terça-feira, 29 de setembro de 2020

AMAR

 

 

 

 

Tão vulnerável é o sentimento humano!

 

Quem diz que ama, às vezes nem sabe amar,

Prolata tal sentimento da boca para fora, sim!

 

Trata-se de uma expressão que se torna vulgar

Na medida em que não é compreendido e traz

Emoções esdrúxulas e hipócritas ao cotidiano.

 

Muito comum ouvir-se em qualquer situação

Um “eu te amo” sem a sinestesia que evoca

As mais puras sensações que enternecem a vida

E que fazem vibrar os anelos do coração carente.

 

Amar não é agradecer nem agradar... É vínculo

De solidariedade e fraternidade conjuntamente

Entrelaçadas dentre os arremedos que fustigam

A doce estratégia do dar e do receber, do perdoar!

É fidelidade e aceitação, respeito às diferenças!

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 26 de setembro de 2020

AGONY

 

 

There were dry leaves on the ground...

 

The time was hot but my face was cold

And my body was wet by drops of sweat.

 

A great anguish took care of my thoughts...

I wanted to speak something but I couldn’t

Hear any words from me... I was doped!

 

Suddenly I could feel some tears in my eyes.

Yes! I was crying but I couldn’t understand

The reason of this...Would I be mad? I thought.

There weren’t any troubles in my life. I was free!

 

Then I saw a deep hole around me. Much sand.

Near this sand there were some crows waiting...

But waiting what?  What was it happening?

A funeral music splashed sounds in my ears,

So I understood that I was dying in that moment!

 

 

By Ivan de Oliveira Melo

 

INDOMÁVEL

 

 

Meu tempo é o de ontem.

Hoje sou plenamente anacrônico...

Às vezes pareço do tipo inexorável,

De uma severidade assaz ortodoxa.

 

Para coadunar-se diante de certos modernismos

É mister seguir preceitos profanos

Que tornam o indivíduo meio herético,

Reformista dos costumes e das tradições teístas.

 

Meu tempo é o de ontem,

A diacronia não se embebe do meu ser,

Tento ser paradigma para meus sintagmas...

 

De um teor denotativo é o meu pensar,

Hermético perante as ejaculações fúteis

Que fazem da contemporaneidade período linfático!

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

HISTÓRICO

 

 

 

O tempo galopa e deixa cicatrizes

Num éter que, sábio, é memória

Perante fatos que marcam a História

Dos homens alegres e dos infelizes...

 

Da Antiguidade fala-se em caverna

E os desenhos rústicos são hieróglifos

Que transmitem vida sem ser apócrifos

E retratam uma existência não hodierna.

 

Período de religiosidades bem politeístas,

Cultivadas na ignorância sobre as pedras

Que nada falavam sobre as vidas eternas,

Eram deuses surdos-mudos e anarquistas.

 

E chega ao progresso de uma Era Cristã,

Donde valores morais são postos à prova,

Contudo a humanidade é vil, não se renova

Tornando maltrapilha a Boa Nova neste afã.

 

Numa Idade chamada Média a Igreja mata

Em nome de Deus os chamados de hereges,

Pois bruxos e feiticeiros na magia descrevem

Fatos que contrariam a doutrina de uma nata.

 

Época que fotografa as viagens e aventuras

Dos que se lançam corajosamente nos mares,

Grandes Navegações trazem perigos graves,

Contudo desvendam rotas, terras e negruras.

 

Pobres africanos usurpados e feitos escravos

Viram moedas em vendas, trocas e comércio,

Valiam fortunas, desbancaram até o sestércio

E anonimamente desembarcavam carregados.

 

Por outro lado, o mundo respira transformações

E o Ocidente se veste de requinte e de talento,

Nas artes e nas ciências ocorre desbravamento

Com o Renascimento que traz luzes e emoções.

 

É um tempo repleto de invenções e descobertas,

Gutemberg traz a imprensa e Galileu é astrônomo,

Embora fundamental ao cientificismo, é condenado

Por heresia ao formular teses inteligentes, espertas.

 

Alighieri entrega ao mundo a sua Divina Comédia,

Obra que enfoca o Paraíso, o Purgatório e o Inferno,

Outros autores e obras se destacam no seio externo

Do universo, destarte existam a ganância e a miséria.

 

Chega-se à Era Moderna. Constantinopla é dos turcos,

A Revolução Francesa cai com a queda da Bastilha,

Fase que surgem as bases para uma novíssima trilha

E os aspectos sociais e econômicos têm outros cursos.

 

A mentalidade do homem ganha horizontes nunca vistos,

Com a Revolução Industrial monta-se o mercantilismo,

Sistemas coloniais aquecem o surgimento do capitalismo

E o “Novo Mundo” é integrado à História sem imprevistos.

