quinta-feira, 30 de junho de 2016

ESTRELLA CADENTE

Llamo la lluvia para mojarme
Y limpiarme de tantas tristezas...
Llamo el sol para calentarme
Y decirme que la vida es grandeza.

Llamo al amor para mimar mi corazón
Y echar el cariño sobre mi ternura
Que llora ante el abismo de la soledad,
Pues hay en mis caminos helada emoción.

Clamo al cielo por sensaciones de plata,
Porque el oro de las palabras son ingratas
Manifestaciones de un sentimiento arcaico...

Yo digo al universo que la estrella cadente
También ama al pueblo porque es gente
Y el mundo tiene la concepción del laico.


DE  Ivan de Oliveira Melo

SONETO DA MISTURA

My best friend? - Meu violão.
Mi peor enemigo? - The lie.
O que mais gosto de fazer? - Escribir.
What don’t I like to do? - Brigar.

Uno deje brasileño? - Uai!
O que mais gosto de comer? - Beans.
What kind of music? - Pueblerino.
A name of woman? - Maria.

Um sentimento profundo? - Love.
La peor cobardia? - Traição.
Color that I like more? - Blanco.

La bebida que trae felicidad? - Água.
O pior medo? - To stay without money.
What would I like to be? - Lo mañana!


DE  Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 29 de junho de 2016

EXTREMOS

Estoy entre la cruce y la espada,
Mi alma duerme en suelo acuático
Donde las aguas son apenas lágrimas
Que forman caudalosos arroyos...

Mi pensamiento no sabe nadar...
Él a veces ahogase en las palabras
Y tiene muchas muertes... es inmortal!
Quizá nazca y muera al mismo tiempo...

Yo intento elaborar un bueno salvavidas
En lo meollo... no puedo extraviar la mente
Que trabaja tejiendo ideas para mi intelecto.
Algunas veces yo me veo perdido en mis selvas...

Estoy si... entre la cruce y la espada...
Y la vida tiene todo, a veces nada!


DE  Ivan de Oliveira Melo  

TEMPESTAD

Yo hube cosechado de la sensibilidad el amor
Y el tiempo me dijo: usted es una tempestad...
Las horas cosen de la ternura la bella realidad
Que es el cariño de una estación del ardor...

Las flores del mi sentimiento son rosas blancas
Y cuándo yo beso labios trémulos y bermejos
Los pétalos caen en el suelo donde hay espejos
Entonces mi boca habla de las venturas tantas.

Yo hube cosechado de la sensualidad el deseo
Que me hace sentir el aroma que no es tan feo
Y de tanto amar edifica castillos en el corazón...

Yo soy una tempestad... soy arrebato de la vida,
Así mis vientos tragan los lastres de la avenida
Y las flores tocan el himno que es una canción!


DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 27 de junho de 2016

BONS VENTOS À NATUREZA...

Bons ventos à natureza assopram
Levando peripécias a vales esquecidos...
Bons ventos à natureza assopram
Trazendo à tona odisseias de amigos.

Bons ventos à natureza assopram
Caricaturando paisagens deveras burlescas...
Bons ventos à natureza assopram
Tecendo da vida assembleias dantescas.

Bons ventos à natureza assopram
Descrevendo sínodos sem crucifixos
E conclaves apócrifos sem interfixos.

Bons ventos à natureza assopram
Consumando epopeias que o tempo apagou
E onde nunca ninguém ouviu falar de amor!


DE Ivan de Oliveira Melo

INCONSCIÊNCIA

A inconsciência é um cofre impenetrável...

Nela se retratam características do caráter
Que moldam os atributos da personalidade.

Não há ciência capaz de fotografar tal espaço
Que se parece com um sótão ou mesmo porão
Onde estão armazenadas informações secretas.

Sonhos são apenas resquícios das sensações
Trancafiadas num éter onde se formam desejos...
Tudo daí é desconhecido, certezas são fraudes
Que a consciência elabora para evitar a loucura.

Recinto enclausurado que é um mundo distinto
Dos universos escolásticos da atividade humana.
Não tem forma. Não tem cor. Simétrico, assimétrico,
Infelizmente não se sabe... Nada pode ser atribuído
A esse orbe, porque é um dos segredos da existência!


DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 26 de junho de 2016

TORMENTAS

Frio cortante.
Dentro de mim
Um calor bastardo.
Estou sem amante,
Totalmente desnamorado
A vagar o olhar
Pelo éter vazio.

