quarta-feira, 25 de outubro de 2017

LIRA VERDEJANTE

Doce e virginal aroma que se espalha
Dentre as órbitas do átomo acanhado
E do fogo que distante brilha enfadado
Há o incenso que fere quanto navalha!

Pelos campos vergam-se todas as folhas,
Fulgor que cresce diante o arrimo da flor
Que derrama sua sombra para decompor
A lira verdejante do dia e da noite zarolha!

Enquanto o mundo subterrâneo dá o tom,
Os vultos das árvores andam meio tensos,
Pois os frutos são inesperado contratempo
Donde cessa o vigor dum paladar frisson...

Anômalas são todas as espécies de altares
Até que das imagens se teçam mil olhares!


DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 22 de outubro de 2017

FRUIÇÃO

Prazer sem luxúria é desperdício,
Beijo sem viço é bacanal e orgia,
Paixão é instrumento de terapia,
Assim a alma não atrai o suicídio.

A devassidão prescreve o sensual
Que habita na libidinagem do sexo,
O ser lascivo incorpora o cio anexo
Que faz vibrar a obscenidade carnal.

A volúpia traz sério desregramento
Que engravida de lubricidade o senso
Do individual envolvido nesse apetite...

Anda distante dessa estrada o amor,
Tem-se o gozo infecundo, o despudor
Que ressuscita a insensatez de Afrodite!


DE Ivan de Oliveira Melo


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

SEM MEDIDAS

Do amor que me cegou às horas tantas
Nem em mim mesmo eu me apercebi,
Só sei que me persegui, então me excluí
De sua beleza que a mim mesmo encanta.

Se em minha visão eu pude ver orquídeas,
É porque com o calor do sol tudo é perfeito,
Contudo subi às alturas onde o ar é rarefeito
E vislumbrei o acervo incógnito dos ideais.

Suponho que resido num íntimo de esplendor,
Pois da suposta energia que me faz rutilante
É que retiro de mim a coragem de ser amante
E dou à minh’alma o invólucro do grande amor.

E nada me fadiga nem me torna tão pequeno,
Óbvio que sou diminuto perante o que é divino,
Porém são os sentimentos do meu viver severino
Que me fazem um baluarte da existência, veneno!

Em minha vida não há chegada, tampouco partida,
Sou operário que nem formiga... amo sem medida!




DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 15 de outubro de 2017

NUANCES

Mastigo as palavras a longos intervalos
E, quando as prolato, parecem murmúrios
Sussurrados ao som do silêncio sem face.
Há um deserto distante onde se escondem
As noites corrompidas por uma névoa vadia
Que, como certas nuvens, trapaceiam o dia
Levando-o a desfolhar folhas secas de verão.

Engulo certos vocábulos de olhos de jasmim
E, quando a alfazema impõe perfume híbrido,
Sinto que o tempo adocica as horas trêmulas
Que, diante das flores da primavera cansada,
Revela-se um inverno, a catedral dos sonhos...
Devagar os astros vestem a natureza a rigor
E intenso baile traz migração de aves nômades.

Ouvem-se, nas vozes dos pássaros, belos hinos
Que enchem a atmosfera de acústica incolor
Permitindo que a luxúria dispa-se diante do ar
A fim de que a brisa que sopra repentinamente
Carregue com ternura a angústia que perpetra
A agonia do silêncio provedor das ilusões...
Assim, mastigo e engulo mentes peremptórias!




DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 14 de outubro de 2017

INVOCAÇÃO

Transportem-me, Ó Divas do Tejo,
Para as Maganas enxurradas do rio,
Assim terei um harém e o mar bravio
Levará suas vagas até o solo sertanejo.

Ó Donzelas do Nilo, na aridez que mata
A areia ante o deserto deste país tropical,
É deveras urgente livrar gentes deste mal
A fim de que da obscuridade nasça cascata.