 

Na Europa nasce o poder dos reis, que é o Absolutismo,

O regime feudal cede lugar aos aparatos da burguesia,

O medievalismo enterrou-se sob as hostes em que seriam

Implantadas rotas comerciais obrigatórias para consumismo.

 

Não se pode abandonar os filósofos desta fase importante,

Anos de muitas luzes de uma intelectualidade iluminista,

Ilustração da sabedoria e da liberdade e de uma conquista:

O não atrelamento da educação à religião, nada como antes.

 

Profundas metamorfoses acontecem na era contemporânea,

As sociedades se envolvem em conflitos de amplitude mundial,

Doenças destroçam a saúde dos povos como um vendaval,

São pandemias e enfermidades erógenas em miscelânea...

 

Uma globalização dos assuntos econômicos torna-se sistema,

O viés tecnológico assombra como referência do progresso,

A natureza torna-se a raiz exploratória da riqueza e do excesso,

O homem tudo dela tira para sobreviver dentro do seu esquema.

 

Na política e nos esportes se têm arremedos de muita corrupção,

A religiosidade traz o aparecimento de inúmeras igrejas e seitas

Que visam, como maior objetivo, a insurreição do capital que deleita

Seus fundadores e irresponsáveis dirigentes como pseudo doação.

 

A vida nesta recente Idade aboliu a decência e os bons costumes...

Quem sabe? Reflexo de duas guerras mundiais e do terrorismo?

Ou da hipocrisia lançada pelas grandes potências sem altruísmo?

Desmatamentos, fome, mazelas. Tudo se comete e ficam impunes!

 

Eis um período em que inventaram o telefone, a lâmpada elétrica...

Também surgiu a aviação, o automóvel, a televisão, o trem-bala...

Novidades que os ancestrais não alcançaram da inteligência rara,

Mas que se tornam obsoletas diante do ser humano sem estética!

 

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo 

  

 

 

 

 

 

 

 

   

 

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

IN NATURA







Dos uivos dos ventos
Quero compor uma serenata,
Unir bons semibreves aos centos,
Dizer que amor é palavra cognata
Do magnífico verbo amar...

Dos ruídos da chuva
Quero escrever poesias,
Fazer contrapontos em linha turva
Para escutar o que não ouvia
Sobre os remelexos nas ondas do mar...

Do crepitar do fogo
Quero ser inúmeras fagulhas
Para nos acordes ser de novo
O anjo rebelde que entulha
Carinho e ternura sem parar...

No compasso indelével da música
Quero bailar palavras em meu paladar!



DE  Ivan de Oliveira Melo


terça-feira, 15 de setembro de 2020

CONTEXTO IDEOLÓGICO






O fruto amadurece e desaba no solo...

Assim são as ideias: raciocínio e consciência se entrelaçam,
Fecundam-se no sabor da criação, tomam formas e expiram-se,

Dando à mente a inspiração para o exercício do executar
Os ingredientes edificados na placenta do íntimo pessoal
Que traz à tona da realidade uma construção de finos alicerces...

Nos mais das vezes, a ideologia planejada é puro devaneio
E cabe ao senso produtor banir os ramos de fantasia
Que devem ser sepultados nas depressões do solo intrínseco
A fim de que a consumação dos efeitos não seja utopia.

Na interação sonho-realidade, a verdade deve ser altruísta
E à concepção do impossível não se deve dar manifestações...
A vida exige atributos palpáveis que se englobem no universo social,
Pois as recíprocas precisam de tangibilidade e de participação coletiva...
O existir não é impessoal, ideais unificados sedimentam o progresso!



DE Ivan de Oliveira Melo

domingo, 13 de setembro de 2020

FOGACHO






Eis que enveredo pelos campos da sinestesia
E saboreio dos sentidos finíssimo esplendor,
Percebo a nostalgia dum sentimento de amor
Que me envolve solenemente em grande orgia.

Abstraio das sensações um calafrio alucinante
E me deixo seduzir repentinamente por volúpias
De fome e de desejos… da sede que traz tertúlias
Perante a excelsa vontade de ter da vida o bastante.

Sonego a mim o direito de haver horas indeléveis
E me dou a mim os segredos que são imutáveis
A fim de que à vida possa eu consumir as labaredas…

E num fogaréu de tesão deixo-me esculpir de paixão,
Torturando-me as vísceras inexpugnáveis do coração
Que me solfejam em notas breves que me enredam!



DE Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 8 de setembro de 2020

DESTINO





Eu dentro da noite, a noite dentro de mim...
Eu dentro de um sonho, um sonho utópico
Que navega em meu íntimo horas sem fim
E me faz de conexão com o mundo gótico.