Angústia tresloucada.
Agonia extrema
Faz-me tomar da pena
E descrever a enxurrada
De sentimentos
Que me trazem o cio...

Horas de martírio.
Lágrimas arrredias
Umedecem minha face
E meus lábios em delírio
Prolatam palavras vadias
Perante um eu baldio...

Suor extravagante.
Corpo desnudo,
Sem luxúria,
Sem ideia do adiante
E um raciocínio mudo
Diante dum pensar tardio...

A vida sem oratória.
O amor no mausoléu
Que é o museu
Das inglórias
E de cacholas sem chapéu
Enterradas num mar bravio...

Não só eu. Retrato de muitos
Que misturam paixão e amor.
Improfícua retórica que engana
E causa ao íntimo curto-circuito
Que queima o libido sedutor
E faz naufragar qualquer navio!


DE  Ivan de Oliveira Melo

ENSUEÑOS

Mis sueños habitan en las nubes
Y mi mente habla con los astros,
Yo juego afuera todos los harapos
Que vocean en mis oídos y rugen.

Son ensueños abstractos de vida,
Fantasías coloridas de un mundo
Donde el amor es algo profundo
Y magia de una cara carcomida.

Mi alma siente del olfato la esencia
De un cariño que hoy es carencia
Y no hay tales cosas en vitrinas...

Mis sueños habitam en las nubes
Adónde van sentimientos que urgen
Y lloran desperdicios de las esquinas...


DE  Ivan de Oliveira Melo

AVALISTAS

Só o bem-querer faz da vida um bálsamo
E dá à imaginação liberdade para criar...
Fecunda-se a inspiração com a fantasia
E em overdose as palavras pintam a olaria
Onde vozes choram e eu, em silêncio, clamo!

Só a virtude faz do trabalho a consciência
E entrega à razão um apêndice para sonhar...
Fertiliza-se o raciocínio com doses do saber
A fim de que a eloquência possa conceber
A ideologia que faz germinar o tom da ciência.

Só a verdade traz o substrato do que é o destino
E agrega à simbiose da natureza o aval do amor...
Semeiam-se as aventuras com dísticos de louvor,
Porque o retrato que fica não é apoteose, é arrimo!


DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 24 de junho de 2016

REBELDIA

Densa madrugada. Noite de hediondas trevas.
Sepulcral silêncio é o adorno da vil majestade
Que atropela sonhos que dormem na eternidade
Sem contemplarem dos dias, luzes que cegam.

Desertas são as estações onde não há moradas,
Inóspitas são as várzeas áridas, carrentes de vida.
O mundo é um túmulo de aspirações desnutridas
E o respirar uma vã tentativa de vê-las douradas.

A existência é um vácuo linear livre de consorte,
Solteira e sem ambição é parceira da ingratidão
Que pulveriza desejos insensatos da imensidão
E distribui aleatoriamente, ingredientes de morte.

O tempero é sequestro da sobrevivência alienada
Enquanto a dor e o amor, filhos do mesmo nada!


DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 23 de junho de 2016

GRADAÇÃO

A coragem navega na força, no querer...

É um derivado semântico, não ortográfico.
Para ter-se coragem, é necessário comando,

Comando coercitivo que a força impõe...
Contudo, em tudo isso é necesssária a vontade
Que brota espontaneamente da inspiração.

Nem sempre querer é poder. Não é substantivo.
Às vezes se quer, mas não se pode. É relativo.
Às vezes se pode, porém não se quer. É absoluto.
Relatividade e absolutismo são itens adjetivos.

Nesse orgonograma há degraus a serem trilhados
E em muitas ocasiões há degraus mal construídos.
Fundamental se torna que a atenção esteja ativa,
Pois, na verdade, tudo representa certa gradação
E, nessa gradação, o que importa é o sentimento.


DE Ivan de Oliveira Melo    

quarta-feira, 22 de junho de 2016

PASSAGEM

O caminho do litoral é grande odisseia,
Entre ondas gigantes os passos são pequenos
E na areia deixamos rastros sobre as espumas
Que se apagam com o borbulhar das conchas.

No fluxo e refluxo das vagas o raciocínio vê
Quão distante estão as procelas que se agitam
E ainda mais longe o voo de lindos albatrozes
Que levam consigo os segredos dos mares...

Restam as enxeridas gaivotas que insistem voar
Sobre o denso oceano e carregar as incertezas
Que são hipóteses reticentes no coração humano.

