quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

CONTEMPLATIVO



O precipício chora seus mortos,
O dia usa do canivete para cortas nuvens
Enquanto o povo percebe o coral
Que canta em silêncio
E se observa na cauda dos cometas, o riso...
Há nos confins dos arrabaldes
O canto alucinógeno da plebe.

Já não há canteiros que gritem,
Embora a vida plagie os sonhos
Não sonhados das gaivotas,
Isso diante das procelas que gemem
E sufocam os mares que, constrangidos,
Aprisionam os torvelinhos
Desnudos da madrugada.

Plantas rasteiras são restingas do tempo
Que oscila em todos os pontos cardeais
E nos contos frenéticos dos segundos
Há uma atmosfera ainda virgem
Que, sequiosa de tanto beber
Do vinho da indecência clássica,
Contrapõe com lascivas lamentações,
O enredo bipolar das horas atônitas.

Na areia úmida das margens dos riachos
Há cachoeiras que derramam suas águas
Nos porões enciclopédicos do saber,
Então a ciência desprovida de verdades,
Conspira contra a realidade do universo,
Pondo abaixo teorias formuladas de soslaio,
Devassa hipnose de um mundo ascético!


DE  Ivan de Oliveira Melo


terça-feira, 29 de janeiro de 2019

A IMACULADA



Angelical beleza das naves sagradas,
Formoso e gentil é seu dourado manto
Que esconde sua face e, seu pranto
Orvalhado, é licor de almas consagradas.

Intensa porta com degraus maquiados
É seu cativeiro num lugar seguro,
Em volta do pescoço, colar de anjo puro
Salpica as preces aos devotos amados.

Soberba silhueta tem no olhar a fé
Que transmite bênçãos e, quando quer,
Ajoelhada agradece o sublimíssimo perdão...

Ídolo das massas, das lendas e dos mitos,
É a suprema maravilha que dispensa ritos,
Pois o que vale são os sintomas do coração!



DE  Ivan de Oliveira Melo

THE END





I can see an ocean in my heart...

An ocean? Yes. An ocean of tears.
World is broken. All is broken…

There is no respect among the people.
Love is forgotten. Nobody gets to live.
A deep hole increased all the pain.

And this deep hole lives inside the souls.
No remorse. Hunger kills. Thirst fulminates.
Proud is the sugarcane liquor of bad.
The children fight in the wars. Panic!

The smile died among the disasters of the life.
The last resource, the cry, burned the hope.
The space is covered by sadness. Cowardice!
What does have left? Nothing, absolutely.
In the fields there are only dead bodies. No flower!



By  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

ANÔNIMOS



Sob o sepulcro meu corpo adormece
E, em derredor, outros estão a putrefar,
O que um dia foi belo hoje é paladar
Para gnoses vermes dessa quermesse.

Com o passar do tempo serei só ossos,
Mas minha memória ficará tão intacta
Que além das horas será a concordata
Esperando a morte morrer de remorsos.

Aquém vislumbrarei o mundo perverso
Que somente é fagulha de um universo
Em que se respira mal para viver o bem...

Longitude é um ponto distante demais
Onde sobrevivem as pessoas ancestrais
Que deixaram a vida, agora são ninguém!



DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 26 de janeiro de 2019

DOM POÉTICO




O homem tem, em si,
Um talento muito especial
Que deserda todos os outros:
O dom poético!
Extremamente íntima,
À poesia não cabe definição.

Aquele que não compreende
Uma sensação lírica emergente,
Pode-se considerar órfão
Dos pendores artísticos.

A poesia se concentra na emoção
E nada do que existe a ela se compara.
Ela é única, unilateral,
Por vezes bastarda
Quando evoca o grotesco.

O que é poesia será sempre poesia,
Tanto em verso como em prosa
E, já que é indefinível,
Igualmente é absoluta
Perante o relativismo das artes.

