segunda-feira, 30 de setembro de 2019

FRONTEIRAS



Um eu sem mim...
Retrato sem moldura,
O tempo que usura
Até um além sem fim.

Um mim sem eu...
Entre o nada e o tudo
Uma fronteira ao cubo
Desse mundo fariseu.

Premissa e lados opostos
Da ignorância e da cultura
E o antagonismo perdura...

Os espectros são expostos
Sem “eu”, sempre sem mim;
Riso e choro, fronteiras assim!


DE  Ivan de Oliveira Melo


sábado, 28 de setembro de 2019

PELAS TRILHAS



Durante muito tempo... simplesmente existi!
Vivi numa corte do meio rural
Donde respirava com excelência um jabuti.
Amei desesperadamente a vida no campo
E, em meus devaneios, fui o pirilampo
Das crianças que brincavam à luz da Lua,
Que corriam e choravam, e gritavam na noite crua!
Do mato silvestre compreendi o que é o amor,
Ultrapassei perigos e agora estou a compor
Este poema que guarda recordações e luta
Que é a sobrevivência no solo da terra bruta...
Diante dos arrebóis me vi também a cantar
Junto aos pássaros que eram a beleza do lugar.

Nobre passagem de uma existência que não é fácil
Perambular pela seiva das flores e ver o táctil
Perfume que arrepia a pele de quem quer ser herói
E transcende do plebeu a dor que assaz mói,
Do destino incerto, as sepulturas que são riscos
Perante um viver em que se blasfema em tons fictícios
A fidelidade que jaz embutida nos fulgores
De quem ama e é amado pelos semeadores
Que perfuram do solo os bueiros maltrapilhos
E arrastam à beira da fantasia eflúvios e gemidos!

Assim foi esse certame de várias descobertas
Que trouxeram as experiências que, alerta,
Concertam os males procedentes das insatisfações senis
A fim de que o mundo eduque e civilize os mancebos infantis!


DE  Ivan de Oliveira Melo



MÍSTICO



Sob o olhar frenético da poesia
Debulhei palavras em transe
E me deparei com um romance
Apoplético e ferido de utopia...

Mediante acervo de arcaísmos
Inundei minh’alma de retórica
E me vi debutante na aeróbica
Fantasia de criar malabarismos.

Compilei dos edemas sintáticos
Nuances de glossários cáusticos
Que corroem efeitos de simetria...

Doravante eclipsar da linguagem,
Vi-me ascético, deveras selvagem
Sob o olhar frenético da poesia!



DE  Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

MEDIAÇÃO



Crê o escritor ser o tempo
E nele mergulha embalsamado,
Encantado com as horas inexoráveis...

Permite-se navegar sobre as nuvens
E nada na correnteza dos ventos
Em busca duma inspiração ortodoxa
Que traz das aventuras, o teor metafísico.

Crê o escritor ser as madrugadas
E nelas galanteia com as estrelas
Perdidamente apaixonado por si mesmo.

Observa-se tímido diante da imensidão
E do todo abstrai o conhecimento intrínseco,
Capacidade que lhe dá a sublevação íntima,
Tornando-o vítima de seus próprios arroubos.

Crê o escritor ser a ilusão,
Dormente manjedoura donde advém
A sagrada epopeia do saber escrever
As ditaduras ovacionadas pelos corações.

Crê o escritor ser saudade e solidão
E, perante os arremates do tempo invertebrado,
Entrega-se às conspirações tresloucadas
Das almas consubstanciadas pela irreflexão!

O escritor absolutamente em nada crê: medita!



DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 7 de setembro de 2019

CARACTERES



É impossível descrever com simetria
A assimetria dos astros,
Pois por caminhos opacos,
Simétrica e assimétrica é a utopia.

Parece assaz ululante a metafísica,
Porquanto com o pensamento em órbita
O destino das ideias é a sensação mórbida
De que, no tempo, a hora seja pudica.

Decerto um cosmos jamais será corrupto,
Porque diante das trajetórias em curso
Os corpos celestiais são túnicas de almocreve...

Diante do sideral, tudo e nada perecem sós
E não há quem ou o que desate todos os “nós”
Dum universo que apenas toca em nota semibreve!



DE  Ivan de Oliveira Melo