de escuridão na arena deserta
Sobraçando a estéril esperança que ainda desperta

Meio trôpega entre os raios do novo amanhecer!

Vitrine Social


Dedico-me integralmente
Diretamente proporcional
Aos problemas do mundo,
Sou o inverso do imundo,
Luto por uma vida diferente.

Percentual superior aos centos,
Sou fração e busco equacionar
A podridão deste imenso pomar
Que traveste de mazelas o natural
E respira fungos, saboreia excrementos.

A existência é paladina,
Miasmas são agentes deletérios
Que ceifam vidas, fomentam cemitérios
Onde a turba de esqueletos é infinitesimal
E destroços humanos são carnificina...

Teço palavras que são antídotos
Que brigam para esclarecer imprudentes
E evitar que se plantem más sementes
Neste universo que sobrevive anormal
E nada entende do que é político!


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Mágoas


Mágoas são ondas de mares bravios
Que trucidam nosso gênesis perante a vida,
O rancor é câncer da existência reprimida
E peçonha que chove e chove, sem estio...

Dissabores causam indigestão e têm pimenta,
Arde a consciência que grita e grita... caduca!
O sentimento fica sem porto, alhures não cutuca
Essa devastação que o íntimo enfermo enfrenta!

As aflições devoram o senso que perde o humor
E atira distante congêneres produzidos pelo amor
Que vê diante dessa plataforma apenas dolência...

No anfiteatro que o âmago lentamente constrói
É mister dirimir tais ímpetos que deixam dodói
Qualquer personalidade que não use a inteligência!


O mundo é pedra...


Nossas reflexões são pétreas,
Nosso instinto é calcário...
Já não esboçamos sumário,
Importa só o que nos interessa.

Edificamos em nós penhascos,
Transformamos corações em rochas,
Sentimentos não mais desabrocham
Porque nossos caminhos não têm atalhos.

Solidão sobre cascalhos, vazias naus
Que não podem velejar sobre calhaus,
Porque o mundo é sombrio, é penedo...

São fragas que formam em nosso íntimo
Ilusões frenéticas que se perdem nos istmos
Onde a água é o burgau que nos causa medo!


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Nota: os termos  PÉTREO, CALCÁRIO, PENHASCOS, ROCHAS, CASCALHOS, CALHAUS, PENEDO, FRAGAS, BURGAU  estão relacionados a  PEDRAS ( coisas duras ).

terça-feira, 20 de maio de 2014

Contramão

Interessante...
Sei que estou morto,
Até posso ver meu corpo
Sendo velado ali no salão...

Esquisitice...
Meus sentidos estão perfeitos,
Sinto o coração palpitar o peito
E toco em lágrimas de emoção...

Estranho...
Posso escutar o pensamento das pessoas
Que pranteiam o desenlace deste coroa
E que tem um crucifixo preso às mãos...

Barbaridade...!
Será que defunto também sonha?
Vejo rostos e personalidades tacanhas
Chorando azedume sem qualquer sensação...

Mistérios... Enigmas...
Morte é vida em abundância,
Contemplar o destino é circunstância,
Mas entender tal raciocínio é razão...

Via crucis... Antíteses da existência...
Mentiras e verdades estão às claras,
Amor e ódio não são coisas raras,

É só não perambular pela contramão!

segunda-feira, 19 de maio de 2014

MEU TRABALHO LITERÁRIO

VEJA COMO É SIMPLES...
Tenho 3 novos livros publicados ( e-books ), você os encontra nos seguintes endereços:
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Entre a Cruz e a Espada ( romance ) - à venda por R$ 18,78
Deus também é poesia... vol.1 ( poemas bíblicos ) – à venda por R$ 13,99
Sonho & Amor ( poemas em parceria com Lucas Alves ) – à venda por R$ 16,l4
Prestigie o autor brasileiro!
OBSERVAÇÃO : Pela beleza dos versos, o livro DEUS TAMBÉM É POESIA-vol.1 está sendo muito procurado, procure você também por ele e pelos outros dois, todos de excelente qualidade!

domingo, 11 de maio de 2014

Mãe


Debaixo de chuva, relâmpagos e trovoadas
Ela viu seu filho morto estendido na cruz,
Tirou-o dentre os homens pecadores e nus
Lavando os males da humanidade transviada.

Chorou a morte do rebento puro e inocente
Que veio banir das trevas um planeta escuridão,
Doou suas lágrimas e por caridade seu coração
Que se tornou imaculado no seio das gentes.

Mãe de todas as mães ... mãe de todas as proles
Que bebeu do vinho que é sangue e engole
As ingratidões e as injustiças do operariado...

Dia que se consagra festivo ao amor materno
Que cede suas tetas a um mundo modero
Ainda intolerante e infinitamente bastardo!


Metafísica Transgênica


Pelas encostas do pensamento
Tento galgar os teares incógnitos
Da filosofia humana...
Aqui e ali me reprimo
Perante um raciocínio psíquico,
Pois, percebo que os reflexos
São ondas travestidas do mito
Que abrem e fecham
O espaço metafísico
Onde se operam
Os bens e os danos...

Sorvo da consciência tutelada
Um néctar de sabor empírico,
Então, de repente,
Não entendo mais nada
Porque os átomos
Dormem envaidecidos
Pelas fantasias que
Debulham do onírico...

Nesta viagem transcendental
O idioma são imagens
Que correm líricas e devagar
Num senso íntimo de paisagens
Onde o devaneio deve flutuar
Sobre as alegorias transgênicas

De um universo infinitesimal.

sábado, 10 de maio de 2014

Devotos do Amor - cap. V - Epílogo

DEVOTOS DO AMOR
CAPÍTULO V – EPÍLOGO
Metamorfose
Thiago Carrilos nem imaginava que Nicholas desvendara o segredo de quem o salvara. É verdade que percebeu uma intensa mudança no comportamento do irmão em relação a si. Embora pouco se falassem, como sempre ocorrera, Nicholas buscava não mais implicar , nem ameaçá-lo como fazia todos os dias, simplesmente deixara o irmão de lado. Tal fato intrigou e muito Thiago Carrilos. Vivia a refletir, vez por outra, sobre isto: “Ele não desistiu de mim, apenas aguarda um momento certo para dar o bote. Eu que me cuide!” Porém o tal bote jamais ocorria, mesmo Thiago cometendo, de vez em quando, alguns deslizes, os quais poderiam muito bem terem chegado aos ouvidos do senhor Ayala. Era bastante estranha a postura de Nicholas e Thiago, por mais que pensasse, não conseguia enquadrar-se no verdadeiro motivo deste silêncio. “Ele em tantas e tantas ocasiões me pegou no flagra nos últimos tempos e nada disse ao meu pai... que esquisito!”
Um ano se passou. Enquanto Nicholas completava 14 anos, Thiago agora contava 16, assim como Christian.
Certo dia, à tarde, Thiago estava em casa de Christian e comentou com o amigo:
- É estranho, Chris, por mais que eu pense, não entendo esta mudança no temperamento de Nicholas – disse.
- As pessoas mudam, Thiago. À medida que vamos envelhecendo, nosso caráter vai se moldando a novas realidades. Isto se chama amadurecimento. Creio que seja isso o que acontece com seu irmão biológico. – Explicou Christian.
- É possível que isso seja desta forma, porém continuo me cuidando, evitando cometer deslizes que o levem a entregar-me ao meu pai. – Defendeu-se Thiago.
- Estou de acordo, na verdade não sabemos o que se passa dentro daquele íntimo maquiavélico. – Falou Chris.
Neste instante, o celular de Thiago toca. Era exatamente Nicholas.
- Veja – disse Thiago – ele nunca me telefonou.
- Atenda, veja o que ele quer – aconselhou Chris.
Thiago atendeu.
- Oi, Nicholas, fala. Aconteceu alguma coisa?
- Ainda não aconteceu, mas pode acontecer – falou Nicholas – aconselho você vir direto para casa e traga com você Christian. Vocês vão adorar o que está para ser.
- Vamos lá, vamos ver com nossos próprios olhos o que Nicholas está aprontando.
Logo estavam no trem. Sem dúvidas, estavam ansiosíssimos. Chegaram em casa e Nicholas os esperava sentado no sofá da sala.
- O que está ocorrendo?- Indagou Thiago.
- Marlene me convidou a ter relações íntimas com ela – afirmou – porém eu disse que só aceitaria caso ela recebesse nós três ao mesmo tempo.
Marlene era a nova faxineira da casa de Thiago. Era uma moça ainda muito jovem, 17 anos. Os pais de Thiago e Nicholas estavam no Rio de Janeiro, participando de um congresso na área bancária. Senhor Ayala levara consigo Dra. Bernadete porque ela curtia férias, deixando os garotos sós em casa, em companhia de Marlene e de Quitéria, a cozinheira, mas Quitéria não se encontrava em casa naquela hora, precisou sair mais cedo para levar o netinho ao médico.
- Por que você se lembrou de mim e de Christian? – Interrogou Thiago, ressabiado.
- Ah, Thiago, não me faça perguntas. Não sei, deu-me vontade de convidá-los, só isso. Querem ou não querem? É uma oportunidade para nós três conhecermos mulher – falou Nicholas – eu bem sei que vocês dois também são virgens, tal como eu. E então?
- Realmente – respondeu Thiago – excelente oportunidade e estamos sós, teremos todo o tempo do mundo, não é Christian?
- Como sempre, concordo com você. Por mim, estou aqui e o que vocês resolverem, eu assino embaixo.
- E Marlene aceitou sua exigência? – Thiago Perguntou.
- Sim, apenas está à espera de uma decisão de nossa parte. Como é, vamos entrar nesta?
- Vamos e já! – Respondeu Thiago.
Os três garotos se dirigiram aos aposentos da moça, antes, porém, deixaram no quarto de Thiago suas vestes, entrando lá totalmente desnudos. Marlene se encantou com a beleza dos três e, no mesmo instante, despiu-se.
Os três meninos pela primeira vez experimentavam em suas vidas as delícias da sexualidade e cada um ficou com Marlene o tempo ideal para se satisfazerem. No final, estavam exaustos. Abandonaram o quarto da moça e foram para o banheiro dos aposentos de Thiago, onde se banharam longamente. Depois se enxugaram, vestiram-se e desceram, ficando na varanda da sala.
- Foi bom, não foi? – Perguntou Nicholas.
- Foi ótimo – Thiago respondeu – somente ainda não compreendo o porquê de você nos ter convidado – estou com uma pulga atrás da orelha, confesso que estou.
- Dispense esta pulga – pediu Nicholas – nunca mais haverei de entregar você ao nosso pai, mesmo que cometa o pior dos crimes.
- Não entendo esta sua transformação – repetiu Thiago – nunca nos entendemos.
- Ah, Thiago – retrucou Nicholas – chega um momento em que se reflete sobre as coisas que fazemos e fizemos, sobre o que somos e procuramos melhorar. É o que tenho feito em relação a você e faz tempo, ainda não se deu conta disso?
- Sim, percebi, no entanto é justamente o que não compreendo, Quem um dia disse que me odiava... sei não, viu...
Christian, até então calado, entrou na conversa.
- Dê uma chance ao seu irmão, Thiago. Penso que ele está sendo muito sincero.
- Só crerei nesta mudança caso ela faça algo que nunca fez comigo. – Thiago afirmou.
- O quê? – Indagou Chris.
- Eu quero receber dele um abraço bem apertado e um beijo, só.
Nicholas riu.
- Só isto? É pouco... disse Nicholas.
Nicholas então o abraçou e deu-lhe em sua face muitos e muitos beijos e os recebeu, também.
- Está definitivamente selada a paz entre vocês – disse Chris.
- Está – Concordou Nicholas. Eu estava cego para não reconhecer o irmão que tenho.
Thiago estava chorando, emocionado.
- Não chore – pediu Nicholas – daqui para frente novas pedras se moverão entre nós, sempre para melhor.
Christian igualmente os abraçou e os beijou no rosto, como a dizer a Nicholas que também era seu amigo a partir daquele momento.
- Obrigado – agradeceu Nicholas – vocês não mais viverão em dupla, mas em trio... E devolveu a Chris a gentileza dos ósculos recebidos.
Alguns meses se passaram. Nicholas tornara-se companheiro inseparável do irmão e de Christian.
Certo dia, na escola, durante o intervalo, os três se encontraram e Christian tinha uma novidade para eles.
- Meu pai vai passar dois anos nos Estados Unidos, vai fazer um curso e, em seguida, volta para cá como diretor do banco em que trabalha para toda e região Nordeste.
- E você vai com ele, evidentemente – disse Thiago, com os olhos úmidos.
- Infelizmente, sim. Porém não fique triste, dois anos logo se passam.
- Vou sentir saudade – falou Nicholas – aprendi a ter em você um companheiro e amigo inseparável.
- São coisas da vida – Christian colocou – um dia voltaremos a nos reunirmos e a termos Marlene para nós.
Os três riram. Outras vezes tiveram Marlene em suas intimidades, no entanto já haviam enjoado a moça.
- Precisamos de outra – confessou Thiago – esta deixou de ser novidade, faz tempo.
Vinte dias depois Christian embarcava com a família para os Estados Unidos. Tanto Thiago como Nicholas pediram desculpas, mas não haviam em si mesmos coragem para uma despedida no aeroporto, Christian compreendeu e até achou melhor, assim sofreria menos.
Thiago e Nicholas, agora unidíssimos, levavam a vida adiante. As saudades de Christian eram solucionadas com os constantes diálogos pela internet, usando o Skype. Estavam sempre atualizados em relação ao que se passava entre eles. E a vida seguia seu rumo.
Mais um ano se passou, Nicholas chegava aos 15 anos, Thiago aos 17. Continuavam a estudar na mesma escola – Montalvan – e resolveram aderir aos esportes. Ambos escolheram o futebol de salão e se deram muito bem, tornaram-se modelos de atletas e os demais estudantes e jogadores neles se espelhavam.
Foi numa noite em casa que Nicholas e Thiago tiveram a surpresa de uma notícia.
- Vocês nem imaginam o tamanho da novidade que tenho para vocês – afirmou Christian.
- Diga logo – pediu Nicholas – não nos deixe assim, tão curiosos.
- Não será necessário meu pai ficar aqui pelos dois anos – confirmou Chris – a diretoria administrativa do banco considerou satisfatória a preparação. Domingo estaremos aí, novamente...
Thiago não cabia em si de alegria. Abraçou-se a Nicholas e ambos permitiram que as lágrimas rolassem.
- Ei, caras, estou falando sozinho, é? – Perguntou Christian – também estou chorando...
Christian retornou. A amizade entre os três jamais esfriara, eram amigos de verdade. Senhor Ayala perdera o emprego e o pai de Christian o empregou no banco americano, como gerente regional.
Numa noite de chuva intensa, Nicholas saiu de seu quarto e foi para os aposentos de Thiago.
- Estou morrendo de frio – disse – posso dormir aí com você? Assim, da mesma forma que um dia você salvou minha vida, você igualmente esquenta meu corpo. Eu te amo, irmão!
Pego de surpresa e com lágrimas nos olhos, Thiago apenas respondeu:
- Eu também te amo!
FIM