A poesia é sósia do sentimento,
Embora o sentir esteja ao relento
À espera de que a poesia renasça
E traga esse tom de indefinição
Ao conteúdo platônico do amor.
Assim estará renovada a excelência
Que afirma: o fazer poético é imortal!



DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

VULNERABILIDADE




A alma humana é refém da incredulidade.
Sabe-se que onde há vontade há caminhos,
Contudo os efeitos da inconsciência atuam
De forma antagônica ateando dúvidas no ar.

Não foi o coração que criou o ódio, e, sim, as
Palavras... Nelas, tanto há o mel que adocica
Quanto o fel que envenena, têm as duas faces.
As meias verdades são mentiras em totalidade!

Percebem-se que as águas mansas não formam
Os bons marinheiros...  Não se vive só de alegria,
A honra é um vestido transparente e tudo se vê.
Um grama de exemplos vale mais que conselhos!

Depois que a fonte seca é que se valoriza a sede,
O ceticismo é ausência da fé... A credulidade é sã
E o universo necessita de que a lógica se afirme.
Tudo é porque quando o vinho entra, o juízo sai!

O amor é cego e pensa que ninguém o enxerga...
Verdade que o é abstrato, porém se concretiza
À medida que se compreende que o hoje é o tão
Esperado amanhã, bem como o ontem foi hoje.

Tudo o que há no intelecto andou pelos sentidos.
Saber demasiado não é envelhecer precocemente,
Todavia rejuvenescer a cada sol e viver a cada lua.
Tenha-se confiança... Deixe-se o arrebol vivificar!


DE  Ivan de Oliveira Melo
  



quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

SIMBIOSE DO ESTAR SÓ




Viver na pobreza é bem mais salutar do que estar só.
A solidão é um precipício profundo, é um túnel sem luz.
É um reino onde o silêncio é majestade, sem súditos.
Parece uma jaula que, embora dourada, é sempre prisão.

A única esperança é a possibilidade de conversar a sós
Consigo mesmo, o que, com o passar do tempo, é tédio...
O isolamento tapa ouvidos, freme lábios, atrofia a boca
E, membros como braços e pernas, utilizam as muletas...

O pecado carrega sua penitência; o solitário, sua loucura.
É necessário de usar a palavra, dialogar com a divindade,
Porque Deus não ouve caso se fique calado, é blasfêmia!
Se houver amor e aguardente, nada se sente: é o caos!

Quiçá seja melhor enterrar-se de uma vez, virar semente!
Não há como fazer dos ouvidos assaz surdos à estupidez,
Pois, neste caso, o estúpido é o solitário que aboliu o dom...
Em casos assim, a grama do vizinho será sempre verde...

Não há nostalgia, se houvesse, a morte seria um prêmio!
Por isso, repito, a pobreza é melhor que viver em solidão.
Bastantes ricos vivem sós: para que serve sua fortuna?
Para estuprar sua consciência e decompor a fatalidade!!!


DE  Ivan de Oliveira Melo

POEMA INSPIRADO NA SABEDORIA POPULAR MEXICANA.




SENSIBILIDADE




A origem da felicidade está na vontade...

Aquele que não tem metas é um infeliz.
Sabe-se que a inveja não tem descanso,

Por isso uma vida sem que haja amor
É como passar um ano inteiro sem verão.
Quem ama sabe de cor: O amor é como

O orvalho, sempre cai sobre urtigas e lírios...
Na verdade, a criatura que deseja cantar
Nunca deixa de ter uma canção ao seu dispor,
E quem mais precisa de ser amado é aquele

Que menos merece... Belas flores são aquelas
Que logo desaparecem, então é buscar o seu
Perfume antes que sequem e trazer a alegria.
A sabedoria está na cabeça e jamais na barba,
Logo a fome de amar é o melhor tempero!


