segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

CRISTAIS

Descobri um palácio vazio de saudade
E uma solidão cadavérica que faz parte
Dum silêncio anacrônico meio escarlate
Donde se obtém energia e fecundidade.

Percebi no deserto um esqueleto da dor
E uma overdose de quietude que é o lar
Dos amuletos que são os vícios do amar
Sobre os latifúndios onde dorme o amor.

Nos castelos há magia, doses de requinte
E das mãos dos amantes há o que se pinte
Diante do coloquialismo de sutis desejos…

Mansões que guardam venturas do apetite
Sensual das operações onde sexo é vitrine
Exposto perante o lumiar de largos beijos!


DE Ivan de Oliveira Melo




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

ESPERANÇA

Aurora.
O sol desponta atrás dos montes.
De minha janela observo o horizonte.
Intensa vermelhidão cobre os céus.
Maravilhosa paisagem do amanhecer.
Debruo-me e fico em êxtase
A contemplar o mavioso dia que surge.
Fina e fria brisa lambe meu rosto.
Meus cabelos se esvoaçam, felizes…
Longos minutos em comunhão
Com a natureza.
É domingo,
Logo não me apresso
Em abandonar tão exuberante requinte.

Permito-me entrar em alfa
E meus pensamentos flutuam,
Misturam-se as nuvens ainda cinzentas.
Minha mente está alheia,
A consciência liberta para dialogar
Com o meu intelecto…
Meu raciocínio busca o prazer
E a inconsciência, ébria, não decifra
Os hieróglifos do dia.

Platônicos instantes que trazem
A paz e o conforto de saber-se lúcido
Perante as inconveniências
Da vida moderna.
Com o declinar das horas,
A memória encontra espaço
Para confabular com os
Problemas do mundo.

Ah! Mundo imundo!
Não consigo evitar lágrimas
Que, repentinamente,
Banham minha face…
Relembro o catecismo.
Doces reminiscências
Contrastam com a quietude
Do cenário…
Ligo as semânticas de solidariedade
E fraternidade num só conjunto
De ideias. Ah! Mundo perverso!

Quantas desigualdades!
Quanta ostentação!
Quanta luxúria!
Tudo isso de um lado…
Do outro… fome, sede, humilhação!

O homem foi criado
Para viver em harmonia
Com o seu semelhante.
Mas… O que se vê?
Egoísmo. Inveja. Orgulho. Indecência!
Tantos com muito e muito…
Doutros com o nada, nada…

Esta é a fotografia da torpe realidade,
Todavia não é algo de hoje,
Coisa que atravessa décadas, séculos,
Dois milênios!
Até quando ficará oculta a vergonha?
Até quando as mazelas do orbe
Serão os miasmas que as populações
Terão de engolir?
Até quando poderemos chamar
Tudo isto de vida?

Não é vida. É sobrevida. Sobrevivência!
O homem é predador da sua espécie!
Guerras. Genocídios. Terrorismos!
Competição bélica. Competição nuclear!
Desamparo aos que buscam abrigo…
Sutilmente o planeta se afunda
Num imenso vazio
Donde a morte a todos espera.
De braços abertos!

Poluição ambiental.
Poluição astral.
Buracos e bueiros de ozônio.
Derretimento de gelo.
Águas que avançam.
Outras que morrem…
Extinção de animais!

Na verdade, o que se chama mundo
Tornou-se alegoria, fantasia
Que os artistas insistem
Em recriar...Sim, recriar,
Pois no início era mundo… E hoje?
Apenas uma tela de vagas lembranças…

As vicissitudes assinam o fim.
A maldade campeia
Em todos os níveis.
Crianças treinadas para matar…
Idosos sacrificados
Porque não servem mais.
Onde fica o valor da experiência?
Debaixo do solo,
Porquanto só os novos ideais
Têm valores. Retrocesso!

Sexo clandestino.
Multiplicar deixou de ser censo.
Importam os prazeres,
O cio degenerado.
A prostituição. Comércio!

Educação? Certamente é adereço
Dos afortunados.
O conhecimento é limitado,
Justo para que não se entendam
Os desmandos dos poderosos
E, com isto,
Cresce a ambição desenfreada.
Não há contentamento
Com o que se tem…
Sempre se quer mais e mais…

Drogas.
Maior peçonha da humanidade.
Este é o “antídoto”
Que se criou
A fim de que o Apocalipse
Chegue antes do tempo.

