segunda-feira, 30 de maio de 2016

MADRUGADA

Ribalta na alcova.
A luz a incomodar-me
E o sono a navegar...
A noite está desnuda,
Sou um fantasma de ópera
E busco bailar num sonho...

Estou sem penumbra.
Claridade ofusca meu olhar
Tão milimetricamente fechado
A esperar um último bocejo
Perdido nos quintais da madrugada.

Meu pensamento é espesso vulto.
Minha consciência é a inconsciência
Dentro da noite soturna...
Vejo sombras na parede, invisíveis...
É o sono a brigar com o sonho
Que ainda não aterrissou.

Finalmente bocejo. Apago a luz
E me vejo em sonho a tentar dormir...


DE Ivan de Oliveira Melo

INDUSTRIAL

Fabrico pensamentos e insdustrializo raciocínios...

Não sou metalúrgica, nem material têxtil, ainda...
Sou apenas operário que coloca a mente em atrito

Diante de circunstâncias que são máquinas da vida.
Aqui e ali falta alguma peça e invento um provisório
Que momentaneamente satisfaz ao uso proletariado.

Tecer ideias é a razão de minha vida; fantasiar, não!
Preparo as imagens de acordo com o tema aludido
E dou ao vestuário das palavras uma semântica real
A fim de que alegorias não sobressaltem o conteúdo.

A verdade é sempre o pressuposto desta organização.
Sou apenas um voluntário neste trabalho de confecção
E não dependo de horário para montar o teor reflexivo
Dos aparelhos ideológicos que me surgem. Sou criativo!
Portanto em qualquer consciência posso fazer carnaval!


DE Ivan de Oliveira Melo

FANTASMA

Olho para mim e me vejo fantasma.
Estou leve como a brisa que sopra
Sobre o arvoredo das campinas.
Meu som é oclusivo e demente.

Uma ventania acaricia meu rosto.
Não tenho asas, mas posso voar.
Aliás não voo. Simplesmente flutuo
Sobre as nuvens vazias e meio tontas.

Na verdade não entendo o que sinto.
Por que plainar se não sou avião?
Ah! Lembro agora. Tudo é possível
Quando se sonha com o impossível.

Será? Um vestígio de  loucura sou eu.
Vivo então. O fantasma não morreu!


DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 29 de maio de 2016

FILOSOFIA CONCESSIVA

Sinto saudade porque o instante existe
Embora abstrata e insensível como solidão...
Sinto solidão porque o momento inexiste
Dentre os parâmtros concretos da saudade.

Percebo primavera dentro do verão
Ainda que as flores não sejam as mesmas...
Noto que o inverno invade o outono
E nas flores cáidas há o húmus da umidade...

Idolatro o amor que vivifica uma paixão
Mesmo que o tempo seja efêmero...
Canto o ódio maqueteado de sorrisos
Porque o detestar é um princípio de ventura...

Vislumbro verdades dentre as mentiras
Se bem que aspiciosa é a realidade aparente...
Enalteço a preguiça que entrava o trabalho,
Pois devagar se chega distante, oportunamente.

Enalteço as hipóteses geradoras de sonhos
Conquanto há devaneios que parecem reais...
Enfim, sobrevivo perante os grilhões da morte,
Porque com a vida se inicia o infinitesimal futuro!


DE Ivan de Oliveira Melo

SANTUÁRIO INTERIOR

Enquanto é calor, também me queimo por dentro.
Comparo-me às coisas que se tostam ao fogo,
Igualmente me incinero dos temas maquiavélicos
E permito que as labaredas me lambam o imprestável.

Meu destino inicia-se em meu íntimo, sempre verão...
Encaro as perfomances da vida de forma natural,
Pois combater o indestrutível é lutar sem sucesso.
Faço comparações entre o fácil e o difícil e me vigio
Diante do que não entendo a fim de uma análise fria...

Às vezes o verão está bem acima da média, bebo água
E me torno bombeiro de mim, a apagar o mercúrio
Que se instala e que tenta cozinhar-me a consciência...
Líquido gelado é derramado sobre as fagulhas, urgente...
Sinto o arremesso de uma fumaça incolor a espalhar-se
Pelo âmago e logo em grandes alturas ganha o exterior.

É quando chega o inverno, repleto de umidade e frio.
O que devo compreender perante tais ocorrências íntimas?
Nada se mantém constante, há metamorfoses inesperadas
E até gelos em cubo surgem dum nada onde há tudo...
Verdade que ocorre uma mistura, não sei se homogênea
Ou suficientemente heterogênea para uma reação química
Que se opera num organismo passível de avalanches...

Há tremores biológicos entre os órgãos em atividade...
Quiçá seja melhor apenas observar e permitir que adições e
Adversidades simultaneamente governam o palco dolorido
E à mercê de folguedos e catástrofes de todos os tipos.
Nada é defeito ou privilégio, são sessões de natureza orgânica!


DE  Ivan de Oliveira Melo

AURA

Às vezes me sinto com fome de versos
E me ponho diante do espelho, converso
Perante uma imagem que é só fumaça...
Nada! É que estou a enxergar-me a aura!

Vejo-a transformar-se quase inteiramente,
Porém percebo que são fluidos intensos
Que mexem e remexem em meu senso
Deixando-me a imaginar-me deliberadamente...

Há instantes em que a vislumbro como neve,
Com a brancura suave que tem o algodão;
Noutros noto-a subversiva como um ladrão
A maquiar-me a vida tão plena de estresses!

Ah! Penso... Talvez tudo isto me seja ilusão!
A ótica anda a trapacear, trata-me covardmente
E sei eu que aura é leveza cheia de sensação,
Não a estapafúrdia imagem que vejo de repente!

Livro-me do espelho... Respiro de malandragem
E certeza tenho que aura é meremente maquiagem!


