quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Vida Continua...

A Vida Continua...
CAPÍTULO I

Lucas Vasconcelos era um garoto extremamente inteligente. Filho de pais abastados, tinha tudo o que uma criança rica imaginava possuir. Bastava pensar e seu pensamento se transformava em realidade. Sempre fora assim, desde sua infância. Estudava em um dos melhores colégios da cidade onde se pagava um elevado preço pela educação. Não era o melhor de sua sala em relação a notas, também não estava entre os piores. Era regular, apenas. A verdade era que não se incomodava muito com os livros, deixava-os
no armário, dificilmente até os levava consigo à escola. Prestava atenção às aulas e achava que isso bastava.
Lucas era muito apegado aos animais. Adorava cães e gatos, especialmente. Não podia ver um desses doente pelas ruas que o apanhava e levava para casa. Cuidava, dando-lhe banho, alimentação e medicamentos, quando necessitava. Assim que a saúde do animalzinho estava recuperada, levava-o a uma creche de animais abandonados ou arranjava-lhe um dono. Simplesmente morria de amores por estes bichinhos.
Foi numa sexta-feira que chegou mais cedo à escola. As aulas se iniciavam às 7:30h, mas neste dia, Lucas entrou às 6:50h. Desembarcou da condução que o trazia e o levava de volta todos os dias. Algo chamou sua atenção: foi um menino maltrapilho que havia sentado à beira da calçada bem em frente ao colégio. Estava sujo, cabelos desgrenhados. Fedia... Todavia, sem entender o porquê, Lucas Vasconcelos dele se aproximou. Dirigiu-lhe a palavra: 
- Quem é você? De onde veio ? O que faz por aqui ?
O menino não parecia incomodar-se com a presença de Lucas. Prosseguiu lentamente mastigando um pedaço de pão duro e seco que havia em suas mãos. Lucas olhou-o sério e repetiu...
- Quem é você ? De onde veio ? O que faz por aqui ?
Desta vez o estranho menino levantou o olhar. Lucas pôde perceber um rosto bonito, contudo mal cuidado. O estranho sorriu e ele igualmente observou seus sentes perfeitos. Já ia novamente interrogar quando o garoto, finalmente, respondeu-lhe:
- Eu sou Marco Aurélio. De onde vim? Ah, de muito longe. Passei dias e noites andando até aqui estar. O que faço por aqui? Cumprindo meu destino. Sou só, não tenho ninguém.
Lucas Vasconcelos estava terrivelmente admirado com a postura do menino. Apesar e sujo, roupas rasgadas, fedorento, no íntimo sabia que havia algo de errado com aquela criança... bem, já nem tão criança assim...
- Qual sua idade ? - Lucas perguntou.
Outra vez o garoto levantou o olhar, sorriu e respondeu.
- Tenho 15 anos. Por quê?
Levado por um sentimento que não sabia explicar qual seria, Lucas disse-lhe:
- Quer vir comigo para minha casa? Lá você joga estas roupas fora, toma um banho, veste-se adequadamente e come... parece-me magro e está faminto. 
- Você levaria um estranho e pedinte como eu para sua casa sem nem ter ideia de quem se trata? – Interrogou Marco Aurélio. 
- Meu nome é Lucas. Não sei o porquê, porém gostei imensamente de você. Aceite meu convite... ficarei feliz se assim se houver. 
- Está bem... Não tenho mesmo para onde ir...
- Onde estão seus familiares ? Indagou Lucas, muito curiosamente.
- Todos morreram num grande incêndio. Depois conto-lhe tudo, em detalhes.
- Não se vá! Fique por aqui. No final das aulas ligo para meu pai e ele virá buscar-me. Aí, então, comento sobre você, digo-lhe que pretendo levar você comigo e que quero cuidá-lo. Percebo que você não é um menino de rua, algo muito sério deve ter ocorrido em sua vida. Meu coração não mente, nem se engana, não seria agora que cometeria um equívoco.
Marco Aurélio esperou até o final das aulas de Lucas. Lucas já havia telefonado para seu pai, Flávio Vasconcelos, que viera imediatamente ao seu encontro.
- O que houve, filho ? Por que não se foi normalmente com a condução?
Lucas observou o pai. Flávio sabia que quando assim o filho agia, era porque alguma novidade houvera acontecido, especialmente em relação aos animais.
- Pai, nada com animais irracionais. Vê aquele garoto ali? Noto que ele não é menino de rua, pai. Alguma coisa de muito séria ocorreu na vida dele, por isso está assim: sujo, rasgado, fedorento...
- E o que você quer que eu faça, Lucas?
- Ah, pai... painho... deixe-me levá-lo para nossa casa. Lá ele toma um banho, joga estas roupas fora e eu dou-lhe das minhas. Tenho certeza de que ele não é vagabundo, pai... Por favor! Por favor! 
- Lucas, você nem sabe de quem se trata... de onde veio... por que está assim...
- Painho, depois ele nos conta sua história, primeiro ele necessita de uma limpeza, de alimentar-se... por favor, painho...
- Nunca deixei de atender você, meu filho, mas este animal de hoje é racional, é um estranho... 
Lucas desesperou-se. Havia lágrimas em seus olhos.
- Jamais me enganei... Este garoto não é menino de rua... olhe bem para ele, tem feições belas, delicadas... note que não há com ele nada proibido, parece-me totalmente sem vícios... oh, painho, por favor, atenda, painho, atenda...
Flávio Vasconcelos decidiu seguir a intuição do filho. Era louco por Lucas e tudo fazia para contentá-lo.
- Ok, você venceu... chame-o e mande-o sentar no banco de trás.
- ôba! - disse Lucas alegremente. Eu sabia que você não me decepcionaria... Obrigado, painho, obrigado!
Lucas levou Marco Aurélio consigo. O estranho garoto logo percebeu tratar-se de família rica, pois, era uma verdadeira mansão aquela casa. O carro passou pelos portões e estacionou nas garagens. Lucas desceu apressadamente e pediu para que Marco Aurélio o
acompanhasse. Marco o seguiu. Lucas o levou para seu próprio quarto, uma alcova ampla, onde de tudo havia: televisão, computador, conjunto de som, um imenso guarda-roupa... Era uma suíte. Lucas trancou a porta do quarto para que Marco Aurélio se sentisse à vontade.
- Tire estas roupas sujas – pediu Lucas. - Aqui em meu quarto há banheiro, é uma suíte. Não se sinta envergonhado de mim, Sou de sua idade, o que você tem, também tenho!
Lentamente Marco Aurélio foi retirando aquelas roupas sujas. Estavam podres. Por último, retirou a cueca ( se é que se podia chamar aquilo de cueca ) e entrou no banheiro.
- Feche o “box” para não molhar o banheiro. – advertiu Lucas - vou providenciar roupagem limpa e cheirosa para você. Use de tudo! xampu, sabonete, tudo. Trarei também uma escova para você escovar seus dentes. Quero vê-lo arrumado e cheiroso. Após o banho, você coloca desodorante e perfume. Da porta Lucas observava Marco Aurélio banhar-se. Notou, com certeza, pela maneira como o menino se banhava, que há muito ele não sabia o que era água em seu corpo. Levou longos minutos se deliciando debaixo do chuveiro. Era necessário esfregar-se bastante, pois, fazia meses que realmente não tomava banho.
- Que banho gostoso, hein, Marco ? - Indagou Lucas.
- Sim - respondeu - está delicioso. Você poderia esfregar-me as costas? Não consigo limpá-las como devo, estão tão grudentas...
Lucas o atendeu. Despiu-se e entrou no “box”, não se incomodando com o fato de ali encontrar-se outro garoto a tomar banho.
Após o banho enxugaram-se e retornaram para o quarto, onde Lucas deu-lhe roupas limpas, decentes. Vestiu-se igualmente. Marc o Aurélio ainda pôs desodorante e um leve perfume. Estava outro, nem parecia o menino sujo e fedorento de antes. Desceram. Foram à copa-cozinha onde Flavio e Margarida Vasconcelos já jantavam. 
Flávio tomou um susto ao perceber o novo aspecto de Marco Aurélio.
- Quem te viu, quem te vê,,, Disse, brincando.
Margarida, mãe de Lucas, sorriu e falou:
- Sente-se aqui, Marco. Jante bem para depois contar-nos sua história...