Esperança.
Talvez aí resida
A única possibilidade
Dos que ainda creem na
Redenção.
O amor está enfermo,
Não morto.
E, quando ele ressurgir,
Finalmente todos poderão
Expressar
Da boca para dentro:
Eu te amo!


DE Ivan de Oliveira Melo



terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

ENGAÑOS

En la vida hay instantes interrogativos
Y las horas temblan delante del tiempo
Que masacra contundentes sentimientos
Permitiendo en las personas paleativos.

Los momentos parecen extraños y oscuros,
La ingeniosidad se queda atrapada, violada
Hacia imagenes que buscan todo y el nada
Es la respuesta de todos los daños arrojados.

La existencia es necia… El pueblo es tocho
Porque el pensamiento no brota, es un poco
Inmaduro y eso engendra graves problemas…

En la pasarela de la supervivencia humana
Las ideas carecen de las hormanas y ventanas
Dónde hay películas que son también dilemas!


DE Ivan de Oliveira Melo


domingo, 19 de fevereiro de 2017

MEDOS

Rascunho meus medos dentro de mim,
Em cada instante perigos me amedrontam,
É como se eu estivesse numa esquina deserta
Onde houvesse construções abandonadas,
Carros pretos sem condutores a correrem
Sem direção e as lamparinas dos postes
Apagadas… Noite erma, soluços das estrelas!

Escrevo das minhas alucinações sobre fantasmas
Sem sombras, mas de vultos ardentes e sensuais
A formigarem em minha imaginação fértil e só…
Tremo da cabeça aos pés, terrível horror à mercê
Das inconsequentes manifestações de um ego
Catalisador de ideias sonâmbulas e migratórias.
Ouço vozes que só existem em minha mente
Conturbada pelas madrugadas frias. Gritos da lua!

Leio mensagens decodificadas do além pelas almas
Que vivem a manifestar-se nas solidões da dor…
Choro na penumbra de mim mesmo e tagarelo
Palavras que encontram eco em minha inconsciência
Já flagelada pela fobia de uma escuridão intensa…
Corro na esperança de uma saída emergencial
E me deparo com paredes rígidas e uma névoa
Que encobre o brilho da sabedoria enclausurada
No medo interior… E chego ao exterior de um sonho
Em que a luz radiante do dia mostra o encanto
Que é o sorriso do sol perante as nuvens de sofreguidão!


DE Ivan de Oliveira Melo






APOTEÓTICO

Vi-me chorando a cântaros diante do esquife.
Fiquei atônito, pois o defunto não era camarada.
Ouvi quando alguém me disse: este era um patife
E derramar lágrimas por ele é mesmo que nada.

Deixei o ambiente tão de repente quanto entrei.
Fiquei a matutar: Por que tantos e tantos risos
Perante um ataúde em que descansava um sansei
Se num velório o lugar é de saudade dos amigos?

Nas horas tantas baixaram o caixão na sepultura
E para meu deslumbramento vi fogos em altura
Celebrando a morte perante um público em êxtase…

Não compreendi aquela situação meio escabrosa.
Por pior que haja sido quem partiu em nebulosa
O respeito é a chave da lei e nada tem de perífrase!


De Ivan de Oliveira Melo




sábado, 18 de fevereiro de 2017

ÚLTIMA LÁGRIMA

Lá se foi a última lágrima do dia
Cheia de amargura a rolar nas calçadas,
E por sentir-se intrusa e desamparada
Deixou no bueiro cair tanta agonia.

Sem jardins, sem perfume e sem flores
O quotidiano a absorveu perante hinos
Que se ouviam pelo trepidar dos sinos
A ribombar pela tagarelice dos rumores

Que trouxeram dor, insana e vil tirania!
E a lágrima evaporou-se na sutil fantasia
De esconder-se dos pseudo sentimentos!

Adiante noutras lágrimas ainda perdidas
Pôde-se compreender que são as feridas
De amor a causa de fecundos tormentos!


DE Ivan de Oliveira Melo




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

ÁGUA

Meu sangue é água. Bebe, sacia tua sede!

A vida está sedenta. Faminta… Que horror!
Rios, mares poluídos. Resta a água do esgoto,

A lama podrida que fede. É o olfato da miséria
Que se alastra pelos quilombos da existência
Sem deixar rastros potáveis. Restam os poços

Construídos sob a égide de que água é a fonte
Que limpa a imundície cavada nas entranhas
E alimenta o íntimo desiludido perante a vida!
Meu sangue é água. Toma, lava teu egoísmo

E sacia em tuas vertentes a gulodice da alma!
Come teus propósitos à mercê da vermelhidão
Imaculada e virgem das intempéries do sadio
Líquido que te ofereço… Toma do copo, bebe!
Deixa somente por minha conta a água do olhar…


DE Ivan de Oliveira Melo



CRONOMETRAGEM

O tempo é abstrato e sedentário,
Sequência de rotinas: noites e dias!
Concretas são suas nuances e fantasias,
Conteúdos eloquentes do homem corsário!

Horas, minutos, segundos são personagens
Na engrenagem lúdica de rotação e translação,
Tudo é apenas apêndice do jovem e do ancião
Num revesamento de constantes modelagens!

A cronometria nada de novo apresenta,
Até as estações são repertórios da intensa
Reprodução que ocorre nos veleiros anos…

Somente as caricaturas ganham formas
Que se traduzem como novas e velhas normas
E também aí se percebem parceiros os desenganos!


DE Ivan de Oliveira Melo
















terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

SENTIMENTO

Ah! quanta nostalgia que eu sinto
Dos sonhos aveludados no coração,
Dos momentos de cio e de tesão
Que o tempo levou embora!

Que tara, tantos devaneios, mar…
Debaixo de sol, debaixo de chuva,
Levado pela brisa do vento in natura,
Emoldurado pelo orvalho do luar!

Tantas flores a sorrirem na primavera
A alumiarem os dias de belas sonatas!
Como passam as horas, são tão ingratas
E na vida muitos se esquecem de amar!

Das folhas que caem no outono
Linda passarela se forma no chão…
Gente que vai e vem curtindo a estação,
Carregando da existência o que somos!

Como é belo observar das estrelas o brilho
E ter a certeza que a vida é só infinito,
Mergulhar na aventura do astral metafísico
E bem distante abandonar eflúvios de dor!

Que magia é poder beijar a consciência
E saber que náufrago é quem serve ao mal,
Viver a glória e a plenitude do infinitesimal
A fim de colher o ouro em sua essência!

Que esplendor é ter diante de si a natureza
E contemplar rios e cachoeiras da ecologia!
Ver dos pirilampos o luzeiro que alumia
A alma, libertando-a de sua melancolia!

Ah! é mavioso o canto dos pássaros!
É um bem que abençoa a sobrevivência
Dum vegetar caótico donde a indecência
É ainda galardão dos povos bárbaros!

Como é salutar o despertar da aurora!
Novo dia que chega sem nódoas e virgem,
Oportunidade que se tem de tirar a fuligem
E renascer perante o arrebol dum agora!

É o amor que clama ser a virtude do homem!
Estender mão – perdoar!
Viver em comunhão – acariciar
A fraternidade que existe desde ontem!
DE Ivan de Oliveira Melo



domingo, 5 de fevereiro de 2017

HINO À VIDA

Se a felicidade pranteia minha ausência
É porque a tristeza desbotou-se diante da luz
E os sorrisos macabros
Tentaram envenenar minh’alma!

Viver em abundância – Eis a profecia
Que incute no homem esplendor e glória!

Sentimentalismo profundo é o cardápio
Que torna a criatura abençoada e feliz!

Vida não é devaneio, nem nada relativo…
A existência se funde num carisma
Em que o absoluto é a razão do ser
E de ser a fecundação de uma magia
Em cujo termômetro se implode contentamento!

Vida é chama, é centelha que se inflama
Perante o galardão da hipocrisia
Que é espírito infecundo e rasga do bem
A força que traduz a fortaleza do mundo são!

Não é a felicidade que chora por mim…
É a nostalgia que declama no orvalho
Do viver, o respirar da sofreguidão!

Não é a tristeza que desbota o senso da paz…
Muitas vezes é a solidão que clama presença
E faz do tempo, alfarrábios de amor!

Não estou ausente do galardão que irradia
No festival da fortuna, o templo da paixão!

Sorvo vida! Respiro vida! Sou vida!
E, diante de mim, a morte também é vida,
Posto que está cientificamente provado:
Nada se perde, tudo se transforma!”

E viver, sobreviver, respirar,
Tudo são normas
Da primavera que se alia às outras estações
Neste imenso e intenso latifúndio de beleza
Que se simplesmente se chama: vida!



DE Ivan de Oliveira Melo

PARADOXAL

O silêncio implode o manjar da quietude
Enquanto o barulho, rente à tranquilidade,
Adormece diante de devaneios e saudade
E, o mundo, o deserto que sonha amiúde…

Busca-se calmaria nas algazarras do dia,
Entretanto se percebe zoada dum vazio
Que é o sossego cheio de estampido e cio
Que as noites tecem em segredo, todavia…

No estrépito remanso que o tempo costura
Há a serenidade que é o fragor da usura
Relampejando o escarcéu da vida e da paz…

O repouso da balbúrdia é um cardápio vivo
Que o alarido mudo estampa de improviso
No mutismo que é estrondo que grita demais!


De IVAN DE OLIVEIRA MELO




HERANÇA

Há uma certa insurreição em minha Biologia,
Pensamentos atômicos parecem vinculados
A uma cratera da epigênese que funde os lados
E me deixa sem rutilância e isento de nostalgia.

Comparo-me a um cadáver, durmo sem sonhar
E me permito envolver por vermes nas reentrâncias,
Contudo a patogênese que lubrifica as substâncias
Está endividada com a vida que é parlamentar.

No extrato onde se alinha a putrefação da carnificina
Existem parasitas que trotam sobre a carne cristalina
Roendo o âmbar que alumia os restos mortais…

Nas paredes inorgânicas do solo há decomposição
E minha fotografia não mostra nesta insurreição
A herança biológica que trouxe dos ancestrais!


DE Ivan de Oliveira Melo





quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

INDIGESTÃO

Não sei onde mora minha volúpia de escrever...

Provavelmente nas entranhas do cotidiano idiota
Que retrata todos os dias o massacre do ideal binário,

Locupletando em suas raízes o constrangimento da vida,
Pois a realidade é um misto de interesses escusos e vis,
Sancionados à luz da incompreensão e da ilusão insensata.

Não sei como sobrevive minha inspiração perante o laico,
Não obstante descrevo perfis de uma natureza indômita
Sem prescrever os andaimes de um latinismo industrializado
Já que o idioma se perde em meio a um turbilhão de colóquios

Vomitados diariamente pelos linguajares irracionais do povo...
Não sei donde provém esta fábula que me acomete o senso,
Talvez através da inequívoca vontade de colocar no papel
Os retalhos que rolam nos asfaltos ainda virgens da sujeira
Que o analfabetismo de tão analfabeto abandona ao relento!


DE IVAN DE OLIVEIRA MELO


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

DESTINO

Quem entende de amor mostre sua face
A fim de que no abstrato não se envaideça,
Que o concreto seja tom, coisa bem espessa
E que o mundo na fantasia não se despedace.

Sonhos quiméricos assanham a sanha do orbe
E o planeta se vê deveras trôpego e alienado,
Raciocínios abandonados, hipocrisia dá o recado
E as gentes se comprazem com a atitude esnobe.

Evite-se que a última lágrima seja de sangue,
Dome-se o instinto da consciência inconsequente
Enquanto no refluxo da maré não haja danos…

Renasça o amor para o equilíbrio não ser mangue,
Revogue-se a alegoria e o bem mais que de repente
Desfaça os nós acumulados ao longo dos anos!


DE Ivan de Oliveira Melo


TREM-GOMÉTRICO

O silêncio é uma turbina que alavanca gemidos…

Perante o eco da tranquilidade assobio delírios
Que percorrem os tetos confeccionados em gesso

E ultrapassam as feridas marmóreas do tempo frio.
Dentro da ociosidade o trabalho é cardápio glutão
Que bebe das carnificinas um sangue coagulado

E nauseabundo que sacia a fome dos abutres limpos
Pela temperança que paira sobre o ar das sociedades
Flageladas pela demência incauta dos que sobrevivem
Nas areias sinuosas dum deserto onde água é lagrima

Impura que tece o orvalho doentio da criatura insana.
O silêncio é a realidade movediça que move os astros
Sufocados através da preguiça que reina no metafísico
Que traz como mensagem uma esperança assaz trôpega
Subordinada aos vértices trigonométricos dos escalenos!


DE Ivan de Oliveira Melo


NOTA : O título é um neologismo criado pelo poeta.