DE Ivan de Oliveira Melo

HOLOCAUSTO

Em vós, Ó Liberdade, deixo meu pendão...

Vede como facilmente ao mundo se aniquila
Apenas ignorando as bombas sobre um orbe

Que geme trapaças, delira fraudes, chora vidas
Precocemente ceifadas pela hostilidade malsã...
Em vós, Ó Liberdade, clamo justiça e lealdade!

Neste universo impueril soltam-se raivosos cães
Que dilaceram a puberdade dum viver as hóstias
Adredemente consagradas às turbas da felicidade,
Entretanto esmagadoramente destruídas por infiéis...

Em vós, Ó Liberdade, suplico benevolência e paz!
Observai os arremedos da politicalha que grassa
Sobre as inocências que desconhecem os faustos
E perante elas somente massacre e vis holocaustos
A emgagrecerem a exisência que sonha sobreviver!


DE  Ivan de Oliveira Melo


sábado, 28 de maio de 2016

JOVIALIDADE

Não se julga segundo uma ótica transviada...

Verdade que uma torrente de lágrimas inunda
A face pueril que ainda rasteja sobre o tapete

Que adorna o rosto juvenil que teima em não
Envelhecer... Embora os anos passem rápido,
A jovialidade é uma consequência inata do ser.

Não é necessária a hereditariedade de Dorian,
Nem arquétipos insondáveis do belo Narciso,
Basta compreender-se que a velhice é um tom
Da alma que apenas se preocupa com as horas.

Não se julga segundo uma ótica transviada...
Os estresses mundanos congestionam o tempo
E transformam dez minutos em dez longos anos,
Não obstante da aparência fisionômica tem-se
O retrato ideal que é a eterna fonte da juventude!


DE Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 27 de maio de 2016

PROGRESSO

Hoje, como ontem, nada está perdido,
Dentre a lavoura das palavras há pincel
E, com ele, pinto cada cantinho do céu
E do silêncio das trevas pinto o alarido.

No perfil das sombras dor é como amor,
Há um holocausto que bronzeia a derme,
Há uma enxurrada que nocauteia vermes
E o mundo se fragmenta para se recompor.

Desabrocha-se a vida lenta em cada etapa
E os embriões malditos é isso que se capa
Para que refloresça o arco-íris da concórdia!

Hoje, como amanhã, tudo é ortodoxo, plaina
Sobre uma plataforma de sabedoria e é faina
Do progresso que geme e clama misericórdia!


DE Ivan de Oliveira Melo

TAPEAÇÃO

Aquele que vive a razão
Entre os percalços da terra
Não descansa, nem dorme:
Trabalha!
O que assume a preguiça
Não vive, nem sobrevive:
Dorme!
O indivíduo é seu próprio
Fantasma...
Curte a existência como
Iconoclasta...
A imagem morre no tempo,
Pois nasceu, não viveu...
Foi apenas excremento!


DE Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 26 de maio de 2016

SELO

Viver, brincar, sempre... segue a vida
Num caramanchão de alegria e fulgor,
Nada de terra, nem areia, apenas amor
Para contemplar-se haréns de vitamina!

Não, a morte é degredo; a vida, espelho
De felicidade! É sentir o coração pulsar!
Não há algozes, há versatilidade do amar
Que se resume num éden cheio de desejos!

Pobreza é exílio... Abastada sempre a vida
Que congrega sentimentos da razão sentida
Pelo ensejo de sorrir, beijar, ideal de prazer!

O tempo? Este é eterno... Infinito em alfa,
Por isso amar é melodia em ritmo de valsa
Que faz da criatura selo de ternura e dossiê!


DE  Ivan de Oliveira Melo

REFLEXIVO

Quando o olhar é sereno
E se reveste da carícia ocular,
O tom torna-se suave, terno!
Brilham os olhos e ardem desejos
Nessa meiguice ótica!

A carne é depósito de ternura
E as sensações são tão puras
Perante um astral emotivo!
Há uma intensidade de ardor
E a volúpia contém veludo!

Idílio que se afoga na alegria
Diante do fausto enleio sentimental!
A intimidade é dominadora,
Lasciva e vestida de seda
Qual ritmo da melodia lenta!

Agitam-se os torneios do espaço,
O afago é dourado e o abraço
É uma primavera de comunhão!

Doce é o manjar, fartura de beijos!
A entrega repousa no intento
E uma paz sazonal governa o ambiente
Trazendo à tona uma ânsia de sensualidade
Hipinotizada pela maciez da sensibilidade!

Nada é extremo. Tudo é vapor
Que se espalha em conduta de festa
Profetizando o trovejar do orgasmo
Tão esperado e nutrido pelo cenho aromatizado...
É a rebeldia dum sentimento chamado amor!


DE  Ivan de Oliveira Melo

PASSO A PASSO...

Nasci para cutucar a solidão
E dar à saudade uma anatomia,
Contudo o pó da terra é distonia
E me vi como um trem sem vagão.

Como criança trabalhei brincadeiras
Que se fizeram adultas e inexperientes,
Todavia criei álibis e fui tão incipiente
Que me envolvi em minhas asneiras.

Cheguei a ser adolescente meio político,
Pois trapaceava para sempre ser o melhor,
Entretanto a vida surrou-me, fui o pior...
Tenente depressão me abalou o psíquico!

Adentrei na fase madura ainda meio pirata,
Não obstante passei ser atrevido astronauta
E aprendi do sobejo alheio a ser indivíduo!

Assim a vida se edificou em mim... Sou gente!
No entanto ultrapassei tudo o que vi na frente
E deixei no lixo todo o lodo que não presta...

Envelheci. Madureza me fez alguém sabedor
Que do mundo o que importa é ser fiel e amor,
Escrever sobre os mistérios do que é ser poeta!


DE  Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 24 de maio de 2016

CEIA LÚGUBRE

Minha carne apodrece na catacumba,
Sangue coagulado, refresco de parasita
E a carnificina é o odor que se agita
Dentre paredes que guardam quizumbas
Dum morto alienado às preces dos fiéis...