FIM DO CAPÍTULO I

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Corpus Nus


Com  o  aconchego  que  a  natureza  produz
O  sol  declina  dentre  várzeas  de  nuvens,
Perante  as  noites  que  os  dias  se  curvem
E  tatuem  no  mausoléu  dos  sonhos  corpus  nus.

Os  artistas  pincelam  personagens  em  partituras  de algodão
Sobraçando  a  nudez  com  ápices  de  intenso  delírio,
As  flores  despem  dos  talos  o  néctar  dos  lírios
E  na  tela  da  imaginação  lágrimas  pranteiam  ilusão.

O  olhar  desnuda  formas  na  configuração  do  belo
E  as  mãos  tecem  no  texto  o  interpretar  sincero
Dos  desejos  afrodisíacos  que  curtem  do  remelexo,  a  orgia...

Uma  inquietude  de  prazer  faz  transbordar  o  coração  que  chora
No  dedilhar  das  notas  românticas  da  cansada  viola
Que  orgulhosa  aguarda  dissiparem-se  meneios  de  fantasia!



domingo, 27 de outubro de 2013

Desdêmona

Desdêmona
CAPÍTULO V
EPÍLOGO

Foi com alegria que Desdêmona e Fabian receberam a notícia da gravidez de Esmengarda., mais uma vez.
- É gravidez de risco - afirmou Desdêmona - minha mãe já não é tão jovem.
- Com a graça do Senhor tudo ficará bem, como você sempre diz, meu amor. Confortou Fabian.
Realmente, mesmo sendo uma gravidez de risco, tudo foi bem até o final. Chegara mais um lindo menino: Marco Aurélio. Reunidos em família um mês após o parto, Alexandre e Esmengarda resolveram presentear Fabian e Desdêmona.
- Desdêmona, eu e sua mãe resolvemos entregar Marco Aurélio a você e Fabian. – Disse. Vocês precisam sentir o que é ter um filho.
Ao ouvir isto, Fabian, que estava confortavelmente sentado no sofá, ficou de pé, os olhos brilhavam.
- Vocês fariam isto? - Indagou nervoso.
- Claro! - Respondeu Alexandre. - De certa forma é um pagamento que faço à minha filha por haver –me restituído a vida. Presente de coração, tanto meu quanto de Esmengarda, não é querida?
- Sim. Já que Desdêmona não engravida, nós entregamos Marco para vocês. Ele que seja registrado como filho verdadeiro, ninguém precisa saber disso. Não estamos nos livrando dele, não é isto, é que vocês necessitam ser pais e Marco ficará em família.
Desdêmona só ouvia, não manifestava seu consentimento com o presente, no entanto em seus olhos as lágrimas escorriam. Posteriormente falou.
- Minha mãe, doar seu filho...
- Não estou doando para estranhos – ratificou - ele ficará em família, só que como filho seu e de Fabian. Serei uma avó feliz, pode ter certeza.
Marco Aurélio fora registrado como filho legítimo de Fabian e Desdêmona, poucos tiveram acesso a este segredo, apenas os que ali estavam e os pais de Fabian.
E a vida prosseguiu em seu ritmo alucinante. Quinze anos fez que Marco Aurélio fora registrado. Era um adolescente esperto, inteligente, trabalhador. Era a alegria de Fabian e de Desdêmona. Neste intervalo de 15 anos, Esmengarda houvera contraído uma doença que a levou para o túmulo e, pouco tempo depois, fora a vez de Alexandre. Moisés viera morar com a irmã e era um bom amigo, tanto de Fabian quanto de Marco Aurélio. Um dia, Fabian adoece gravemente. Seu mal era o coração, doença herdada do genitor. Havia sofrido um infarto e corria riscos de vida. No hospital tudo se fez e ele
conseguiu escapar, mas a conselho médico, deveria obter a aposentadoria por invalidez, pois era crítica sua saúde. Desdêmona se virou para cuidar do marido, de Marco e do irmão, Moisés, que passou a trabalhar para ajudar nas despesas. Seu emprego era no mesmo supermercado em que Fabian trabalhara.
Certa vez, um grande pesadelo ocorreu. Desaparecera da sala da gerência grande soma em dinheiro e estavam a culpar Moisés pelo roubo.
- Eu sou inocente, Fabian, não peguei neste dinheiro. Eu juro! - Dizia aperreado.
- Acredito em você. Mas quem poderia ter feito isso? - Questionou.
- Não tenho opinião. Deus me perdoe, quem sabe não foi o próprio gerente?- Posicionou-se Moisés.
- É possível! - Concordou Fabian - Todo o arrecadado vai para suas mãos e cabe a ele endereçar o depósito na conta da firma. Fique tranquilo, mais ou mais tarde a verdade aparece.
Moisés fora despedido como ladrão e estava preso. Decepção dolorosa para Desdêmona que sabia em si da inocência do irmão. Pensava que pensava, haveria de fazer alguma coisa. Concentrou-se, orou, pediu ao Alto que lhe abrisse os olhos, que a mostrasse a chave daquele enigma.