DE  Ivan de Oliveira Melo

POEMA INSPIRADO NA SABEDORIA POPULAR SUECA.


terça-feira, 22 de janeiro de 2019

ESPÍRITO HUMANO





A verdade é só uma:
O ser humano se desconhece,
Não sabe do que é capaz.
A engenharia da genética humana
É inigualável. É perfeição!

Não há imperfeições na Criação:
Na vida, em si, não há erros,
Tudo foi planejado e executado
De forma sublime.
E, a correção, é algo que
Intriga aos mais ilustres cientistas
E aos estudiosos da religião.

Infelizmente as criaturas
Não se dão conta
Do privilégio que é ser humano.
Deixam-se possuir
Por sentimentos negativistas
E, então, corrompem-se
Pelo egoísmo, pela ambição desenfreada,
Pela hipocrisia, pelo ciúme, pelo orgulho...
É um querendo ser mais
Do que o outro
Quando, na realidade,
Todos são igualitários... Todos são irmãos!
É necessário estudar
Para angariar conhecimentos,
É imprescindível ser humilde!

Os talentos da existência
São distribuídos  de forma homogênea.
Se uns têm opção pela música,
Outros são adeptos da engenharia,
Outros da medicina... Tudo em seu devido lugar!
A inteligência que compôs
O espírito pessoa
Fi-lo de maneira que
Ninguém deixou de ser contemplado,
Desde à infância até à consumação do viver,
Mas... a negatividade provém
Da ausência do conhecer-se...
Houvesse o interesse para tal sapiência,
Certamente o mundo seria outro:
Não haveria guerras,
Não haveria fome nem sede,
Não haveria falta de habitações,
Todos teriam todos os tipos
De assistência... porém...
O próprio homem desarmonizou
O que, com argúcia, foi edificado...
É fundamental a meditação!

A própria natureza
É fotografia do depauperado,
Dessa ausência de harmonia.
O que se vê?
Desmatamentos, matança indiscriminada
De seres irracionais, poluição de todos os níveis,
Queimadas, gases tóxicos,
Crianças violentadas de todas as maneiras...

É uma modernidade acintosa
Que atravanca o progresso.
O livre arbítrio leva o ser humano
A contundentes decepções,
Haja vista a falta de ética,
A indecência, a mentira,
A ausência de pudor e da dignidade!
Percebe-se que um pseudo
Magnetismo pessoal
Seja a referência
Para um comportamento social imprevisto...
Isso não é ignorância,
É um vazio que não permite
O juízo de atuar conforme sua essência.

No instante em que
O mundo se der conta
Da inconsciência e da inconsequência que reinam,
Haverá fidelidade, solidariedade,
Respeito mútuo...
Compreender-se-á, sem dúvidas,
O privilégio de ser humano.

Para que se atinja esse patamar,
O indivíduo terá de entender
Que é o coração o verdadeiro
Templo da concórdia e do amor.

Há casas de orações,
Todavia nenhuma foi prescrita
Pelo Divino...
De que serve adorar à Divindade
E lá fora praticar-se o contrário?
Pode-se amar ao Criador
Independente de alvenarias,
Basta que haja consciência
E, o Deus tão ardentemente procurado,
Manifestar-se-á em cada criatura.
A vida não é um sistema. A vida é O sistema!
Assim poderá ser posto em prática
O que o Divino Peregrino da Paz pregou:
Amai-vos uns aos outros!



DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

ADVERTÊNCIAS



Nunca olhe onde houve a queda,
Entretanto o lugar em que escorregou,
Assim terá como evitar novos tropeços.
Um sapiente ditado ensina:
Onde há tormenta, existirá arco-íris!
Isso significa dizer que
Embora o ambiente seja hostil,
Sempre haverá uma oportunidade de paz...

O mundo se apresenta tal como ele é:
Pleno de obstáculos e, também, de bonanças,
Contudo se deve ter o devido cuidado
Em certos portos, pois,
Não há quem experimente
A profundeza de um rio
Com os dois pés,
Cautela é deveras um diagnóstico
Dos perigos que rodeiam as criaturas.

