domingo, 30 de novembro de 2014

ARTESÃO DE VIDAS - III

S E R I A D O
ARTESÃO DE VIDAS
CAP. III

Dois dias se passaram. Era sábado e Joab logo se levantou e chamou Tádzio. Eles iriam ao clube, conforme haviam combinado.
- São que horas? – Tádzio perguntou.
- Sete. – Respondeu Joab.
- Não acha que podíamos dormir mais um pouco?
- Está com preguiça, não é?
- Não – disse Tádzio – estou com muito sono ainda, mas tudo bem. Vá tomar seu banho, depois eu vou. Enquanto isso, cochilo mais um pouco.
Joab despiu-se ali mesmo e se dirigiu ao banheiro. Percebera que fazia muito calor e deixou o chuveiro na água fria. O banho foi gostoso e em pouco tempo voltava ao quarto, enrolado na toalha.
- Levante-se Tádzio... Veja, já tomei banho.
Muito preguiçosamente Tádzio sentou-se na cama. Espreguiçou-se. Ficou a observar Joab, que se vestia.
- Eu não tenho calção de banho... você tem um para emprestar-me?
- Tenho vários... você escolhe do que mais gostar – Respondeu Joab.
- Obrigado.
Tádzio foi direto para o banho. Lavou-se rápido e retornou.
- Mostre-me os calções a fim que eu possa escolher um. – Pediu Tádzio.
Joab abriu uma gaveta do guarda-roupa e Tádzio verificou que positivamente Joab possuía muitos e findou decidindo-se por um preto. Vestiu-o.
- Veja, Joab, ficou bom em mim?
- Ficou ótimo. Vai fechar o clube com sua beleza...
Terminaram de aprontar-se, tomaram e desjejum e saíram. O clube estava repleto neste sábado. Os amigos se aproximaram de Joab, todos desejavam saber quem era o garoto que o acompanhava.
- É um primo meu, gente! Veio passar uns dias lá em casa e talvez até fique morando conosco. O nome dele é Tádzio.
Tádzio não chegou para quem queria. Fez o maior sucesso entre os amigos de Joab. Dirigiram-se ao vestiário, tiraram as roupas e ficaram só de sunga de banho. Molharam-se com água do chuveiro e num instante estavam na piscina. Joab não sabia nadar e ficou impressionado com a agilidade de Tádzio na água. Parecia um peixe, nadava que era uma beleza.
- Onde aprendeu a nadar tão bem? – Joab interrogou.
- Ah... quando meu pai era vivo, sempre me levava à praia aos domingos... às vezes íamos para a fazenda de um amigo dele que fica no interior, há um rio que corta as terras e lá nadávamos bastante. Foi assim que aprendi. – Disse Tádzio.
- Você me ensina a nadar? – Joab pediu.
- Ensino. Venha, vou mostrar como deve fazer.
E assim passaram uma manhã agradável. Eram 2 horas da tarde quando Tádzio deu sinais visíveis de que estava faminto.
- Joab, vamos almoçar... estou morto de fome...
Joab consultou seu relógio.
- Num é que esquecemos das horas? Vamos, já são duas da tarde.
Saíram da piscina e se dirigiram aos vestiários. Estavam vazios aquela hora, assim ambos puderam com tranquilidade tirar as sungas e tomar banho. Haviam trazido todos os apetrechos: toalha, sabonete, xampu, pente, etc. Colocaram roupa limpa e se dirigiram ao restaurante do clube, do outro lado. Estavam sem camisa e ficaram nas mesas do lado de fora. Melhor, não havia ar refrigerado e o calor estava forte. Pediram um peixada completa para dois e se fartaram. Beberam refrigerantes. Findaram a refeição e permaneceram ali sentados, a conversarem.
- Estive pensando, Tádzio...
- Pensando em quê? – Tádzio quis saber.
- Enquanto você pretende estudar para ser engenheiro de pesca, eu tenho uma faciliade muito grande para desenhar. Modéstia a parte, eu desenho muito bem...
- Sim, e o que tem isto com seu pensar? – Indagou Tádzio – não entendi!
- Simples... eu gostaria de desenhar você...
- Desenhar a mim? Como assim?
- Gostaria que você posasse para uma tela que farei de você.
- Oh! Você acha então que sou modelo?
- Para meu desenho, você poderia ser... Vai ficar lindo!
- Como seria essa tela? De que maneira pretende desenhar-me?
- Aí que está, não sei se vai concordar...
- Fale... Só poderei dar uma resposta se souber como pretende fazer.
- Gostaria de desenhar sua nudez...
- O quê? Então tenho de posar nuzinho para você?
- Por que não? Trata-se de um trabalho artístico...
- Não sei... Não é questão de ter vergonha de você, mas das outras pessoas que posam ver a tela e me identificarem... vai ser chato pra caramba. Não sei... não sei.
- As pessoas vão é ficar encantadas com sua beleza, isto sim...
- E em que local você faria o trabalho?
- Lá em casa mesmo. Na sala!
- E sua mãe? O que dirá?
- Minha mãe não precisa saber... Ela só vive viajando e, na próxima semana, ela fará uma viagem mais longa, vai passar uns dez dias fora, tempo mais do que suficiente para eu concluir a tela. Quando ela retornar, então terá uma surpresa, mostraremos o trabalho pronto.
- Estou a pensar... Não sei... É minha intimidade que você quer colocar em público...
- Ninguém precisa saber o que estamos fazendo... Enquanto estivermos realizando o trabalho, isto fica apenas entre eu e você.
- Depois que a tela estiver pronta... o que fará com ela? – Tádzio interrogou.
- Deixarei minha mãe opinar, ela tem bom gosto e adora essas coisas. Pode até ser que possamos vender e ganhar um bom dinheiro... quem sabe?
- Primeiro quero ver seu talento em outros desenhos... dou a resposta em seguida.
- Combinado. Quando chegarmos em casa mostrarei a você uma porção de pequenos desenhos que fiz e que estão guardados em meu guarda-roupa.