Vermes deglutem meu cadáver infame,
Saboreando taco a taco nefasta podridão,
Arrotam azedume no horror da refeição
E convidam bactérias vindas em enxames
Que me devoram ansiosas as unhas dos pés.

No palor excêntrico dos ossos há a porose
Dinamitada pela fome dos nocivos insetos
Que vorazes se tornam do tear que é abjeto
Alimentando a festa com macabras doses!


DE  Ivan de Oliveira Melo

NOTURNO

Fardo sutil, tênue...
O rugido da floresta
Estronda no espaço
E os animais se recolhem.
Finda o dia. Surge a noite.

Silêncio. Tudo parado e morto.
Só o som dos ventos no ar
A cantar o uivo que amedronta.
Deserto. Nada se move. Escuridão!

Sempre o tudo a vociferar.
É a quietude que sussurra
Na maciez das trevas.
Estrelas que se escondem
E a lua que baila sobre as águas.

Aves piam anunciando perigos.
São os peregrinos da última hora.
Recolhem-se. Banham-se de sono
E roncam os devaneios do futuro.

Nada se perde. Tudo se conta.
O sol desponta. A névoa inunda
A visão dos que despertam
E é levada pelas nuvens ao horizonte.
Dispersa-se o medo.
A coragem balbucia:
A vida é confronto de extremos!


DE  Ivan de Oliveira Melo

NOITE E DIA

Só quero ter a porta aberta
Para contemplar a natureza
E ter a certeza de que o dia
É realmente distinto da noite...
Ter tal convicção é importante,
É a minha sociologia do tempo,
Porque de filosofia estou farto...
Como humano sou associativo
E me vejo dentro de casa a olhar
Os transeuntes que passam fora
Totalmente alheios às horas...
Se de repente a porta fechar-se,
Só verei a noite, porque o dia morre...


DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 23 de maio de 2016

INSENSATEZ

Há multimídia no ar.
Estrondo para os tímpanos.
Tão alto que nada se entende,
Parecem ondas sem sentidos.

Há um remelexo estranho
Tentando seduzir o silêncio
Apesar de ser alta madrugada.
Nas palavras, acordes sem nexo.

Vez em quando um ziguezague
Se apresenta no vaivém do som.
Zoada inaudita imita melodias
Brancas e sem compasso.

Contraponto estéril. Tom aguado
De um ritmo dissoluto estático.
Não há imagens, só a sonoplastia
Incauta remoendo as paciências.

Barulho que a vigília reclama
E o descanso some envergonhado.
O sono vagueia sobre as ilusões
Dissipando sonhos inexistentes.

Clamor se escuta nos sussurros
Dos indivíduos atropelados
Pela inescrupulosidade dos loucos
Que invadem o deserto alheio.

A noite deixou de ser criança.
O amanhecer é o anfitrição das horas
Em que os massacrados se levantam
Para os compromissos do novo dia.

Subitamente a eclosão dos ruídos cessa.
Os galos ciscam e cantam nos terreiros.
O banho matinal não descarrega a fadiga.
O tempo voa e outra noite já se aproxima...


DE Ivan de Oliveira Melo

DIVINO

Ah! Vida, sobrevida, sobrevivência...
Teus portos são imensuráveis...
E eu teimoso sigo mais que censurável
Através das esquinas e das adjacências...

O fardo pode ser leve, mas teimosia pesa
E para quem não é alado, que usa dos pés
Pede mãos carinhosas em sutis cafunés
Para que seja sua mais segura e  eficaz defesa...

Sou apenas vulto nas trilhas de longas estradas,
Carrego saudades embutidas em meu peito
E sei que da vida jamais fui sequer eleito
Para habitar e governar um seio de mulher amada...

Sigo entre as águas de formosa e gigantesca ilha
A pescar o alimento que me deixa longe da solidão,
Tampouco sei o que se passa dentro de um coração,
Pois o meu afogou-se dentre torvelinhos e armadilhas...

E a observar os voos das gaivotas em pleno ar
Espero ter em mim um dia o divino dom de voar!


DE  Ivan de Oliveira Melo

VERNIZ

Amor é pretérito em mim,
Nada resta do tudo que foi...
Hoje já não sou tanto herói,
E dores e alegrias são fim.

Deixei o amor lá nas ondas
Dum mar que também feriu...
Cicatrizes o oceano ingeriu
E nas dores usei uma sonda

Que procelas levaram longe.
Nunca me tornei um monge
E distante estou de ermitão...

O amor em forma mais pura
Eu o sinto sem ser a clausura
Que perturbou meu coração!


DE  Ivan de Oliveira Melo

IDENTIDADE APÓCRIFA

Sabe, acho que em mim habitam espíritos diversos,
Pois para cada pensamento se manifesta nova ideia
E o mais estranho: cada qual com índole própria e
Personalidade heterogênea... Do caráter, nem falo...
No fundo sei que sou eu mesmo, mas com rompantes
De identidades distintas como se houvesse em mim
Individualidades capazes de assumir atributos vários.

Atento fico em todos os instantes: vejo-os, analiso-os
Em essências particulares e me sinto confuso, atônito!
Num mesmo assunto há posições diferentes... ora me
Levo a refletir dum modo, ora tudo muda, sinto-me
Em outro quadrante de raciocínio e, tudo isso, num
Passe de mágica, questão de segundos. Ouço vozes lá
Dentro como se estivessem a discutir, trocar ideias...

Fico sem ação na central da consciência. As sucursais
É que deliberam as atitudes a serem tomadas... Ah!
Isso é um incômodo, uma incoveniência. Tenho de
Assinar, endossar as deliberações e me comporto como
Se fosse eu um verdadeiro robô, sendo, sim, programado
Para agir de acordo com as resoluções conclusivas... Ave!
O pior: na maioria das vezes nem estou de acordo com
O que é resolvido, porém percebo uma ordem que vem
De dentro para fora: “Obedeça, não há como replicar...”