Os dias se passaram. Desdêmona continuava a suplicar até que...
- Foi isto - gritou - ninguém roubou o dinheiro.
Fabian assustou-se. Nada entendia sobre o que dizia Desdêmona.
- O quê? Como sabe?
- Orei, pedi a Deus a chave do mistério. O pacote com a referida soma está no cofre- confirmou - numa gaveta da parte inferior.
- Santo Deus! Como sabe disto em detalhes? Estou assombrado! - Falou.
- Deus me deu a visão. Pedi muito e Ele me abriu a visão. Preciso ir lá na delegacia contar isto ao delegado. Ele haverá de crer em mim!
E saiu apressadamente. Destino: delegacia!
- Quero falar com Dr. Machado, o delegado. - Pediu ao policial de plantão. Ele está?
- Sim, venha.
Desdêmona deu entrada no gabinete da delegacia. Dr. Machado estava ao telefone, pediu que esperasse um pouco. Depois, atendeu-a.
- Pois não. Em que posso servi-la, senhora?
- É sobre o desaparecimento do dinheiro do supermercado. Eu sou irmã do preso. Meu irmão é inocente, o senhor precisa acreditar nele.
- Todas as provas implicam seu irmão. Foi o último a entrar na sala sozinho.
- Eu sei onde está o dinheiro. - afirmou - ninguém o roubou. No cofre que existe na sala há uma gaveta na parte inferior, alguém ali pôs o dinheiro e se esqueceu do que fez.
- Como sabe de tantos detalhes, senhora?
- Meu nome é Desdêmona, senhor. Creia no que estou a dizer antes que levem meu irmão para um presídio. Ele é inocente.- Repetiu Desdêmona.
- Vamos agora, eu e você, ao supermercado. Lá o gerente haverá de conhecer a tal gaveta. Caso esteja certa, liberto seu irmão, imediatamente. - Prometeu o delegado.
Tomaram o carro e foram diretamente para o supermercado. O gerente estava em sua sala. Recebeu-os. Verificou o que Desdêmona dizia... o dinheiro estava lá, intacto.
- Mas quem o colocou aqui? Quis saber o delegado.
O gerente estava incrédulo. Como o dinheiro fora parar ali se somente ele conhecia o segredo do cofre? De quê maneira Desdêmona descobriiu isto? Eis interrogações que precisavam de ser averiguadas.
- Como eu descobri? Posso dizer-lhes.
E ali mesmo deu provas dos seus dons paranormais, se bem que isto era inconsequente em relação ao episódio.
- Sei - disse Desdêmona - que isto em nada se relaciona com os fatos, mas se possuo tais dons, é porque sou protegida ao Alto. Ele em sua infinita misericórdia, mostrou-me onde o dinheiro estava. È só isto o que tenho a falar.
O caso foi dado como por resolvido. Moisés voltou para casa e para o emprego. O patrão pediu-lhe mil desculpas pelo engodo, contudo a fama dos dons paranormais de Desdêmona se espalhou de uma maneira tal que em sua porta fervilhava de jornalistas. Todos queriam ver, conhecer os dons fantásticos daquela mulher.
Fabian estava inconsolável.
- Por que nunca me contou sobre isto?
Desdêmona se defendia.
- Até meus pais morreram sem saber. Era algo que guardava a sete chaves em meu íntimo. Agora deixou de ser segredo. Todo mundo sabe e terminou minha paz.
- Por que os revelou, então?
- Para justificar como sabia onde o dinheiro estava. Não se esqueça de que você foi gerente durante muitos anos e ainda bem que não passou pela cabeça de ninguém que você poderia ter revelado o segredo do cofre a Moisés.
- Isto faz sentido - conformou-se - mas o que vai fazer agora?
- Não sei, preciso de pensar. Não posso viver neste alvoroço. Hei de enfrentar essa gente e afastá-las de mim.
Entretanto a fama de Desdêmona atravessou fronteiras. O país inteiro tomou conhecimento. Noutros países não se falava de outra coisa. Tão grande se tornou o caso
que Desdêmona adoeceu de preocupação. Não saía de casa, ficava o tempo inteiro ao lado de Fabian. Marco Aurélio e Moisés cuidavam de dar satisfações às pessoas que faziam acampamento na porta de casa. A situação tornara-se terrível e constrangedora. Alguma coisa precisava ser feita... urgente!
Doente, definhando a cada dia, mesmo assim Desdêmona encontrou a saída. Não
havia outra alternativa. O mundo para si terminara, a vida se transformara. Levaria todos consigo... Que Deus a perdoasse...
Concentrou-se. Pensou. Pensou... Seu pensamento foi tão forte e poderoso que em poucos minutos toda a casa ardia em chamas. Todos morreram carbonizados, menos Marco Aurélio que, ao sentir a fumaça , compreendeu tratar-se de um grande incêndio e pulou a janela, ganhou a rua . Estava salvo, porém ficara só e, em sua solidão, caminhou pela vida até que pudesse encontrar quem o adotasse.