Pagaram o almoço e caminharam em direção à residência. Estavam meio cansados, haviam tomado bastante sol. Joab foi diretamente no guarda-roupa e trouxe uma pasta repleta dos mais variados desenhos. Mostrou-os todos a Tádzio, que ficou impressionado com o talento e a criatividade do amigo.
- Nossa! Parabéns, Joab! Você é um artista. – Tádzio elogiou.
- Então... concorda em posar para mim?
- Concordo!
Os dois se abraçaram e traçaram planos para o início dos trabalhos.
- Vamos sair. Vista uma boa roupa, iremos ao “shopping”. Ainda bem que não desperdiço minhas mesadas com bobagens. Disponho de uma boa “grana” para comprar tudo o que precisaremos: tinta, pincéis, cartolina profissional, cavalete, tudo...
Logo saíram. Estavam no “shopping” e, realmente, o dinheiro que havia estocado deu para que comprasse o material de que necessitaria. Voltaram carregados para casa.
- Onde vamos guardar estas coisas sem que sua mãe veja? – Inquiriu Tádzio.
- Dentro do meu guarda-roupa. Aqui ela nunca mexe. Sou eu mesmo que guardo as coisas e mantenho tudo arrumado. Se prepare, pois, caso fique conosco em definitivo, terá as mesmas obrigações que eu...
- Ah... Isso será “fichinha” para mim...
Não saíram mais neste sábado. Permaneceram em casa. As horas logo avançaram e foram dormir. No domingo despertaram mais tarde: 9 e meia. Tomaram banho e se vestiram. Fizeram o desjejum e estavam na sala, quando Elza chegou.
- Olá, garotos! Como estão as coisas?
- Mãe! Gritou Joab – e correu para abraçá-la e beijá-la. Voltou antes do previsto?
- Não, voltei no domingo, conforme frisei. Só que resolvi chegar mais cedo. Amanhã inicio uma peregrinação pela sertão e, no mínimo, serão dez dias ausente de casa. E você, Tádzio, como está? Não vem me dar uma abraço?
Meio envergonhado, Tádzio foi até Elza e a beijou e abraçou.
- Não deve ter vergonha de me abraçar e beijar... breve poderá ser meu filho adotivo e gosto muito de carinho. Colocou Elza.
- Com o tempo eu me acostumo. – Tádzio falou.
Elza guardou seus pertences em seu quarto e pediu aos meninos que se aprontassem. Iriam almoçar fora.
Almoçaram em um restaurante à beira-mar. Ali ficaram boa parte da tarde curtindo o movimento dos banhistas e recebendo em suas faces gostosa brisa. Retornaram já ao anoitecer.
- Eu nem percebi como estão bronzeados... Foi bom no clube ontem? – Elza quis saber.
- Foi um dia maravilhoso, não foi Tádzio?
- Sim... Um dia inesquecível!
Foram dormir cedo, estavam todos bastante exaustos. Na manhã seguinte, Elza saiu cedinho e deixou Tádzio ainda dormindo e Joab se aprontando para ir à escola.
- Portem-se bem durante minha ausência. Não vivam muito de rua. Em casa há tudo para gastarem o tempo. – Elza aconselhou.
- Pode ficar tranquila, mãe. Não viveremos a bater pernas pela rua. Tenha uma boa viagem! – Desejou Joab.
Elza partiu. Antes de Joab sair com destino às aulas, Tádzio se levantou. Encontrou o amigo na cozinha a fazer o desjejum.
- Prepare-se! Pediu Joab. Começamos hoje nosso trabalho.
- Estou preparado. Vou tomar banho, até mais tarde.
O tempo correu. Joab logo estava em casa. Guardou a bolsa, tomou banho, almoçou com Tádzio e imediatamente preparou o ambiente para a odisseia que estava prestes a ser iniciada. Tádzio despiu-se totalmente e posou com desenvoltura. Joab não permitiu que ele olhasse a tela antes de dar por encerrado o trabalho. Fez com que Tádzio prometesse que não mexeria enquanto ele estivesse na escola. Tádzio cumpriu a promessa embora estivesse maluquinho para vê-la. Isto só veio ocorrer no sábado à noite.
- Pronto, Tádzio. Pode vislumbrar meu trabalho.
E Tádzio, ainda nu, porque acabara de ser desenhado, correu para a frente da tela. Ficou pasmo com o que viu.
- Meu Deus do céu! Que trabalho perfeito! Parece mais uma fotografia do que um desenho em pintura. Estou encantado com seu talento... Fez o desenho principal e ainda outros menores ao redor, dando uma visão global do meu corpo...
- Quanto valerá? – Joab inquiriu.
- Não sei... Não entendo de arte, porém creio que poderá valer um bom dinheiro.
- Deixemos para que minha mãe opine e faça uma avaliação. Tenho certeza de que ela saberá cotar muito bem o trabalho realizado.
- Certamente.
- Ah, um detalhe: caso minha mãe decida vender, não importa o valor de venda, darei a você metade por haver posado para mim. – Prometeu Joab.
- Agradeço e bem que mereço, não é? Fiquei uma semana inteira peladinho deixando você curtir cada espaço de minha nudez, nada mais justo. – Frisou Tádzio.
- Estamos combinados. Vamos dormir... acho que minha mãe deva chegar no meio da semana, imagine a surpresa que a espera...
- Verdade, mas desde já estou morrendo de vergonha... Esta tela me retrata fielmente e ficarei na imaginação de muitas pessoas... É o que não me apetece muito em relação a tudo isto. – Confessou Tádzio.
- Não deve pensar assim... Pense no sucesso que este trabalho poderá causar nos meios sociais e nos convites que poderei receber para pintar outras pessoas... Com relação a você, poderá fazer sucesso e tornar-se um modelo profissional e ganhar um monte de dinheiro, ficar rico do dia para noite...
- É... Sonhar faz bem. A vida, em seu íntimo, é um sonho, cabe tão somente as pessoas terem a devida consciência para transportar com sabedoria o sonho para a realidade. – Comentou Tádzio.
- Hum... está filosofando... Pois é, quem comigo convive, aprende a ser gente.
Os dois riram. Choraram de tanto rir.
AMANHÃ - O CAP. IV