As tempestades flutuam sobre a vida que sobrevive,
Porque certo é que o homem é simples passageiro
E as águas são dilúvios que respiram para sempre!


DE Ivan de Oliveira Melo

MÚSICA

Um passarinho sempre canta em minha janela
E me traz a doçura dum gorjeio que me arrepia.
Abro os olhos, vejo-o a balouçar-se à luz do dia
Inebriando meus timpanos com seu tom tagarela.

As plantas silenciam perante a maviosa exibição
E os ventos estacionam extasiados ante a sinfonia.
Em seu sibilar as notas trazem sonatas de alegria
E em todos os animais se percebe quitar devoção.

No céu, os astros aplaudem e festejam a serenata...
No mar, vagas e procelas pranteiam o ser magnata
Dum espaço e duma vida repleta de musicalidade...

A lua, deusa da noite, e o sol, cavalheiro de fogo,
Sorriem encantados diante dos excelsos arroubos,
Posto ser a música uma arte que produz felicidade!


DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 20 de junho de 2016

PELO AVESSO

Minha alma anda perdida
Sob o reflexo da escuridão,
Meu coração na contramão
Das escruzilhadas da vida.

Meu destino anda às cegas
Sobre incógnitas e mistério...
Consciência que é adultério
Do raciocínio que me nega.

O sentimento é um enigma
De verdades em paradigma
Donde mentiras são sucesso!

O pensamento anda carente
Da realidade que é afluente
De tudo e nada pelo avesso!


DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 19 de junho de 2016

DOCÊNCIA IN NATURA

Oh! Dia cinzento! Teu sol avarento pousa sobre mim
E me bronzeia a alma de uma pálida emoção pueril...
Em meus pensamentos há sangue pobre e também nobre
Que, alucinado, corre pelas veias em busca da embarcação
Ancorada no porto da coragem... Na quietude das brisas,
O medo é levado pela fina garoa que umedece a mente.
Meus sonhos parecem murchos perante a apatia das horas
E a eloquência que transcende ao infinito some-se nas nuvens...
Há desertos impalpáveis num íntimo que pranteia flores
E as lágrimas despencam no oásis dos caramanchões sem cor.
Como desvendar os mistérios que insistem em esconder
Os pássaros da minha fantasia? Ei-los a sobrevoar num céu de marfim
Onde a visão pisca diante de uma passarela de sentimentos em êxtase!
Como alimentar um espírito sequioso de amar perfumes de rosas?
Sinto meu olfato carbonizado pelo calor e  embriaguez das estrelas
Que, mesmo sendo dia, despontam na claridade do firmamento
E me sorriem pela arquitetura de um espaço adornado de névoas...
Oh! Dia cinzento! Os astros que cantam as harmonias celestes
Abrigam em seus seios a ventura do doce despertar da orgia
E nas brumas de cada amanhecer há um sol que pare luz
E nomeia cada um dos rebentos de acordo com matizes do arco-íris
Para que a chuva traga aos corações humanos o despertar da sensatez!
Assim, materna é a natureza que ensina as lições da sobrevivência
E deixa gravadas no éter a certeza do caminho, da verdade, da existência!


DE  Ivan de Oliveira Melo

PRESENÇA

Não permitirei que me pereçam o amor e os doces encantos,
Porque tudo poderei dar mesmo que a fadiga me domine.
Não obstante, na ausência da inspiração e do calor,
A imagem das estrelas será um canto de devoção em que
A voz do metafísico estão sussurrará em meus tímpanos
As palavras de sofreguidão que meu corpo anseia ouvir.
Não vivenciarei loucuras, pois a vida é deveras abençoada
E o perfume do passado ficará guardado a sete chaves
Como o mais secreto desejo d’alma... Enxurrada de amor!
Eu guardarei lembranças... Meu presente é o futuro promissor
Em que cada madrugada desabrocharão tênues sintomas
Das flores colhidas no solo da minha consciência... Sempre Verão!
Porém, nas noites frias, minha face terá o olfato dos beijos
Que a névoa apaixonada deixará encravada em minha pele.
Tudo é mistério em derredor da alfazema que cobre o mundo...
Não haverá silêncio oco, pois palavras etéreas rimbombarão
Em meus ouvidos e a solidão terá dos mares, procelas de carinho.
Jamais estarei só, nem saudade para curtir, porquanto no uivo dos ventos
Viajarei qual pássaro que ultrapassa os obstáculos da eternidade
E, no infinito de todas as essências, serei o átomo da concórdia
E de uma felicidade que se resume simplesmente em viver!



DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 18 de junho de 2016

INCENSOS

Interno-me numa floresta de manguezais
E desvendo soluços rentes ao solo úmido...
Ululantes lágrimas são réstias e lamaçais
Dos sentimentos postiços, frios e urdidos.

Deprimente sepulcro de tristezas é agonia
De corações que são jazigos de dor intensa,
Na tenebrosa folhagem rasteira se fantasia
Oceanos de amarguras que a alma incensa.

Dias e noites são alijados perante insultos
Que parecem espectros insulares e avulsos
Conspiradores das odisseias do mundo vil...

E no parlamento da escuridão a luz é mista
Com frinchas onde se vê no chão a ametista
Que, preciosa, traz de longe o amor servil!


DE  Ivan de Oliveira Melo

CARICATURAS

Tento caricaturar momentos de vexame
E as linhas caem trôpegas sobre o papel,
Forte algazarra tumultua e se torna cruel
Pintar da ideia os arroubos que bramem.

Quero desenhar instantes o mais secretos
Possível... Meu pulso treme e me adverte
Sobre os perigos que bailam... tudo inerte
E sombras ocultas escondem no alfabeto

Faíscas que são centelhas de muito ardor.
Misturo as letras, troco de pincel e... dor!
Eis a chama que cultiva na noite, a paixão!

O fogo é fátuo... Delírios delatam frêmitos
Que navegam em espaços ainda recônditos,
Guardadores da atmosfera livre do coração!


DE  Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 15 de junho de 2016

QUESTÕES

A terra está molhada pelo sangue da covardia...

Por isso, não me calo.
Falo.

Ingratidão campeia. Traiçoeira. Arredia!
Madrugada treme. É o canto do galo,
Mas o ritmo é ralo.

Rendem-se louvores à toa. Utopia!
Jogo sujo. Corrupção. Regalo!
Gritos dentro da noite fria.
É o sufoco da injustiça em seus embalos!

Inocências sofrem de melancolia.
Vespas de paletós soltam seus estalos.
Imundície hedionda... Ah! Bons tempos... Nostalgia!
De bonança e céu azul só farelos e retalhos.
Cultura? tradições? Evoquem os insensatos!


DE Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 14 de junho de 2016

POESIA & AMOR





Coloca-se uma palavra de cada vez...

Escrever poesia é como fazer declaração de amor,
As palavras não devem ser jogadas aleatoriamente...

Em cada sentimento brota uma emoção distinta
E, no conjunto das emoções, eclodem sensações
Que são líricas e, por isso mesmo, parecem rosas...

Um termo mal posto é um tijolo em falso
E toda a estrutura vem a pique, suma tragédia!
A semântica apura o léxico como enciclopédia
Para que o produto final embeleze todos os palcos!

Coloca-se uma palavra de cada vez, censura...
O momento da inspiração é um sublime expirar!
Tanto a declaração como a poesia são avatares artísticos,
Contêm em si indeléveis sonhos, são teares afrodisíacos
Que tornam a vida jardins suspensos... são beleza e mar!


DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 13 de junho de 2016

PORTUGAL

Data venia, Portugal!
Tua plêiade é tão real!
Dos heterônimos não sei qual
É o mais passional
E eloquente. É um tal
Talento infinitesimal
Que habita teu astral.
A onda lírica é surreal
Para uns... Para outros, natural!
Sapiência ilustre e gramatical,
Expõe o belo, devora o mal
E congrega nomes no pedestal
De tua arte de forma literal
Oferecendo ao mundo o excepcional
Desde o artesão ao brilho transcendental,
Pois teu metafísico é Ocidental
E nada revela de experimental,
Porque o conjunto em seu total
Dá-nos o exemplo fundamental
Do teu povo, da seara cultural
Que fazem de ti matriz internacional!


DE   Ivan de Oliveira Melo    

domingo, 12 de junho de 2016

PORÇÕES

Muitos mistérios envolvem o mundo...

O homem é apenas rastro dentro do orbe,
Mesmo assim tem ares deveras esnobes,

E não é capaz de decifrar grãos de areia...
Seu pensamento é ínfimo, sua galhardia, nobre...
Só de aparências sobrevive no planeta, imundo.