Pareço um fantoche, um bonequinho de marionete nas
Mãos e nas inteligências que me comandam... Embora
Eu saiba que seja eu mesmo, é como se não fosse. Não
Sei se é assim noutras pessoas... Talvez em outros corpos
Tais seres, se é assim que posso chamá-los, não encontrem
Tanta liberdade de ação... Em mim o campo é aberto, usam
E abusam de minha paciência e, até, de minha ingenuidade.
Engraçado, também, é que riem, choram, sentem tristeza,
Contudo noto que há momentos de felicidade, raros, mas há.

Não sei o que fazer. Quando tento uma coordenação, ah...
Aí é que a coisa pega! Subordinam-me de uma maneira que
Minhas adições somem, apenas adversativos imperam, fortes!
Jamais me acostumarei com esses intrusos que vivem a
Sufocar-me. Necessito de ser mais eu, ter fortaleza e, sem
Piedade, expulsá-los! Será uma longa e tenebrosa batalha!
Não! Será mesmo uma guerra, campo de raciocínios mortos,
Porque hei de pôr um ponto final nestas invasões e lutar
Com todas as armas de que disponho. É preciso muita vontade,
Controle emocional, conhecimento de causa e voltar a respirar
Meu próprio ar. Minhas paisagens hão de ser, outra vez, cognitivas!


DE Ivan de Oliveira Melo

domingo, 22 de maio de 2016

LAÇOS ESTREITOS

Vou por um caminho que é uma enseada de esperança
E na areia em que piso deixo as marcas do passado sombrio
Que me fez fantoche do tempo... Vagueio dentre sombras
Em que os vultos que me acompanham são galhos de árvores...

Lentamente meus passos cruzam veredas pálidas de sol
E diante de mim se descortinam paisagens exóticas e frias...
Porém meu espírito se recolhe na contemplação das horas
E, no voo dos pássaros, meus olhos encontram a liberdade!

Abandono os pensamentos que me fizeram egoísta de mim
E sigo a estrada em nítida calma e com reflexão festiva
Que se ergue perante as mais cruentas lembranças... Choro!
Permito que as lágrimas lavem meu rosto que se renova e
Trago na consciência que é mister transformar para ser feliz
E jogo no ralo do esquecimento todas as amarguras vividas...

Não consigo explicar a metamorfose... Parece lírico devaneio
E, num turbilhão de imagens, vislumbro estreito oásis, onde
Certamente lavarei o raciocínio que plana sobre uma overdose
Que insiste em remoer reminiscências pretéritas... É presente.
Tudo o que passei devo enterrar no sepulcro das maledicências
E sorver deste agora os eflúvios que me inspiram às mudanças.
É urgência! Laivos de loucura se aproximam de minha mente
E sei que não terei mais largura. Este estreito é minha sobrevida!


DE Ivan de Oliveira Melo

sábado, 21 de maio de 2016

INTROSPECÇÃO

O que mais existe em meu íntimo: diálogo!
É que eu sempre confabulo e muito comigo,
Assuntos recentes, futuros e mesmo antigos
Passam pelo crivo particupar e são análogos!

Não há especulação: sou meu melhor amigo!
Tudo discuto, troco ideias, pesquiso a fundo...
Nada faço ou digo sem que analise profundo,
Porque há em mim mesmo competente abrigo!

Muito mais salutar do que buscar confidentes,
Não acontece o terrível perigo de uma traição,
Pois o próprio indivíduo é o dono da situação
E somente ele é o conhecedor de si, realmente...

Nas conversas íntimas não há qualquer entrave:
Tempo livre e sem censura... nada bate na trave!


DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 20 de maio de 2016

TANTO E QUANTO...

Em meu coração há só alegria...
Plantei um pé da divina essência
Para que desnudo em tua presença
Seja eu moleque, lágrima e fantasia.

O milagre da vida é só sorrisos
Que estampo alegre desde menino...
Vivo a correr campinas, sou bailarino
Da existência que é meu limbo...

Meu pulsar é forte, invoco do amor
Festas para que meu lema seja ardor
A cantarolar pelas veredas dos encantos...

Em meu coração há uma imensa boca
Que beija e sopra venturas não tão poucas
E, assim, feliz só sei eu o tanto e quanto!


DE  Ivan de Oliveira Melo

ANSIEDADE

De repente intensa buzina me azucrina

E o juízo dá voltas em derredor do ar
Tentando compreender a física ambiente...

A eletricidade do meu organismo é tomista,
Apega-se a raios filosóficos e é ascética,
Pois se promulga indiferente e contemplativa...

Percebo amálgamas na vitrine do pensamento
E busco esconder-me no denso asfalto do corpo,
Porque na tessitura das ideias há pontos tóxicos
Que podem viciar a consciência na hibernação...

Há um convívio acintoso entre o querer e o poder
E minha mente ortodoxa é sumariamente hipótese,
Já que não há teses que decifrem o raciocínio frio,
Enlameado pela doutrina do pensar e do agir rápidos,
Deixando incógnitas que a razão não desvenda!


DE Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 19 de maio de 2016

OJERIZA

A ojeriza me traz o terror da falsidade
E minha emoção destampa os túmulos
Que cobrem restos mortais dos cúmulos
Conferidos ao juízo inato da felicidade.

A doentia carcaça do medo fica bizarra
Quando as vestes da soberba têm alguém
Que faz da loucura um mundo no além
E a boca do ser néscio vomita e escarra.

O perfume putrefado da paixão é pedra
E o corpo ensanguentado treme e medra
Perante os distúrbios dum horror sombrio...

É alucinação o que o coração bate e sente,
Pois a peçonha quer tudo mudo, indiferente
Para que da ojeriza se obtenha sabor e cio!