sábado, 29 de novembro de 2014

ARTESÃO DE VIDAS - cap. II

S E R I A D O
ARTESÃO DE ALMAS
CAPÍTULO II
Elza dirigia com atenção, mas seu pensamento estava distante...”Que situação, meu Deus, a de Tádzio! Como se tem coragem de machucar um garoto tão lindo... Que
perversidade...!” Enfrentou um trânsito muito concorrido e chegou ao prédio, onde se localizava o escritório de Inaldo Xavier, seu advogado de confiança. Desceu do veículo, tomou do elevador e aportou no andar desejado. Logo estava diante do amigo. Narrou a ele toda a história do garoto e desejava escutar que procedimento pôr em prática.
- Mal conheceu a criança e já se apaixonou por ela? – Indagou o advogado.
- Pois é, Inaldo. É tão bonito quanto meu filho... é lindo! Não posso permitir que ele volte para sua casa para sofrer. O menino fica apavorado só de pensar nessa possibilidade. Tudo o que quero é que me oriente... Penso em satisfazer a vontade de Joab. Penso em adotá-lo, sim...
- Não será fácil... o menino tem quem cuide dele... Pela lei, é direito da madrasta...
- Porém ele é torturado, não estuda e ainda é explorado com serviços pesados de casa e só tem 14 anos... Apanha muito, as costas dele são a prova.
- Há contundentes marcas nas costas e em outras partes do corpo? – Quis saber Inaldo.
- Ele só me mostrou as costas, o que para mim é mais do que suficiente... Há marcas grotescas que provam os maus tratos dispensados a ele.
- Irei com você agora mesmo à sua casa. Quero conhecer de perto este Tádzio, ver as referidas marcas e fotografá-las. Temos aí, então, provas para pedir, temporariamente, sua tutela, tempo que você entra na Justiça com o pedido de adoção. Está mesmo disposta?
- Estou.
Saíram e foram até a casa de Elza. Lá, Inaldo Xavier conheceu Tádzio e fez as devidas fotografias das marcas de tortura.
- Vou escrever ainda hoje tudo sobre esta criança... Amanhã você vai ao meu escritório para assinar. Leve Joab e Tádzio com você, pois, embora menor, Joab o livrou dos assaltantes e o levou para casa, a fim de socorrê-lo, isto será colocado nos autos que prepararei e, tanto Joab quanto Tádzio, necessitam de assinar.
- Muito obrigada, será feito como solicita.
Inaldo Xavier voltou ao seu local de trabalho. Elza ficou em companhia dos meninos em casa e teve uma ideia.
- Mesmo você não ficando conosco, Tádzio, é preciso que tenha suas próprias roupas. Vamos agora mesmo fazer umas compras para você. – Disse Elza.
Os três saíram em direção ao “shopping”. Correram várias lojas e deixaram Tádzio montado num novo guarda-roupa. Colocaram as compras na mala do carro e entraram num restaurante para jantar. Não disfarçavam a alegria, porque sorrisos eram a tônica de suas faces.
- Mãe, você acha que ganhamos esta? – Inquiriu Joab.
- Não sei... Inaldo fará tudo o que for possível para que este caso se resolva e para que Tádzio fique em nossa companhia. É isto mesmo que você quer, Tádzio?
Tádzio estava com a boca cheia, comia um pedaço de pizza de atum.
- Sim, dona Elza, é o que eu desejo, sim...
Joab não cabia em si de contentamento.
- Estas coisas demoram muito tempo para serem resolvidas, mãe?
- Depende do interesse do advogado. No caso, Inaldo é meu amigo e, como já disse, tudo fará para que se solucione o mais breve possível. Depende da Justiça igualmente que, em nosso país, é muito morosa.
- O que é morosa? – Tádzio quis saber.
- Lenta – respondeu Elza – mas o advogado se esforçando, o processo caminha mais rápido.
Terminaram o jantar e ainda deram umas voltas pelo “shopping”. Cansados, volveram ao carro e rumaram para casa. Já no lar, foi Elza quem falou:
- Joab, pegue aquele colchão que está lá na área de serviço e coloque em seu quarto a fim de que Tádzio possa dormir. Depois pensaremos em melhores acomodações para ele.
Assim foi feito. Joab ajeitou o colchão bem perto de sua cama. A distância era pouca e eles podiam conversar em voz baixa.
- Percebeu como minha mãe está ávida para tê-lo conosco como membro da família? Perguntou Joab.
- Sim, notei. Espero que tudo dê certo e eu fique aqui com vocês. Eu mereço uma família com esta e um irmão feito você...
O sono os dominou. Na manhã seguinte, Joab se levantou cedo e se arrumou para ir à escola. Pensando que Tádzio dormia, na volta do banheiro fechou a porta do quarto, permitiu que a toalha caísse e ficou a contemplar-se diante do espelho.
Tádzio a tudo observava, mas fingiu estar dormindo. Joab murmurava baixinho:
“Espelho querido, responde-me, por favor! Existe na face da Terra algum garoto mais bonito que eu? Tádzio é mais bonito que eu? Por favor, espelho meu, dá-me esta resposta que é tão importante para mim...”
Tádzio teve enorme vontade de cair na gargalhada, entretanto, segurou o riso. Jamais imaginaria que Joab se achasse tão lindo... Mexeu-se sem que Joab percebesse para que tivesse uma melhor posição para vislumbrar a nudez do amigo, total ali perante seus olhos. E ficou impressionado. Pensou: ”Ele pode não ser o garoto mais bonito que existe, mas que é extremamente bonito, isso não há como negar.”
E fechou os olhos, pois, era necessário que Joab imaginasse que ele ainda dormia.
Joab estava pronto. Pegou a bolsa da escola e saiu do quarto. Tádzio pôde, enfim, abrir os olhos e espreguiçar-se. Deu um tempo e depois levantou-se foi tomar seu banho. Retornou ao quarto, vestiu-se e se dirigiu à cozinha, onde Elza já tomava o desjejum.
- Boa dia, dona Elza.
- Bom dia, Tádzio! Dormiu bem?
- Maravilhosamente bem, obrigado. E a senhora?
- Igualmente bem.
- Joab já saiu?
- Acabou de sair.
Um olhou para o outro e se riram. Bom ambiente aquele, pensou Tádzio, oraria para que tudo desse certo e ele pudesse permanecer com aquela família.
- Hoje à tarde vamos os três ao escritório de Inaldo. No retorno, deixo vocês em casa e sigo viagem.
- Viaja muito, não é? – Tádzio indagou.
- Viajo bastante. Hoje pegarei a estrada do Sul. Passarei pela cidade onde mora.
- Eu não moro mais lá. Fugi! – Consertou Tádzio.
- Ainda mora lá, está por aqui de passagem. Só depois que a Justiça resolver, é que poderá dizer que mora aqui conosco.
- É tudo quanto desejo, dona Elza. Ter uma família como esta. Tenho certeza de que serei muito feliz aqui.
- Interessante como nem pensei muito, Tádzio. Só em tomar conhecimento da maneira de como você era tratado, resolvi adotá-lo. Aqui entre nós terá uma vida digna. Estudará numa boa escola e terá tudo quanto tem Joab. Não vou fazer distinção entre vocês. Serão irmãos e percebo que se dão tão bem...