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Devotos do Amor - cap. IV

DEVOTOS DO AMOR
CAPÍTULO IV
Doador Misterioso
Quinze dias se passaram após todos os acontecimentos. Thiago Carrillos retornara para casa e estava sob intensa orientação psicológica. Uma psicóloga frequentava seu lar diariamente e passava horas e horas a conversar com o garoto, ainda bastante chocado perante todos os abusos que sofrera. Seu estado de ânimo era o silêncio e, durante as visitas da psicóloga, mais ouvia do que falava. Senhor Ayala permitira que Thiago recebesse visitas dos colegas da escola, entretanto o único de que se agradava realmente era Christian, seu inesquecível amigo.
- Espero que esteja melhor hoje – disse Chris – quero meu irmão de volta, detesto vê-lo nesta tristeza.
- Desculpe, amigo – falou Thiago – Tudo o que sofri ainda martela muito minha cabeça.
- Eu sei, irmão, compreendo você, mas vamos tentar esquecer, o sol brilha lá fora e a vida continua – Chris incentivava.
- Você acredita que meu irmão não veio uma só vez falar comigo? – queixou-se Thiago – relacionamento difícil este. Como eu gostaria que as coisas fossem diferentes...
- Se em irmão de sangue você não tem transmissão de um sentimento de amor, neste irmão postiço que agora fala com você, há amor – confessou Chris – amo muito você, é o irmão que sempre quis ter, mas que Deus colocou no endereço errado.
Christian observou que os olhos de Thiago estavam cheios d’água.
- Só você, Chris, só você – disse – consegue emocionar-me. Eu também amo muito você. Eu me considero este irmão que você tanto gostaria de possuir, só que você não gostaria, pois, já o possui.
E, num abraço fraterno, ambos deixaram cair livremente as lágrimas. Estavam visivelmente emocionados.
Mais quinze dias se passaram e Thiago voltou a frequentar o Moltalvan, todavia seu relacionamento com Nicholas a cada dia estava mais difícil.
Numa tarde, em casa, os dois tiveram acirrada discussão.
- Não pense que estou esquecido da sova que levei por sua causa – afirmou Nicholas – enquanto esteve enfermo, realmente não quis que você falecesse, sabe por quê? Não foi dó, mas porque se você morresse, eu não teria como vingar-me.
- Você é mal – colocou Thiago – não sei porque Deus me castigou tanto, dando-me um irmão tão perverso.
- Odeio você – confessou Nicholas – serei eternamente uma pedra em seu sapato. Não vai se livrar tão facilmente de minha cólera.
Ao pronunciar-se desta forma, abandonou o recinto e se trancou em seu quarto. Se pudesse, certamente mataria Thiago, pois, considerava-o um intruso em seu lar e o motivo pelo qual não havia só para si o amor dos pais.
Dois meses adiante. Eis que Nicholas sofre grave acidente. Fora atropelado por uma moto bem na porta da escola. Levado às pressas para o hospital, eram mínimas suas chances de continuar vivendo. O médico fora taxativo ao informar tal situação ao senhor Ayala e a Dra. Bernadete, sua mãe.
- É uma situação delicada. Não se tem mais o que fazer, a não ser que se consiga alguém que tenha um sangue compatível com o dele, o que é raro, mas é o único caminho de ainda ter-se esperança – colocara Dr. Sandoval.
- Façamos uma campanha – propôs Dra. Bernadete – convoquemos todos os familiares , de todos os graus, não é possível que não haja, pelo menos, um...
- Se tiverem de fazer isto, que o façam o quanto antes – disse Dr. Sandoval – o garoto só tem, no máximo, 48 horas de vida.
Senhor Ayala e Dra. Bernadete se revezaram ao telefone, convocavam todos os parentes para comparecerem ao hospital e realizar os exames. Solidariamente todos compareceram, porém nenhum possuía o sangue compatível. O desespero tomava conta, já não se tinha mais a quem recorrer.
Silenciosamente Thiago procurou o médico.
- Dr. Sandoval, acho que sou o único que ainda não fez tais exames – Disse Thiago.
- Acho dificílimo que seu sangue sirva – afirmou o médico – contudo vamos proceder a experiência. Ainda há um detalhe: você é menor de idade, só em casos extremos aproveitamos sangue de um menor para salvar uma vida, no entanto se for compatível, assumo esta responsabilidade e darei a você um tratamento especial.
O sangue de Thiago foi retirado e cuidadosamente analisado. Dr. Sandoval ficou impressionadíssimo com os resultados, finalmente encontrara um doador compatível. Ligou para Thiago e este veio correndo para o hospital.
- Estou à disposição, Dr. Sandoval – só tem uma condição.
- Qual? Indagou o médico.
- Que o senhor não identifique o doador para quem quer que seja – colocou Thiago.
- Nem aos seus pais?
- Eu disse: ninguém!
- Está bem – concordou o médico – vamos então aos procedimentos. Terá que vir aqui todos os dias, pois, como lhe disse, você é menor e precisa de que eu o acompanhe durante um certo tempo, até ter a certeza de que sua doação não o prejudicou.
E o sangue de Thiago Carrilos salvou o irmão da morte.
- Dr. Sandoval – falava senhor Ayala – diga-me quem foi esse doador misterioso, por favor...
- Por questão de ética médica, não posso – sentenciou o médico – esta foi uma condição única exigida por quem doou, não posso nem devo contrariar tal desejo.
E assim Nicholas voltou para casa, depois de algumas semanas . Estava plenamente recuperado e voltou às aulas. Um pensamento não saía de sua mente: “Quem terá salvo minha vida? Preciso saber, necessito de agradecer infinitamente a essa criatura”. Não obstante, não encontrava como desvendar isso que se tornara uma grande mistério para ele.
Certa tarde estava em casa a ler uma revista quando de súbito teve uma genial pensamento: “Ah, por que não atinei para isso antes? É claro que ela sabe, é só oferecer-lhe uma boa quantia em dinheiro”. E foi em seu armário a contar o que lá havia de valores. Como quase não tinha gastos, juntara, pouco a pouco, um bom valor das mesadas que recebia semanalmente. “Penso que é suficiente.” Colocou numa pasta o dinheiro e se dirigiu ao hospital onde houvera ficado internado.
- Boa tarde, eu gostaria de falar com a enfermeira Iraci – disse na portaria do hospital.
- Um momento, verei se ela hoje está em serviço – respondeu a recepcionista.
Iraci Maranhão veio ao seu encontro.
- Que novidade é esta, menino? – Espantou-se a enfermeira.
E, em poucas palavras, Nicholas disse o que pretendia.
- Virgem do céu! É claro que não posso atender ao seu pedido – disse Iraci.
Então Nicholas mostrou-lhe o dinheiro que trouxera. A enfermeira mudou de atitude.
-Aguarde-me aqui. Verei o que posso fazer.
Meia hora foi tempo necessário para Iraci Maranhão vasculhar documentos e descobrir o que Nicholas desejava saber.
- Conseguiu? – Indagou ansioso Nicholas.
- Sim. Coloque primeiro o dinheiro em minha mão, depois revelo – exigiu a enfermeira.
- Pronto, aqui está. Sou um menino, mas tenho palavra – disse – agora, diga-me: quem foi o misterioso doador que salvou minha vida?
- O nome do doador misterioso consta no prontuário do dia...
- Eu não desejo saber destes detalhes – zangou-se – quero apenas o nome do doador, só isso.
- Quem salvou sua vida foi Thiago Carrilos, conhece?
- O quê? Quem? – perguntou nervoso – tem certeza?
- Absoluta. Se você disser que fui eu que revelei, eu nego até debaixo d’água, porque isto é grave, eu posso perder o emprego...
- Relaxe! Não se preocupe, ninguém saberá – prometeu Nicholas.
Saiu dali com o coração pulsando forte. Seus pensamentos estavam embaralhados, não conseguia atinar o porquê do próprio irmão ter salvo sua vida... Isto era inconcebível, Thiago sabia que ele, Nicholas, odiava-o e seu ódio fora exposto face a face.. . como, depois disso, ele ainda salvaria sua vida?
Todos estes pensamentos rondavam sua mente, deixando-o confuso.
Ao chegar em casa, Thiago estava na varanda em larga prosa com Christian. Para Christian, Thiago não havia segredos e eles não tinham percebido a chegada de Nicholas. Ficou atento à conversa.
- Só mesmo um coração de ouro para fazer o que você fez... – afirmou Chris.
- Não havia outra alternativa, o único sangue compatível foi o meu. Por mais que sejamos desunidos e, até inimigos, eu não poderia permitir meu irmão morrer, você entende?
Pronto. Não havia mais dúvidas. Fora mesmo Thiago o seu salvador. Saiu dali na ponta dos pés, trancou-se em seu quarto e deixou as lágrimas banharem seu rosto.
FIM DO CAPÍTULO IV