Eu dentro da madrugada, única madrugada
Que faz do silêncio, minhas horas amargas
Sem aquela preocupação de ter tudo e nada,
Posto que, da vida, impostos são descargas.

Eu dentro da vida, a vida dentro do mundo...
Quero sobreviver intenso em cada segundo
E ser da solidão, simplesmente a saudade...

Eu dentro do dia, o dia está dentro de mim...
É que não sei existir tão abandonado assim
Sem me conduzir com destino à eternidade!



DE  Ivan de Oliveira Melo


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

RETRATO DO MUNDO






Não é preciso aviltar a essência divina para ser herege...
O mundo vive em contraste e disseca os valores morais,
E esculpe as sociedades de ações vândalas que mais e mais
Tecem de indecência e hipocrisia as normas que se ferem.

Os ventos que sopram não são límpidos: são tutelas de contágio!
A heresia açambarcou a natureza, predomina a infidelidade...
Uma hecatombe de maldades é o tempero nocivo à integridade
E os indivíduos sucumbem ao adotarem a terapia deste plágio.

O caráter diluiu-se em meio à lama de parafernálias letais...
A inveja e o ódio:  regras de sobrevivência distantes dos ancestrais
Que comungaram ao longo da existência uma vida de excelências!

A sentença: os bons ideais invertidos fazem dos homens plebeus;
Amor, carinho, ternura, educação, hoje são coisas que os museus
Até escondem a fim de que as blasfêmias imperem nas consciências!


DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 6 de setembro de 2020

SONATA DE AMOR


                               



                             Em meu jardim pessoal,
                                 Ó príncipe que sou!
               Quiseste tu fazer morada à minha revelia
                       E meu corpo te dei em fantasia
                   A fim que pudesses exaurir de amor.
               Dentro de mim há um quartel do silêncio
      E donde o sentimento que explode não é nada ilusão,
               Mas fatias de uma ternura em carinho que alicia
      Qualquer sofreguidão em dons homeopáticos de meiguice.
                       Sou Sol e Mar, Lua que se apaixona,
                                  Ó príncipe que sou!
                 Perante o sabor das nuvens eis-me teu
                        A sussurrar em teus ouvidos
                 As doces palavras que me fazem fecundo,
                   Nauta na arte de amar e de transformar
        Teu mundo tão róseo e sedutor em ninhos de amor
             E, assim, poder navegar qual tenaz marinheiro
                            Que busca em mim e em ti
                  O senso não compulsório da entrega,
             Porém da extrema exaustão de ser somente
                          O teu tão sonhado e desejado
                                   Príncipe que sou!





         DE  Ivan de Oliveira Melo

SEARA METAFÍSICA


  

Pelas regiões abissais da natureza

Existem inúmeros acervos de gases

Que se misturam em adventos cósmicos

E produzem nas esferas do espaço

Manifestações as mais diversas no éter carcomido

Pelas poluições herméticas da terra gangrenada.

 

As correntes eólicas são vetores de degradação

E nas plataformas das enseadas continentais

Os hemisférios se curvam diante das orgias

Patrocinadas pelas substâncias físico-químicas

Já manietadas à custa dos interesses mundanos

Que não somente desmatam, mas cerzem a atmosfera.

 

Perante o comboio das cadeias de sobrevivência,

Há elementos dilacerados pelas transformações atômicas

Que se atritam entre si e tornam a seara sideral

A floresta negra das ambições fúteis e desnutridas

Em que o produto geográfico desnuda o geológico

E traz aos parâmetros da vida terrestre doenças incuráveis.

 

As combinações maléficas se espalham no orbe

E, aos aspectos denominados vida, advém a morte...

Este é o cenário das mutilações impostas ao universo

Tão circunstancialmente formado há bilhões de anos,

Não obstante na fantasia dos silêncios execráveis

Encontram-se os segredos das constelações da metafísica

E, um dia, mesmo que não queiramos, seremos estrelas cadentes!

 

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

 

sábado, 5 de setembro de 2020

 

TORMENTA

 

 

 

 

O inverno traz um frio que arrepia

E, tiritantes, fica-se a bater os dentes

Enquanto os corpos se tolhem e sentem

Pontiagudas dores de enlevo e agonia.

 

Tremem-se os novelos da angústia tardia

Onde se recolhem frêmitos que são quentes,

Os ventos assobiam e regularmente mentem

Deixando na ogiva, gelos de contraste e ousadia.

 

O tempo é o mentor desse constante desvario

Que, em ondas, atropela o éter marinho

E singra das procelas, o sacolejar das nuvens...

 

As mentes adormecem sob influxos de preguiça,

Acobertam-se de grossos tecidos que ora se enguiçam

E fomentam os ardores que da atmosfera surgem!

 

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo