segunda-feira, 25 de novembro de 2019

ARTE ESPACIAL




Mergulhei no metafísico
Para navegar sobre os astros;
Atônito, nadei alucinado no éter
E velejei conforme meu psíquico.

Sem afundar, tampouco sem afogar-me,
Consegui boiar sem os cadastros
Que se infiltram pelo catéter
E que inspira a sensibilidade da arte.

No cosmos há sensualidade sombria
E uma volúpia que assaz arrepia
Qualquer cio que se aventure escrever...

No infinito, transbordam-se alegorias
Para no tesão imaginativo que se cria
Possam as obras formar um ateliê!


DE  Ivan de Oliveira Melo



sexta-feira, 22 de novembro de 2019

EVOLAÇÃO DAS CRIPTAS



Noite escura. Ventos fortes.
Mortalhas cruzam os céus
E, do alto da árvore, sinistro...
Os corvos piam famintos!

Momento arrepiante se faz
E o medo se instala sem dó...
Vultos alucinógenos correm
Sobre os cadáveres sem leito.

Tremendo, a Lua se esconde
Dentre as insensatas nuvens
Que espalham pânico e dor
Em sua negritude metafísica.

Sombras dos umbrais cantam
O verdor luxuriante do pavor
E convidam os mortos-vivos
A saborearem o sangue fresco

Das carnificinas já apodrecidas
Dentre os inorgânicos fósseis
Que dormem à luz das covas
Abertas à visitação dos abutres.

Um orvalho negro que escorre
Diante dum manjar gangrenado,
É néctar da ignomínia que exala
Da morte tétrica e pustulenta.

Bacanais dos olfatos hediondos
Que rondam da Terra macabra
As fúnebres emanações do palor
Que atraem alicerces de loucura!



DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

ORTODOXO

           


          Já me permiti ser a quem admiro, Contudo é uma experiência sem sabor,
          Em que a personalidade perdeu o crédito, E me tornou um ser descrédito,
          Pusilânime e ascético diante do figurino, Totalmente intrépido sobre o amor.

          Já me deixei banhar de infinita alegoria, Todavia fui fantoche do meu senso,
          Em que o caráter se enfeitiçou de lama, Contrariando tudo o que se inflama
          Perante os rituais de um intensa literatura, Engajada em tudo o que penso.

          Já me observei um tanto morto-vivo, Bebendo do sangue das donzelices,
          Em que virgindade diante de um vampiro, É um teor que eu apenas respiro
          De acordo com os naipes de uma usura, Planejada nos alpes das tagarelices.

          Já me analisei de dentro para fora e vice-versa, Encontrei um mundo insólito,
          Bem semelhante desta vida que anda submersa, Sem os traços que impeçam
          De eu ser o que eu queira sem muita conversa, Pois meu deserto é inóspito!



          DE  Ivan de Oliveira Melo 

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

CONTRABANDO




Madrugada de tempestades, alvoroço íntimo;
Minha inconsciência devaneia o silêncio
E, na força dos ventos, os astros gritam,
As folhas murcham e a solidão sente sede...
Eu sei que a chuva não molha, mas a fome devora
O apetite sonambúlico do prazer iníquo.

Dorme-se... O dia nasce na escuridão da saudade
E as árvores dos campos desnudam das estrelas
O brilho sardônico e empedernido da luz opaca
Que o orvalho da manhã desbotou dos sonhos.

Naufraga-se sob a égide das vagas peremptórias
Que se jogam diante das inverdades crepusculares,
Cultivadoras do sentimento impuro e cobarde,
Mas contrabandista do amor que atravessa o destino!


DE  Ivan de Oliveira Melo



domingo, 17 de novembro de 2019

REVIVÊNCIA






Troto pelas avenidas; nos sonhos, cavalgo
E galopo sobre os seixos da metamorfose;
Tempestades de areia agasalham a psicose
E, diante do Saara que há em mim, sou algo...

Embaralha-me a neve salpicada pelos ventos
E me derreto pleno sobre as geleiras da muda;
Temporais solares me aglutinam na espuma
E, diante da saudade, justaponho sentimentos.

Perambulo solene sobre os astros cadentes
E, sobre a metafísica dos corpos ainda carentes,
Sou uma bússola que demarca as distâncias...

Enveneno-me o âmago de sutil poeira cósmica
E, diante da existência assaz esdrúxula e caótica,
Mato-me a fim de que obtenha novas infâncias!


DE  Ivan de Oliveira Melo


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

PARADIGMAS



A derrota é o armistício dum ego impoluto
Que não sabe distinguir o acidente do incidente...
A austeridade é uma vaidade sem recursos
Perante indivíduos que se amedrontam como escravos...

Nem sempre a vitória é a esteira duma conquista,
Muitas vezes ela é hipócrita, engana os desavisados
E atira aos pântanos uma realidade pulverizada,
Mecânico esboço do que é sobreviver num submundo...

A desconfiança é o enredo maior do que se vive,
Pois se os personagens não desbravam as estradas,
Certamente os mistérios jamais serão desvendados...

Se é obrigatório logar para que se tenha vida,
É também imperioso que se escarneça a senha,
Porque há gargalhadas que são o laxante da imperfeição!



DE  Ivan de Oliveira Melo 

domingo, 10 de novembro de 2019

CONDENADOS




Sou eco e sou surdo...
Tenho um corpo sem alma...
Na verdade, sou bastante água
E não sei falar... Sou mudo!

Respiro, mas... Apócrifa é a vida
Que ensina e destrói... É o nada!
O tudo é efêmero... É hora tatuada
Perante o tempo isento de esquina.

Sobrevivência: uma existência nula
Que tem do mundo apenas o decote
Já que viver é preparar-se para a morte!

Esdrúxulo universo que não depura
Do ouro e da prata o viés da semente
Que perece incauto... Sem saber ser gente!


DE  Ivan de Oliveira Melo


NA MESMA MOEDA



Às vezes me sinto alpino
Embora não seja tão alto...
Nas estradas, o meu asfalto
É a inocência de um menino.

Sempre me observo ignavo,
Embora não seja tão audaz...
Na vida, sou ainda um rapaz
Que se vê criança no embalo.

Vez por outra me tenho feliz
Diante de coisas que não fiz,
Pois me julgo ainda pimpolho...

Raramente entro numa guerra,
O belicoso dissimula e espera:
Dente por dente, olho por olho!



DE  Ivan de Oliveira Melo