FIM

Desdêmona

Desdêmona
CAPÍTULO V
EPÍLOGO

Foi com alegria que Desdêmona e Fabian receberam a notícia da gravidez de Esmengarda., mais uma vez.
- É gravidez de risco - afirmou Desdêmona - minha mãe já não é tão jovem.
- Com a graça do Senhor tudo ficará bem, como você sempre diz, meu amor. Confortou Fabian.
Realmente, mesmo sendo uma gravidez de risco, tudo foi bem até o final. Chegara mais um lindo menino: Marco Aurélio. Reunidos em família um mês após o parto, Alexandre e Esmengarda resolveram presentear Fabian e Desdêmona.
- Desdêmona, eu e sua mãe resolvemos entregar Marco Aurélio a você e Fabian. – Disse. Vocês precisam sentir o que é ter um filho.
Ao ouvir isto, Fabian, que estava confortavelmente sentado no sofá, ficou de pé, os olhos brilhavam.
- Vocês fariam isto? - Indagou nervoso.
- Claro! - Respondeu Alexandre. - De certa forma é um pagamento que faço à minha filha por haver –me restituído a vida. Presente de coração, tanto meu quanto de Esmengarda, não é querida?
- Sim. Já que Desdêmona não engravida, nós entregamos Marco para vocês. Ele que seja registrado como filho verdadeiro, ninguém precisa saber disso. Não estamos nos livrando dele, não é isto, é que vocês necessitam ser pais e Marco ficará em família.
Desdêmona só ouvia, não manifestava seu consentimento com o presente, no entanto em seus olhos as lágrimas escorriam. Posteriormente falou.
- Minha mãe, doar seu filho...
- Não estou doando para estranhos – ratificou - ele ficará em família, só que como filho seu e de Fabian. Serei uma avó feliz, pode ter certeza.
Marco Aurélio fora registrado como filho legítimo de Fabian e Desdêmona, poucos tiveram acesso a este segredo, apenas os que ali estavam e os pais de Fabian.
E a vida prosseguiu em seu ritmo alucinante. Quinze anos fez que Marco Aurélio fora registrado. Era um adolescente esperto, inteligente, trabalhador. Era a alegria de Fabian e de Desdêmona. Neste intervalo de 15 anos, Esmengarda houvera contraído uma doença que a levou para o túmulo e, pouco tempo depois, fora a vez de Alexandre. Moisés viera morar com a irmã e era um bom amigo, tanto de Fabian quanto de Marco Aurélio. Um dia, Fabian adoece gravemente. Seu mal era o coração, doença herdada do genitor. Havia sofrido um infarto e corria riscos de vida. No hospital tudo se fez e ele
conseguiu escapar, mas a conselho médico, deveria obter a aposentadoria por invalidez, pois era crítica sua saúde. Desdêmona se virou para cuidar do marido, de Marco e do irmão, Moisés, que passou a trabalhar para ajudar nas despesas. Seu emprego era no mesmo supermercado em que Fabian trabalhara.
Certa vez, um grande pesadelo ocorreu. Desaparecera da sala da gerência grande soma em dinheiro e estavam a culpar Moisés pelo roubo.
- Eu sou inocente, Fabian, não peguei neste dinheiro. Eu juro! - Dizia aperreado.
- Acredito em você. Mas quem poderia ter feito isso? - Questionou.
- Não tenho opinião. Deus me perdoe, quem sabe não foi o próprio gerente?- Posicionou-se Moisés.
- É possível! - Concordou Fabian - Todo o arrecadado vai para suas mãos e cabe a ele endereçar o depósito na conta da firma. Fique tranquilo, mais ou mais tarde a verdade aparece.
Moisés fora despedido como ladrão e estava preso. Decepção dolorosa para Desdêmona que sabia em si da inocência do irmão. Pensava que pensava, haveria de fazer alguma coisa. Concentrou-se, orou, pediu ao Alto que lhe abrisse os olhos, que a mostrasse a chave daquele enigma.
Os dias se passaram. Desdêmona continuava a suplicar até que...
- Foi isto - gritou - ninguém roubou o dinheiro.
Fabian assustou-se. Nada entendia sobre o que dizia Desdêmona.
- O quê? Como sabe?
- Orei, pedi a Deus a chave do mistério. O pacote com a referida soma está no cofre- confirmou - numa gaveta da parte inferior.
- Santo Deus! Como sabe disto em detalhes? Estou assombrado! - Falou.
- Deus me deu a visão. Pedi muito e Ele me abriu a visão. Preciso ir lá na delegacia contar isto ao delegado. Ele haverá de crer em mim!