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Devotos do Amor - cap. III

DEVOTOS DO AMOR
CAPÍTULO III
O sequestro
Dia seguinte Thiago e Christian se encontravam na escola segundo haviam combinado, no mesmo lugar do dia anterior.
- Ei, cara, o que está havendo em sua casa? – Chris interrogou.
- Coisas que me envolvem com meu irmão – Thiago respondeu.
E tudo revelou a Christian sobre o sucedido do dia antecedente, contou-lhe nos mínimos detalhes.
- Perdão – perdão Chris – Este seu irmão é um miserável, porém tenho minha parcela de culpa, pois, fui chamá-lo para ir à minha casa.
- Que é isto? – Falou Thiago – você não tem culpa de nada, por favor – porém ele me pagou com juros e correção e no mesmo dia.
- A justiça tarda, mas não falha. Sensacional a sua resposta. Incrível foi a bobeira que ele deu, não trancando a porta do quarto. – Completou Chris – Sua atitude não poderia ter sido outra e o sacana em tudo isto foi ele, não você, porque tudo se iniciou pelo ato de covardia que ele cometeu.
- Também penso assim. Se ele não tivesse me entregado na hora da janta, igualmente eu não o daria ao nosso pai como dei. Foi uma questão de eu estar com a cabeça cheia.
- Passou... Por que não esquece esses incidentes? – Pediu Chris – Ontem você me chamou de irmão e eu fiquei tão contente...
- Você é que devia ser meu irmão, não aquele traste...
Deram um longo e afetuoso abraço, depois retornaram às aulas, o intervalo havia terminado.
Voltaram a encontrar-se na saída e, juntos, encaminharam-se à estação a fim de pegarem o trem que os levaria para suas residências. Foi neste exato instante, quando estavam a entrar na estação, que foram surpreendidos por uma galera composta por uns 9 jovens, aproximadamente.
- Fiquem quietos, os dois – disse o que parecia comandar a quadrilha – vamos levá-los conosco.
Christian desesperou-se.
- Vão nos levar aonde? – Perguntou aflito.
- Cala a boca, verme... – falou o chefe – vamos levá-los para onde eu quiser. Nem mais uma palavra. – Ordenou.
Thiago estava completamente em estado de choque, não sabia o que dizer ou fazer, obedeceu como um autômato.
- Levemos um só – aconselhou um dos marginais – dois é muito para o nosso pasto.
- Ideia aprovada – concordou o que parecia ser o chefe – deixemos este, leve este outro para o carro.
Levaram Thiago que não esboçou qualquer reação. Christian, ao ver-se livre, tentou correr, mas foi impedido por outros deles.
- Deixe que a gente se vá, depois você corre. – Avisaram.
Logo em frente à estação surgia uma vã e todos entraram no automóvel, tendo Thiago como refém. Num átimo o veículo sumiu sem deixar rastros. Foi então que Christian gritou, gritou e, em torno de si, grande multidão se formou.
- Calma, garoto – pediu uma moça – conte-nos o que está acontecendo.
Mesmo gaguejando devido ao seu estado emocional, Christian conseguiu relatar tudo o que se passara.
- Foi um sequestro – afirmou um senhor de meia idade – e você, menino, foi testemunha ocular. Por favor, venha comigo à delegacia, vamos fazer um Boletim de Ocorrências. Você conhece o jovem que foi levado?
- Sim, - confirmou Chris, nervoso – trata-se de um amigo da escola.
Christian chegou à delegacia em companhia do cidadão e da moça que falara consigo, inicialmente.
Mostrando-se profundamente nervoso, Christian tudo revelou ao delegado que, de imediato, fez a ocorrência e buscou entrar em contato com os pais de Thiago e, em menos de 40 minutos, estavam na delegacia. Christian ainda por lá se encontrava e foi quem tudo retratou ao senhor Ayala.
- Então vocês estavam se dirigindo para casa? – Indagou senhor Ayala.
- Isso – confirmou Chris – todos os dias voltamos juntos, pois, moro no bairro Leste.
- Foi em sua casa que Thiago esteve ontem à tarde?
- Foi. Ele passou a tarde de ontem a ensinar-me espanhol – disse Christian .
- Quem são seus pais? – Inquiriu o delegado.
Christian nomeou os pais e, para sua surpresa, senhor Ayala conhecia seu genitor.
- Conheço seu pai – afirmou – não somos amigos, porém muitas questões bancárias já resolvemos juntos.
- Cheguei a imaginar que o senhor o conhecesse, isso depois que Thiago contou-me que é gerente de banco – confirmou Chris.
- Espere-me ali na sala de visitas – pediu senhor Ayala – levá-lo-ei em meu carro até sua casa, contudo antes necessito confabular com o delegado.
- Sim – concordou Chris – eu o esperarei.
Após um longo diálogo com o delegado e o comissário, senhor Ayala tomou conhecimento quem eram os sequestradores de Thiago.
- Só nos resta agora esperar – afirmou o delegado- essa turma de 9 garotos que sequestrou seu filho fugiu do alojamento onde estavam presos após uma rebelião. Roubaram uma vã e, nela, levou Thiago. Certamente vão entrar em contato a fim de exigir algum resgate. Estão armados, são perigosos e, caso se sintam perseguidos ou ameaçados, podem cometer alguma maldade com o refém. Toda cautela é necessário. Melhor o senhor ficar em casa, talvez eles busquem contatá-lo e é bom estar presente para atendê-los. Deixe-nos informados caso eles liguem. Se Deus quiser, haveremos de solucionar este caso o mais depressa possível.
Senhor Ayala retirou-se e, como prometera, levou Christian para casa em seu carro.
- Senhor Ayala, por favor não me deixe sem notícias, Thiago é meu melhor amigo.
- Está bem – concordou senhor Ayala – qualquer novidade eu ligarei para você.
- Obrigado – agradeceu Chris – este número é o do meu celular e, este outro, é o da minha residência.
- Até logo – despediu-se senhor Ayala – Oremos a Deus para que nada façam de maldade ao meu filho.
- Até logo, senhor Ayala.
As horas de passavam e nada de notícias de Thiago Castillos. A vã era dirigida por um rapaz de 17 anos, perigoso delinquente do bando. Guiara por algumas horas rumo ao interior e saíram da rodovia e pegaram uma estrada de barro. Pelo caminho de barro dirigiram por mais uma hora até chegarem a uma fazenda abandonada, coberta de mato. Desceram e entraram na casa grande, jogando Thiago no último quarto, onde só havia uma cama, mais nada. Posteriormente retornaram à sala, iniciando-se um diálogo.
- Que vamos fazer com ele, chefe? – Perguntou um dos bandidos.
- Estou a pensar, Clóvis, estou a pensar. Este garoto que nós trouxemos vai nos servir muito bem para algo que pretendo fazer – disse ironicamente – todos vocês vão querer ele, mas eu aviso, inicialmente ele será meu...
E todos caíram na gargalhada.
- Meu chefe vai fazer dele uma mulherzinha?
- Claro, Nenem – falou malicioso o chefe – ele alimentará nossa sede sexual.
Novamente todos gargalharam.
- Vamos – ordenou o chefe – vão 3 de vocês lá onde ele está e o deixem nu em pelo, logo aportarei lá.
E, assim, foram três dos marginais onde Thiago estava. Dois o imobilizaram e o terceiro o despiu completamente.
- Como você é belo, menino – falou um deles – vai saciar nossa fome...
- O que vocês farão comigo? – Thiago perguntou, desesperado.
- Você não imagina, cinderelo?
- Vocês não vão fazer o que estou pensando... não vão! – Thiago gritou.
- Ah, não? Logo você verá...
E, neste instante, o chefe entra no aposento já inteiramente despido e pronto para executar seus desejos.
- Segurem bem ele – ordenou – Esta presa vale ouro!
E consumou seus propósitos indecentes. Longo tempo passou, depois cedeu a vez aos outros e todos cometeram igualmente o mesmo crime.
- Muito bem – disse o chefe – levem-no ao banheiro e deem um banho nele, quero ele bem limpo e cheiroso. Ah, tirem suas roupas daqui, ele ficará o tempo inteiro como veio ao mundo, pois, quando me pintar a vontade, ele já estará pronto.
Thiago estava sofrendo barbaridade em mãos daquele bando. Três dias já fazia que ali se encontrava prisioneiro e foi então que o chefe decidiu.
- Chega! Enjoei – confessou – coloquem-no do jeito que está na vã. Vamos matá-lo e deixá-lo no meio do mato para que os urubus se fartem.
Thiago mal podia andar. Fora levado para o matagal conforme resolveu o chamado chefe, lá, recebeu dois tiros. Após os disparos, o bando entrou na van e se mandou dali. Só que os tiros dados chamaram a atenção de um jovem casal que passeava numa trilha perto. O casal buscou orientar-se de onde teriam vindos os disparos das balas e saíram a caminhar por dentro do mato. Adiante localizaram o corpo de Thiago, desnudo e baleado.
- Veja, Pollyanna – disse o rapaz – ele ainda está vivo. Fique aqui com ele, vou buscar socorro.
Poucos minutos depois, chegavam ao local vários carros da polícia e um helicóptero que socorreu Thiago e o levou para um hospital, imediatamente.
- Senhor Ayala, aqui quem fala é o delegado Pontes. Localizamos seu filho, está no hospital do Estado. Neste instante encontra-se na sala de cirurgia, levou dois balaços no ombro. Ficou constatado de que foi vítima de brutal estupro. O senhor necessitará, logo que se restabeleça da cirurgia, levá-lo a um tratamento psicológico. O garoto está num estado deplorável.
- Obrigado, Dr. Pontes, estou indo neste instante para o hospital com minha esposa – agradeceu senhor Ayala.
Imediatamente depois que ligou para senhor Ayala, o delegado Pontes recebeu um telefonema de um dos seus policiais.
- Dr. Pontes, identificou-se o bando de garotos marginais, graças ao casal que socorreu Thiago Carrillos. Eles haviam tomado de conta de uma propriedade abandonada no quilômetro 180 da rodovia Setentrional. O referido casal nos informou que há alguns dias percebera a presença de uma vã lá estacionada, pois, fazem trilha com frequência. Forneceu-nos todas as pistas. Organizamo-nos e tentamos invadir o lugar, porém eles nos notaram e fomos recebidos a bala. Houve intenso tiroteio e o resultado final é trágico: perdemos um colega com uma bala na cabeça, mas também os 9 fugitivos foram todos mortos. Não houve como não matá-los, eles estavam fortemente armados. Não sei como houveram de conseguir tantas armas e munições. Isto é tudo. A imprensa está em cima, querem detalhes de toda nossa operação.
- Nada falem à imprensa, por enquanto. Eu mesmo marcarei uma entrevista coletiva e os deixarei informados de tudo. – Pediu Dr. Pontes.
- Suas ordens serão cumpridas – disse o policial e desligou o telefone.
FIM DO CAPÍTULO III