Assumir as atitudes tomadas com consciência,
Porque não se pode esconder a fumaça
Quando se ateou fogo...
Bem e mal são antagônicos,
Enquanto o bem é relíquia,
O mal penetra como uma agulha,
Depois é como um carvalho
E dessa maneira confunde as mentes.
É importante não esquecer de que
Paixão e ódio são filhos
De bebidas que embriagam...

Lute por suas metas,
O mundo não lhe faz promessas!
Ter atenção com o que se fala
É de suma importância, pois,
Se sua boca virar faca
Certamente cortará seus lábios.
Sempre é a primeira impressão que encanta,
O eco da palavra inicial fica no coração.
A sinceridade deveria ser o pulmão da vida,
Porém é o contrário que se vê...
Uma mentira estraga mil verdades!

Riquezas são passageiras...
Parte-se e tudo fica para trás.
Indubitavelmente,
Ser feliz é bem melhor do que ser rei.
E, caso queira que tudo termine bem,
Não se deve esquecer
De prestar atenção ao começo.
É por aí que a existência segue,
Inexoravelmente!


DE   Ivan de Oliveira Melo


POEMA INSPIRADO NA SABEDORIA POPULAR AFRICANA.

MENSAGENS



O mar joga suas ondas diante do mundo...

Não há mestre mais competente:
Ele é o professor que abre a porta
Para que o aluno entre sozinho e aprenda.
Cada qual deve conhecer-se plenamente,
Pois, quem não sabe de onde veio,
Jamais encontrará seu destino.

Tudo é questão de saber concentrar-se.
Já que todos os dias se arrumam os cabelos,
Por que não se arrumam os corações?
O amor não está à venda em supermercados,
Não se trata de produto industrializado...
Caso se queira conhecer o amor,
É importante levar-se em conta
Que o poço necessita de ser cavado
Bem antes de saciar-se a sede.

Rir dos desencontros antes de enfurecer-se
É uma prova de fortaleza íntima.
Em tudo o que se quer há dificuldades
Que são como as montanhas:
Elas só se aplainam
Quando se avança sobre elas.
Sapiente é quem é prudente, porque
O homem comum fala,
O Sábio escuta
Enquanto o tolo só discute.

Cultivar a paciência é segredo de poucos:
A quem sabe esperar, o tempo abre as portas.
Quem deseja colher rosas,
Deve suportar os espinhos.
Persistir sempre. Eis a mensagem:
Começar algo já é metade de um caminho.

Preocupações culminam em tragédias:
Nunca se acende um fogo
Que não haja meios de apagá-lo!
A experiência alheia pode ajudar,
Basta que ao entrar na vida,
Obedeça-se aos que nela residem.

Vitórias e derrotas são circunstâncias possíveis:
Ao vencedor, a glória!
Ao perdedor, saber que dificilmente
Voltarão ao ramo as folhas caídas.
Tudo é ensinamento,
O remédio bom tem sabor amargo!

Nunca esquecer que
Tudo se pode semear,
Porém é irreversível:
Colhe-se o que se planta!


DE  Ivan de Oliveira Melo

POEMA ESCRITO SOB INSPIRAÇÃO DA SABEDORIA POPULAR ASIÁTICA.



domingo, 20 de janeiro de 2019

ERUDIÇÃO



Não há limites para o conhecimento,
As limitações são criações da imperfeição humana.
É verdade que a velhice só chega
Quando os sonhos são trocados por lamentações.
O que é importante é não acovardar-se,
É buscar sempre novos caminhos,
Pois, se a direção não for mudada,
Tudo converge para o ponto de partida.

É necessário sonhar, possuir belos devaneios,
Porque ver sem ação é sonho,
Mas uma ação sem visão é pesadelo.
É deveras lembrar que
Se a água for cristalina em excesso,
Positivamente não haverá peixes...

