segunda-feira, 29 de abril de 2013

Aprendendo Lições



O  sol  não  para  de  brilhar,
Nós  é  que  queremos  ser  mais  que  ele,
Rompemos  intempestivamente  nossas  paredes
Com  a  esdrúxula  ambição  de  sermos  o  mar...

Ficamos  céticos  diante  de  nossa  pequenez,
O  orgulho  nos  impede  que  se  compreenda
Que  a  grandeza  humana  é  a  humildade,  não  a  lenda
Que  faz  com  que  desejemos  ser  tudo  de  uma    vez!

Como  o  caráter  fica  enfermo  e  preso  a  falsas  alturas,
Nossa  personalidade  se  veste  de  uma  hipocrisia  que  cultua
Uma  queda  ao  ar livre  para  que  se  abram  os  olhos...

Perante  o  tombo  humilhante    a  lição  aprendida
E  o  recomeço  faz  com  que  entendamos  o  que  é  a  vida,
Pois  a  humildade  é  branca  e  o  orgulho,  petróleo!

domingo, 28 de abril de 2013

Sonho e Relatividade

 
Todo sonho é nômade,
Vagueia por estações distintas,
Busca do pincel todas as tintas
E da natureza nada se esconde.

Do amor que está em seu nicho
Pinta-se com carinho seu êxtase
E sua essência em harmonia deixa-se
Incorporar aos devaneios pontos infixos.

Tela das probabilidades é o estágio onírico
Em que o empirismo como método científico
Rastreia anseios fecundados na realidade...

Caixa de ressonância que quer viver,
A imaginação alia à inconsciência o prazer
Que a consciência retrata como relatividade!

Diálogo



Se  a  noite  conversar  comigo,
Eu  pedirei  para  morar  na  lua,
Escalarei  todas  as  estrelas,  uma  a  uma,
Até  encontrar  meu  definitivo  abrigo.

Se  a  noite  negar,  dizendo  não,
Eu  farei  o  sol  brilhar  na  madrugada,
Assassinarei  as  estrelas  com  trovoada
Para  que  cadente  não  fique  meu  coração.

Carente  estará  a  aurora  em  agonia
Suplicando  que  a  noite  beije  o  dia,
Rogando  pela  luz  do  rútilo  farol...

Se  na  alvorada  de repente  o  dia  anoitecer,
É  a  noite  falando:  “Poeta, basta  eu  e  você
Para  descrevermos  a   partitura  do  arrebol”!

sábado, 27 de abril de 2013

Brincando com as Figuras


Com a sinestesia eu apuro os sentidos
Para sentir-me suave conforme o eufemismo,
Mas a redundância cutuca-me os ouvidos
E no exagero da hipérbole vejo-me reprimido...

Não me comparo com metáforas exorbitantes,
Nas extremidades da antítese busco ser feliz,
E quando ultrapasso os limites que o paradoxo diz
A elipse me esconde para que tudo seja como antes.

Com a anáfora o amor se repete a cada dia,
Como ser humano a personificação me seria alegoria
E as perífrases mostram-me as qualidades que este amor tem...

Quando tenho saudade, a apóstrofe chama o nome
E o anacoluto quebra a tensão que me consome
Perante as inversões e ironias que a catacrese obtém!

Dialética Humana



Será  que  o  sentimento  é  surreal?
Não,  não  o  creio  totalmente...
Parece-me  mais  que  seja  agnóstico
Perante  o  olhar  ressabiado  das  criaturas...
As  coisas  se  transformam  inesperadamente,
Nem    tempo  para  que  se  absorvam  conteúdos,
Dos  argumentos  retiram-se  dúvidas
Que  deixam  o  ser  humano  em  cima  do  muro...
E,  assim,  sucessivamente  em  todos  os  pontos.
O  amor  tem  suas  pernas  divididas,
Uma  para  cada  lado,  pois,
Nunca  se  foi  tão  corriqueiro  dizer:  “te  amo”!
E  por  qualquer  motivo,
Como  amar  fosse  o mesmo  que  gostar...
Gostar  se  gosta,  amar  é  outra  história.
O  descrédito  se  instala  no  que  é  mais  grotesco
E  se  intensifica  em  aspectos  mais  eruditos...
A  confiança    não  rola,  desenrola-se
Perante  os  paliativos  da  modernidade
E,  na  maior  parte  do  todo,
Desenvolve-se cada  vez  mais  a  incredulidade...
É  assim  que  o  mundo  campeia
Diante  das  fraudes,  da  violência,
Da  ausência  do  interesse  comum,
Dos  meios  de  comunicação,  das  redes  sociais,
Do  sacro,  do  face  a  face...
Os  débitos  travestem  o  homem,
Os  créditos  se  camuflam
Porque  o  caráter  da  palavra
Ganhou  uma  nova  personalidade:
O  da  multiplicidade...
Salve-se  quem  puder!

Rios de Lágrimas



Rios  de  lágrimas  cercam  meu  vulto  carcomido
Pela  areia  úmida  de  uma  ilha  inóspita,
Sou  náufrago  das  ilusões  em  que  se  nota
No  vazio  das  emoções  um  deserto  adormecido.

Na  solidão  inclemente  corrói-se  uma  alegoria  alienada
Às  sombras  imponentes  de  gigantescos  arranha-céus,
Na  calvície  do  mundo  consome-se  nefasto  fel
Que  alimenta  sonhos  empedernidos  que  causam  desgraças.

A  face  humana  pranteia  uma  água  espessa  e  poluída
Pelos  dejetos  ingeridos  nas  sensações  apócrifas  da  vida
Quais  vermes  que  saciam  sua  fome  nos  organismos  insólitos...

Rios  de  lágrimas...  lágrimas  que  murcham  as  flores,
Que  acompanham  solitárias  preces  destinadas  aos  andores
Numa  última  esperança  de  resgatar  quem  sobrevive  do  ócio...