Há enigmas misteriosos dentro do universo.
Não há inteligência que desbote suas capas
E de geração em geração tudo vira sucata,
Pois o conhecimento é exíguo e convexo...

O desenvolvimento é sumatra e superficial.
O progresso não é hereditário, parece eremita,
Pois caduca na solidão de uma ciência inglória
Que trava repercussão para agigantar fundos...
Assim se vive e morre neste imenso latifúndio!


DE Ivan de Oliveira Melo

ÁLIBI

No meu tanto
Produzi tão pouco...
No meu pouco
Produzi exuberância...

De que adiantam
Tantas palavras?
A essência
Está nas entrelinhas,
Não nos vocábulos
Postos à toa...

O pensamento divaga
E o artista apaga
O que não é concepção.
Mais valem duas sílabas
Do que extensão
De polissílabos...
Mais valem duas palavras
Do que um dicionário inteiro!

No meu pouco
Produzi exuberância
E pude com elegância
Reproduzir meu eu...

No meu tanto
Pouco produzi
E me vi sem álibi
Para mostrar o frenesi
Que habita meu coliseu
De epopeias gráficas
E que são
Minha odisseia...


DE Ivan de Oliveira Melo

INFECÇÕES

Disenteria é uma devastação ecológica...

O ecossistema do organismo é algo sutil,
Quando desequilibrado se torna um funil

E uma catástrofe em poluição descontrola
Os intestinos que lançam degetos impuros
Numa natureza onde só mau cheiro assola.

O meio ambiente do esqueleto é um enduro
Que absorve a atividade dos órgãos vitais
Anelados aos desempenhos circunstanciais
Que brotam e fecundam o que é mole e duro.

Manter a sustentabilidade do corpo é dever
Que impõe ao responsável a dieta saudável
No consumo de alimentos rumo à digestão...
Devastar essa seara provoca sintomas amiúde
E a recepção peçonhenta põe em risco a saúde!


DE Ivan de Oliveira Melo

AMIGOS

Olhas e me vês taciturno e triste...

Acredito que não hajas esquecido
Que foste tu mesmo que me feriste

Com tuas fantasias de tresloucado...
Amigos são como irmãos reunidos,
Dão-se as almas e estão entrelaçados

Por um sentimento de forte amplexo.
Magnitude de fidelidade e de respeito,
Puro sincronismo dum amor perfeito
Sem que se misture leviandade e sexo.

A sinceridade é um apêndice dourado,
Corações que se entendem de primeira
Por uma admiração de além-fronteiras
E que querem sempre estar lado a lado.
Pois é, amigos são também namorados!


DE Ivan de Oliveira Melo

SOMBRAS

Nas sombras da noite eu me levava
Pelas trilhas do silêncio até a aurora.
Via renascerem fantasias de outrora
E bebia do sol pálido a luz dourada.

No denso aroma notei o corpo suave
E como um vulto andei sobre conchas
Que são desejos que se desmancham
Sob o pudor dos vícios que são claves.

Tímido sentimento brotava displicente
Dentre as inflexões tombadas pelo cio,
Percebia-me em nudez o corpo doentio
Pelo viço que me maltrava de repente...

Deixei o prazer secar a volúpia infante
E nas sombras da noite fui o eu d’antes!


DE Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 10 de junho de 2016

NOITE TRANSGÊNICA

O tráfego está livre. Folhas de outono no chão!
Há um friozinho que faz arrepiar o corpo. Bocejo.
O pensamento está quieto. Não arrisco refletir.
O vento sopra, as árvores balouçam. Céu cinzento!
Murchos estão os astros. Não piscam. Nem iluminam.
A quietude traz um silêncio que azucrina os tímpanos.

A noite desfalece perante a angústia que grita a sós.
Até a luz dos olhos ameaça trancafiar-se. Agonia!
A boca está seca. Os lábios ressequidos. A voz rouca.
Súbito pesadas gotas d’água despencam das nuvens.
Muda o tempo. O calor sufoca. O suor escorre. Tensão!
Chuva e temperatura quente... É a alma que se bronzeia!

O sono despediu-se. Saiu a passear. A vigíla é tenebrosa.
Há um certo movimento do corpo que rola aqui e acolá
Sobre um catre que é confidente das sensações urdidas.
Porém na tela da imaginação não há aclive, nem declive.
Tudo está oco como se oca fosse a amargura. Tosse.
Ambiente tétrico. As luzes se apagam. Um certo terror...

