segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Consórcio Mental

Meu corpo labutou pelos anos afora,
O cansaço físico é tônica da velhice,
Hoje ando trôpego e, mesmo sem calvície,
O tempo consumou em mim sua esmola.

A consciência amadurecida ainda é jovem,
Raciocínio criativo dum ancião adolescente
Que opera a vida e tudo na realidade sente
E até lúcido contempla, no orvalhar, o pólen...

Vivo amiúde a criança que habita em mim,
A mente sobrevive sem adereços e bengala,
Tudo e todos são arrimos legítimos da tara
Que não me caduca e comigo vai até o fim...

Os pelos grisalhos impõem o senil respeito
A um indivíduo que sonha, vive e é perfeito!


Vivendo as Estações

Talvez o inverno umedeça
As regiões do meu corpo
E, finalmente, eu possa chorar...
O verão não dá tréguas,
O calor me esquenta o cansaço
E as lágrimas secam, sem arrepios...
Lembro que no último outono
Com as folhas espalhadas pelo chão,
Um vento meio frio sussurrou-me
Que a esperança está enferma
E soluços brandos arrefecem
As perspectivas de um sorriso...
Quiçá a primavera alente o tempo
E através do perfume das flores
Eu possa sentir o odor da alegria
Abafando o pranto e elegendo o riso
Como bálsamo para sufocar as dores,
Só assim é que posso pleitear
Segundos, decerto, da felicidade efêmera...
Eis a vida diante das horas:

Tudo se transforma por encanto! 

domingo, 26 de janeiro de 2014

Via Láctea

Amo a Via Láctea! Dela faço decalque...
Deste universo estelar sou arrimo,
Leio nas estrelas tudo sobre meu destino
E concretizo parceria cósmica com Bilac...

O firmamento cintila sobre a inspiração astral
E traduz uma poética sem excessivo rigor de forma,
As palavras driblam a metrificação que esnoba
E retêm da modernidade a sutileza do trivial...

Boio na superfície de uma poesia que liberta
A criatividade das estéticas que viviam alerta
Contra a corrupção que infringia seus padrões...

Amo a Via Láctea! Sou enamorado das estrelas
Que me cutucam para que possa compreendê-las
E levá-las comigo aos arcanos dos corações!



sábado, 25 de janeiro de 2014

Melodia de Amor

Há uma fonte em meu peito que jorra
Sentimentos confeccionados pela mão divina,
Abro a camisa para que o coração imprima
A mensagem sublime que dedilho na viola.

Interno-me no pensamento para bebericar
Das notas solenes os acordes excelsos,
Então vislumbro uma cachoeira de sucessos
Que derrama das pedras encantadas a magia do amar...

Da anatomia do mundo concentro-me na nota dó
E vasculho em minha solidão o porquê do estar só
Respirando pelo olfato da melodia agudos e graves...

Não há nostalgia na fotossíntese do contraponto,
Diante da magistral orquestra eu  me  encontro
Regando em sinfonias um amor de além-mares!



domingo, 19 de janeiro de 2014

Tortura

Caminho às margens turvas de um rio do Prata

Levando comigo pensamentos e meus pecados...
Posso eu perdoar-me a mim mesmo?

Dúvida atroz deixa-me preso, acorrentado
Por miasmas que me assaltam a sensatez da lógica
E, num pranto empedernido, desafio mazelas que me torturam...

Olho nas águas escuras a correnteza que vagueia
Carregando o lixo das ilusões em direção ao mar
Onde desemboca imperfeições que me fazem chorar
As derradeiras lágrimas que me improvisam e me cerceiam...

Sento-me no alto de uma pedra... O rio parece infinito!
As horas perambulam vazias e eu ali, solitário
Assistindo ao desfecho crônico de mais um dia
E uma pergunta sem resposta entravada na mente...
Posso eu mesmo perdoar-me? De repente, chuva... estou livre!


Alma de Poeta

A identidade do poeta é nômade...

O poeta habita cada coração que conquista
E seu nome passa a ser acervo do mundo...

Nos textos que escreve registra sua personalidade
Gravada nas entrelinhas da mensagem intrínseca
Que transmite às consciências que o leem...