Ensina o provérbio chinês
Que as palavras não cozinham arroz,
Então se segue o axioma:
Sem a experiência nunca se tem o saber pleno.
É fundamental persistir sempre, pois,
O fracasso não é queda e, sim,
Uma recusa para pôr-se de pé!

Aprenda que fácil é ser pedra
E que difícil é ser espelho...
Segurança é importante
Em tudo o que se faz,
Todavia a preocupação jamais
Derrotou o destino,
O que está traçado
Depende de sua habilidade para mudar!
A questão de ter sorte é superficial,
É que a sorte se encobre
De inúmeros disfarces.

Ser positivo e otimista,
Eis a questão!
Palavras duras e argumentação pobre
Não conhecem o sabor de uma vitória.
Nunca se deve esquecer de que
A melhor porta fechada
Sempre é aquela que vive aberta!
Das nuvens mais escuras
Cai água pura e fecunda.

Assim é a vida!
Nunca amaldiçoar a escuridão
É questão de inteligência...
Acende-se sempre uma vela
E se tem a certeza de que
Quem flores oferta
Nunca deixa de ter perfume nas mãos!

DE  Ivan de Oliveira Melo

POEMA INSPIRADO NA SABEDORIA SECULAR CHINESA.




PRONTUÁRIO




Aborta-se a penumbra do dia!
Quando a sombra se move,
Respeita aos caprichos do sol
E um vácuo se forma na imensidão.
Na verdade, o vazio de uma hora perdida
Nunca será preenchido, fica a vacância!

Por mais que a mente humana
Obtenha uma estupenda velocidade,
O coração atinge distâncias incalculáveis...
Por esta razão, é necessário prudência, pois,
Aquele que abre seu coração à ambição,
Certamente fecha-o à tranquilidade!

Quem busca realizações deve pautar-se
No equilíbrio porque
O sucesso não é filho da vitória,
Mas do erro. Vive-se aprendendo!

Na glória de uma existência
É fundamental o querer,
Pois, para quem quer, o poder
Não é transitório...
Simplesmente se saiba que
Os grandes são os que possuem vontade,
Os pequenos apenas têm desejos,
Ficam pelo meio do caminho...

Jamais esquecer que
Somente o esforço e o tempo
Produzem a competência,
Sem a experiência
O ser humano é um tonel vazio...

Até as construções mais altas
Começam do solo,
No chão está sua base...
Quem começa por cima
Lamentavelmente tende a cair.

Sabe-se que o futuro é grande mistério,
Todavia aquilo que será no amanhã
Está intimamente ligado
Às sementes da atualidade!

DE  Ivan de Oliveira Melo



POEMA ESCRITO BASEADO NA CULTURA MILENAR CHINESA.

sábado, 19 de janeiro de 2019

LIÇÕES



O pobre é perseguido por ambições inconsequentes,
O rico não é o que vive em berço esplêndido,
Mas o que tem em si o aconchego da paz...
Mudo não é aquele que não pode falar,
Porém o indivíduo que não sabe expressar-se,
O que usa da ignorância e é incapaz de prolatar
Palavras amáveis num momento oportuno...

Cega não é a criatura que não possui o poder da visão,
Contudo o ser que não é capaz de visualizar outros mundos;
Na verdade, quando o jarro não se enche de água,
Permite-se que logo transborde de pó.

Tudo na vida é possível, o impossível é abstrato,
Porque onde reina o amor, o impossível é táctil,
Basta lembrar que o sol é o mesmo para todos
E onde consegue derreter a manteiga, endurece o barro.

É importante que as palavras soem com sapiência,
Porquanto elas devem ser melhores do que o silêncio.
Viver é uma arte, o ser humano o seu artista...
Nada é obscuro quando se tem a consciência livre,
Por isso só com o verdadeiro amor tudo acontece,
Inclusive este mesmo amor é um réptil
Que vive nos rios dos desejos!