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Devotos do Amor - cap. II

DEVOTOS DO AMOR
CAPÍTULO II
Contas a Pagar
Thiago era dorminhoco. Se não fosse o soar do alarme no celular, até poderia perder o horário. Levantou-se, cuidou-se, tomou o desjejum e foi para a escola. Ainda bem que as chuvas deram uma trégua. Ele ia à escola de metrô, separado do irmão. Ambos não se entendiam mesmo. Após as três primeiras aulas, finalmente veio o intervalo. Estava ansioso para o encontro que marcara com Christian. Apressou os passos e para o local se dirigiu. O novo amigo chegou no mesmo instante.
- Ei, cara – falou Chris – que bom vê-lo pessoalmente! É bem mais bonito do que pela web cam.
- Oi! Mais uma vez obrigado. Você também, face a face é bem mais charmoso.
- Gracias! – agradeceu em espanhol para agradar a Thiago – vamos lanchar?
- Vamos – Thiago respondeu – estou mesmo “hungry!” – Disse em inglês, devolvendo a gentileza.
Ambos riram. Encaminharam-se até a cantina e saborearam seus lanches. Sentaram-se numa mesinha, ficando frente a frente.
- Vou precisar de sua ajuda – falou Chris – tenho uma prova de espanhol amanhã e sou péssimo na disciplina. Você me ajuda?
- Sim... mas, como faremos?
- Onde você mora é longe daqui?
- Moro no bairro Central, vou e venho de metrô todos os dias. E você, onde mora? – Thiago indagou.
- No bairro Leste. Não fica distante de sua casa, uma estação depois da que você desce para ir à sua residência. – Chris explicou.
- Verdade. Eu vou à sua casa ou você vem à minha? – Questionou Thiago.
- Tanto faz para mim. Façamos o seguinte: como é a primeira vez, você vem à minha casa. Terminamos as aulas ao meio dia, poderemos sair juntos e pegarmos o mesmo trem. Aguardo você às 14:30, está bem para você? – Propôs Chris.
- Certo, porém, como chegarei em sua casa?
- Eu espero por você na estação. – Combinou Chris.
O sinal havia tocado. Reinício das aulas. Na saída voltaram a encontrar-se e foram lado a lado, no mesmo trem. Às 14:30h exatos, Thiago desembarcava na estação do bairro Leste.
- Gostei – elogiou Chris – você foi de pontualidade britânica.
- Gosto de ser pontual em meus compromissos. – Asseverou Thiago.
Andaram um pouco e logo estavam em frente ao prédio em que Christian residia.
- Em que piso você mora? – Thiago perguntou.
- Na cobertura- respondeu Chris.
O apartamento no qual Christian habitava era muito luxuoso. Dirigiram-se a uma sala de estudos e logo Chris mostrou a ele suas dúvidas de espanhol. Estudaram até 17h e resolveram parar.
- É o suficiente – disse Chris – vamos para cozinha fazer um lanche.
- Está gostoso? Quer mais? – Chris indagou.
- Não, obrigado, já estou satisfeito.
- Venha – falou Chris – venha conhecer meu quarto.
Thiago ficou encantado com o quarto do amigo. Havia de tudo nele, muito distinto do seu.
- Seu quarto é um luxo – afirmou Thiago – ficarei envergonhado de levá-lo à minha casa e mostrar-lhe o meu.
- Ah... deixa de bobagens. Isto que você está vendo é somente a vantagem de ser filho único. Tudo de meus pais é para mim, não tenho irmãos para dividir as coisas.
- Grande vantagem – concordou Thiago – Seus pais fazem o quê?
- Minha mãe é dentista, trabalha o dia inteiro; meu pai é gerente de uma agência de um banco americano. – Respondeu Chris – E os seus, o que fazem?
- Puxa! Estou atônito com tanta coincidência entre nós – explicou Thiago – minha mãe também é dentista e meu pai é gerente do banco X. Não é coincidência demais?
- Pensando bem... é sim! Será que nossos pais não se conhecem? – aventurou Chris.
- Não duvido de mais nada. – Thiago afirmou – é estrondoso como as coisas se combinam entre nós.
- No mínimo é interessante – Chris concordou – e estou adorando estas coincidências.
- Por que está adorando? – Questionou Thiago.
- Na verdade, eu sempre quis ter um irmão, vivo muito só, apesar de gostar, como disse, porque tudo é feito pelos meus pais apenas em meu benefício. E eu estou desvendando em você o irmão que eu gostaria de ter... – Chris confessou.
- Eu fico assim meio sem graça – falou Thiago – lá em minha casa vivemos bem, não nos falta nada, porém você é de família riquíssima.
- Não vamos misturar as coisas – propôs Chris – Sejamos amigos através do elo dos nossos sentimentos, não permitamos que o que for material nos importune.
- Fica bem assim – Thiago colocou – uma amizade verdadeira não se envolve com bens materiais. Você conseguiu compreender o que passei para você de espanhol?
- Não tenho mais dúvidas, todas foram sanadas. E você, precisa de ajuda em inglês? –Chris perguntou.
- “No, thanks, I do not need. I can speak English very well...” ( não, obrigado, eu não necessito. Eu posso falar inglês muito bem...) – Thiago respondeu.
- Você é fluente em inglês? – Chris quis saber – nem me disse nada...
- Faço curso de inglês desde os 7 anos. Estou no último estágio do avançado, este ano eu concluo – Thiago explicou – Meu irmão também, estuda inglês desde os 7 anos.
- Eu preciso estudar espanhol – afirmou Chris – pois, pelo fato de meus pais serem ingleses, eu domino a língua e eles só falam comigo em inglês... Que tal você ensinar-me espanhol?
- Podemos pensar no assunto - Relatou Thiago – mas agora preciso ir-me, tenho de estar em casa na hora do jantar, meus pais exigem todos à mesa durante as refeições.
- Valeu! – agradeceu Chris – como posso agradecer? – Quis saber.
- Apertando minha mão.
Despediram-se. Thiago voltou às pressas para casa, teria de chegar por causa das fofocas de Nicholas, visto que fora à casa de Chris sem fazer a devida comunicação. Ainda bem que entrou na residência antes dos genitores, no entanto Nicholas estava na sala e não deixou escapar a oportunidade de tirar sarro com a cara do irmão.
- Ué... – disse Nicholas – pensei que você estivesse em seu quarto... aposto que nem disse aos nossos pais que iria sair...
Thiago fechou a cara e não deu resposta, apenas apontou o dedo em direção a Nicholas.
Afinal os pais chegaram e se prepararam para o jantar. Durante a refeição, Nicholas não deixou passar em branco a novidade.
- Vocês sabiam que Thiago passou a tarde inteirinha fora de casa? – Entregou Nicholas aos pais.
Senhor Ayala perguntou a Thiago.
- É verdade o que seu irmão está a dizer, Thiago?
- Sim, pai, é verdade.
- Por que não nos comunicou? – Questionou o genitor.
- Porque foi uma coisa assim de repente e o senhor nem minha mãe gostam de receber ligações em horário de trabalho. Desculpa!
- Onde esteve?
- Em casa de um amigo da escola, no bairro Leste. Ele precisava de algumas explicações de espanhol e eu fui ajudá-lo, já que amanhã ele terá prova. – Thiago tentou justificar.
- Quando terminar a janta vá para seu quarto – ordenou senhor Ayala – está de castigo. Duas semanas sem computador e sem sair de casa, nem mesmo para ir à praça para conversar com seus amigos. Só sai para ir à escola e retorna...
- Mas... meu pai...
- Não aceito insatisfações, está decidido.
Nicholas queria rir, mas conseguiu controlar-se. Estava feliz, o irmão de castigo, duas semanas sem computador, duas semanas sem ir até a praça brincar e conversar com os amigos. Estava de peito cheio...
Thiago mais nada disse, simplesmente obedeceu. Foi para o quarto conforme a ordem recebida. Deitou-se e adormeceu. Ficou com ódio de Nicholas: “infame, traidor...Você me paga!” Thiago adormeceu pensando desta forma.
Por volta de 22 horas despertou. Foi ao banheiro e saiu do quarto, dando uma volta pelo apartamento. Tudo estava apagado, todos estavam em seus aposentos, provavelmente dormindo. Entretanto ele observou que o quarto de Nicholas estava aceso e não havia ruído vindo da parte de dentro. Imaginando que o irmão houvesse adormecido e esquecido a luz acesa, lentamente abriu a porta e entrou, mas... nem sinal de Nicholas. O que estaria acontecendo? Devagar vasculhou todo o ambiente e... nada! Ouviu alguns gemidos vindos da suíte e, na ponta dos pés, aproximou-se. Tomou um susto com o que viu, porém nada disse. Do mesmo jeito que entrara na alcova saiu e foi bater à porta do quarto do pai. Senhor Ayala atendeu.
- O que você quer? – Indagou – Ainda bem que eu não estava dormindo.
- Venha ver com seus próprios olhos, meu pai – afirmou Thiago – é bom que veja para depois Nicholas não argumentar que estou a inventar coisas.
Senhor Ayala o acompanhou até o quarto do irmão. Chegando à porta do banheiro, senhor Ayala pegou Nicholas no flagra.
- Muito bonito, Nicholas – reclamou – do jeito que está venha cá.
Nicholas estava nu em pelo e masturbava-se. Senhor Ayala pegou um cinto do próprio Nicholas e deu-lhe uma sova, uma sova bem dada que certamente o marcaria para o restante de sua vida.
- Isto é para você aprender a não praticar mais o que fazia – Disse senhor Ayala.
Quando concluiu a sova, afirmou:
- Dois meses sem computador. Dois meses sem pôr os pés na rua, menos para ir à escola e dois meses sem ver televisão.
Senhor Ayala voltou para o seu dormitório, batendo a porta. Thiago tinha lágrimas nos olhos. Apesar de não se entender com o irmão, achou muito severo o castigo imposto a Nicholas.
- Sacanagem! – disse Nicholas – foi você que me entregou, não foi?
- Você queria que eu fizesse o quê? – Perguntou Thiago – Você me entregou na janta, por sua causa também estou de castigo, só que apenas por duas semanas, enquanto você... por dois meses! Bem feito! Para você aprender a não desejar o que é de ruim para mim.
- Não se esqueça de que estou em sua cola – ameaçou Nicholas – não deixe brecha, pois se descubro, eu o entrego outra vez.
Thiago não disse mais nada. Apontou-lhe o dedo e se retirou para seus aposentos. Mal entrou, seu celular tocou. Era Christian.
- Não posso falar agora – justificou – o clima aqui está pesado. Amanhã no intervalo conto tudo para você. Boa noite, meu irmão!
Desligou. Do outro da linha, Christian sorriu, feliz...
FIM DO CAPÍTULO II