O caráter de suas palavras passa de geração em geração
E mesmo que seu corpo físico já não mais exista,
Sua memória ganha ares de quem é artista...
Aí que reside a imortalidade da sua criação!

Peculiaridade do indivíduo que faz da arte cultura
E que arraiga admiração pelo intocável talento
Com que manuseia opiniões e transfere conhecimento...
Alma que se sensibiliza diante dos flagelos do universo
E que, não raro, ensina o amor através de seus versos!


Cidades Fantasmas

Meus ouvidos se tornam toscos diante da surdina
Que vocifera grilhões numa sociedade masturbada
Pelas cantatas sinfônicas que fazem das encruzilhadas
Palcos onde leis apócrifas dominam as esquinas...

Meu olhar se turva perante esta obesidade
Que não alimenta a verve de que o social precisa,
Mas incha de gordura todos os mananciais de pesquisa
E traduz fraudulentos retratos que mapeiam as cidades.

Maquetes que dão às ruas aparência de grande porte,
Mas que escondem furtivamente o selo de uma sorte
Que são pelourinhos maquiavélicos de assaltos e drogas...

Meus pés estão fadigados pela correnteza do apontar,
Minhas mãos dormentes caem ilesas pela força do ar

Que esculpe molduras de coletividades retrógradas!

Sempre

Talho que faz de ti meu retalho,
Sorvete que se derrete no cacoete
Físico que em meu estado psíquico
Ainda te deseja pueril e linda!

Certamente só tu és a semente
Regada nos canteiros de minha almofada
Multicor que faz de ti o único amor
Sonhado e repartido pelos meus lados.

Desnudo meu corpo para ser teu tudo!
Toque em mim e me dê o retoque
Vermelho que me torna teu espelho!

Sinto que a paixão é vinho tinto,
Alegoria em teu estágio de nostalgia,
Pois, o que é agora, será eterno depois!


Ivan de Oliveira Melo

OBSERVE A TÉCNICA DE COMPOSIÇÃO
DAS RIMAS PRESENTES NAS EXTREMIDADES
DE CADA VERSO.


sábado, 18 de janeiro de 2014

Duplex

Minha lágrima... Tua lágrima...
Duas lágrimas cor de lis,
Em nossas faces róseas, dois perfis
Que tatuam dois passionais diafragmas.

Minhas mãos... Tuas mãos...
Quatro mãos embebidas de perfume
Que se tocam e se aconchegam imunes
Dos delírios predadores dos artesãos...

Minha boca... Tua boca...
Duas bocas carentes e molhadas
Que se beijam de viço, atordoadas...

Minha vida... Tua vida insossa...
Duas vidas que rolam sobre a cama

À cata do orgasmo que do amor emana!

Pedagpgia Universal

É necessário que o mundo se cale
Diante da majestade de uma melodia,
São excelsos os andaimes da poesia
E reverenciá-los deve ser infinito praxe...

Arte e literatura hão de transformar o mundo
Já que a educação cada vez mais se afunila,
No engenho artístico pessoas tornam-se pupilas
Da visão cósmica que oblitera o que é imundo.

Neste universo torto que anda pelo avesso,
Não adianta apenas curvar-se e rezar o terço,
É preciso de uma mídia com sérios propósitos...

Civilizar pelo constante endosso do deleite,
Usar a palavra com erudição para que se peite
Inconveniências esdrúxulas de um social miserável...

O talento e a pena são as armas de um mocinho
Que tem na escrita munição que alfabetiza mansinho
Plêiades de ignorantes que gozam as mazelas do erótico!

Vivenciar o mundo através da leitura é prazer
Que informa e leciona como cartilha de abc
E dá à existência enfoque incomensurável...

Tesouro que pode dispor-se em qualquer estante,
Que traduz a essência da vida sem feitiçaria
E empresta ao raciocínio lógica e fantasia,
Mas que é um instrumento de cultura deslumbrante!

A violência e a ambição modificarão seus retratos,
A hipocrisia e o orgulho não serão mais vedetes,
O egoísmo sucumbirá perante a espada que apetece

Gênios e leitores dum orbe culto e abençoado!

Cavalgada

Cai a noite,
Monto meu alazão,
Somente eu, ele, as estrelas
E a menina que vive em meu coração.