Ó Deusas do Danúbio, águas estão poluídas
Neste imenso território onde a morte ceifa
Cada centímetro de vida e já não há a seiva
Que até os abutres buscam, restam só ruínas.

Ó Poseidon, Tu és Orixá destes mares gregos,
Apieda-te do Sertão dum Brasil estrangeiro!




DE Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

TERRIBLE THINGS

I’d give thousand lives if thousand lives I had...

What for? – Maybe someone asked me.
Perhaps I don’t know to answer here

Because it’s a confused question to me,
But I’d like to see a better world
Without hunger, without war, without blood…

The world is thirsty… Thirsty of love… Thirsty of justice.
By the way, did you drink water yesterday or today?
Water feeds the human organism. Water feeds ideas.
Nowadays world lives in darkness. Darkness is you and I.

There are no dreams. Sleep is hard. Sleep doesn’t sleep.
Nobody sleeps… Likely during the dawn happen the worst…
It’s truth I know. Nobody wants the end but the end is next.
Who will die first? What will die first?  Who knows?
Death will be the passport to a new life far from here…




By  Ivan de Oliveira Melo

SONETO DE FÉ

É o amor o amuleto que trouxe
A dignidade que tem cor branca,
Fidelidade é o aroma que encanta
A união no devaneio sutil e doce.

Quem ama se livra de reais perigos!
É crer em si sem sentimento bastardo,
Amordaçar o ciúme para evitar estrago
E permitir que a paz sobreviva consigo.

É o amor a mais sublime das relíquias,
Eleva-se a alma sem atitudes fictícias
Aos mais altos padrões de fertilidade...

Só no amor o destino encontra refúgio
E bane as larvas do ser trivial e espúrio
Que, sem fé, poderia causar fatalidade!   




DE  Ivan de Oliveira Melo 

EXTREMOS

Finda a vida, tudo o mais é mistério...
Vive-se agregado entre dois extremos
Que nada dizem sobre o que seremos:
Cita-se só a maternidade e o cemitério.

Consolação é promessa de vida eterna,
Contudo há enigmas que a razão destoa...
Sabe-se: o mundo é convexo e anda à toa
Dentre os preceitos que a religião governa.

Não há quem explicite ou tenha a verdade,
Alguém é um ninguém que veste a vaidade
Do saber muitas vezes apócrifo e fantástico...

Há mais enganos do que acertos neste orbe,
É mister precaver-se da fantasia e do esnobe,
Pois fanatismo é loucura e isso não é plástico!




DE  Ivan de Oliveira Melo 

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

ALTO RELEVO

Nasci nu.
Nua vive minha alma
A desfilar dentre
Multidões exóticas.

Vestiu-me a vida
De impressões tais
Que minha nudez
Plainou na energia eólica.

Vestido ou despido
Das sensações voláteis
Sou um eterno bebê
Da imensidão cósmica.

Respiro a nudez da vida,
Bebo do cálice da vergonha
E se meu eu nu é trova poética
É porque a existência é despótica.

Assim é a vivência em alto relevo.
Sobreviver é uma emoção caótica!




DE  Ivan de Oliveira Melo  

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

TANTO QUANTO...


Tanto mais distante estou da noite soturna
Menos o silêncio fere meus tímpanos atroz,
O tempo cerze o metafísico e é muito veloz
Perante os ventos que sopram sinos e dunas.

Tanto menos se pressente a dor que inflama
Mais se sente o oásis que se instala na alma,
É um deserto do íntimo onde nada se deságua
E no pátio da inconsciência a poesia se declama.

Quão frequentemente no amor a paixão é trote
Que dilata nas artérias o insano desejo que foge
Pelas veias em que o sangue rubro se coagula...

Quanto ardor se observa do prazer o cio amargo
Que veleja pela consciência dum raciocínio vago
Mesmo que se despoje de ansiedade a estrutura!


DE  Ivan de Oliveira Melo