E saiu apressadamente. Destino: delegacia!
- Quero falar com Dr. Machado, o delegado. - Pediu ao policial de plantão. Ele está?
- Sim, venha.
Desdêmona deu entrada no gabinete da delegacia. Dr. Machado estava ao telefone, pediu que esperasse um pouco. Depois, atendeu-a.
- Pois não. Em que posso servi-la, senhora?
- É sobre o desaparecimento do dinheiro do supermercado. Eu sou irmã do preso. Meu irmão é inocente, o senhor precisa acreditar nele.
- Todas as provas implicam seu irmão. Foi o último a entrar na sala sozinho.
- Eu sei onde está o dinheiro. - afirmou - ninguém o roubou. No cofre que existe na sala há uma gaveta na parte inferior, alguém ali pôs o dinheiro e se esqueceu do que fez.
- Como sabe de tantos detalhes, senhora?
- Meu nome é Desdêmona, senhor. Creia no que estou a dizer antes que levem meu irmão para um presídio. Ele é inocente.- Repetiu Desdêmona.
- Vamos agora, eu e você, ao supermercado. Lá o gerente haverá de conhecer a tal gaveta. Caso esteja certa, liberto seu irmão, imediatamente. - Prometeu o delegado.
Tomaram o carro e foram diretamente para o supermercado. O gerente estava em sua sala. Recebeu-os. Verificou o que Desdêmona dizia... o dinheiro estava lá, intacto.
- Mas quem o colocou aqui? Quis saber o delegado.
O gerente estava incrédulo. Como o dinheiro fora parar ali se somente ele conhecia o segredo do cofre? De quê maneira Desdêmona descobriiu isto? Eis interrogações que precisavam de ser averiguadas.
- Como eu descobri? Posso dizer-lhes.
E ali mesmo deu provas dos seus dons paranormais, se bem que isto era inconsequente em relação ao episódio.
- Sei - disse Desdêmona - que isto em nada se relaciona com os fatos, mas se possuo tais dons, é porque sou protegida ao Alto. Ele em sua infinita misericórdia, mostrou-me onde o dinheiro estava. È só isto o que tenho a falar.
O caso foi dado como por resolvido. Moisés voltou para casa e para o emprego. O patrão pediu-lhe mil desculpas pelo engodo, contudo a fama dos dons paranormais de Desdêmona se espalhou de uma maneira tal que em sua porta fervilhava de jornalistas. Todos queriam ver, conhecer os dons fantásticos daquela mulher.
Fabian estava inconsolável.
- Por que nunca me contou sobre isto?
Desdêmona se defendia.
- Até meus pais morreram sem saber. Era algo que guardava a sete chaves em meu íntimo. Agora deixou de ser segredo. Todo mundo sabe e terminou minha paz.
- Por que os revelou, então?
- Para justificar como sabia onde o dinheiro estava. Não se esqueça de que você foi gerente durante muitos anos e ainda bem que não passou pela cabeça de ninguém que você poderia ter revelado o segredo do cofre a Moisés.
- Isto faz sentido - conformou-se - mas o que vai fazer agora?
- Não sei, preciso de pensar. Não posso viver neste alvoroço. Hei de enfrentar essa gente e afastá-las de mim.
Entretanto a fama de Desdêmona atravessou fronteiras. O país inteiro tomou conhecimento. Noutros países não se falava de outra coisa. Tão grande se tornou o caso
que Desdêmona adoeceu de preocupação. Não saía de casa, ficava o tempo inteiro ao lado de Fabian. Marco Aurélio e Moisés cuidavam de dar satisfações às pessoas que faziam acampamento na porta de casa. A situação tornara-se terrível e constrangedora. Alguma coisa precisava ser feita... urgente!
Doente, definhando a cada dia, mesmo assim Desdêmona encontrou a saída. Não
havia outra alternativa. O mundo para si terminara, a vida se transformara. Levaria todos consigo... Que Deus a perdoasse...
Concentrou-se. Pensou. Pensou... Seu pensamento foi tão forte e poderoso que em poucos minutos toda a casa ardia em chamas. Todos morreram carbonizados, menos Marco Aurélio que, ao sentir a fumaça , compreendeu tratar-se de um grande incêndio e pulou a janela, ganhou a rua . Estava salvo, porém ficara só e, em sua solidão, caminhou pela vida até que pudesse encontrar quem o adotasse.