Troto por alguns instantes,
Meu pensamento fala de amor,
A garota invade meu íntimo
E segue comigo até onde vou...

De repente galopo e entro na cavalgada.
Grande surpresa: lá está minha amada
Desfilando imponente com sua égua...

Meus olhos flutuam, apaixonados...
Finalmente estamos lado a lado
Curtindo a lua... deitados na relva!


Pelo Avesso...

Lentamente o sol se põe de timidez
Levando a vitrine do dia em seu ocaso,
A lua pálida e soberba de brilho raro
Alumia os segredos que a noite desfez.

No pisca-pisca das estrelas vivem aventuras
Da ventura e do sonho que salpicam desejos
Sobre a fronte míope de lábios carentes de beijos
Que, trôpegos, perdem-se no sigilo que usurpam.

Na visão que retrata quedas de astros cadentes
Há longas estradas que protegem o cio das gentes
Desbotado pelo prazer iníquo que se evapora incolor...

Nas sombras noturnas pavimentam-se de orvalho
A sedução que alicia os libidos assaz torturados

Pelos vultos de uma volúpia deserta de amor!

domingo, 12 de janeiro de 2014

Espírito das Águas

Incorporo neste instante o espírito das águas...

A natureza em mim deságua o espelho do mundo
E me vejo refletido numa inspiração líquida

Em que o doce e o salgado se revezam pálidos
À cata da palavra que os tornem reflexão
Mediante o descaso e a luxúria de que são vítimas...

Mares e oceanos que foram corredores de tantas conquistas
São atropelados pela ação nefasta de um progresso doentio
Que faz da fauna e flora aquáticas escaravelhos de uma patologia
Recheada de parasitas, vírus e bactérias que homicidam o universo...

Rios, lagos, regatos, são afluentes de constantes enfermidades
Provocadas pela isenção de escrúpulos do raciocínio lógico
E, paulatinamente, são retratos de solos rochosos e sem vida
Que abundam nas consciências invertebradas dos seres humanos
E fazem da poluição o carro-chefe de uma política desavergonhada...

Crime ambiental que macula a virgindade da existência...
Lençóis freáticos envenenam a sede dos que bebem injustiças
E os aquíferos da terra saboreiam a catarse da imprudência...
Nos polos o degelo anuncia o dilúvio das gerações futuras
E certamente não haverá um novo Noé para salvaguardar as espécies...

Só lama restará nas camadas da atmosfera terrestre...
Cinzas e ruínas: heranças de um éden tão sonhado
Cobrirão todos os espaços transformados em vácuos
Diante de um ambiente desértico... Sol e lua perecerão...

Este é o quadro que se pinta do porvir tenebroso
Em uma tela deveras fosforescente da imaginação
Que o artista não cria visto tratar-se da densa realidade

Presente nas derradeiras lágrimas que teimam umedecer
A face da astúcia que sonega os princípios da Criação...


A semente da ambição desnutre os preceitos do Bem!

sábado, 11 de janeiro de 2014

Protótipo

Debulho inconsciente a imaginação
À cata do alimento que  sacie minha alma,
Vejo pedregulhos e cascalhos que deságuam
No espaço onírico onde fantasio o coração.

Tricoteio linhas sobre o pensamento adormecido
E traço caricaturas de desejos que me apetecem,
Átomos afrodisíacos de todas as espécies
Em êxtase configuram em mim sedutor abrigo.

O prazer erradica do íntimo pétalas de medo
E na areia branca do raciocínio guardo segredos
Que somente na apoteose da existência revelo...

A mente devaneia o substrato de um idílio multicor,
Em ondas físicas meu corpo desabrocha o amor
Que fará de mim protótipo de sentimento sincero!


Anfiteatro das Inverdades

A mentira grassa os arquétipos da realidade...

Conviver o social é deparar-se com a utopia,
É constatar-se embriagado sem consumir álcool...

Notícias e informações alardeiam o mundo
E provocam no indivíduo um frenesi de dúvidas,
Pois, o que um ouvido crê, o outro disfarça...

Interessante é que tudo tem início dentro do lar:
Os filhos veem os pais mentirem e neles se espelham,
Levam o engodo a todas as pessoas de suas relações
E, assim, o descrédito torna-se síndrome de corrupção...