terça-feira, 6 de maio de 2014

Devotos do Amor - cap.I

SERIADO
DEVOTOS DO AMOR
CAPÍTULO I
Pedido de Amizade
O inverno estava forte aquele ano. Chuva torrencial seguida por relâmpagos e trovoadas fazia com que as pessoas ficassem em casa. Para Thiago Castillos não era diferente. Sem poder pôr os pés na rua, ficara privado de passear, de ir até a praça do bairro onde todas as noites papeava com os amigos. Eram assuntos triviais... Dialogavam as novidades do dia, falavam e comentavam sobre temas de televisão, esportes, garotas, estudos... Thiago era um jovem de 15 anos, filho de espanhóis que escolheram o Brasil para residirem. Quando os pais aqui chegaram, recém-casados, Thiago ainda nem sonhara nascer, só mais tarde, 5 anos após. Depois dele, viera Nicholas, dois anos mais jovem e, por aí, os genitores enceraram a produção. Thiago era magro, possuía cabelos aloirados, olhos azuis e tinha uma pele alvíssima. Estava entediado com o isolamento e, assim, resolvera ligar o computador e entrar nas redes sociais favoritas. Chegou à conclusão que os conhecidos haviam ido dormir cedo, pois, a chuva não cessara. Já ia desligando a máquina quando recebeu um pedido de amizade.
Olhou, viu de quem se tratava e ficou em dúvida se aceitava ou não, porque o requerente não era conhecido. Pensou novamente e decidiu adicionar o novo amigo que, por sinal, estava on line.
- Olá, meu nome é Christian, pode chamar-me Chris. Tenho a mesma idade que a sua: 15 anos. Passeando aqui pelo site, deparei-me com seu perfil e o achei interessante. Penso que poderíamos desenvolver um bom nível de amizade. Muito obrigado por receber-me, mesmo sem ter ideia de quem se trata.
- Tudo bem, Chris. Confesso a você que fiquei na dúvida se o adicionava ou não, porém resolvi dar uma chance a mim mesmo, espacialmente esta noite, porque chove a cântaros aqui em minha cidade e eu buscava realmente amigos para conversar.
- Aqui em minha cidade também chove demais... Então o meu tiro foi certeiro! Que bom! Vi em seu perfil que você é brasileiro, mas filho de espanhóis.
- Isso mesmo. E você?
- Meus pais também não são brasileiros, contudo não são da Espanha, eles nasceram em Londres, Inglaterra. Quando chegaram aqui, eu ainda não houvera nascido, o que só ocorreria cinco anos mais tarde. Sou filho único e só agora que eles buscam “fabricar” uma irmãozinho para mim.
- Ei, Chris, como você é?
- Tanto quanto você, sou muito branco. Tanto quanto você, tenho olhos azuis e cabelos loiros, meço 1,70 cm de altura, sou magro, mas de uma magreza aceitável, sem deixar as costelas à mostra. KKKKKKKKKKKKK... e você, é exatamente como está na foto?
- Exatamente como estou na foto que é recente, tirei-a ontem com minha própria web cam.
- Ah... – pensou Chris – você tem web cam. Eu também tenho, vamos ligá-las?
- Se assim você deseja...
Ligaram a cam.
- Hum... Assim fica melhor, você não acha? – Indagou Chris.
- Certamente – respondeu Thiago – Gostei, não mentiu, é perfeitamente como se descreveu.
- Evidente. Por que iria mentir? Sou um cara que priva pela sinceridade, detesto enroladas. Mas... você é um encanto!
- Eu? – admirou-se Thiago – como assim sou um encanto?
- Estou querendo dizer que você é boa pinta, é um cara bonito, muito bonito mesmo...- respondeu Chris.
- Ah... muito obrigado! Você igualmente é um garoto bonito, deve ter uma porção de namoradas e pretendentes... Disse Thiago.
- Tenho nada, cara. Estou solteiro, agora confesso que pretendentes tenho e muita gente. Você tem namorada e pretendentes?
- Namorada, não a tenho... Por sinal, nunca a tive, todavia pretendentes há bastantes, mas... não fazem meu tipo.; Thiago respondeu.
- E qual é seu tipo? – Questionou Chris.
- Sei lá... Ainda nem pensei nisto, no entanto creio que alguém que possua as mesmas características minhas, de preferência...
- Loiras e de olhos azuis... Sabe, são também meu tipo predileto.
- Então estamos empatados – afirmou Thiago.
- Realmente, estamos empatados. Diga-me onde mora e estuda, se puder, claro... Pediu Chris.
- Moro na cidade D e estudo no Montalvan...
- Eu não acredito no que estou ouvindo – Que coincidência, cara! Eu também moro na cidade D e, igualmente, estudo no Montalvan... – Disse Chris.
- Como pode? Nunca nos vimos na escola. – Disse Thiago.
- Você se esquece de que o Montalvan é um mundo... Há vários blocos, cinco coordenações, mais de 100 salas de aula... – Completou Chris.
- É verdade – Thiago concordou – Que série você faz? Em que bloco estuda? Quem é seu coordenador?
- Danou-se! Quanta pergunta de uma só vez! - Christian espantou-se – Responderei por etapas: 1) Eu curso o 1º Médio; 2) Frequento o bloco 4; 3) Meu coordenador é Moisés... Responda-me as mesmas questões, por favor.
- kkkkkkkkkkkkkkk – Thiago ria. 1) Faço o 9º. Ano; 2) Frequento o bloco 11; 3) Meu coordenador é Ari.
- O homossexual? – Interrogou Chris.
- Ele mesmo – respondeu Thiago – bem, se ele é homossexual eu não sei, nunca vi nada.
- Nem eu, mas é o que falam...
- Ah, amigo, se formos prestar atenção a tudo o que dizem naquela escola...
- Concordo com você – enfatizou Chris – bando de mexeriqueiros aquela gente é... Por que tendo a mesma idade que a minha, você está um ano atrás?
- Porque entrei na escola um ano depois da época que deveria ter entrado... então, atrasei-me. Justificou Thiago.
- Estará na escola amanhã? – Quis saber Chris.
- Com certeza, nunca falto aulas. E você?
- Estarei lá também. Vamos combinar para nos vermos no intervalo. Qual é seu intervalo, o primeiro ou o segundo?
- O segundo – Thiago disse,
- Que bom! O meu, idem.
- Fica combinado, assim. No segundo intervalo em frente à biblioteca. – Confirmou Thiago.
- Perfeito. Oi, já vai sair?
- Estou com sono – explicou Thiago – mas posso ficar mais um pouco.
- Legal – Chris gostou – Estou sem sono, não dormirei nem tão cedo.
- Este seu computador aí, fica onde? – Thiago perguntou.
- Em meu quarto. Por quê?
- Curiosidade, apenas. O meu fica no quarto em que durmo. Eu tenho um irmão, Nicholas, tem 13 anos e também estuda lá no Montalvan, só que no 7º. Ano. – Thiago falou.
- Seu irmão dorme no mesmo quarto que você?
-Não – retrucou Thiago – aqui cada qual tem seu lugar, cada qual tem o que é seu.
- Entendi – frisou Chris – melhor assim, não é? Pelo menos se goza de um pouco mais de privacidade.
- Isso mesmo, até porque não somos unidos – Falou Thiago.
- Por que vocês vivem brigando?
- Somos duas cabeças diferentes, dois mundos totalmente distintos.
- Há segredos entre vocês, então... – Colocou Chris.
- Todos! – respondeu Thiago – ele não confia em mim, como eu também não confio nele...
- Engraçado... bem que vocês poderiam ser unidos...
- Não dá! Deixa ele quieto, não quero que ele seja seu amigo...
- Por que? – Inquiriu Chris.
- Porque ele vai querer provar por a+b que pode ser melhor amigo para você do que eu...
- Acho difícil – Chris disse – primeiro, ele é mais novo, tem um pensar mais infantil, não se encaixaria comigo; depois, além de você ter a mesma idade que a minha... eu gostei bastante de você!
- Obrigado! – Thiago agradeceu – a recíproca é verdadeira. Olha, agora positivamente não estou me aguentando de tanto sono. Amanhã nos falaremos – face a face!
- Está certo, respeito seu sono. Até amanhã, meu novo amigo. – Despediu-se Chris.
- Até, dorme bem!
Thiago Castillos desligou o computador. Estava alegre, apesar da chuva, afinal, fazia tempo que não tinha um amigo assim e parece que havia conquistado um. Apagou a luz, deitou-se, ressonou...
FIM DO CAPÍTULO I

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Contatos - Parte- V - Epílogo