- Meu coração sempre será grato a Joab por haver me socorrido. Também jamais me esquecerei do empenho que está a fazer para manter-me aqui. Só gratidão meu coração terá de vocês, só gratidão...
- Não se emocione... Todo ser humano deveria agir desta forma, assim teríamos um mundo mais humano e solidário. Infelizmente é justo o contrário que vemos e atitudes que beneficiem o próximo é coisa muito rara. Ah, diga-me uma coisa: quando parou de estudar, que série fazia ou iria fazer?
- Eu iria cursar o 6º. ano. Meu pai morreu em pleno janeiro e em fevereiro já não fui mais à escola... Tádzio respondeu.
_ Quanta maldade, Deus meu! Mas recuperará o tempo perdido, percebo que gosta de conhecer coisas novas, assim concluo que goste de estudar.
- Sim, dona Elza, eu adoro estudar. Pretendo ser engenheiro de pesca... adoro o mar e os rios.
- Se ficar conosco, tenha certeza, realizará seus sonhos...
Concluíram a refeição e cada qual foi para seu quarto. Elza foi pôr em ordem suas contas e preparar a mala para a viagem da tarde. Estava pensativa e matutava: “Espero poder ficar com esta criança, que menino mais lindo...Tudo farei pela felicidade dele... tudo o que der a Joab, darei a ele também.”
Joab chegou para almoçar no horário costumeiro. Encontrou Elza e Tádzio prontos para sair, tão logo terminassem o almoço.
- Tome um banho rápido, meu filho e se vista para seguirmos para o escritório do advogado. – Pediu Elza.
- Sim, mãe, serei bem mais rápido do que o costume.
Cumpriu o que disse. Logo estavam os três a caminho do escritório. Foram recebidos alegremente por Inaldo Xavier. O advogado ligeiramente explicou o que deveria ser feito, eles assinaram o que havia de urgência e Elza os deixou em casa e seguiu sua viagem.
- Meninos, estarei ausente por três dias. Comportem-se!
- Pelo que entendo, só estará de volta no domingo. – Disse Joab.
- Exatamente, meu filho. No domingo à tarde.
- Posso ir ao clube no sábado e levar Tádzio comigo?
- Pode, porém tenham cuidado, até!
- Até, mãe!
Joab e Tádzio subiram para o apartamento. Joab iria estudar para a última prova no dia seguinte. Tádzio retirou os sapatos e deitou-se no sofá. Pegou no sono. Joab foi ao quarto, tirou aquelas roupas de sair e colocou uma bermuda caseira. Trouxe consigo os livros e sentou-se no tapete da sala. A última prova... Graças a Deus! Pensava. Havia estudado muito durante aquela semana e, no sábado, iria relaxar na piscina do clube. Adorava ir ao clube, lá tinha muitos amigos para brincar e trocar ideias além de uma piscina enorme, tamanho olímpica para nadar e descontrair-se. Estudou até quase anoitecer. Achou que já estava preparado. Fechou livros e cadernos e se dirigiu para o quarto. Despiu-se e ficou a mirar-se perante o espelho. As mesmas perguntas de sempre: “Oh, espelho meu, responde-me: há alguém na face desta Terra mais lindo que eu?” E se apalpava e se contemplava cada vez com mais ênfase. Não percebera que Tádzio havia acordado e estava de pé à porta do aposento a assistir seu diálogo. “Vai, espelho meu, pelo menos uma vez me responde: há algum garoto no mundo mais belo do que eu?” Tomou um susto ao vislumbrar Tádio olhando fixamente para ele.
- Que faz aí, Tádzio? Você ouviu o que eu estava a dizer? – Interrogou preocupado.
Tádzio apenas sorriu. Entrou na alcova, sentou à cama e respondeu:
- Se eu disser que não ouvi, estarei mentindo. Por que você se faz estas indagações? Por acaso quer ser o mais belo de todos os meninos?
Só então Joab lembrou que estava nu em pelo. Rapidamente pôs as mãos encobrindo suas intimidades.
- Sim, eu não quero ser o mais belo... eu sou o mais lindo de todos! Sou até mais bonito do que Narciso... você não acha?
- Não sei, não cheguei a conhecer Narciso... olha, nem você também. Porém se quer uma palavra minha a respeito, posso dá-la...
- Eu quero... por favor!
- Não precisa ficar se questionando diante de um espelho, ele jamais dará uma resposta a você. Mas eu posso dar e afirmo com toda a minha sinceridade: você é muito bonito, sim, sem dúvidas que é...
- Tádzio, bonito eu sei que sou... Não quero ser apenas bonito. Quero ser lindo e o mais lindo do que qualquer outro garoto no mundo. Eu preciso ter esta resposta, eu preciso, Tádzio...
- Por que necessita tanto dessa resposta? Por quê?
- Não sei explicar...
- Por acaso, feito Narciso, está apaixonado por si mesmo? É isto? Está apaixonado por você mesmo? Responde... Interrogou Tádzio.
Joab começou a chorar, convulsivamente. Esqueceu-se da nudez e levou às mãos ao rosto, na tentativa de enxugar as lágrimas.
- Neste momento contemplo uma beleza singular... Você é, sim, extremamente lindo, sem dúvidas. Nunca vi em minha frente um garoto tão belo quanto você, porém não posso afirmar que seja o mais lindo do mundo, pois, não conheço outros nem de outros o que estou a conhecer de você.
- Obrigado, Tádzio. Eu precisava escutar isto de você. Muito obrigado!
E sem mais preocupar-se com a vergonha diante do amigo, foi até ele e beijou-lhe a face. Tádzio ficou imóvel... não esperava por uma reação dessas. Estava mergulhado num profundo pensar e disse-lhe:
- Acho que estou me contaminando com suas reflexões...
E se despiu totalmente e ficou igualmente a contemplar-se perante o espelho sob o curioso olhar de Joab.
- Diga, espelho de Joab, por favor: quem é mais bonito: eu ou Joab?
- Você também é muito lindo, Tádzio. Sua beleza encanta e eu sou fã do que é belo em você: Você por inteiro!
Tádzio ficou à espera de que Joab terminasse seu banho. Depois tomou o seu e colocou uma bermuda de ficar em casa. Ambos estavam na cozinha, fazendo a costumeira refeição noturna. Foi Joab quem o convidou:
- Sei que você tem pouco estudo... mas é muito inteligente. Então proponho: após esta refeição, vamos discutir Filosofia e tentar entender o belo. Isso me compraz.
- O que é Filosofia? – Questionou Tádzio.
- Filosofia significa dizer: amigo do saber. Filo em grego é amigo; sofia, também do grego, significa saber, sabedoria.
- Então tenhamos sabedoria o suficiente para não nos envolvermos em controvérsias que nos deixem próximos da loucura... Compreender o belo eu compreendo, mas buscar caminhos desconhecidos para sabê-lo definir, isso é tão impossível quanto imaginarmos como é a verdadeira face de Deus...
AMANHÃ - CAP; III