A mídia desempenha papel relevante neste processo
Visto que às vezes informa e desinforma, é capenga...
O povo se sente ludibriado com falsas promessas,
A política é uma faca de dois gumes: mentira X verdade,
O que faz com que se acarretem plataformas de insegurança.

Onde quer que se busque uma possível veracidade,
Esta já vem rotulada com possibilidades de alegoria...
No aspecto religioso a fraude é rotina; o dinheiro, a verdade...
No comércio a fantasia acontece com propagandas enganosas,
Enfim, não há lugar seguro em que lealdade seja o propósito...

O mundo está desértico, o homem já nem confia em si mesmo,
Quando se depara com uma verdade absoluta, nem a reconhece
De imediato, sai atrás de informes que possam comprovar sua
Autenticidade: analisa, pesquisa, compara, até ter a certeza...

Este é o universo que absorve a humanidade do atualmente,
Só os mais fanáticos afirmam possuir uma fé inquebrantável...
Mesmo assim, muitos destes são apenas aparências porque

Na primeira oportunidade desdizem tudo aquilo que confessaram...
Na verdade, vive-se num sistema de interesses em que a palavra

Que reina é aquela que traz benefícios aos sultões que as prolatam!


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Escola da Vida

  
A vida na terra é um intenso ensaio
Para que se obtenha do amor sua face divina,
Aqui se aprende apanhando, é uma grande oficina
Em que sofrimento é labor que se ajunta num balaio.

Na escola do mundo qualquer um é professor,
Mas também qualquer um é indisciplinado aluno,
Com a troca de experiências o conhecimento é profundo,
Então da tristeza faz-se a alegria; da dor, o amor!

Esta é a didática que se tem como presente,
É pedagogia sublime que não falha, é onisciente
E, diante disto, todas as oportunidades são iguais...

Vê-se, assim, quão perfeitos são os dons do Criador,
Lições que alfabetizam as criaturas dentro de um teor

Em que a concórdia é tarefa donde se escreve a paz!

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Melancolia

Saio à noite a caminhar pelo calçadão.
Meus pensamentos estão turvos...
Sento-me na murada e avisto o mar.
O vento forte assanha meus cabelos
E escuta meus murmúrios solitários.
Minha imaginação vagueia sem lume
Enquanto a lua namora o oceano,
Despejando seu brilho sobre as ondas...

Ao longo das águas navios desfilam
Bocejando saudades diante do tempo...
A solidão é uma intempérie das horas
E os minutos seguem seu destino
Acossados por desejos sussurrados
Que o prazer desenha em faces ocultas...

Minha visão alcança o horizonte vazio
Coberto por nuvens claras que sorriem
Perante a majestade do silêncio lúgubre...
Aqui e ali torvelinhos gigantes ameaçam
A tranquilidade dos segredos confiados
À imensidão noturna... Estou sonolento!

Levanto-me... Olho para todos os lados
E percebo que estou só... A cidade dorme!
Ponho meus pés sobre a areia e corro!
Corro em ziguezague sazonado pelos
Açoites que me perseguem ... Procelas!
Vertentes de forte tempestade mudam
O cenário e as estrelas se escondem...

Do firmamento descem espessas gotas
De uma  água que representam gritos
De melancolia... É a natureza pranteando
O infortúnio dos homens que deixaram
Que os olhos secassem diante do mundo!


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Sob o brilho da lua...

Vejo na lua que nasce no horizonte
Um gesto de tuas mãos a me chamar...
Meu pensamento te atende, flutua sobre o mar
E te abraça embevecido atrás dos montes.

Diante do espelho das águas tua face nua
Baila sereno sobre as vagas do brando oceano
E eu como ave condoreira de sentimento humano
Te amparo solene perante o amor que se insinua...

Sob ventos sensuais te belisco e te arrepio,
Em meu olfato sinto as navalhas do teu cio
A espargir delírios nocauteados pelo amor...

A vida é um enxame de desejos sem fim,
Amar é plenitude de corpos que, afins,

Tornam eloquentes quaisquer sintomas de dor!

Campus Mental


A mente é gigantesco campo industrial...