DE  Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 18 de maio de 2016

EMPRÉSTIMO

Sou tertúlia entre as letras que escrevo...

Mediante sonhos e fantasias aqui estou,
Quiçá em busca de um inusitado amor

Ou apenas cumprir a lírica dum enlevo...
Sou balada dentre versos, rimas, estrofes,
Ou simplesmente tudo o que faço é bofe...

Sou ritmo que acelera o motor da criação,
Engenheiro de certas construções indeléveis,
Ou arrimo duns epígrafes que são estéreis
E minha sina é percorrer o mundo na contramão.

Sou quermesse que se ajunta ao povo em festa,
Ou bacamarteiro enferrujado diante dos anos...
Sou aquele que pinta vidas, mostra desenganos,
Ou tão somente uma tentativa do querer estar...
Enfim, artesão de poesia que existência empresta!


DE  Ivan de Oliveira Melo

PARTO

Venci ao último desejo que me dilacera
E, em mim, proponho trégua e mansidão
A fim de que possa aquietar meu coração
Que chora e ri perante orbe que é esfera...

Tatuo imagens que são sonhos e colibris
Numa visão aerodinâmica surreal e lírica...
Propósitos que adornam a natureza física
Confeccionam corolário de vidas infantis.

Jogo a inspiração diante dum paladar são
Que deglute de magia o prazer e a emoção
E descreve no santuário das letras, a poesia...

Leve prepúcio arregimenta de valor o amor
E me pede o alimento certo para decompor
Estágios onde se fará o parto da fantasia!



DE Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 17 de maio de 2016

CASTA VIDA

Tudo o que me faz casta a vida
É o suborno íntimo diante do nada,
Sombras que enfeitam minha estrada
Têm o odor carismático da despedida.

O metafísico que carrego a tira-colo
É um exército de paixões tresloucadas
Que fuzilam no bom-senso as espadas
E singram etiquetas do bastardo dolo.

Meu templo interior é cinzento e opaco,
Batalhão de sentimentos pisa nos cacos
De uma alma que agoniza entre os danos...

Nuvens carregadas relampejam solenes
E a casta vida que necessita de higiene
Morre aos poucos perante raios profanos!


DE Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 16 de maio de 2016

DESTERRO

Ando a vagar por estradas a fora,
Tão só e tão deserdado da sorte...
Caminho que caminho rumo norte
Deixando para trás o que é agora.

Corro descalço sobre os espinhos
E o sangue jorra na ferida aberta,
Solitário que sobrevive em alerta
E nunca aprendeu a viver sozinho...

Sigo cabisbaixo e sei que é destino
Trotar pelo mundo sem ser arrimo,
Convalescendo entre areial e trigo...

Debaixo de sol e chuva lá estou eu
Desterrado perante o dia que morreu
E a noite que dorme e acorda comigo!


DE  Ivan de Oliveira Melo

CHÃO DE FLORES

Choro lamentações
Nas violas da primavera
E uma saudade fugaz
É o alimento dos meus sonhos.

Loucamente pranteando
Desovo recordações de outrora
E me jogo dentro da horas inúteis
Colecionando flores brancas...

Reparto as pétalas entre os extremos
Que me jogam à toa pelos canteiros
E mesmo diante de folhas mortas
Respiro vida em abundância...

Minha alma está vazia de solidão,
Apenas triste perante dias loucos
Que tramam soluços desvairados
E pálido fico a espionar-me em mim...

Meus lábios balbuciam palavras de amor
E treme ao vislumbrar quão é esplendor
O oásis que se descortina no deserto íntimo
Tão sufocado a colher flores caídas na chão!


DE Ivan de Oliveira Melo

domingo, 15 de maio de 2016

CONIVÊNCIA

O dia me coloriu
Tão pleno de sol
Que bronze foi amor
Chamuscando minha carne.

A noite me advertiu
Que a lua estava só
E as estrelas em derredor
Cantavam um brega qualquer.

A vida me consumiu
Entre sorrisos e lágrimas
E nas tardes de calor intenso
Apenas o mormaço sabia falar.

O tempo me seduziu
Repleto de brisas e delícias
E novamente quando o dia chegou
O sol tão preguiçoso ainda dormia.

E mais uma vez a noite me sentiu
E comigo compactuou apenas sonhos...


DE  Ivan de Oliveira Melo

ESTÁGIO FEBRIL

O mundo me parece meio macambúzio...

Nauseabunda enfermidade é pandemia
Que trolla os raciocínios mais exegéticos

E encorpa o cotidiano da rabugice virtual
Que leva os destinatários a cometer gafes
Onde proclamas formais são parabólicos...

Efeitos de mediocridade tolhem as causas
E o santuário do saber definha lentamente
Perante a pieguice dos argumentos pobres
Que adornam objetivos que são perimetrais.

Louvem-se os ínfimos transeuntes da noite
Que se lançam afoitos à cata do tear lúdico
Encoberto pela ousadia das fábricas inúteis
Conspiradoras da peçonha que se derrama
Sobre a inocência dos flagelados terrestres!


DE  Ivan de Oliveira Melo

CRENÇA

Acredito que terra não seja só areia,
Terra é solo onde o trabalho é hóspede;
O homem anfitrião do progresso
E a vida uma ilusão que cerceia...

Acredito que do cosmos vem energia,
Universo é átomo que se transforma;
O tempo é senhor que amadurece e vive
Sobre o tear das incertezas e da utopia...

Creio que a mentira semeia a verdade,
Que hipocrisia não é somente falsidade;
Mas também intensa fábrica de sonhos...

Creio que a faina diária é trela de criança,
Que não haja juízo absoluto sem esperança;
Por isso sou poesia em tudo que componho!


DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 13 de maio de 2016

MARMOTAS

Grifo com dois traços
E com traços grossos
O que é o desconhecido...
Certamente não me incluo
Neste rol que ignora
Com o olhar de soslaio
A ótica visionária
Do azedume do mundo...

É terrível desconhecer
O que pode ser verdade,
Pois entre pobres e ricos
Há um baú de lorotas
Que engana há séculos
Homens antigos e atuais,
Contemporâneos da vida
Moderna e da Idade Antiga...

Planos erradicaram multidões
E ainda no éter sente-se o olfato
De um desprezo acintoso
Que arruína o bem-estar
E promove o culto de ninguém...

O público sempre foi o alvo
Das comédias e das faxinas
Que trucidaram inocentes
E promulgaram a idolatria
Dos deuses de pedra...

Tudo segue desconhecido,
Porque as mentes não evoluíram,
Os desejos de conquistas ainda
Estão no parapeito das janelas
Esperando tão somente
Que o vento sopre a favor
E se possa conduzir as rédeas
Dos idiotas que se deixam
Levar por mundos e fundos,
Mas que na realidade
Apenas os fundos são mostrados
Visto que a nudez de sapiência
É arcaica e mais hoje,
Porquanto o céu é o teto único
Que abriga tudo o que é
Desconhecido...


DE Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 12 de maio de 2016

PRÉ-CONCEBIDO

E a noite caiu sobre minha pele negra...

Ah...! Brancos só os dentes, mesmo assim...
Um pouco amarelados pelo tempo... escuro!

Sou negro, tenho jeito de negro. Sou humano.
Gosto de negro. Gosto de branco. Sou negro!
Negro é gente. Tem coração. Sou inteligente!

Uns dizem que sou preto e minha alma, branca...
Ah...! Minha alma é tão negra quanto a pele, só!
Dizem que a situação está “preta”, negritude..
Culpa dos homens brancos? Culpa dos negros?

Não! Culpa de todos os humanos desumanos
Que já não sabem amar, perderam o equilíbrio
E caíram e seguem despencando no buraco negro
Onde a morte negra os esperam... É o deserto!
O destino é o mesmo para qualquer um, sempre!

A cor da pele é a última instância de um vazio...
Não importa se negro, branco, amarelo, mameluco,
O homem é que distorce as coisas, parece maluco
E através de sua loucura enlouquece os outros
E carrega o mundo para o buraco negro... Existência

Meio apócrifa perante realizações aparentes: fraudes!
E a vida tem sua sequência, pois é linear, não para!
Todas as raças são filhas de um mesmo pai, ou todas
Têm as mesmas origens... Ninguém pediu para vir

Branco ou negro... Hipocrisia e preconceito latente!
Ninguém sabe a cor real da pele do Cordeiro, sabe?
Ele pode ter sido negro, igrejas o pintam de branco

Simplesmente por conveniência... pura rebeldia!
Somos todos irmãos, o mesmo chão espera por todos

E a salvação não está na pele, mas na cor das atitudes!


DE  Ivan de Oliveira Melo    

DELÍQUIOS

As lágrimas em meu rosto
Têm um sabor que apetece,
De gota em gota... é oposto
Que fere e me rejuvenesce.

Há uma vergonha embutida
Em meu jeito carente de ser,
Lágrimas que são rios e lida,
Imensas cachoeiras do prazer.

Às vezes as lágrimas sangram
E me doem febris as pálpebras
Que abrem e fecham indecisas...

Nos prantos que se consagram
As dores são contas e álgebras
Que precisam do vento, brisas!


DE Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 11 de maio de 2016

TUDO

Tenho tudo.
Sempre terei tudo.
Quero ser tudo.
Por isso, imagino-me intenso sonhador.

Abro as portas de minha casa
E em derredor de mim este tudo vagueia.
Só que eu ainda nada sei desse tudo...
Será que é devaneio meio louco?
Não quero nem pensar. Dar-me arrepios!
Por enquanto permito que o pensamento navegue,
É que as águas estão mansas e tudo é possível!
Decididamente mergulho na obscuridade da vida.
Abro bechas para que a imaginação trabalhe
E me vejo num mundo colorido, sem preto e branco.
Meus desejos tomam formas palpáveis aos meus olhos.

Observo sinais que tentam levar-me ao desconhecido.
Freio. Não devo aventurar-me em estradas sinistras.
Dentro de mim ainda tudo é escuro. Claridade não há.
Passo a passo vou adentrando os pés, com cerimônia.
Não sei a que destino me levará esta aventura. E dura!
Horas e mais horas sem consultar o relógio. Só aflição.
Talvez seja melhor dar meia volta. Não! é covardia!

Sigo adiante. Vida e morte são extremos que consulto.
É fundamental que eu encontre este tudo. É loucura!
Ah! Começa a chover em minha consciência. Lama.
O solo está escorregadio. Muito cuidado. Estou chegando!

Afinal esbarro-me com infinito despenhadeiro. Altura!
Olho resignidamente para baixo. Tenho náuseas. Pânico?
Não. Sou tremendmamente corajoso. Fraquejar agora?
Deparei-me com o tudo e ele é a vida que me envolve!


DE  Ivan de Oliveira Melo

TEMPESTADES

Gosto dos ventos em intensas tempestades...

Eles falam zangados e seus açoites são sua ira
E infelizmente ninguém os entende, com certeza...

De sua força mistérios e segredos se desprendem
Perante uma natureza que, em silêncio, observa
Em sua velocidade sonho e magia, luz e pecados...

O tempo se fecha pálido, a humanidade desolada
Busca nos murmúrios a fibra para suportar o medo
E se escondem em recantos lúgubres e dolorosos
Onde canções sem asas voam sobre as sensações...

Arrepios funestos contrastam com a inércia do frio
Ou do calor que invade as entranhas do organismo...
De repente uma fome secular prolata num êxtase
A sede de uma aventura que é o viço em liberdade...
Por isso, gosto dos ventos em intensas tempestades!