CONTATOS
PARTE V
EPÍLOGO
Os trigêmeos eram sucesso absoluto. Caio, ator, tinha como responsável por si, sua irmã Norma. Era ela quem cuidava dos seus interesses profissionais. Kléber, o jogador, tinha em seu irmão Wagner seu empresário e procurador, enquanto Danilo, o cantor, era empresariado por Sílvio e Geraldo, irmãos. Estavam distantes um do outro, mas sempre buscavam se comunicar-se entre si, pois, eram ligadíssimos, não só entre eles mesmos, porém à mãe, Emília. Danilo morava com a genitora, era o único que Emília havia por perto, já que os outros dois residiam fora. Nas férias de fim de ano estavam todos juntos, a família inteira se reunia na antiga residência. O momento era de festejos natalinos e todos já haviam chegado. Neste dia, à noite, Danilo faria um “show” num grande clube da cidade e todos foram prestigiá-lo.
Na hora do espetáculo, Danilo chamara ao palco os dois irmãos e eles se misturavam e como estavam vestidos igualmente, ficava impossível até para os familiares dizerem quem é quem. O público vibrava, ovacionava, gritava e muitos iam aos prantos, porque queriam porque queriam chegar próximo aos ídolos. No meio do “show” a segurança deu um vacilo e um garoto de 14 anos invadiu o palco. Agarrou-se a Danilo, beijava-o sem cessar e deu o maior trabalho para que o afastassem. Quando todos pensavam que tudo houvesse se resolvido, eis que o mesmo garoto outra vez invadiu o palco e novamente se agarra ao ídolo. Danilo o abraçou, pediu à segurança que o deixassem e colocou o invasor num lugar especial, teria uma conversa com ele nos camarins. Quando o espetáculo terminou, Danilo o levou até os camarins e se iniciou um diálogo.
- Como é seu nome? – Perguntou.
- Chamo-me George – respondeu o intruso fã.
- Por que você invadiu o palco desta forma, até atrapalhando a apresentação? – Novamente Danilo interrogou.
- Ah... cara! Você é meu maior ídolo, sou louco por você, adoro suas canções...- respondeu George.
- Qual sua idade? – Outra vez Danilo questionou.
- Amanhã completo 15 anos – disse – um ano menos que você.
- Está sempre presente em meus “shows”?
- Claro, nunca perdi um, é sério!
- Eu acredito – disse Danilo – como presente de aniversário, levá-lo-ei comigo hoje para minha casa. Passará o dia amanhã em minha companhia e na dos meus irmãos. Quer?
- Nossa! – espantou-se o garoto – Este é o melhor presente que eu poderia ganhar. Quero sim, posso sim... – concluiu, chorando de alegria.
- Como comunicar aos seus pais? – Indagou Danilo.
- Se você permitir, quando chegarmos à sua casa eu ligo para eles avisando.
- Eu permito – confirmou Danilo – Venha, acompanhe-me.
George o seguiu com o braço sobre o ombro do ídolo. Certamente, naquele instante, não se lembrava do resto do mundo. Durante a viagem até a residência, Danilo conversou com George e pediu a ele.
- Por favor, veja o que estou a fazer por você, só peço que nunca diga aos outros onde fica minha casa, caso contrário nunca mais o receberei, entendido?
- Entendido. Pode ficar certo de que guardarei este segredo. – Prometeu George.
George foi apresentado aos outros irmãos de Danilo: Caio e Kléber. Estavam todos juntos no terraço da residência.
- Nossa! Como vocês são lindos! – Elogiou George – mas eu sou homem, viu?
Todos riram.
- Posso telefonar para minha casa e comunicar aos meus pais? – George pediu.
- Tome, disse Danilo, ligue aqui do meu celular.
George fez a ligação e seus pais ficaram contentes porque o filho estava a realizar um sonho.
- Amanhã, minha mãe, ele manda o motorista deixar-me em casa. Pode ficar tranquila. Até!
- E a? – perguntou Danilo – eles se aborreceram?
- Que nada! Compreenderam que é um presente de aniversário. – Justificou George.
Danilo e os irmãos levaram George até a cozinha e, lá, apresentaram ele à Emília.
- George – disse Danilo – esta é nossa mãe.
- Olá, senhora! Boa noite!
- Oi, tudo bem? Quem é este garoto tão lindo, Danilo?
- É um fã, mainha. Aquele que invadiu o palco por duas vezes. Amanhã é o aniversário de 15 anos dele, então resolvi presenteá-lo, deixando-o passar esta noite conosco até a tarde do dia seguinte. – Relatou Danilo.
- Fez muito bem, mais um amigo que você ganhou, não é...?
- George, senhora...
- Emília, sua amiga!
Apertaram as mãos e deram um forte abraço.
- Está com fome, George? – Perguntou Kléber.
- Para falar a verdade, estou. O que vamos comer?
Foi Caio quem respondeu.
- Macarronada com atum. Gosta?
- Adoro. E para beber?
Novamente Caio respondeu.
- Qualquer refrigerante que você escolha, ou se preferir, um delicioso suco de abacaxi.
- Prefiro o suco de abacaxi – colocou George – refrigerante engorda.
E comeram até fartarem-se. Emília despediu-se da garotada, estava cansada e com sono.
- Até amanhã, garotos, durmam bem.
Todos se dirigiram até Emília e a beijaram. A meninada ficou a sós, então Kléber teve uma ideia.
- Você gosta de piscina, George? Sabe nadar?
- Sim, gosto de piscina e sei nadar muito bem, só não posso tomar banho..
- Por que? – Indagou Caio.
- Porque não trouxe comigo roupa adequada. – Respondeu George.
- Não está de cueca? – Interrogou Caio, novamente.
- Estou...
- Então pronto, resolvido o problema.
Saíram da cozinha e se foram para o quarto onde os garotos dormiam. Lá todos se despiram e ficaram de cuecas e, assim vestidos, se dirigiram à piscina.
- Minha cueca é branca – disse George – nem me lembrei disso, deve estar aparecendo tudo...
- Para ser sincero, está – confirmou Kléber – porém não prestamos atenção a isso, pode tomar seu banho de piscina tranquilo.
Positivamente fora uma noite feliz no calendário de George. Além de conseguir encontrar-se ao lado de seus ídolos, ainda os tinha ali perto de si e na maior intimidade. Estava no mundo da lua e realmente ficaram todos totalmente desnudos quando deram por encerrado o banho e foram para o banheiro tomar banho e tirar o cloro do cabelo. George ficou meio constrangido, mas como os três estavam sem nada, logo ficou também. E o banho foi uma grande anarquia, um jogando água no outro. Depois deram a ele uma toalha e um caução emprestado para dormir. A cueca molhada, ele a deixou estendida no banheiro para secar.
Eram duas e meia da manhã quando se deitaram, contudo o sono estava longe de chegar e ficaram a papear. Dialogaram sobre alguns assuntos até que Caio e Kléber finalmente dormiram e George e Danilo ficaram ainda acordados. Danilo pediu.
- Vem para cá, fica aqui na mesma cama, assim podemos conversar e não acordamos quem está a dormir.
George não cabia em si de contentamento.
- Está feliz com o presente que recebeu de nós? - Danilo perguntou.
- Então... – Respondeu George.
- Você usa relógio? – De novo Danilo interrogou.
- Uso, mas o meu roubaram e ainda não pude comprar outro.
- Amanhã vai ganhar um novinho em folha- afirmou Danilo – tenho aí guardado um ainda na caixa, nem usei ainda. Darei de presente pelo seu aniversário.
- Sério? – Emocionou-se George, sem acreditar direito no que ouvia.
- Sim. Logo cedo o darei a você – Danilo confirmou – Diga-me uma coisa: por que gosta tanto de mim assim?
- Difícil de responder – explicou George – Para o amor não há explicação e eu o amo muito como meu ídolo que é... amor de fã!
- Eu sei, agora vamos dormir que já estou com sono.
E adormeceram. Acordaram-se por volta das 9 horas. Arrumaram-se e foram tomar o café da manhã. Foi um dia inesquecível para George. No final da tarde, Danilo pediu ao motorista que o deixasse em casa.
- Obrigado por tudo, Danilo. Agora somos amigos. Adorei o relógio.
Beijou Danilo no rosto e foi embora, até parecia que havia ganho um prêmio da loteria.
- Até – disse Danilo – Feliz Natal para você e seus familiares.
Após os festejos de final de ano, os trigêmeos voltariam a separar-se, cada qual seguiria seu destino, só que nos primeiros dias janeiro, antes de Caio e Kléber viajarem, Emília sentiu-se mal e nem houve tempo para socorrê-la. Um colapso fulminante a levou para os céus, onde certamente encontrar-se-ia com Vinícius, o grande amor de sua vida.
Os trigêmeos ficaram tristes, assim como todos os membros daquela família. Suas vidas seguiriam adiante e todos necessitavam viver.
Cada vez mais Caio, Kléber e Danilo faziam sucesso, cada vez mais ficavam mais ricos e, assim,
seguiam os dias futuros de suas existências: ora casando, ora separando, ora casando outra vez...
Por ironia do destino, nunca poderiam ser pais, pois, coincidentemente, os três eram estéreis.
FIM