O pensamento é matéria-prima de escol,
Seduzido e aliciado pelo raciocínio lógico

Que produz, numa seara infinitesimal, as ideias...
Não existe maquinário tão perfeito e lúcido
Dentre possíveis milhões de consciências conhecidas...

Ainda há um privilégio: é a única racional,
Pois, as demais são vegetativas, isto é, instintos...
Mesmo assim, a ignorância trucida a inteligência
E o produto dessa ação tem caracteres animalescos...

Memoráveis conquistas se deram ao longo da História...
Perante algo que se tem gratuito e em abundância
É mister que se vislumbre apenas o bem e o progresso,
Porém o homem manquitola açodado pela ambição
E se esquece de que até a fantasia faz bem ao coração!

Bênçãos Celestiais

Temperatura alta, calor intenso...

Pelos poros de minha pele brotava suor
E, num desespero maluco, escancarei a porta

Da sala e ganhei o jardim, solitário...
Abri a torneira e, mesmo vestido,
Tomei da mangueira e permiti a água inundar-me o corpo...

Alívio! Totalmente encharcado, sentei-me
Num banco de mármore. Olhei para o alto
E vi que a noite brilhava sob  os raios
De uma lua cheia cercada por nuvens brancas...

O firmamento trouxe-me a antítese do momento...
Enquanto eu ali estava a saborear profunda paz,
O mundo à minha volta ardia em fome, miséria,
Guerras... Na ambição sem limites do homem
O universo plainava sobre maquiavélicas ondas de terror...

Suaves lágrimas deixavam minha face tensa...
Foi neste instante que percebi algo diferente no céu.
Como por encanto o calor cessou e comecei a ter arrepios,
Pois, vislumbrei que as nuvens se tornavam esferoides
E, dentro delas, desvendei anjos que tocavam sinfonias...

A melodia celestial arrebatou-me de embriaguez a alma
E pude entender o significado excelso daquela visão:
Era uma reposta aos meus indeléveis pensamentos...
Mais e mais nuvens surgiam e, apesar de ser noite,

O firmamento tornara-se azul... Nunca o vira tão azul!
Harpas celestiais cantavam a justiça do reino no além
E a mensagem era clara: a concórdia é dos homens também!

Por mais desnuda que seja a injustiça humana,
Dia haverá que serão banidas para sempre as coisas profanas...


Subitamente observei-me enxuto e meu olhar estava seco de amor!

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Culto do Inconsciente

Intensamente persegui meu destino,
Vislumbrei horizontes jamais almejados,
Refleti no sonho que me acariciava o peito
E em meu êxtase tentei alcançá-los!

Saboreei indelevelmente a fantasia,
Considerando-a digna do mundo real,
Senti o curso de sensíveis imagens
Transpondo fronteiras do universo imaterial.

Cedendo ao impulso da inconsciência,
O delíquio arrebatou-me de embriaguez a alma
E meu espírito fluiu no espaço fictício...

Semeando o pensamento em sua essência,
Quis encontrar o devaneio em valsa
E ultrapassar desertos sem sacrifício!



POEMA ESCRITO E REGISTRADO

EM  ABRIL DE 1979

Beijo sem Cor

  
O beijo que te dei caiu no asfalto
E foi pisoteado pela turba cafajeste...
Não sei... Talvez o carinho que me fizeste
Tenha sido fraude de um gesto falso.

Não mensurei a intensidade do gemido
Que abalou a superfície dos teus lábios,
Nos meus todos os prazeres foram raios
E labaredas de um vulcão semi-adormecido.

Se o fogo de uma paixão não te queima,
É porque tua sensibilidade não é seiva,
Mas barrotes de gelo importados do Sul...

De tua boca minha língua não quer odor,
Deixarei o ósculo trancafiado para o amor
Que me faça ver as estrelas dum céu azul!



POEMA ESCRITO E REGISTRADO EM
JANEIRO DE 1975.


Labirinto Interior

Sempre vítima
Dos dissabores da vida,
O homem pensa ser herói
De suas próprias façanhas...

Deslembra-se do vizinho,
Procura encurtar caminhos
Na ânsia louca
De atingir o impalpável
Em seu íntimo...

Mergulha em abismos obscuros
Tornando o destino sem rumo
E não enxerga
Sua própria consciência...