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

ARTESÃO DE VIDAS - I

S E R I A D O
ARTESÃO DE VIDAS
CAPÍTULO I
Tádzio entrou em pesado sono na cama de Joab. Joab deitou ao seu lado na cama de solteirão, bastante larga. Mas Joab não adormecera. Começou a pensar nas perguntas que sempre fazia ao seu espelho. Ali estava a resposta. Estava diante de um belíssimo garoto. Loiro tal qual si mesmo, mais loiro, ainda, talvez, olhos bastante azuis e uma pele alvíssima. Um tórax magro, mas bem dividido e bonito, peitos pequenos, umbigo menor que o próprio e mais fundo. Partes íntimas bem torneadas e protegidas por uma grande quantidade de pelos, quase loiros, como os seus. Corpo perfeito... Será que Tádzio era mais bonito que ele? Esta era a pergunta que teimava permanecer em sua mente. Tentou livrar-se destes pensares e, igualmente, adormeceu. O sono foi intranquilo, pois, a concorrência ao seu lado não o deixava em paz. Acordou-se suado... Tádzio ainda dormia. Joab não conseguiu mais dormir, levantou-se, foi ao banheiro, escovou os dentes e procurou pela bolsa da escola,
abandonada molhada no chão da sala. Recolheu-a e agradeceu ao Alto, porque os livros não foram afetados. Com livros e cadernos às mãos, sentou-se no tapete da sala e iniciou-se a estudar. Estava em semana de provas e precisava preparar-se para o exame do dia seguinte.
Concentrou-se e estudou até anoitecer. Neste momento, Tádzio se acorda e o encontra absorvido, tendo um livro às mãos. Para não tirar-lhe a concentração, caminhou devagar até o sofá e ali sentou-se. Es-
peraria que seu “salvador” concluísse os estudos, o que não demorou muito.
- Você gosta de estudar, não é Joab?
- Sim, eu adoro. Você não gosta?
- Como você, também adoro, mas...
- Mas...
- Minha madrasta e o marido dela não me permitiam estudar. Eles sempre me diziam: “Para quê você quer estudar? Para você é pura perda de tempo, posto que sua função já está determinado até o fim de seus dias... será um eterno secretário do lar... lavar louça, lavar roupa, varrer, lavar banheiro...”
- Pare! – Joab pediu – Isso me dá náuseas – Você não vai se especializar em nada disso... você vai estudar, ser alguém na vida...
- Como? – indagou Tádzio – eles não me deixarão, nunca...
- Vamos esperar minha mãe chegar – informou Joab – contarei tudo a ela, inclusive a razão pela qual você fugiu de casa. Tenho certeza de que minha mãe fará alguma coisa para ajudá-lo, tenho convicção disso.
- Oh, Joab, isso seria um sonho...
- Não sonhe, você está perante uma realidade bem próxima.
- Como pode ter tanta certeza? – Inquiriu Tádzio.
- Minha mãe sempre soube de um desejo meu, um desejo quase que secreto...
- Pode me dizer que segredo é esse?
- Posso. Sempre sonhei em ter um irmão... Você se encaixa dentro desse meu desejo...
- Sério?
- Óbvio! Detesto ficar sozinho... Preciso de companhia, de alguém que converse comigo, que seja além de meu irmão, meu amigo... Você gostaria de ser esse alguém?
Outra vez os olhos de Tádzio se encheram de lágrimas. Estava se emocionando.
- Uau! Gostaria, sim... Terminariam todos os meus tormentos...
- Tudo vai depender de minha mãe, porque de minha parte é isto o que quero...
Novamente se abraçaram...
- Estou faminto – disse Joab – vamos lá para cozinha comer.
Fizeram um lanche, isto é, jantaram. Deixaram a cozinha em ordem e retornaram à sala, onde se aboletaram no sofá. Estavam novamente a conversar.
- Você nunca foi à escola? – Perguntou Joab.
- Claro que fui, mas apenas enquanto meu pai era vivo. Depois que ele morreu, iniciou-se minha via crucis...
- Faz quanto tempo que seu pai morreu?
- Três anos. De lá pra cá, só tormentos ocorrem em minha vida, por isso fugi, eu não aguentava mais, juro que não...
- E sua mãe? – Indagou Joab.
- Morreu quando eu tinha 4 anos... Tempos felizes passei ao lado de meu pai, até que, para minha infelicidade, ele resolveu casar-se outra vez...
- E depois ele morre, deixando você em companhia da madrasta... Que sorte madrasta! Entretanto isto vai se acabar... você, se Deus quiser, ficará aqui para sempre.
- Que Deus esteja falando através de sua boca!
E se abraçaram mais uma vez.
Ligaram a TV e assistiram a alguns programas, porém o sono chegou ao mesmo tempo para ambos. Desligaram a televisão e rumaram para o quarto.
- Onde dormirei? – Tádzio quis saber.
- Aqui em minha cama.
- E você?
- Eu durmo, por enquanto, na cama de minha mãe. Caso ela resolva de você ficar, aí então veremos como procederemos.
E a noite passou rapidamente. No dia seguinte, pela manhã, pela primeira vez nos últimos tempos, Joab não houve de se contemplar no espelho. Na verdade, ficara bastante intrigado, de certa forma o espelho dera –lhe uma resposta, já que todos os dias formulava a ele as mesmas perguntas. Sentou-se na cama. Com a ponta dos dedos limpou os olhos, nem houvera se espreguiçado, como de costume. Levantou-se e pé ante pé, dirigiu-se ao seu quarto, onde Tádzio ainda dormia, tranquilamente.
Despiu-se totalmente ali mesmo e entrou no banheiro. Era cedo ainda, havia tempo mais do que suficiente para um banho demorado. Foi o que fez. Para despertar-se plenamente, molhou-se com água fria. Findou o banho, enxugou-se e penteou os cabelos. Enrolado na toalha, entrou no quarto. Desta vez Tádzio estava desperto.
- Bom dia! – cumprimentou Tádzio.
- Bom, dia! – Joab respondeu. – Vai tomar banho agora? Se for, espero por você para fazermos o desjejum juntos...
- Não vai se atrasar?
- Não, é bastante cedo ainda... não são nem 6 e meia e eu só saio às 7 horas.
- Está bem, tomarei um banho rápido.- Disse Tádzio.
- Quer um outro calção?
- Este está bem, está limpo ainda.
Tádzio foi o para o banho e Joab ficou a vestir-se para ir à escola. Estava calçando as meias e os sapatos, quando o amigo retornou.
- Já? – Inquiriu Joab.
- Meu banho normalmente é rápido.
Foram à cozinha e fizeram o desjejum. Antes de sair, Joab disse.
- Fique à vontade, a casa é sua também. Deverei voltar da escola doze e meia.
- Tranquilo – colocou Tádzio – ficarei à sua espera para almoçarmos juntos.
Joab encaminhou-se à escola e Tádzio ficou na sala, assistindo à TV. Eram 12 e 35 quando Joab chegou.
- Oi, falou Joab – como passou a manhã?
- Inteirinha aqui sentado e vendo TV.
- Já tomou banho para almoçar?
- Ainda não! – respondeu Tádzio.
- Vá tomar seu banho, depois tomo o meu.
Tádzio num instante tomou banho e estava no quarto desnudo, Joab entrou.
- Está querendo uma roupa limpa, não é?
- Sim, agora é bom eu vestir uma limpinha. Você não se incomoda de eu estar usando seu vestuário?
- De forma alguma.
E foi ao guarda- roupa e deu-lhe uma bermuda.
- Cueca não precisa, estamos dentro de casa, assim não sujamos tanto, não é mesmo?
- Concordo com você, mas vá tomar seu banho que estou com fome...
Joab já havia tomado seu banho e ambos se fartavam à mesa.
- Sua mãe cozinha muito bem, sabia? Comida deliciosa, esta... – Elogiou Tádzio.
- Em nome dela agradeço.
E ambos riram. Ainda não haviam parado de rir, quando Elza adentrou à cozinha...
- Quem é este garoto lindo, amigo do meu filho?
Joab levantou-se num impulso e correu para os braços da mãe.
- Que saudade, mainha... Ainda bem que chegou... Ah, este é Tádzio, temos muito o que conversar sobre ele...
- Olá, Tádzio, que nome bonito! – Falou Elza.
Encabulado, Tádzio agradeceu.
- Muito obrigado, dona Elza, muito obrigado.
-Vou tomar um banho e também almoçar...
- Certo, mãe, quando você concluir seu almoço, nós conversaremos.
Elza foi para seu quarto. Trancou a porta, despiu-se e entrou em sua suíte. Nada demorou no banho, estava com a pulga atrás da orelha... O que estaria fazendo ali aquele menino? Joab não trazia amigos para dentro de casa assim em sua ausência. Alguma nova havia e ela estava “louca” para conhecer desta novidade.
Almoçou com vagar. Depois sentou-se na poltrona da sala e os meninos se aproximaram. Logo Joab discorreu sobre o assunto, relatando todos os detalhes que conhecia sobre Tádzio. Elza ficara perplexa, ao mesmo tempo bastante atordoada...
- Não sei o que dizer, Tádzio. Sua história de vida me comove, contudo é um grande abacaxi para ser descascado. Você não tem outros parentes da parte de seu pai ou de sua mãe?
Com os olhos vermelhos e com lágrimas pingando, Tádzio disse:
- Tenho, dona Elza, claro, mas ninguém quer saber de mim... Já fugi outras vezes para casa de parentes, porém me devolveram à minha madrasta.
- Que situação, a sua... Preciso pensar e pensar... Enquanto não tenho uma decisão formada, vá ficando por aí... Haveremos de encontrar uma solução... É complicado.
- O que a senhora fizer por mim, eu agradecerei. O que não posso é voltar de onde vim, desta vez serão capazes de matar-me... Tenho medo, muito medo...
- Tranquilize-se. Se não puder ficar com você, com seus familiares com quem vive é que não o deixarei mais ficar. Eles são desumanos.
E Tádzio mostrou as costas, comprovando os maus tratos de que era vítima.
- Entendo, Tádzio, isso é caso de polícia... o que percebo nisso tudo é tortura, e você ainda é uma criança, meu Deus...
Elza se levantou, volveu ao seu quarto e voltou arrumada para sair.
- Não irei trabalhar, meninos, irei ao escritório de um advogado amigo meu. A ele contarei seu caso, Tádzio e farei o que ele me orientar.
- Mãe, por favor, não esqueça... eu gostaria muito que você adotasse Tádzio... Gosto dele como a um irmão... Colocou Joab.
- Isto pesará em minha decisão, filho, mas não é coisa que se revolva do dia para a noite, temos de ter calma e agirmos dentro dos parâmetros da Lei.
- Eu sei que você tudo fará para manter Tádzio aqui conosco, eu sei que sim...
Elza mais nada falou. Tomou da bolsa e da chave do carro. Abriu a porta e saiu. Notava-se que ela estava um pouco apreensiva... Nunca se deparara com nada semelhante antes. Mas verdade que seja dita: Simpatizara igualmente com Tádzio, achava-o tão bonito quanto o filho, no entanto não podia ficar com ele dentro de casa sem ordem judicial. Isto traria problemas e problemas muito sérios...
AMANHÃ - O CAPÍTULO II