FIM

sábado, 26 de outubro de 2013

Desdêmona

Desdêmona
CAPÍTULO IV

A opinião de Desdêmona fora certeira. A inspiração que a envolveu trouxe-lhe a cura do irmão. Moisés houvera contraído um estágio perigoso de nefrite, mas ainda dentro de um tempo possível de cura. Alexandre não cabia em si de admiração pela filha, pois houvera salvo o filho homem tão sonhado.
- Desdêmona, como você chegou à conclusão de que era algo nos rins? - Perguntou admirado.
- Não sei, meu pai. Certamente foi Deus que soprou em meus ouvidos. É tudo o que sei. – Respondeu.
- Será que isso não é algum dom oculto que você possui? - Interrogou-lhe.
- Nada, meu pai. Com certeza não era chegada a hora de Moisés, então o Senhor em sua Glória Infinita, como disse antes, soprou em meus ouvidos, foi isso.
Desdêmona deu a resposta ao pai, porém tremia da cabeça aos pés. Nem imaginava divulgar seu segredo, nem pensar...
O tempo corria veloz. Três anos se passaram daquele incidente com Moisés. Desdêmona procurava nem lembrar que possuía em si determinados dons paranormais, não desejava jamais ser taxada de louca ou de ser considerada demoníaca. Havia dentro dela muito recato a respeito dessas coisas. Melhor seria esquecer e buscar levar a vida normalmente.
Fabian andava meio tedioso. Por mais que tentasse, não conseguia engravidar sua esposa. “Ou ela ou eu temos problemas” – asseverava. Necessitamos de ir ao médico e fazer uma bateria de exames. Meu sonho é ser pai, por quê não consigo?
Estava a pensar nisto quando Desdêmona o chamou para jantar.
- Venha, está pronto. Fiz de tudo o que gosta: cuscuz, sopa, pão torrado, papa de aveia. Um banquete para meu amado marido. – Disse feliz.
- Desdêmona, precisamos conversar. – Pediu Fabian.
- Estou aqui. Fale marido.
- Já estamos casados há um bom tempo, fazemos amor regularmente e você não engravida. O que estará ocorrendo? 
Desdêmona, pega de surpresa, não contava que Fabian dialogasse sobre isso.
- Não sei...
- Tomei uma decisão: amanhã vamos, eu e você, ao médico, faremos todos os exames necessários. Havemos de ter uma explicação. É verdade que somos felizes, todavia uma criança seria encher este lar de alegria. – Confessou.
- Também penso como você, porém se não engravidei ainda foi porque Deus não quis. Tudo só acontece no momento certo.
- Mesmo assim, iremos ao médico e faremos os exames. Pelo menos fico com a cabeça tranquila em relação a mim e a você. 
Assim foi feito. Fizeram todos os exames, contudo nada foi constatado de anormal. Dias depois estavam com os resultados nas mãos.
- Não entendo... Disse Fabian - Você normal, eu normal e você não engravida. Que coisa!
- Como já lhe disse - exclamou Desdêmona - são os desígnios de Deus. Tempo chegará, é ter paciência e esperar...
- Está bem, minha flor, continuaremos a tentar.
Bem que Desdêmona imaginava o porquê de sua não gravidez. Ela ligava isso ao pensamento de não querer ter filhos. Será que seus dons paranormais atuavam diretamente em seus desejos íntimos? Isso era algo que Desdêmona não tinha como responder...
Fabian trabalhava num supermercado. Ele era o gerente. Uma das funcionárias do estabelecimento era apaixonada por ele. Aproveitou um momento em que Fabian estava só no escritório e entrou.
- Peço licença, quero falar com você, Fabian.
- Pois não, Tércia, entre. Sente-se. Diga o que quer.
- Nada com relação a trabalho. É algo pessoal. – Disse com o olhar brilhando.
- Ajudá-la-ei no que me for possível. É adiantamento que você quer?
- Não, Fabian. Acho que já deva ter percebido: sou apaixonada por você... faz tempo!
Não, Fabian nunca percebera, porque só havia em si olhos para Desdêmona. Surpreso com a revelação, levantou-se. Suou frio.
- Não sei de quê fala, Tércia - eu sou casado e amo minha mulher, não reparo noutras o que acaba de me dizer. - Falou convicto.
- Está casado há alguns anos e sua esposa não lhe dá um filho... pensa que não percebo sua tristeza com isso? - Enfatizou Tércia.
- Quem lhe deu liberdade para comentar sobre minha vida pessoal? Não admito tal comportamento. Retire-se da minha sala, imediatamente. - Disse batendo fortemente os punhos sobre a mesa - Retire-se!
- Não seja tolo, Fabian. Eu posso dar-lhe o filho que tanto almeja - insistiu, provocante.
- Retire-se, já disse. Está despedida! Vá ao departamento pessoal acertar suas contas. Não trabalhará mais aqui. - Respondeu.
- Eu sabia que corria este risco - disse Tércia zombeteira - mas não importa, o que quero mesmo é você. Não vou desistir. Você ainda será meu!
- Nunca! – Retrucou Fabian – Nunca!
Perdeu o dia. Tal incidente no trabalho deixou-o nervoso, impaciente. Que atrevimento!
Desdêmona percebeu seu estado e perguntou-lhe o que houvera. Fabian nada escondia da mulher e tudo contou-lhe.
-Que atrevida essa moça! Fez muito bem tê-la despedido. Não haveria mais clima para que permanecesse na loja. Estou pasma com o comportamento dessa gente.
- Jamais haverá outra mulher em minha vida. Com filho ou sem filho - é você a quem amo! - Confessou-se nos braços da esposa.
Tércia não cumpriria o juramento. Viu que seria perda de tempo persegui-lo. Logo compreendeu que Fabian só havia olhos mesmo para Desdêmona.
Alexandre recebeu de Esmengarda uma notícia que o deixaria aturdido e, ao mesmo tempo, feliz.
- Amor, estou grávida novamente!