DE  Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 10 de maio de 2016

ROMANTISMO

Vivo a catar das flores, as pétalas
E junto-as num jarro de minh’alma,
Do romantismo coleciono pérolas
Que o sentimento moderno espalma.

As setas nos corações andam tortas
E o amor chora nas horas dos dias...
Ternura... raridade que se comporta
Dentre tempestades frias e arredias...

Oh! mundo de sobrevivência titânica
Apesar da rudeza do carinho bastardo,
A seara da Terra é de capa romântica
E se deve dissipar as ervas deste fardo!

Urge que se alevante do infinito o amor
Para que se destrua o que for de isopor!


DE  Ivan de Oliveira Melo


ESTRADAS

Na estreita passagem do tempo
Os contrários apenas se atraem...
Extremos sobrevivem ao relento,
Pois são adjuntos e se contraem.

No viço das horas a palavra urge
Para alevantar um moral cansado,
Apenas peripécias ébrias surgem
Alvoroçadas por cardápios alados
Que sobrevoam castelos e nuvens
Diante do esplendor de quadrados...

Cerimônias apresentam a etiqueta
Dum entrar e sair sem constestação,
Contudo fecha-se o que é maçaneta
E abrem-se estradas para o coração!


DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 9 de maio de 2016

SILÊNCIO PSÍQUICO

Tumulto na noite sem estrelas,
Tremenda algazarra e delírios
Que vociferavam além-limites
De uma madrugada sem rumo...

No remelexo da confusão aflita,
Ouvidos escutavam sons diáfanos
Que transmutavam as ideias rudes
De uma zoada acintosa e rebelde.

Vaticinou-se o barulho sem brilho
Perante as onomatopeias ululantes
Que imitam os rugidos da natureza...

Segredos despencaram sobre areias
E o silêncio voltou a gritar solitário
Dentro da noite sonolenta e psíquica!


DE Ivan de Oliveira Melo

HIPOCRISIA

Apenas em tempo algum há vingança,
Pois é largo o sentir do amor delírio
Que me corrói e me traz cruel martírio
Ao ver-te ladainha de minha herança.

Longe de ti esturricou-me a saudade
E meu peito que doce paixão sentira
Tem na solidão tua mais fiel mentira,
Pois um triste engodo foi tua fidelidade.

Darei voltas que meu parafuso ensinou,
Porque neste mundo idólatra é este amor
Que me fez penhasco dos teus falsos olhos...

E assim dormirei sob os lençóis da plateia
Que me abraça e confidencia que és plebeia
Dentre os indivíduos que semeiam abrolhos!


DE Ivan de Oliveira Melo

domingo, 8 de maio de 2016

EXCÊNTRICO PERFUME

Enquanto eu durmo, desamparado e só,
Sinto em meu olfato o odor do teu abraço,
Percebo o desenvolver de extasiante laço
Numa centelha de luz que é impuro pó...

Um paraíso metafísico entre cordilheiras
Fotografa uma equatorial área descampada
Donde povos ingênuos lutam com espadas
A fim de dissipar o mal dentre fronteiras.

Teu cheiro me leva às altitudes do universo,
Percebo uma natureza repleta de procelas
A difundir as mensagens dos meus versos...

E o olfato, uma mistura de amor e maracujá
Vagueia disforme entre as luzes das velas
Levando sonhos a viajarem de par em par!


DE  Ivan de Oliveira Melo

ALGARISMOS

Sou um açude de águas barrentas
Em desertos campos de primavera,
Flores murchas enfeitam as taperas
Num tempo de calor: oito ou oitenta!

Montes secos e poeira que se move
Infestando o espaço na forte ventania,
Fuligem discreta lapida tênue fantasia
Qual preço de etiqueta: noventa e nove!

No intenso calor o suor é bailado afoito
Que escreve sobre a areia oitenta e oito,
Mas que poderia ser qualquer número...

Os dias e noites são cúmplices tão fiéis...
Na essência da geografia tudo vale dez
Perante os problemas que são inúmeros!


DE  Ivan de Oliveira Melo



ALGARISMOS

Sou um açude de águas barrentas
Em desertos campos de primavera,
Flores murchas enfeitam as taperas
Num tempo de calor: oito ou oitenta!

Montes secos e poeira que se move
Infestando o espaço na forte ventania,
Fuligem discreta lapida tênue fantasia
Qual preço de etiqueta: noventa e nove!

No intenso calor o suor é bailado afoito
Que escreve sobre a areia oitenta e oito,
Mas que poderia ser qualquer número...

Os dias e noites são cúmplices tão fiéis...
Na essência da geografia tudo vale dez
Perante os problemas que são inúmeros!


DE  Ivan de Oliveira Melo



ANGÚSTIA

Morde-me o pensamento... infeliz tormento!
Quem sou? ah, triste esta minha circunstância!
Por fora estou para mim como última instância
A sufocar-me os brios perante atroz sentimento!

Não consigo meditar! ... é a angústia das horas
Sempre a cutucar-me como se mudo eu fosse...
Contudo enxergo um éden como gostoso doce
A espalhar-se em mim como quem me devora!

Nada é obscuro, entretanto... Há o sutil encanto
Mendigando sorrisos e todas as lágrimas espanto
Para comungar da pseudo euforia que se instala...

Ah! tudo está muito cinzento, estou bastante só!
Somente partículas dos instantes que são um nó
A estrangular-me a paciência que parece opala!


DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 5 de maio de 2016

SOFISMAS

Há um céu e um inferno que nos espiam

E nós não refutamos sobre tais hipóteses,
Simplesmete vivemos e sobrevivemos sós

Sem a abadia de uma proteção anatômica...
Ora nos mergulhamos no empirismo da fé,
Ora navegamos sobre os mares da maldade...