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

ARTESÃO DE VIDAS

A T E N Ç Ã O - N O V O S E R I A D O
ARTESÃO DE VIDAS
P R Ó L O G O
Joab Matias despertou ainda sonolento. Virou-se para o lado da janela e, pelos vidros, percebeu que chovia torrencialmente. Espreguiçou-se uma, duas, três vezes... Intensa falta de coragem o dominava. Lembrou-se de que havia prova no primeiro horário e deu um salto da cama. Desvencilhou-se das vestes e correu para o banheiro. Pôs o chuveiro elétrico em água morna e se banhou, demoradamente. Finalizado o banho, retornou ao quarto enrolado na toalha. Diante do espelho que havia bem em frente à sua cama, deixou a toalha cair e ficou a contemplar-se, maravilhado que era com seu próprio corpo. Nestes momentos se esquecia do mundo, porque nada para ele era mais importante do que vislumbrar a própria beleza. Realmente, era belíssimo. Estava no auge dos seus 15 anos, os hormônios à flor da pele. Conversava consigo mesmo: “Diga, meu espelhinho, há outro garoto nesta terra tão lindo quanto eu?” Nada do espelho responder. Mais uma vez perguntava: “Vamos, espelhinho, não me deixe assim... preciso saber: existe um outro menino neste mundo tão lindo quanto eu?” E passava as mãos pelos bonitos e lisos cabelos loiros, tão amarelos quanto o sol. E levava as mãos a acariciar as maçãs do rosto, rosadas e que contrastavam com sua pele alvíssima.
Depois permitia que caíssem até o tórax e, levemente, massageava o peito, redondinhos e pequenos, bem desenhados. Sua contemplação não parava por aí, as mãos desciam e cutucavam o pequenino e fundo umbigo, sentindo um leve prazer. Custava mais a apreciar-se em suas partes íntimas. Achava-as perfeitas, ornamentadas que eram por imensa quantidade de pelos, meio aloirados. Para concluir sua análise de todas as manhãs, dobrava o corpo e, num bom ângulo de visão, podia ver suas nádegas carnudas, bem torneadas e lisas. Considerava-se o máximo e não admitia que houvesse outro garoto que chegasse perto de si.
Dizia-se mentalmente: “Nem Narciso foi também lindo e perfeito quanto eu...”
De repente, deu-se conta das horas. Estava atrasado. Rapidamente vestiu-se e pôs sapatos e meias, arrumou livros e cadernos dentro da bolsa e correu para a cozinha. Não comeu, engoliu o que achou... Saiu às pressas, tomou o elevador e ganhou a rua. Mesmo debaixo da chuva, que agora era fininha, esperou a condução. Para sua sorte, não demorou. Conseguiu chegar em tempo, no instante em que a sineta tocava, anunciando entrada à sala de aula.
Joab Matias era filho único de Elza, uma mulher ainda jovem. Era mãe solteira. Houvera, há quinze anos, tido uma profunda relação com Fábio Matias, um rapaz irresponsável e cretino. Na verdade, apaixonara-se por ele e não mediu as consequências de seus atos. Quando soube que Elza estava grávida, Fábio simplesmente desapareceu e Elza só veio a saber de seu paradeiro perto do parto de Joab. Fábio fora acidentado por uma moto e levado às pressas a um hospital, contudo não resistira aos ferimentos, falecendo no local.
Elza Santiago era uma mulher de fibra. O pai não aceitara sua inconsequente gravidez e ela foi obrigada a sair de casa. Alugou um apartamento pequeno, de dois quartos e ainda nele residia. Após o parto, teve a assistência de algumas amigas que lhe deram total apoio. Graças a isso, pôde driblar instantes de profunda necessidade. Passados os meses de resguardo, uma de suas colegas indicou-a para uma fábrica de tecidos e nesta indústria têxtil trabalhava até o presente. Era exímia vendedora e ganhava excelentes comissões, o que lhe era suficiente para viver razoavelmente em conforto com o filho. Dos seus rendimentos tirava o sustento, pagava uma boa escola para Joab e nada permitia que falfasse. Comprou um carro seminovo e viajava bastante, vendendo seus produtos. Estava agora a juntar na poupança uma quantia que desse para comprar seu próprio imóvel, queria livrar-se de aluguel.
Joab Matias fizera boa prova. Estava a comentar com os amigos o que respondera e seus olhos verdes brilhavam de contentamento.
- Estão vendo, até para ter sorte é preciso ser bonito. Dizia.
- Que nada, Joab! – retrucava Márcio – Você pegou cola com Aninha, pensa que não vi? Nem cego eu sou!
- Por isso mesmo, idiota! Se eu fosse feio ela não me ajudaria. Ria-se.
O tempo continuava fechado. A chuva parecia mais intensa. Joab teria de voltar para casa. Na pressa de chegar em tempo à escola, esquecera-se do guarda-chuva. Esperou que esperou e nada de haver uma estiada. Resolveu enfrentar o aguaceiro e se foi. Já entrou no ônibus ensopado, protegendo a bolsa por baixo da blusa. Ao chegar em seu ponto, desceu. Buscou caminhar o mais rápido que pôde. Antes de dobrar em sua rua, presenciou algo que o chocou deveras. Quatro trombadinhas espancavam um garoto solitário. Tomaram sua bolsa, arrancaram o relógio do pulso, um trancelim vagabundo que enfeitava o pescoço estavam tirando-lhe as vestes. Joab ficou sem ação debaixo de uma marquise. A tudo assistia, porém o medo tomou conta de si. Os trombadinhas deixaram o garoto totalmente desnudo em pleno meio da rua, esticado no asfalto e com ferimentos espalhados pelo corpo.
Escorria sangue por seu nariz... Joab se apiedou. Gritou: Polícia! Polícia! Polícia!
Os delinquentes, ao escutarem, debandaram-se e Joab chegou perto do menino, todo machucado e nu. Deu-lhe a mão e o levantou. Tirou sua própria camisa e pediu ao garoto que cobrisse sua vergonha.
- Proteja suas partes íntimas e venha comigo. Moro aqui perto e vou ajudá-lo.
Ainda debaixo de forte chuva, caminharam e chegaram ao edifício em que Joab residia. Por sorte não havia ninguém na portaria e ambos se deslocaram rapidamente até o apartamento. Joab abriu a porta e ambos entraram.
- Siga-me- Pediu Joab.
O menino estava meio que autômato, obedecia singularmente a tudo o que Joab propunha.
- Este é meu quarto. Permita que me apresente: chamo-me Joab Matias e tenho 15 anos. E você? Qual seu nome? Que idade tem? De onde vem?
O menino não conseguiu responder de imediato. Segurava firme a camisa que protegia seus tesouros e caiu num convulsivo pranto. Joab teve compaixão. Aragarrou-o e o abraçou.
- Não tenha medo... Não vou fazer mal a você. Quero apenas ajudá-lo. Permita-me! Joab falou.
Lentamente o desconhecido foi dominando o choro. Estava visivelmente perturbado com o que lhe acontecera. Estava em estado de choque.
- Não se envergonhe... Ponha-se à vontade. Aqui só há eu e você. Vou levá-lo até o banheiro para que se banhe. Além de todo sujo, está muito ferido. Bateram bastante. Vou cuidar destes ferimentos e dar-lhe uma roupa limpa para que vista. – Joab prometeu.
Conduziu o garoto até o banheiro e o colocou debaixo de chuveiro. Ligou na água quente.
-Dê-me a camisa. Vá, banhe-se... A água está gostosa. Pode usar de tudo aí: xampu, sabonete, condicionador... vou pegar uma toalha para você.
Bastante constrangido, o menino devolveu-lhe a camisa e iniciou um longo e gostoso banho. Depois Joab deu-lhe a toalha e ele se enxugou.
- Voltemos para o quarto, separei umas vestes para você. A sorte é que tem um corpo muito similar ao meu. Minhas roupas o vestirão muito bem, mas não as vista ainda. Vou tirar estas roupas molhadas, igualmente tomar um banho e venho cuidar dos seus ferimentos, só depois você se veste, está bem?
O desconhecido balançou a cabeça afirmativamente. Enrolado na toalha, deitou-se na cama de Joab e... adormeceu.
Joab pegou uma bermuda e uma cueca e se dirigiu ao banheiro. Tomou seu banho, enxugou-se e botou as vestes. Penteou os cabelos e trouxe o pente para pentear os do menino. Ao entrar em seu aposento, viu que o mesmo dormia, de forma profunda.
- Caramba! Ele está exausto, porém terei de acordá-lo, é necessário ver os ferimentos e vesti-lo.
Delicadamente Joab tirou a toalha que cobria o corpo do ferido, que abriu os olhos, meio sonolento.
- Não se avexe – disse Joab – estou a cuidar dos seus ferimentos. Sei que vai arder um pouco, é sanativo. Ainda bem que são apenas arranhões. E havia arranhões pelo tórax, pernas e nádegas.
- Pronto – afirmou Joab – agora fique de pé e ponha este calção.
Joab entregou a ele o pente e, logo, os cabelos ficaram impecavelmente penteados.
- Eu estou com fome – asseverou Joab – você não está?
Pela primeira vez Joab escutava sua voz.
- Sim, estou – respondeu – estou bastante faminto.
- Acompanhe-me e traga esta toalha para estender na área de serviço.
Os dois se dirigiram até a cozinha. Elza estava viajando, mas deixava pronta no “freezer” as refeições de Joab, era só esquentar.
Comeram em silêncio e beberam suco de goiaba. Deixaram tudo limpo e voltaram ao quarto.
-E aí, deu para matar sua fome? – Joab quis saber.
- Sim. Estou bem agora.
- Podemos conversar ou você prefere dormir, posto que está cansado?
- Podemos conversar. Quero agradecer tudo o que está a fazer por mim. Eu estava em choque, mas já passou. Meu nome é Tádzio, tenho 14 anos.
- De onde você vinha e para onde ia, Tádzio?
- Eu fugi de minha casa... Não estava mais a suportar as malvadezas de minha madrasta e de seu marido.
- E para onde ia?
- Não havia em mim um destino certo. Iria dormir na rua, inicialmente. Depois iria em busca de um serviço em casa de família a fim de me manter. Sei fazer tudo dentro de uma casa: varrer, faxina completa, lavo roupa...
- Eles obrigavam você a fazer isso todos os dias? – Quis saber Joab.
- Sim... E com um chicote às mãos... eu cumpria essas obrigações ou apanhava e apanhava muito... Não viu as manchas em minhas costas?
- Vi e iria até perguntar o que eram... Meu Deus!
- Agora estou meio perdido, Joab. Levaram todos os meus pertences, aí incluindo meus documentos pessoais...
- Não se preocupe... Você ficará aqui em casa até minha mãe chegar, ela trabalha viajando e vendendo confecções., deve estar voltando por esses dias, amanhã ou depois, no mais tardar.
- E você manterá em sua casa alguém como eu, um desconhecido? E se eu for um ladrão?
Joab riu muito. Chorou de tanto rir. Depois respondeu:
- Desconhecido sim, ladrão sei que não é. Você tem aparência... Percebe-se que é um garoto de família. Você fica aqui comigo... Gostei de você, Tádzio, apesar das circunstâncias em que nos conhecemos.
- Puxa, muito obrigado! – Agradeceu Tádzio e em seus olhos viam-se as grossas lágrimas que, finalmente, inundavam seu rosto.
- Não chore – os olhos de Joab igualmente se encheram de lágrimas – você está bem e acolhido.
- Eu sei – Tádzio falou – é porque só agora consigo compreender a extensão do que me abateu e a sorte que haver encontrado uma pessoa como você, que cuidou de mim de forma tão delicada e prestativa. Posso dar-lhe um abraço, Joab?
- Sim – Joab retrucou – é claro que pode!
E ambos se abraçaram e deixaram que as lágrimas rolassem livremente em suas faces.
AMANHÃ - O CAPÍTULO I