DE  Ivan de Oliveira Melo


POEMA ESCRITO BASEADO NA SABEDORIA HINDU.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

TODOS OS DIAS...



Todos os dias eu nasço outra vez...

Todos os dias eu durmo... morro!
Todos os dias eu parto dessa terra,

Todos os dias eu viajo pelo astral,
Todos os dias cerro e abro os olhos,
Todos os dias eu sou um novo ser...

Todos os dias eu sou uma ladainha,
Todos os dias eu sou nova história,
Todos os dias eu estou mais velho,
Todos os dias eu vejo o sol nascer...

Todos os dias eu sou velho espelho,
Todos os dias eu tenho novas ideias,
Todos os dias eu estou mui cansado,
Todos os dias eu tenho de aprender...
Todos os dias eu sou filho da agulha!


DE  Ivan de Oliveira Melo


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

DEVANEIOS & SONHOS




Devaneio, dentre as torturas tantas
Com a falecida felicidade, e o devaneio
Nada mais é em tudo o que não creio,
Pois devaneio é sonho que se agiganta.

Mediante a calmaria que há na madrugada,
O devaneio busca uma realidade aparente,
Contudo consequência do íntimo que mente
À pobre alma cujo conhecimento zero é nada.

O sonho é algo solitário e solidário também,
Todavia é mensagem da esperança que se tem
De um mundo conforme edificada doutrina...

E embora haja as tempestades e as bonanças,
Não deixa de ser um vaticínio que se lança
A fim de que o devaneio não deixe de ser mina!


DE  Ivan de Oliveira Melo


terça-feira, 15 de janeiro de 2019

PROGNÓSTICO



À beira das voragens inescrupulosas,
Ao lado das ladainhas que fremem canções,
À frente dos bêbados da madrugada sinistra

Surge o vento que sopra o frio de inverno
Sobre o vácuo onde dormitam andorinhas
E dos pés amancebados do sertão nordestino.

Ventania que faz crepitar os corações apaixonados
Das donzelas que bebem do cálice da vergonha...

Amor que palpita emoções,
Devaneios nobres enclausurados nos porões do tédio,
Esperanças malogradas pelas bissetrizes envenenadas
E pelos gritos alucinados das mortalhas rasantes.

Fechem as bocas,
O suor que escorre pelo peito esmagado pela dor
É a gaivota íntima que voa em busca da redenção.
Tudo é sacrifício perante tribunais humanos
E, quando a chave da decência der a volta do parafuso,
Todas as esdrúxulas decepções
Despencarão nos precipícios do homem!



DE  Ivan de Oliveira Melo

TERMÔMETROS



Onde durmo há vozerio que incendeia o silêncio
E as faíscas do fogaréu perpetuam a claridade
Sob as vestes multicores das palavras picadas
Ao vento,
Ao calor,
Ao frio,
Ao aconchego...
Perambulo atrás das hastes coloridas da inverdade,
Pois sei que o azul é amor,
Verde é esperança,
Branco paz,
Amarelo riqueza e desespero...
O mundo está obeso,
Nós estamos pobres
E nossos vocábulos
Já não expressam sentimentos,
Porém covardia e ilhas misteriosas
Donde de obtém um níquel de ouro.
Nossos corpos nos dão às avessas
A força bastarda que alimenta
O sedentarismo, a preguiça...
Tudo é inquietação da alma
Que, sem forma, apenas respira
Os centímetros do oxigênio
Diabólico pela poluição
Que descarta o salutar
Sem cerimônias...
Nos pontos cardeais há miséria:
Fome e sede se alavancam
No astral da memória
E, sem aptidões de recreio,
Cerze a carne mal passada,
Descarregando na essência
Da vida,
Do sonho,
Da esperança,
Da paixão,
Do amor,
A síndrome do sangue
Coagulado pela imperfeição!