Oculta sua existência,
Busca no nada uma saída
E perde-se...
Num labirinto pessoal.



Poema escrito e registrado
Em dezembro de 1986.


domingo, 5 de janeiro de 2014

NARCISISMO

Narciso envaideceu-se no espelho das águas
E de sua beleza tornei-me bizarro afluente,
Em minha imagem não me desvendei diferente
E numa nódoa de tristeza afoguei minhas mágoas.

Lagos enfermos destituíram a formosura
Que evoquei da colossal sombra de Narciso,
Mas a poluição retrucou que não era preciso
Envaidecer-me de uma beleza que não depura.

Envelheci saturando a tez com cosméticos,
Em minha senilidade vejo-me assaz patético
Diante de uma iniqüidade deveras carcomida...

A beleza do corpo engelha e apodrece,
O belo está no íntimo que o tempo não envelhece
E que é dádiva de beleza para toda  vida!


NUDEZ

Visão por demais perfeita,
Resultado de gestos e poses sensuais
Que embelezam a criação artística
Mostrando do grotesco ao sublime
Uma inspiração colossal.

A contemplação devaneia o espírito
Despojando-se dos preconceitos banais,
Sedimentam-se raízes de sonhos sedutores
Que transformam em sensatos
Insipientes intelectuais...

Em todos os recantos da imensidão universal
Contagiantes efeitos norteiam a sensibilidade,
Modelam de forma infinitesimal o talento,
Impulsionam-se os mais diversos caracteres
Que fazem da nudez um ideal transcendental.

No majestoso combate contra forças ocultas
O poder magnificente do belo se sobrepõe
E forma um esteio de fortalezas inexpugnáveis
Em que a nudez repousa dos olhares febris...

Quanto à deterioração deste painel fotográfico,
Nem a consumação dos séculos opõe resistência!


( POEMA PUBLICADO EM MEU LIVRO DE ESTREIA-
  SINFONIA DE AMOR – Editora Publit, Rio de Janeiro,
  2010).


sábado, 4 de janeiro de 2014

CAMPANHA EDITORIAL

Campo Editorial
CAMPANHA

Publicar um livro já foi bem mais fácil, embora hoje naveguemos nos cânones da internet. Acontece que o público leitor diminuiu e, devido a isso, as editoras vendem menos. O autor se depara com um campo editorial saturado pelos altos preços e, por essa razão, muitos se desanimam de publicar o que escreve.

Como se pode perceber, o artista enfrenta grandes dificuldades, o investimento é alto para quase nenhum retorno. Quem escreve nos dias atuais é por puro amor à arte, não cogita recompensas. Eu, por exemplo, já publiquei 5 ( cinco ) obras e não obtive qualquer retorno financeiro, só o retorno da satisfação, esse é que é meu objetivo. Escrevo pelo simples prazer de colocar no papel meu pensamento, minha arte, todavia as coisas se complicaram ainda mais. Faltam-me recursos para enfrentar outra publicação. Igualmente a mim, conheço outros artistas na mesma situação. Se não existirem incentivos particulares ( patrocínios ), certamente não teremos mais escritores... Nosso Governo não se preocupa com esta causa...

Andei pensando bastante a respeito desta problemática, então me veio à mente a ideia de um projeto, projeto este que lanço, evidentemente, pensando em mim e nos demais artistas que conheço, eles também têm estas mesmas dificuldades.

Deixo aqui à disposição de quem ler esta reportagem a minha conta bancária. Caso alguém se sensibilize e esteja disposto a cooperar comigo e com os outros artistas, deposite a quantia que quiser, não há um valor específico. Este depósito tem o objetivo de somar, angariar recursos para que tenhamos condições de editar e publicar nossas obras. Isso não é especulação, trata-se de um sonho.

Agradeço desde já sua atenção, cooperando ou não com o projeto. Feliz 2014!

Poeta Ivan de Oliveira Melo

BANCO ITAÚ
AGÊNCIA - 0364
CONTA-CORRENTE - 65.410-3

Em nome de Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Esquema Sórdido


Meu  idioma  íntimo  é  deveras  polivalente,
Ecletismo  adquirido  com  experiências  da  vida...
É  sonso,  não  nego,  de  certas  coisas  se  desliga
E não  se  preocupa  com o  que  outrem  sente...