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Antídoto Sensual

Simplesmente o amor aconteceu
Afogado em volúpia entre eu e você...
Sexo não foi apenas tônica de prazer,
É sentimento puro que não feneceu.

Delírios sussurrados expelem magia
Em átomos de sofreguidão feito pavio
Que quando acesos acariciam o cio
E ejaculam feitiços que a mente fantasia...

Aconchego de uma orgia que é incolor
Em que tudo é válido em nome do amor
E da estância onde flores fecundam carinho...

Mãos dadas, corpos uníssonos, isso é religião
Que sacia do mundo o dar e o ter no tesão

O sorriso que tira da alma a tristeza e o espinho!

sábado, 22 de novembro de 2014

Vitrine

Hei de plantar um pé de verdades sobre teu sepulcro...

Mistificaste teus próprios sonhos e bebeste das mentiras
O ópio que engorda falcatruas e confecciona fantasias

Que fazem das nuvens no céu o mar alegórico das utopias...
Nos adereços da imaginação as ondas se quebram rubras,
É o sangue deteriorado da realidade que coagula enfeitiçado...

Hei de semear sobre tua cova o mito de todas as veracidades
Já que tapeaste as horas com as alegorias de falsos ventos
E edificaste sobre o tapete da vida só  irreais monumentos
Que desabam quando as virtudes soterram áridos defeitos...

Hei de transformar o mausoléu em que dormes em atalhos
Que desnutrem as inverdades e as jogam em precipícios
A fim de que a sinceridade ressurja para um novo tempo
Em que a audácia do mundo seja um repertório de trabalho
E as iniquidades feneçam perante a arte, vitrine de fidelidade!


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Hospedagem

(  Indriso  )




Sinto calafrios... Estou cor de azeitona...

Excêntrico remate sobre a velha cama
Põe meu corpo carcomido em chamas
Após dantesca operação de fino coito...

Minhas pernas bambas fotografam azia
Pelo consumo de carne que é a alotropia
Dum processo sensual... papel carbono!


Queda...Levanto... Sou hóspede da dona!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Espinhos

Rodopiei na ganância de consumir teu pejo...

Latrocinei tua timidez e só agora sinto e vejo
Que o destempero da paixão é avião vexatório

Que escancara a decência perante o auditório
Que veste o mundo de ilusão e assassina o tudo,
Confeccionando ladainhas que não são veludo...

Deixei tua inocência num camburão de peçonha
E me percebo o larápio que contaminou teu ópio,
Cético é o anfiteatro que precisa usar microscópio
Para desvendar o endereço incógnito da vergonha...

No solo que fora ingênuo há vagões enferrujados...
Alavanquei meu senso diante de um amor proibido
E te fiz provar da maçã que descortina fogo e perigo
Que ceifam a angelitude  dentre matagais floridos,
Mas que são contrabandos de arames farpados!




segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Profilaxia do Conhecimento

Toma deste cálice, bebe do elixir da vida
Que é sangue que te ensina a sonhar,
Não com espinhos que ferem teu caminhar,
Mas com rosas cujo perfume é suntuosa bebida.

Come deste prato, sacia tua indomável fome,
Não com palavras que te revelem mentiras,
Mas com gestos em que prudentemente atiras
Todas as verdades dum verdadeiro homem.

Faze leilão com dúvidas que confundam o pensamento,
Assim podes enxergar o erro e o sofrimento
E com argúcia tu aprendes o que é amar...

Segue teu destino sem olhar o que há atrás,
Pois, as vespas contaminam o equilíbrio e a paz
E as águas dos rios têm medo de desembocar no mar!


What's Love?