DE  Ivan de Oliveira Melo




segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

IMAGENS ONÍRICAS



O dia meio cinzento está entre neblinas.
O mormaço sua, corre dentre as veredas
Até os balcões etéreos que se camuflam
Sobre a multidão adormecida nas ruas.

De baixo para cima ou vice-versa há sol,
Porém diante da quietude da gleba se grita
Como se o mundo estivesse em guerra e paz...
A Terra é uma circunferência meio triangular

E em seus polígonos há passagens secretas
Onde se escondem as sombras dos vultos
Periféricos que contornam as criaturas vivas
Enquanto que as mortas usam travesseiros

De pelúcia... São as almofadas do sono eterno
Que inundam os perímetros urbanos dos sonhos!


DE  Ivan de Oliveira Melo


domingo, 13 de janeiro de 2019

ILUSÕES






De forma abstrata te possuo,
Pois materialmente és alegoria,
Então inscrevo-te em meu senso
Para que teus adereços me consumam
E em ti eu não seja mais utopia,
Mas o viço que me entorpece a vida.

Estás no patamar mais alto da imaginação
E eu teus sonhos navego ilhado
Pelos desejos que me assaltam
Desde o meu tombadilho até a tez
Nacarada por tua voz longínqua.

Vejo-me seduzido por uma abstração
Desenhada à mercê da criatividade
E de uma inconsciência que é o extrato
Das reflexões ultra sensoriais do cérebro
Conduzido a imaginar-te obcecada
Pelos desmandos de um tesão alcatifado.

Dentro das minhas fantasias surreais
Há um espelho de faces côncavas
Onde teu retrato é minha audaciosa fotografia
E daí retiro todos os átomos que me causam
A combustão de um prazer iníquo,
Porém sensivelmente adocicado pelo éter da paixão.

Sensibilidade edificada mediante ardente desejo
De ter-te e possuir-te sem meneios, mas com excitação
Suficientemente capaz de provar-te o ego emergente com ardor.
Meu coração chicoteia meio convexo e teu nome é inspiração
Que abrasa as tetas dum amor transformado em alucinação...

Portanto, és alucinação... Iconoclastia de minha febre de amar
E de ser amado por um corpo primaveril pleno de flores
E de um mel meio azedo e amargo, todavia táctil e sublime...
És uma ousadia fomentada pelas caricaturas de um âmago
Tão solitário e triste quanto a morte que nos abandona no sepulcro!




DE  Ivan de Oliveira Melo’

SENSORIAIS




Adormece o outono cinzento
E uma melodia crespa o vazio
Enquanto as árvores desnudas
Tropeçam os galhos ao vento.

No orvalho há uma doce canção
Que madruga sob o véu da fraca
Luz que alumia faces do silêncio
Alquebrado pelo odor da razão.

Uma tristeza enfadada do crisol
Arrebenta-se diante do pândego
Aconchego que nutre da alegria
As horas transviadas do arrebol.

E no ensaio das folhas que voam
Há o ritual dos ritmos que soam!


DE  Ivan de Oliveira Melo  


sábado, 12 de janeiro de 2019

AMANHECER



Raia o dia.
Fina garoa cobre a serra
Sob o manto de pesadas nuvens.

Abaixo, sobre o solo, tenaz umidade
Faz coagular o silêncio da erma manhã.

De repente, surge majestoso Sol
E, a chuva estreita,
Cede seu lugar ao potável calor.

Então a claridade desabrocha
Deixando ecos no passado
Que são os segredos da madrugada.



DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

PLENO DESABROCHAR




Num canteiro amarelado de flores,
Cheiro-as até convulsionar-me...
Nasce e morre em mim
Um olfato bastardo, sem brilho.
Lânguido, tropeço em mim mesmo
E uma chama de sono me entorpece...