domingo, 4 de maio de 2014

Contatos - Parte IV

CONTATOS
Parte IV
Dois meses adiante estavam os noivos no Palácio da Justiça perante o juiz de paz. A cerimônia foi simples e rápida e contou apenas com a presença da família dos nubentes. Até Amélia já bastante melhor da saúde compareceu ao casamento do filho, assim comentando ao marido:
- Sabe, Ananias, pode parecer loucura, todavia acredito que se amem muito e que serão assaz felizes.
- Também penso assim, Amélia. Vai nos fazer falta nosso filho, mas continua sendo nosso único rebento e vai morar perto, não em outra cidade. – Disse Ananias Vila Real.
Os recém-casados viajaram em lua de mel. Estavam felizes e nem parecia haver entre eles a enfadonha e preconceituosa diferença de idades. Passaram uma semana fora e retornaram para a vida cotidiana. Vinícius agora ia à escola junto com os enteados e, se já eram amigos, mais amigos se tornavam a cada dia que se seguia.
Três meses após o consórcio houve uma tarde de grande alegria em casa de Emília Régis. Era um sábado e, à hora do almoço, ela comunicou a todos de uma só vez, incluindo aí o marido que desconhecia a novidade.
- Gente, tenho uma novidade a relatar. – Falou Emília - Estou grávida!
A felicidade era enorme. Vinícius encheu os olhos d’água e seus enteados, idem.
- Que boa notícia, mãe! – Disse Ralph – Isto merece uma comemoração!
E abriu uma garrafa de vinho branco e todos ali partilharam deste momento de profundo contentamento. Ainda bastante emocionado, Vinícius Matheus Vila Real ligou para a casa dos pais, dando a notícia.
- Que felicidade, meu filho! – parabenizou Ananias – Hoje irei aí com sua mãe visitá-los, logo mais à noite.
- Venham – Convidou Vinícius – Serão muito bem-vindos.
Ananias contou à Amélia e esta chorou tanto que parecia uma criança.
- Ah, Ananias, isto é uma alegria muito grande para o meu coração. – Colocou Amélia.
Neste mesmo dia, à noite, conforme anunciaram, Ananias Vila Real e sua esposa foram visitar o filho e sua consorte, desejando aos mesmos anos e anos de muita felicidade.
Os meses seguiam e a gravidez de Emília era complicada, muito difícil, bastante diferente das anteriores que tivera. Certo dia, de acordo com o médico, foram à ultrassonografia e o resultado deixou a todos contentes, porém, ao mesmo tempo, apreensivos.
- A senhora será mãe de trigêmeos, dona Emília – Confirmou o médico – Meus parabéns!
Emília parecia não crer no que ouvira...
- Mãe de três de uma só vez? – Admirou-se – Olha só, Vinícius, o que você fez comigo. Três – Três meninos – Trigêmeos... Será que vou suportar?
- Claro que vai – disse o pai – Isto é bênção do Altíssimo.
A família inteira tomou conhecimento do resultado dos exames. Realmente ficaram apreensivos devido à idade da mãe, não por problemas financeiros que eles não tinham. O tempo avançava e chegou o dia do parto. Pela primeira vez Emília era submetida a uma cesariana e tudo deu certo, a cirurgia fora um sucesso em todos os aspectos. Os bebês nasceram saudáveis, a mãe passava bem e o pai era todo felicidades. O próprio Vinícius deu nomes aos recém-chegados: Caio, Kléber e Danilo. Emília teria de desdobrar-se para amamentar os três... e como eram gulosos!
De certa forma, foi bom para Emília a cesariana, o médico fez ligação e disse-lhe que não poderia mais engravidar, seu útero, certamente, não suportaria uma nova gravidez e sua vida poderia correr riscos.
O que se pode chamar felicidade, era exatamente isso o que havia no lar de Emília e Vinícius. Eles se amavam cada vez mais e união com os outros filhos de Emília estava sedimentada.
Os anos correram. Os trigêmeos estavam com 4 anos, Vinícius chegara aos 20, Emília aos 40.
Só que Vinícius adquirira uma doença perigosa e estava muito mal no hospital, era paciente da UTI. Eram poucas suas chances de sobrevivência, seu organismo não respondia ao estímulo dos medicamentos. Ele era portador de Leptospirose, a doença provocada pela urina do rato. Emília estava inconsolável, os enteados, idem e os pais do doente, desesperados. Amélia havia conseguido a cura para seus males, no entanto era seu filho que estava a partir para o outro mundo. Estava triste e arrasada. Ananias não parava de prantear: era seu único filho!
A enfermeira trouxe a notícia:
- Lamento informar, mas o paciente Vinícius Matheus acaba de falecer.
A angústia e o sofrimento foram cruéis. Ninguém queria aceitar, momento muito difícil para todos. No velório, realizado na capela do próprio hospital, houve intenso inconformismo e dor. Aos gritos, Emília derramava suas lágrimas pela perda do segundo marido.
- Não! Que mundo ingrato! Que Deus é este que deixa ir embora uma criatura tão linda, tão cheia de vida! Que desgraça é esta vida! – Gritava e gritava Emília.
O sepultamento foi atroz, todos choravam, soluçavam, gritavam, inconformados com a perda.
Mais uma vez o tempo passava. Ele, o tempo, nada melhor que ele para enterrarmos nossas mágoas e nossas dores. Emília não casaria mais. Sua casa que antes só conhecera alegria, agora vivia num mutismo de dar dó.
Dez anos adiante. Os trigêmeos estavam com 14 anos e muito pouco se lembravam do pai. Os outros filhos de Emília, quase todos casados, bem casados, diga-se de passagem. Só restavam
em casa do primeiro matrimônio: Elaine, Samuel e Sandra, mesmo assim, estavam noivos e de casamentos marcados. Emília via nos trigêmeos a imagem de Vinícius e sempre conversava com eles sobre o pai, precocemente falecido.
- Filhos meus, fui casada duas vezes. Fui feliz em meu primeiro matrimônio, todavia o que o amor verdadeiramente é, isso só descobri com o pai de vocês. Era uma criança, ele só tinha 16 anos quando nos casamos, era mais filho meu do que marido. Lindo, sensual, inteligente! Fui a única mulher da vida dele, jamais voltarei a amar alguém dessa forma, jamais!
- Pena que não tenhamos conhecido melhor nosso pai e com ele convivido – Lamentou-se Caio- mas temos você e isto é o que nos importa agora.
E os quatro choraram juntos. Essa passou a ser a tônica na vida de Emília.
Mais dois anos adiante. Emília contava 52 anos, os trigêmeos, 16. Os três eram dedicados à arte: Caio, excelente ator, entrou para a televisão e era sucesso absoluto; Kléber, excepcional jogador de futebol, um grande craque logo descoberto pelos times do exterior e levado para as categorias de base do Barcelona, na Espanha; Danilo, cantor. Danilo Vila Real, o jovem cantor teen que arrebatava multidões, tanto de garotas como de garotos. Era um fenômeno. Além de cantar, era exuberante músico, lidava com facilidade com o piano, teclado e todos os instrumentos de corda. Emília não se opôs à carreira de nenhum deles, todos orgulhos da família. Também eram paparicados pelos avós, pais de Vinícius, que apesar das idades um pouco avançadas, curtiam os netos como se curtissem ao próprio filho.
FIM DA PARTE IV

sábado, 3 de maio de 2014

Contatos - Parte III

CONTATOS
PARTE III
Os dias passaram sem novidades. Emília Régis estava disposta a tudo enfrentar para conseguir seus intentos. Havia localizado Ananias Vila Real em seu emprego e marcara com ele um horário. Precisava de falar-lhe com urgência. Não podia e nem queria esperar.
A secretária de Ananias Vila Real levou-a até o escritório do pai de Vinícius.
- Boa tarde, Sr. Ananias. Espero que tudo esteja bem e que sua esposa também esteja melhor.- Falou.
- Boa tarde, senhora Emília Régis! Que bons ventos a trazem aqui?
- Um assunto muito delicado, senhor Ananias. Espero sua compreensão.
- De que se trata? – Fez uma cara séria, como quem estava a esperar por uma bomba.
Emília fez várias preces mentalmente, ali estava a resolução de tudo quanto desejava. Tranquilamente foi dissertando os motivos que a levaram até ali e percebia, à mediada em que falava, que o rosto de seu ouvinte se contorcia de um lado para o outro como quem não estivesse a crer em tudo aquilo que ouvia. Emília concluiu sua narração e ficou à espera das palavras do futuro sogro.
- Absolutamente, senhora Emília, não sei o que dizer – frisou – tudo o que me disse me deixa chocado pelo fato de ser meu filho menor , só tem 16 anos e a senhora...
- 36, senhor Ananias, 36...
- Veja em que complicação a senhora me envolve. Sabia que posso processá-la por pedofilia?
- Sim, senhor Ananias, estou consciente disto, todavia como é intenso e imenso nosso sentimento em comum, preferi deixar tudo às claras, ao invés de sermos amantes às escondidas.
- A senhora é bastante corajosa, dona Emília e isto a livra de qualquer denúncia de minha parte.
- Então, senhor Ananias, posso contar com seu apoio?
- É difícil, senhora Emília, é bastante difícil pronunciar-me diante de um caso desta natureza. Se a senhora estivesse em meu lugar...
-Compreendo. Não é nada fácil, aliás, também tenho filhos na mesma idade do seu.
- O que é que a senhora propõe, senhora Emília?
- Proponho que o senhor o leve a um cartório e o emancipe, assim poderei com tranquilidade casar-me com ele sem maiores problemas.
- E o que direi à minha mulher? Já pensou em minha esposa? Amélia está muito doente, senhora Emília.
- Assim como vim até o senhor, irei até ela, sempre fomos boas amigas.- Disse Emília.
- Não quero problemas sobre este assunto, basta a saúde de Amélia para preocupar-me. Farei o que me pede, levarei Vinícius a um cartório, isso depois de conversarmos em família, posteriormente a senhora visita Amélia, já com tudo arranjado.
- Obrigada, senhor Ananias, isto me deixa muito feliz. Obrigada!
- Só uma questão, senhora Emília: seus filhos estão de acordo com esta união?
- Senhor Ananias, pode ficar tranquilo, meus filhos não serão obstáculos à nossa felicidade, eles adoram Vinícius.
Emília saiu do escritório de Ananias Vila Real com um sorriso nos lábios, estava felicíssima. Nada diria aos filhos por enquanto, primeiro aguardaria que em casa de Vinícius tudo se resolvesse.
Três dias depois estava em sua casa fazendo a sesta quando o telefone tocou. Era Ananias Vila Real e buscava falar com Emília Régis. Fora Wagner quem atendera ao telefone e avisou à mãe, em seus aposentos.
- Boa tarde, senhora Emília.
- Boa tarde, senhor Ananias. Alguma boa notícia sobre nossa última conversa?
- Vinícius Matheus Vila Real está emancipado, senhora Emília, pode marcar a data do casamento.
- Que boa notícia, senhor Ananias. E Amélia, como recebeu a notícia?
- Amélia lavou as mãos, disse que o que eu resolvesse, estaria também resolvido por ela.
- Graças a Deus! Não pretendo fazer festa, senhor Ananias, só o casamento civil mesmo e uma recepção em minha casa. É tudo!
- Melhor assim, senhora Emília, quanto menos alardearmos sobre isto, menos comentários e menos aborrecimentos.
- Combinarei com Vinícius uma data e, depois, comunicaremos a todos os familiares e aos amigos mais próximos.
- Está ótimo, senhora Emília, meus parabéns!
Emília Régis não cabia em si de felicidade. Mais uma vez no final de semana, Vinícius estava em sua casa trazido por Wagner e Sílvio. Coincidentemente Ralph veio também passar o final de semana em casa e na sexta-feira mesmo, logo após o jantar, reuniu todos na sala para fazer a comunicação. Vinícius suava frio, não sabia qual seria a reação dos amigos, futuros enteados.
- Vai, mãe, diga logo o que tem para revelar. – Pediu Sílvio.
- É, fica rodando muito e não vai direto ao assunto. O que será? – Indagou Geraldo.
- Preparem-se para uma bomba! A mãe de vocês vai casar novamente!
E foi uma bomba mesmo, só que ainda pela metade. O vozerio era estridente, foi necessário que Emília Régis falasse um pouco mais ríspida.
- Sei que faz pouco tempo da morte do pai de vocês, sei disso, porém para o amor não tem hora, nem lugar. Aconteceu, apaixonei-me outra vez e gostaria que vocês compartilhassem comigo desta minha alegria. – Colocou Emília.
- Sim, disse Ralph, é um direito que você tem. Ainda é jovem e merece ser feliz. Mas... quem será nosso padrasto?
- Aí é que está... Será o restante da bomba para vocês... Espero que o aceitem e o tenham sempre como um amigo. – Pediu Emília.
- Sim... porém de quem se trata? – Interrogou Norma, já nervosa.
- Trata-se de Vinícius Matheus Vila Real...
O espanto foi geral. Todos os queixos, todos os dentes despencaram no chão. Todos disseram a uma só voz:
- Quem???
- Pois é, gente, a vida tem dessas coisas. Vou ser mais mãe do que uma esposa, contudo vale a pena, porque o amo muito. E você, Vinícius, você me ama?
- Sim, Emília, eu a amo muito também! – Respondeu Vinícius.
Logo após a notícia, aqueles olhares desconfiados, bastante ciúme dos filhos de Emília, no entanto, logo absorveram a ideia e todos fizeram o que Emília pedira: compartilharam de sua alegria. Até festa fizeram, foram até pela madrugada dançando, ouvindo e curtindo músicas, contando piadas. Alegria geral!
Concluídos os festejos, todos se retiraram para seus aposentos e Vinícius foi para o quarto da futura esposa. Na alcova dos irmãos, a conversa entre eles.
- Será que nossa mãe pirou? – Inquiriu Sílvio.
- Eu bem que avisei a ela que Vinícius era um rapaz no dia em que ele se machucou e ela tratou dele. Para mim, tudo começou ali. – Frisou Wagner.
- Gente, sejamos inteligentes – pediu Ralph – É notório que há esdrúxula diferença de idade entre eles. Como bem disse nossa mãe, ela será até mais mãe dele do que esposa... Ocorre que Vinícius é gente nossa, é nosso amigo, fica bem mais fácil de beber deste cálice, melhor do que ser um velho rabugento, vocês não concordam comigo?
- Concordo com Ralph – disse Geraldo – Melhor festejarmos, pois, nada impedirá este enlace matrimonial.
FIM DA PARTE III