FIM DO IV CAPÍTULO

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

DESDÊMONA

Desdêmona
CAPÍTULO III

Através de Desdêmona, Alexandre conseguiu a cura. Ele, pai terrível, às vezes desumano, olhava para a filha sem entender bem a razão de sua atitude. Ela o tirou da morte certa, fora o último recurso, a única que foi compatível. Em seu olhar havia um brilho de interrogação e de contentamento. Um misto de sentimentos o fizera pensar, refletir o momento em que a vida o pôs à prova.
Desdêmona acabara de entrar em seu quarto, trazia-lhe o suco solicitado.
-Minha filha, tenho algo a falar para você. – Tomou coragem - muito obrigado por haver salvo minha vida. Disse.
- Não acho que seja a hora certa pare relatar o que tenho vontade. – Respondeu. – haverá sim uma conversa entre nós, meu pai, porém não hoje. Para tudo há adequação.
- Pode falar, minha filha. Sei que nunca fui um verdadeiro pai para você – desculpou-se – talvez seja esta a hora de fazermos uma reconciliação.
- Não há reconciliação onde jamais houve conciliação - protestou Desdêmona - você nunca me olhou como filha, nunca gostou de mim. Eu, idem, como posso admirar alguém que jamais me deu afetuosidade? Indagou e continuou . – eu não queria falar agora, contudo já que puxou o assunto, escute. Você me sonhava um menino, viu uma menina. Nunca me perdoou por isso, como se eu fosse culpada pelos desígnios da natureza.
- Hoje compreendo meu erro, Desdêmona - frisou - quero reparar todos esses anos de aspereza de minha parte. Perdoe-me, minha filha.
No olhar de Desdêmona as lágrimas brotaram. Por mais que odiasse aquele homem - ele era seu pai!
- Perdoado está desde o instante em que resolvi doar-lhe minha medula, nada mais há para ser perdoado. Está tudo certo, meu pai.
- Não, claro que não está – rebateu Alexandre - diga-me o que posso fazer para saldar esta dívida com você. 
Desdêmona pensou em Fabian, todavia desviou o pensamento.
- Não há o que pague a salvação de uma vida. Portanto, estamos quites.
- Temperamento nada fácil, o seu. Parece-me fria, às vezes. – Comentou.
- Sou do jeito que você me fez ver a vida. Muitas vezes insensível, reconheço. 
- Você pelo menos gosta de mim, minha filha?
- Serei sincera: não gosto! Só gosto de quem gosta de mim, é natural.
- Por que então salvou minha vida?
- Primeiro por minha mãe, ela morreria se você morresse. Segundo porque você é meu pai, independente de ressentimentos.
- Dureza! O que faço para amolecer este coração? - Quis saber Alexandre.
- Amolecer meu coração em relação a você? Nada! Tudo o que quero é viver minha vida da maneira que sonho, somente.
- Com o que você sonha, minha filha?
Desdêmona não queria, mas não deixou escapar a chance de falar.
- Sonho com minha felicidade. Não sou mais uma criança, sou uma mulher e toda mulher busca sua outra metade.
Alexandre impacientou-se, não era aquilo desejava ouvir, entretanto Desdêmona salvara sua vida. 
- E quem é sua outra metade? - Interessou-se.
- Não adianta dizer-lhe, você jamais me permitirá.
- Diga! – Alexandre exasperou-se.
- Fabian, filho de seu amigo Manuel. Nós nos amamos faz tempo. – Confessou.
Alexandre coçou-se todo. Ainda considerava Desdêmona muito nova, teria que aprender muito da vida. 
- Um bom rapaz – disse-lhe - dou-lhe o meu consentimento para o namoro.
Desdêmona fora pega de surpresa, não esperava que o pai houvesse o consentimento.
- Então ele pode vir aqui? - Perguntou ansiosa.
- Pode, mas antes quero ter uma conversa com ele, dar-lhe minha permissão cara a cara e que seja o mais breve possível.
Desdêmona não havia em si de alegria. Narrou à mãe, mandou recado para Fabian e este veio às pressas à sua casa. Navegava de felicidade.
- Então ele nos permitiu?
- Sim, quer conversar com você. Veja o que vai dizer-lhe. – advertia Desdêmona.
- Não há nada para esconder, Desdêmona. Nós nos amamos, resta-nos apenas buscar nossa felicidade. Eu a amo!
- Também o amo, Fabian - e muito!
Fabian foi diretamente à presença de Alexandre. Entrou nos aposentos com as pernas trôpegas, sabia que era um diálogo nada fácil.
- Entre, Fabian, seja bem-vindo! - Recebeu-o Alexandre.
- Obrigado.
- Sente-se. Esteja à vontade.
Alexandre deixou Fabian bem à vontade, bem folgado para a conversa.
- Só quero saber de uma coisa – afirmou Alexandre - você ama minha filha?
- Sim, amo-a!
- Não é qualquer paixão efêmera?
- Pode ter certeza que não, senhor Alexandre.
- É tudo. Dou-lhes minha bênção, desejo que se entendam e sejam felizes.
Muito pouco tempo namoraram... Tanto que se amavam e o casamento foi breve. Dez meses depois, já estavam habitando a mesma casa, apesar de tão jovens: 18 anos! 
Alexandre mudou totalmente seu temperamento , sua conduta dentro de casa. Tratava com muito dengo o filho Moisés e enchia de amor o coração de Esmengarda. 
O inverno chegara forte. Chuvas fortes ameaçavam a região, pois os rios, os açudes e as lagoas poderiam romper a qualquer momento. Esta era a preocupação de todos e, aliada a essa problemática, uma doença esquisita deixou Moisés à beira da morte. Não havia médico que conseguisse dar um diagnóstico preciso. Aos poucos definhava, para o
desespero de Esmengarda e Alexandre. Estavam todos reunidos na sala. O nervosismo tomando conta das faces tristes e esperando pela pior notícia. Foi neste ambiente pesado que Desdêmona pensou e teve uma luz em seu pensamento. Afastou-se de todos, concentrou-se e orou... orou... com profundo sentimento. Depois houve um brilho em sua mente, como se suas orações houvessem sido escutadas pelo Alto.
- Mãe, pai... tive um sonho acordada... disse - Moisés precisa de um especialista em rins – não sei como estou dizendo isto, mas é o que sinto após as preces que fiz.
Moisés foi levado às pressas a um especialista.

Fim do III Capítulo

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Titânico Combate


Amo  as  coisas  mais  simples,
Troco  uma  loira  gelada  por  um  copo  de  suco,
Mas  me  permito  ser  exigente  na  música  que  escuto
E  leituras  esdrúxulas  prendo-as  no  ringue.

Amar  à  simplicidade  não  é  acobertar  as  porcarias
Que  pululam  em  redor  de  uma  sociedade  alienada,
Chocam-me  melodias  que  trafegam  pelas  estradas
Assassinando  a  música  e  violentando  a  poesia.

Já  que  tudo  é  greve,  que  as  notas  musicais  façam  rebelião
E  as  palavras  se  recusem  ser  escritas  pela  mão
Que  deforma  a  beleza  da  linguagem  e  têm  conteúdo  piegas...

Exija-se  respeito  ao  que  se  proclame  ser  arte,
Copular  vocábulos  com  pseudo  melodias  é  deixar  ejacular-se

Uma  promiscuidade  que  deixa  o  belo  às  cegas!

A Mensagem Artística


Consolido-me  numa  rota  sem  sair  da  linha,
Nem  me  dou  o  luxo  de  usar  topete,
Poemas,  contos,  e  seriados  posto  na  internet
Caricaturando  temas  e  personagens  na  escrivaninha.

Meu  sol  e  minha  lua  não  são  exclusivos,
Na  arte  deve-se  tatuar  o  engenho  com  humildade,
Assim  triunfos  que  batam  à  porta  são  realidade
Dum  esquema  cuja  faina  não  é  aperitivo.

A  leitura  auxilia  a  formação  do  caráter  do  indivíduo
E  de  quem  escreve  se  espera  o  raciocínio  assíduo
Em  que  verdade  e  justiça  permeiem  o  texto...

Grade  responsabilidade  dos  que  levam  ideias  a  público,
É  importante  conciliar  pedagogia  ao  que  é  lúdico
Para  o  literário  ser  enfoque  de  uma  cultura  sem  defeito! 