Ambos os lados traduzem comportamentos
Infláveis... Quem opta pelo céu vive e ora,
Quem adentra pelo oposto só pensa em si
E faz da vida alusão ao salve-se quem puder.

O raciocínio é telúrico, algo mais é novidade...
Enfiados na prece, a tese é de um êxtase alfa,
Contudo não se obtém resposta, o vácuo é oco
E o tempo corre, não perdoa... O que fizemos?
Absolutamente nada. Por quê? Resposta nula!


DE  Ivan de Oliveira Melo

MAINHA

Coisa mais linda no mundo não há...

Em teu seio suguei do amor, a vida.
Em teus braços chorei, sorri, dormi.

Durante anos o que é salutar, aprendi
E tenho em meu futuro fartura do saber
Que me doaste sem nada cobrar em troca.

Quanto amor em teu divino seio eu vi!
Quanta abnegação em noites de frio e calor...
Só mesmo tu! Ó diva, cobriste-me de amor
E me cedeste de presente à mulher amada!

Foste a pomba que Cristo soprou em mim
E contigo alcei os belos voos da existência!
Fizeste-me homem e me ensinaste prudência
Perante um orbe que respira dor e ingratidão!
Partiste, mas deixaste pedaços do teu coração!


DE Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 4 de maio de 2016

EXTREMOS

Extremos são convites à profunda reflexão...

Diante de um nada posso possuir um tudo
Desde que esse tudo preencha todo o vazio

Que inunda consciências que nada pensam...
Perante um tudo se pode observar um nada
Desde que, mesmo sendo tudo, nada valha,

Ou não tenha pensamentos que transformem...
As mutações são necessárias à estabilidade
Da existência. No tudo e no nada se convive
Com as manifestações que as horas exigem.

O tempo é linear. Um passado vazio se atrita
Com um presente repleto de realizações... e
Premedita um futuro incógnito e misterioso.
Todo um nada do passado pode ser um tudo
No porvir e vice-versa. Tudo são aparências!


DE  Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 3 de maio de 2016

METAFÍSICO

És uma estrela que brilha
Num firmamento infindável de luz,
Sobre estepes humanas derramas calor
E perante o universo cintilas o amor
Que torna possível o entrelaçamento febril
Dos corpos que suspiram a seta do ardor
Que declama ao coração versos de ternura...

És o sol que incendeia de carinho o mundo
E a lua que alumia de meiguice o dar e o receber
Dos gestos e poses sensuais que são o néctar
Donde se extrai de sua essência a overdose secular
Que é a felicidade imantada da cristalina aventura...

Enfim... És olfato e sabor, és eloquência e fidelidade,
Audição e tato que o olhar transforma em eternidade!


DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 2 de maio de 2016

DESTINO

O mundo está plenamente desequilibrado
E o ser humano é um desequilibrista nato,
Vive feito cobra, rasteja-se oco, sem mato
Vivendo das sobras e dos sobejos ingratos.

Imagina-se a tendência do todo um social
Que é mendigar pela fome que o acomete,
A água tornar-se-á relíquia e muito topete
E aos plebeus restará a sede de dom mortal.

Os irracionais têm espaços desapropriados
Pelas inconsciências que se nomeiam donos
E são abandonados em arenas e quilombos...

E a natureza responde aos atos impensados
Distribuindo destruição em tom de castigo,
Porque a seara perfeita é sonho de mendigo!


DE  Ivan de Oliveira Melo
 

domingo, 1 de maio de 2016

VÓS

Vosso olhar é minha réstia de luz,
Vosso corpo meu templo de oração,
Em vosso peito singro pela emoção
Que traz a mim o amor que me seduz!

Deixo que minha mão aperte a vossa
E sinta de vós toda a ternura do toque,
Meus dedos se arrepiam e até tossem
Devido ao desejo que os vossos esboçam!

Em vossa face deposito beijos amantes
E vos trago a mim, pois sois diamantes
Que tornam minha vida apenas vossa...

Deitai sobre mim vossas carícias ardentes
E permiti que eu vos ame hoje, eternamemte...
O mundo gira e em vosso amor o meu remoça!


DE  Ivan de Oliveira Melo

ESCOLHAS

O que mais te inspira:

Uma mulher nua,
Um homem nu

Ou tua própria nudez?
Remexe em teu íntimo
E verás que é desfaçatez...

O que mais te emociona:
A fome na África,
O terrorismo oriental
Ou um capitalismo fracassado?

O que mais te impressiona:
A corrupção dos políticos,
A educação em baixa
Ou a saúde na penúria?
Violência é não ter onde morar!


DE  Ivan de Oliveira Melo

MIL

Sou mil...
Novecentos e noventa e nove
Não me interessam,
Pois fica faltando um ponto...

Sou mil...
Às vezes penso em um milhão,
Contudo ninguém é assim
Tão cabeludo...

Há muitos carecas pelo
Meio do mundo...
E a calvície é tanta
Que o saber se esbugalha...

Sou mil...
Há muitos mil como eu
E o intercâmbio não é perene,
Porque muitos descem a oitocentos...

Sou mil...
Ah... Quero subir,
Ser diferente dos outros,
Ninguém é igual mesmo...

Hum... Nem carecas são idênticos,
Muitos lutam por patamar mais alto,
Outras se contentam com o que têm,
Acham que devem ser humildes...

Sou mil...
Humildade não é o caso,
Nem tão pouco orgulho.
Sempre se deve pensar alto...

Sou mil...
Mas cuidado para não cair,
Pensa-se elevado, pés no chão.
Os que se acovardam... Nem sei!

Sou mil...
A covardia é instrumento da preguiça,
A existência é linear, crescer é meta,
Mas meta sem ambição, sem egoísmo...

Crescer para buscar vida melhor.
Ah... Se todos fossem mil como eu
Certamente haveria mais qualidade,
Pois de quantidade está tudo lotado!

Sou mil...


DE  Ivan de Oliveira Melo