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Contatos - Parte II

CONTATOS
Parte II
Após o jantar, as crianças foram para a sala de som onde ficaram a jogar videogame. Até fizeram um campeonato entre eles do qual Sandra foi a ganhadora.
-Ih...Eu sou imbatível nisso. Cambada de burros! – Festejava a garota.
Tudo era brincadeira... A única que não participara dos jogos foi Norma, pois, fora esperar o namorado no terraço.
- Você pode ter ganho hoje porque Ralph esteve ausente – disse Samuel – quando ele estiver jogando, duvido você ganhar... duvido!
E ficaram a brincar até 11 horas, momento em que o sono chegou e arrastou todos para a cama. Norma também despediu o namorado e retirou-se para seu quarto.
A noite estava quente, um calor terrível. Embora nada sentisse por causa do ar-condicionado, Emília Régis não conseguira conciliar o sono. Virava de um lado para o outro e nada de dormir. Cansada de tanto tentar, veio para o terraço pegar um pouco de ar fresco, talvez ali o sono chegasse mais rápido, contudo bem que ela sabia o motivo da insônia... Um pensamento não a abandonava, ela centralizara insistentemente a nudez de Vinícius à sua mente, daí toda a sua perturbação. Estava aflita com suas próprias reflexões: “Credo, ele é apenas uma criança... Isto não pode estar ocorrendo comigo, não pode...”
Para perturbar ainda mais sua mente, eis que Vinícius, igualmente com insônia, surge de súbito no terraço, apenas vestido de cueca e nu da cintura para cima.
- Com insônia, Vinícius? – perguntou Emília.
- Sim, dona Emília, não consigo pregar os olhos – respondeu .
- O que está acontecendo? O que o fez perder o sono? – Emília indagou, curiosamente.
- Não sei. – mentiu Vinícius – De vez em quando isso acontece comigo. E a senhora, por que está com insônia?
- Pelo mesmo motivo que o seu: não sei! – mentiu igualmente.
Vinícius sentou-se numa cadeira bem em frente à que Emília estava e cruzou as pernas sobre o assento.
- Acho que temos a mesma insônia – aventurou Vinícius – provavelmente o mesmo motivo nos rouba o sono.
- Será? – Interrogou Emília – Acho difícil esta coincidência.
- Que é difícil... é! Mas não impossível, tudo é provável nesta vida, assim eu penso. – Falou Vinícius.
- Concordo com você – às vezes – porém, nem sempre. Que idade você tem mesmo, Vinícius?
- Dezesseis, partindo para os dezessete.
- Idade boa esta. – frisou Emília.
- Posso deitar-me ali naquela rede? – Vinícius perguntou.
- Pode, claro. Por que não? Fique à vontade, você está em casa. – Retrucou Emília.
- Obrigado! – O garoto agradeceu.
Dirigiu-se até a rede, ficou a balançar-se, porém nada de o sono chegar.
- É, o sono hoje está de covardia comigo – Vinícius reclamou – Que coisa!
- Igualmente digo eu. Vou tomar um banho, pode ser que o corpo relaxe e o sono venha. – Emília disse.
-É uma boa ideia, acho que vou fazer a mesma coisa – confirmou o menino – mas vou abrir a torneira bem pouco para que a água não faça barulho e não acorde ninguém.
- Não se preocupe com isso – falou Emília – se quiser pode usar o meu banheiro que fica um pouco mais afastado.
- Posso mesmo? Nenhuma inconveniência? – Vinícius indagou.
- Claro que não! Lá já tem toalha e pode usar meu sabonete.
- Mais uma vez obrigado, dona Emília – outra vez Vinícius agradeceu.
Saiu em direção ao quarto de Emília, retirou a cueca, deixou-a sobre a cama e entrou na suíte, fechando o box. Abriu a torneira e estava a saborear-se no banho, quando Emília da porta indagou.;
- Tudo bem, Vinícius? Está faltando alguma coisa?
- Não, está tudo certo. Obrigado!
Emília sentou na cama e ficou à espera de Vinícius que logo terminou o banho. Enxugou-se e estendeu a toalha, voltando ao quarto desnudo.
- Oh... desculpe! Não sabia que estava aí.
- Tolice! Sua nudez já não é segredo para mim – Emília enfatizou.
- É... mas... de qualquer jeito... fico encabulado. – Respondeu.
- Não fique, isto é besteira. Venha, deite aqui que quero olhar como estão os ferimentos. Posso?
Vinícius não lhe deu resposta, apenas deitou-se sobre a cama com as nádegas para cima.
- Realmente não foi nada demais, nem parece que se arranhou por aqui.- Assegurou Emília.
Totalmente embevecida com a beleza do corpo de Vinícius, Emília começou a acariciar as nádegas do rapaz que nada disse, como se estivesse a gostar do carinho. De repente, Emília se toca.
- Perdão, acho que fui um pouco longe demais . Desculpe-me!
- Nada tenho para desculpar – frisou Vinícius – a não ser pedir que prossiga, estava tão gostoso...
Sem se importar com mais nada, Emília não apenas o acariciou nas nádegas, mas em todo o corpo de Vinícius. Era uma mulher que pegava fogo e estava a soltar labaredas pelos poros da pele.
- Você me encanta, Vinícius – disse Emília – é lindo demais, é muito gostoso...
Envolvida pelo tesão que a consumia, logo estavam ambos num profundo e apaixonado beijo. Vinícius também acendera todos os pontos e latejava volúpia e desejo. Logo Emília estava desnuda e o viço de ambos levaram-nos a uma relação completa em todos os sentidos.
O dia amanhecia quando Emília despertou Vinícius.
- Venha tomar um banho – disse – depois você se veste e volta para a cama em que estava a dormir.
Juntos se banharam, após se vestiram e cada qual foi para sua cama, porém antes Emília pediu:
- Por favor, que isto fique entre nós, apenas.
- Tranquilo. De minha parte, ninguém saberá.
Beijou-a na boca e se retirou.
Só em seu quarto, Emília era toda reflexão: “Que loucura! Isto não pode voltar a acontecer...
Que deslize de minha parte.” Envolta nestes pensamentos, adormeceu.
Quando despertou, ouviu a zoada das crianças já a brincarem na piscina. “Que horas serão?” – Perguntou-se. Olhou para o relógio e os ponteiros marcavam dez e meia. “Ainda bem que hoje é sábado.” – Pensou. Levantou-se, banhou-se, vestiu-se e apareceu na cozinha, morta de fome.
- Bom dia, Zuleide – cumprimentou – que temos para comer?
A serviçal colocou o desjejum que Emília comeu e repetiu. Depois foi para o terraço e sentou-se. De lá pôde observar as crianças na piscina, mas seu olhar buscou, de imediato, Vinícius e este estava a brincar de peixinho na água com Samuel.
Chegou a hora do almoço e antes todos se retiraram da piscina e foram preparar-se para a refeição.
Todos estavam à mesa quando o primogênito chegou.
- Oi, mãe – disse Ralph – cheguei numa boa hora.
- Olá, filho, que novidade boa! – respondeu Emília.
- Estou apenas de passagem, volto logo mais para o quartel e não tenho dia para sair novamente. – Disse.
- Obteve permissão especial para visitar a família? – Perguntou Norma.
- Isso mesmo – falou Ralph – Infelizmente tenho de retornar. Que droga!
Sentou-se e almoçou com os demais. Já conhecia Vinícius, amigo dos irmãos na escola. Cumprimentou-o.
- Tudo bem, Vi...? – Indagou.
- Sim, tudo bem. Melhor agora com você presente. – Vinícius respondeu.
- Legal! Como pode perceber, tenho de voltar, porém dia haverá em que o pegarei no videogame para dar-lhe uma pisa – Brincou Ralph.
- Estou pronto para quando quiser, você é “fichinha” para mim. Provocou.
- Olha, não me provoca...
Todos riram.
Terminada a refeição, os meninos foram outra vez para a sala de som e Ralph estava com eles, todavia Vinícius fora para o terraço e ficou a dialogar com Emília.
- O que houve entre nós vai ficar por isto mesmo ou teremos tudo novamente? – Quis saber Vinícius.
- Minha cabeça fervilha – disse Emília – claro que repetiremos esta noite, estou tomada de amores por você.
- Eu também por você – respondeu o garoto – Foi minha primeira vez...
- Sério? – Emília espantou-se. – Parecia um homem experiente, nem me liguei neste fato.
- Pois é... Eu poderei ser só seu, se assim o desejar. – Vinícius arrematou.
- Pode parecer uma loucura – frisou Emília – é enorme a diferença de idade entre nós, mas a verdade é que me apaixonei assim de súbito... Sim, quero-o só para mim. Você não tem namorada?
- Não tinha... Vinícius esclareceu – agora parece que tenho uma...
- Você se casaria comigo caso seus pais dessem a permissão? – Indagou Emília.
- Sim, eu me caso até agora, se este for o seu desejo... – Respondeu.
Outra vez veio a hora do jantar. Todos se alimentaram bem e Ralph se despedia, triste.
- Tenho de retornar. Dou notícias. Até, cambada! Bênção, mãe?
- Deus te abençoe, meu filho.
As crianças brincaram até quase meia noite. Em seguida, cada qual tomou seu banho e... cama!
Vinícius esperou que todos dormissem e foi para o quarto de Emília que estava ansiosa à sua espera. Despiu-se e se acomodou ao lado da amante.
- Você vai mesmo pedir permissão aos meus pais para casar-se comigo? – Interrogou Vinícius.
- Vou – disse Emília – Falarei com eles semana que vem. Não sei o que eles dirão, porém vou contar-lhes a respeito do nosso amor.
- Será que seus filhos irão aceitar a nossa situação? Eles são meus amigos!
- Não é por causa disso que deixarão de sê-los.- Emília falou.
Mais uma noite de amor. De tudo houve entre eles e ficaram ainda mais apaixonados.
Loucura ou não, Emília e Vinícius estavam dispostos a enfrentar todos os obstáculos e obstáculos existem para serem transpostos.
FIM DA PARTE II