Desdêmona

Desdêmona
CAPÍTULO II

Primavera, salve a primavera! As flores enchiam os jardins das casas, coloria praças e avenidas, os campos sorriam perante tanta beleza dos mais variados matizes. E o aroma? Ah! Delícia perambular por entre as árvores, sentar-se nos bancos e permitir o olfato mergulhar profundo e consentir o perfume inebriar os pulmões. Respiração adocicada que faz o poeta sonhar e descrever maravilhas com palavras que traduzem a essência da vida, do amor...
Desdêmona passeava com a mãe por jardins públicos próximos à sua casa. Esmengarda estava pesada, prestes a descansar. Ali confabulavam sobre a vida sentimental da moça que se via apaixonada por um jovem de sua idade: 17 anos! Desdêmona sonhava, tagarelava seu nome com ardor e isto a fazia tremer de excitação e, ao mesmo tempo, de um grande temor. Havia um terrível obstáculo às suas aspirações: seu pai! 
- Mãezinha querida, sem Fabian não sei o que será de minha vida - confessou - ele é o ar que respiro, tudo quanto mais almejo no momento.
Esmengarda escutava os delírios da jovem, contudo usava de prudência. 
- Filha, seu pai não pode nem desconfiar desta sua paixão – tremia ao falar - Alexandre acha você muito jovem para pensar em amores. É melhor sufocar esse amor, sublimá-lo... 
Desdêmona não concordava, reagiu como todos os jovens cheios de amor pela vida, no auge de sua adolescência, período em que os hormônios ditam as regras do corpo.
- Mãe! Não posso! Ele é a luz que eu respiro, o luar que adorna as minhas noites, o sol que bronzeia minha pele! Eu o amo, mãe, não me peça para esquecê-lo, é impossível!
Esmengarda estava preocupada, sabia o que um coração apaixonado era capaz de sentir e de fazer. Pedia à filha que não atropelasse os acontecimentos, é que ela estava à beira de trazer seu irmão à vida, não se devia pensar noutras coisas, por enquanto.
- Pelo menos permita à sua mãe o sossego de descansar em paz! - pediu - depois eu mesma terei uma conversa com Alexandre. Prometo!
- Certo, mãezinha, o amor sabe esperar quando ele é verdadeiro - conformava-se - Eu a deixarei trazer meu irmãozinho na santa paz, depois você pensa em mim. Meu pai me odeia! Não posso depender dele para o resto dos meus dias, não posso e não quero.
Tudo ocorreu como mãe e filha combinaram. Esmengarda teve um parto difícil, porém estava bem. Moisés chegara com três quilos e seiscentos gramas. Era um bebê sadio. Alexandre não escondia sua alegria, a satisfação de ser pai de um varão, seu grande sonho.
- Amanhã uma grande “churrascada” aqui. Vamos comemorar a chegada de Moisés. Virão os meus colegas de trabalho e alguns aqui da região.
- Alexandre, eu ainda estou de resguardo, não devo, por enquanto, meter-me a tanto serviço. – Explicou Esmengarda.
- Não se preocupe, mulher. Você nada fará, ficará sentada com Moisés ao colo e recebendo as visitas, só isso.
- E quem cuidará das coisas? - Perguntou.
- Contratei os serviços de três jovens, elas tomarão conta de tudo e deixarão tudo arrumado.
- Ainda bem! - Suspirou Esmengarda.
A festa foi alegre. Muita bebida e comida, como nunca se havia visto em casa de Alexandre, tamanha era a sua euforia. Entre os convidados estavam os pais de Fabian, muito amigos de Alexandre. E o jovem, evidente, não perdera a oportunidade de estar perto de sua amada. Estava louco de paixão por Desdêmona. Aproximou-se da jovem no instante em que a mesma fora dar uma volta pelos oitões da casa.
- Desdêmona, não suporto mais esta distância. Eu a amo, Desdêmona!
- Eu também o quero, Fabian, mas todo o cuidado é pouco, meu pai certamente não concordará com um namoro entre nós agora, ele diz que tenho de crescer primeiro.
- Se não fosse o acordo entre você e sua mãe, com certeza eu o enfrentaria.
- Nem pensar nisso... quer pôr tudo a perder? - retrucou Desdêmona.
- Eu sei. Esperarei. .. Haja paciência !
Chegou-se ao final do festejo. Todos se foram. Alexandre ficou caído no tapete da sala, plenamente tomado pela embriaguez. Esmengarda o deixou a li, porque sabia que quando ele assim estava, era mais violento que o normal. Após os últimos acontecimentos, Alexandre perdera por completo sua saúde. Vivia faltando ao trabalho, reclamando de dores pelo corpo e tinha frequentes enjoos e vômitos. De repente, vomitou muito sangue. Isto apavorou Esmengarda que, mesmo desorientada, levou-o ao médico. Exames feitos, constatou-se um doença perigosa...
- É D. Esmengarda - Leucemia. – Disse o médico - tem pouco tempo de vida. Lamento!
Esmengarda derramou-se em lágrimas. Apesar de grosseiro, Alexandre era sua vida, a menina dos seus olhos. Estava descontrolada.
- Não há nada mais que possa ser feito, doutor? - Interrogou com uma pontinha de esperança. 
- No estágio em que está a doença, é difícil. Mas um último recurso seria um transplante de medula óssea, isso se houvesse alguém compatível que estivesse disposto a fazer a doação. Mesmo assim, as chances são mínimas.
Esmengarda se apegou a estas “chances mínimas!. Iria colocar nos jornais o apelo, tudo faria para salvar seu marido. Tudo! Conversava sobre isto com Desdêmona.
- Hei de encontrar, minha filha, uma criatura que faça esse milagre - falava sem parar.
Desdêmona havia em si uma indecisão. Seu coração apertado, todavia era seu pai e, por mais que não o suportasse, era seu pai!
Trancou-se em seu quarto. Fez acrobacias com seus dons paranormais. Travesseiros su-biam e desciam, caindo sobre a cama. Fez isso com os sapatos, com roupas, chinelos - haveria de tomar uma decisão... Era seu pai!
Voltou à sala onde a mãe pensava, pensava e orava em busca de um “salvador”.
- Mãezinha, estou disposta a submeter-me aos exames. Talvez eu seja compatível, sou filha dele! - Ofereceu-se.
No olhar de Esmengarda, a esperança. Chorava que chorava e falava simultaneamente.
- Filha, será? Você estaria disposta? Ele é tão ruim para você, filha!
- Nestas horas devemos colocar de lado os ressentimentos. Restituirei a ele a vida, caso seja compatível. Por mais que não o admire - ele é meu pai!
E, assim, Desdêmona se pôs à disposição para tentar “ressuscitar” seu genitor...

FIM DO CAPÍTULO II