Desperto. Zonzo e de sangue gélido,
Enxergo a atmosfera em derredor
Diante de um calor intenso
E de um aroma primaveril em brasa.

A noite se avizinha.
As mãos ainda frias, as pernas trôpegas,
Mas o pensamento inteiro à disposição
Das ideias que rolam no cérebro,
A esta altura arenoso e movediço.

Nas estrelas que cintilam desconfiadas,
Um ópio ardente me faz gritar em silêncio
E, na madrugada, percebo que o orvalho
Pisca como vaga-lumes
Anunciando que a noite perece
E um novo dia desponta no horizonte.
As flores, outrora amarelas,
Estão metamorfoseadas de esperanças!


DE  Ivan de Oliveira Melo


NATUREZA PURA




O navio que trota sobre as águas
Balouça sobre as ondas e, aqui e acolá,
Trepida em certo momento e se lança a ermo
Diante dos torvelinhos que assaltam a coragem
Deixando trépidos os olhos, marejados de medo.

Valsar dentre as vagas revoltas de um oceano
É dialogar com uma imensidão sem fim, infinita...
O sal é arremessado perante o paladar que o prova
E o retém submisso e acovardado . Eis o pânico!

As gaivotas se entrincheiram em revoadas nervosas
Esboçando sorrisos pelos traumas das embarcações
Que se perdem em ilhas sem nome e desconhecidas.
Dantescas tempestades se acrisolam sobre os mastros
Enquanto uma chuva torrencial varre o horizonte...

Relâmpagos traçam entre as nuvens riscos audaciosos
E despejam contundente energia sobre a terra órfã,
Cansada e sonolenta... Eis a prosopopeia do tempo!
Assim, os raios flamejantes ressuscitam teares vulcânicos...


DE  Ivan de Oliveira Melo



SAÍDA UNILATERAL



Dentro das conexões com a irrealidade.
É todo um instrumento de magnetismo pessoal
À procura da verdade e do amor sem fronteiras.
Por isso, as palavras sublimam-se
E são mel ou vinagre, quiçá...
Não me entrego à veiculação das mídias, luto
Até onde a inspiração me ensejar a interpretação
Do mundo contemporâneo, mas ao mesmo tempo
Fora de moda e ultrajante...
Despojei-me das lendas e deletei-me das fantasias,
São fatos de rua e há bastante penumbra envolvida,
Os detalhes são obscuros e a luz é artificial.
As alegorias se contrastam com a realidade
E os sentimentos não têm cor,
Então rejuvenescer é a única possibilidade de viver.




DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

POEMA ÉBRIO





Em tua porta, desacompanhado,
Por trás das cortinas de brim,
Eu que busco dar satisfações a mim,
Olho-te apaixonado e seguro meu cajado.

Das calçadas o transeunte te vê
E em teu sorriso se percebe tristeza,
Pois intensa timidez prende-te a cabeça
A qual pende sedada a assistir tua tv.

Sei que agora ou nunca terás alguém
Que haverá de ti tua solidão também
E ambos choram ou sorriem de alegria...

Porém eu estarei sozinho, no anonimato,
A amar-te no silêncio do meu regato
Que são lágrimas que caem de nostalgia!


DE  Ivan de Oliveira Melo


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

AS COISAS





Ser a medida de todas as coisas
É o vento que sopra sem destino,
Morrer pelo que se crê é desatino,
Porque há tantas coisas doidas...

A gratidão deve ser resposta solene,
Há coisas que se omitem absurdas,
Pois absurdo é o abstrato sem bulas
E o concreto é manuseado sem higiene.

O conflito chega ao fim com a morte,
As coisas vão de leste a oeste, sul e norte
Porque a vida retrógada não é sustenida.

Atribui-se ao prazer o que é constante...
Na verdade, tudo e todos são amantes
Das coisas, pois, viver é ousadia atrevida!



DE  Ivan de Oliveira Melo