Caracteriza-se  essencialmente  pela  vaidade
De  compreender-se  a  si  mesmo  sempre,
Esse  egoísmo,  diz  ele,  é  imenso  presente
De  uma  soberba  que  o  torna  anfitrião  da  verdade...

Aí  está  o  pecado:  a  realidade  não  é  pessoal,
Faz  parte  de  um  cotidiano  que  é  universal
E  ninguém  deve  aclamar-se  único  dono...

Ao  lado  da  veracidade  a  mentira  faz  ponto
Preparada  para  assumir  a  fantasia  de um  conto

E  transmutar-se  de  sinceridade  em  qualquer  gono!

Texto Coletivo


As  palavras  podem  esconder  pendores  da  personalidade?

Quem  manuseia  vocábulos  retrata  a si  mesmo
Por  mais  que  tente  disfarçar  o  verdadeiro  intento.

Dizem  que  um  texto  é fotografia  de  quem  o  escreve
E  a  mensagem  encontra-se  ligada  ao  foro  íntimo
Embora  o  autor  busque  na  generalidade,  o  conteúdo...

Cada  qual  expressa  um  tema  mediante  conhecimentos
E  procura  mesclar  o  ponto  de  vista  de  todos  os  lados...
Da junção  do  pessoal  com  os  atributos  da  coletividade
Obtém-se  um  raciocínio  heterogêneo  de  um  tópico.

O  particular  não  deve   prevalecer  quando  se  escreve  para  o  mundo...
Tanto  em  poesia  como  em  prosa  que  haja  criatividade,
Que  se  enfoque  o  embrião  de  uma  realidade  social
A  fim  de  que  sirva  de  alerta  e  de  aprendizado
E  apenas  nas  entrelinhas  se  tenha  o  parecer  da  individualidade!       




quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Aflição



Perdi-me  numa  rua  sem  nome
Repleta  de  casas  pobres,  buracos  à  beça...
Pelas  calçadas,  cachorros  sujos  enfeitavam  o  ambiente
E  esgotos  a  céu  aberto  vitaminavam  a  respiração.

Tropecei  numa  calçada  quebrada  e  caí...
Para  meu  espanto,  ninguém  registrou  o  fato
E  fiz  de  um  muro  cheio  de  lodo,  meu  apoio...
Levantei-me  e,  atordoado,  tentei  desvendar  onde  estava...

Lugar  esquisito,  pessoas  estranhas  e  mal  vestidas
Eram  os  moradores  que  parecia  não  se  darem  conta  de  mim...
Para  eles,  eu  era  mais  um  transeunte  desconhecido
A  perambular  no  mutismo  de  mim  mesmo  e  do  destino...

Fui  caminhando,  caminhando...  Cheguei  a  uma  esquina  vazia
E  me  sentei  debaixo  de  uma  velha  marquise  e  chorei... chorei!
Como  fora  parar  ali?  Que  becos  da  vida  trouxeram-me?
Um  rosto  inundado  em  lágrimas  compadeceu-se  de  minha  presença.

Não  sabe  onde  está?  Perguntou-me.  Notei  que  sofria  como  eu...
Morremos  e  certamente  prestamos  contas  dos  nossos  atos!

Plenitude



Meus  olhos  falam  da  beleza  dos  campos
E  minha  boca  escuta  o  canto  dos  pássaros,
No  sorriso  dos  homens  que  parecem  alados
Vê-se  em  noite  sem  lua  o  clarear  dos  pirilampos.

Plenitude:  estradas  adornadas  por  cereais...
Canteiros  de  flores:  olfato  de  morangos  e  cerejas,
Sol  é  vida  onde  amarguras  e  tristezas  não  estejam
Para  alumiar  a  felicidade  que  não  perece  jamais!

Plenitude:  no  colo  da  mãe  a  criança  mama
E  na  chuva  que  cai  meninos  brincam  na  lama
Saboreando  da  vida  luzes  de  liberdade...

Nas  asas  das  horas  o  tempo  não  esquece
De  envelhecer  lábios  cansados  em  prece
Que  o  mundo  reverencia  em  sua  maturidade!