It was sunday night.
I was very tired and and sleepy...
Then a beggar kocked on my door.
I looked at the time. It was late.
When I opened the door,
An ancient man said to me:
Please, I don’t wish a dole,
I am looking for a charity.
I need you can hear me.
I am alone. I do not have anybody
To talk because this world is full
Of people and nobody can lose time.
Always I listen: time is gold, man...
And I? What am I?
I am not gold, I am not silver,
But I am alive...
I live in my loneliness
And I talk with myself only...
I am prissy to hear my own voice.
I know that you are jaded...
It’s late and tomorrow morning
You are going to work...
I know... I know...
But i beg your attention.
Look at me... Think with me:
Can a man live alone?
If you don’t want to answer
I can understand you...
Everybody do the same...
Any one sees my eyes
They are thirsty of love...
They are hungry of joy
And my body is kept outside...
Say to me only one thing:
What is love?
Does the love exist?
If it exists, please...
Tell me where is its home...
I am going to knock on its door
And I will ask:
Why are you hidden?
There are several persons like me
And all need to understand
How to survive...
Love is important.
Love is to shake the hands.
Love is to hear a cosiness word.
Love is to watch the smile of a child.
Love is to give a solidarity hug.
Love is to upgrade the frat among the men.
Love is to cry because the world is lost.
Love is to help when someone is hopeless.
Love happens when we try to change the world.
Love is to show our examples.
Love is to teach ever what is good.
Andy you are good
Because you had sufferance
To listen my words.
Thank you!
I don’t have any query...
You know what the love is...
Then I love you!

Good night!

domingo, 9 de novembro de 2014

My name

And now? I forgot my name...
Where did I lose my brain?
Oh... I let it in Face,
It is always the same...

I am alive... Just alive!
How can I forget my name?
Without it I am nobody... It’s my blame...
So I can’t stay fine...

Dear me! I am not mad yet...
I can feel what I do step by step
But in my mind there isn’t anything more...

God... helps me... I need to remenber
What my name is... Give me a tender...

Waw! I got it! My name is love!

Doce Alegoria

Dormimos nuzinhos, em delícias...
Em circuitos diagonais somos parábolas
Que no aconchego enfeitiçam as távolas
E nossos dedos... mel que adoçam milícias...

Sonhamos juntos um mesmo painel de flores
Que aromatizam as noites de pura magia,
Corpos entrelaçados pelo tom da suave sinfonia
Que faz do nosso idílio a sublimidade dos andores.

No silêncio osculamos as veredas do prazer
Que em centímetros cúbicos nos faz compreender
O amor que embalsama almas sedentas de idolatria...

Na valsa que embala sobre o leito o esplendor
Há uma eclosão que singra em dó maior o ardor

E sentimos em nós o doce manifestar da fantasia!

Madureza da Existência

Somente o amor transforma,
No servir faz-se a caridade,
No sorriso infesta-se a felicidade
E saber ouvir é ciência cristã.

A palavra certa: atributo do bom artesão
Que a endossa caricaturando o bom exemplo
Na edificação de situações que contêm ensinamentos
E que trazem alegria na aprendizagem da vida louçã.

No intercâmbio com o próximo que haja fidelidade,
Pois, a vida temperada com cristal é prosperidade
Que produz bênçãos e torna a existência relevante...

Tributa-se a fortuna com moedas que são do espaço,
A ternura e o carinho buscam no aconchego o regaço

Onde o amor é fruto que alimenta corações amantes!

Menopausa

Estou sozinho a bordo do amor,
Águas bravias balouçam a ampola,
Quem desejar tocá-la e dispô-la
Tem de com jeitinho regar uma flor.

Sem soalho, areia é carinho e ternura,
Adubo é magia, é o sopro do ar
Que faz germinar o orvalho do amar
E se edifica solene um jardim sem censura.

Vagueio místico entre odores e perfumes,
A ampola flutua desnuda do mundo, impune
A soçobrar os prados desérticos em solidão...

Ondas são quimeras que açoitam brisas
Tímidas pelo aroma das flores,  orquídeas,
Que fazem do tempo a menopausa do coração!



Perpétuo

PERPÉTUO


( LUCIANO  VICTOR  pela  pena  de  IVAN DE OLIVEIRA MELO )





Estou massacrado pelas setas do destino,
Senti no peito o amor ainda muito menino
E com ele cresci alimentado pela fantasia.

Sentimento sem medida me consumiu os anos...
Hoje, consciente, só eu sei o quanto amo
A criatura que nasceu para ensinar-me a sonhar...

Em meu coração andorinhas rasgam os céus
E relâmpagos inundam o espaço de trovoadas,
Sob a paisagem dos campos sigo de mãos dadas
Com a vida que é o mais valioso de todos os troféus...

Deixo que caia o manto que encobre minha nudez
E no olhar que me contempla pulsa mágico coração
Que em seu bater alucinado me mostra o que é tesão

E me entrego ao amor que em mim escravo se fez... 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Incêndio

Ateei fogo em todo meu dossiê...
Nada partilhei com meu âmago,
Talvez tenha sido eu um vândalo,
Mas tudo isso fiz e não sei por que...

O tempo deixou muitas rachaduras
E amarelou o que era meu furdunço,
Notas albergues com perfis jagunços
Denunciavam-me falsas partituras...

Meus olhos ardiam perante a poeira,
Não havia rótulos e afecções pioneiras
E minha história virou cinzas no ar...

Certamente o tempo tudo renova,
Não guardarei o que possa ser outrora,

Pois, passado é museu e quero sonhar!

domingo, 2 de novembro de 2014

Flor do Roçado


Intensa chuva intimida o desfrute do arrebol,
Frio cortante vara impiedoso a madrugada,
Os naipes da natureza edificam sutis emboscadas
E o silêncio é o perfume único pescado pelo anzol.

Debaixo das cobertas meu corpo nu sente arrepios
E sobre tua nudez deposita ósculos e carinho...
Como é bom sentir em mim o hálito de teu corpo nuzinho
E, agarradinhos, possamos extravasar juntos nosso cio...

O contato é a alfazema que inunda meu olfato,
Nosso pelos se misturam inebriados e insensatos
A curtirem o córtex que enlameia o tom do orgasmo...

Sentimos, ambos, o doce coagular de frenética orgia,
No abraço melado a sensação de que nada é fantasia,
É o amor que se desprende audacioso da flor do roçado!

sábado, 1 de novembro de 2014

Sobraçando a Magia

Como me encanta tua nudez!
Quão grata é a natureza contigo!
Sobre teu belo corpo tenho abrigo,
Minhas mãos navegam e tu vês

Na miragem do meus olhos, o esplendor
Que enfeitiça meu tato ao te massagear
E levo-te junto comigo a um fantasioso mar
Onde as ondas se quebram de prazer e amor...

Nas madrugadas quentes sutilmente abro a janela,
Sobre o catre desnudo teu corpo por mim espera
Para viajar em delírio a um mundo infinitesimal...

Roça em teus pelos o carinho que te faz feliz,
Em teu umbigo deposito beijos e tua boca diz:
Eis meu poço de desejo onde te guardo santo e real!

Perambulo em teu tórax com magia e sofreguidão,
Sobre teu lindo peito minha ternura te faz sonhar
Com os frutos do amor que trago do meu pomar
E que alimentam de meiguice teu coração.

Rondo teus braços e em tuas axilas ralas,
Acaricio-te a penugem e meus dedos se veem livres
Para creditar em teu corpo uma energia grafite
Que te desenha num mural de orquídeas e opalas...

Teus olhos esverdeados dormem na esteira das carícias,
Em teus sedosos cabelos há aconchego e delícias
De um cafuné que te eleva aos degraus dos açoites...

Nada em ti fica carente desta jornada magnética,
Do ponto mais íntimo ao mais usual há corrente elétrica

E sobre mim adormeces sob o segredo das noites!