Leve pãnico se faz sentir. A solidão é um apêndice etéreo.
Intermitente, a tempestade se prenuncia. Ligeira claridade.
São relâmpagos que boicotam a excelsa maciez da noite.
Intensa trovoada povoa os alicerces da madrugada unguenta.
Mortalhas rasgam os espaços e levam longe os segredos.
Circuitos se escutam além das portas. São os raios úmidos!

Grande vontade de gritar. Vociferar diante do tempo surdo.
Horas tediosas assassinam saudades e respiram melancolia.
Sonhos sonâmbulos se apoderam de receios pálidos e tímidos.
Sede e fome são fotografias que registram o âmago aflito.
O coração não pulsa... Ribomba e deixa a aorta atordoada.
De repente tudo se transforma. Sente-se o viço do orvalho!

É a alvorada que chega cheia de beleza e indizível esplendor.


DE Ivan de Oliveira Melo

SEM-VERGONHICE

Aos imbecis, ofereço um copo de cerveja.
Aos miseráveis, cedo um gole de cachaça.
A mim, deserdado, bebo doce conhaque
E, aos políticos, forneço café sem açúcar.

Os idiotas sorvem da bebida, o alimento.
Os otários, embriagados, dormem com fome.
Eu, desamparado, tenho desnuda a consciência
E, quem é politiqueiro, caça do povo, as moedas...

Vive-se num sertão em plena cidade grande.
Nos bares das esquinas fantoches se divertem
E se esquecem de que a vida é mar de espinhos...

Trabalhar para beber... Comer para gritar
Diante de uma assembleia que vibra derrotas
E, assim, consumidores habitam berços esplêndidos!


DE Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 9 de junho de 2016

NEVOEIROS

Meus dedos acariciam o vento
Que ruge desvairado e soberbo
Enquanto isso sozinho eu bebo
E ao pensamento hostil enfrento.

Velo pelo frescor do que é brisa,
Minhas mãos afagam tempestades
Que cruzaram no tempo as idades
E deixaram rastros que é só cinza.

Meus pés pisaram nos torvelinhos
Que levaram barcos tão novinhos
Ao inescrupuloso fundo dos mares...

Olhei nas brumas das horas incertas
Vendavais que sopraram sobre setas
Dos corações mutilados nos altares!


DE Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 8 de junho de 2016

TEAR FILOSÓFICO

O substrato do progresso é o extrato da realidade...

São os axiomas modernos que elencam a criatividade,
Atribuindo-lhe um caráter relativo... Nada é absoluto!

O empirismo traz da experiência contundentes imagens
E, nelas, observa que um ponto qualquer é subsidiário
Doutros itens que norteiam a expressão real e artística...

Um mundo fantástico é montado sobre alicerces inatos
E a magia no teor da fantasia é premissa ilusória e sutil.
Considera-se o ato de criar como efetivamente alegórico,
Caracterizando adereços que dão o toque final da utopia.

Os tópicos da lógica navegam numa enciclopédia densa
E os preceitos da gnose parecem místicos e sincréticos...
A vida tem espelhos num esoterismo de verdade herética
E o pensamento se torna paralógico que induz ao erro
As consciências que buscam na ilusão veracidades apócrifas!


DE Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 7 de junho de 2016

ANTIGAS EMOÇÕES

Se a mágoa campeia e dela não se esquece,
Não há perdão que seja justo e tão sincero;
Quiçá não seja sentimento, talvez mero farelo
Do sintoma que faz da dor ninho de estresse.

A alma se encurrala nos campos, vive ansiosa,
Um momento de felicidade é ficção de amor,
A vida desterra sonhos e o corpo vem a depor
Sobre paixões mal resolvidas da hora capitosa.

Ao instante que embevece o homem se entrega,
Milagres são sugestões e a consciência é cega
Para discernir o destino perante perigosa estrada...

Pomos a ternura diante dos vexames do nunca
E a centelha que brilha não é luz, é a espelunca
Das trevas que torna o carinho vereda malograda!


DE  Ivan de Oliveira Melo

PÁGINAS

Páginas eloquentes
Onde se despreza a dor,
Eu as tenho como odisseia:
São folhas brancas de paz
E letras douradas no coração...
Há distâncias e fragrâncias
Que norteiam os capítulos
E, mágoas que foram títulos,
Agora são paixões comedidas.
Há nuances que eclodem
Em prazeres e sutis emoções...
Ah! Delícias não se escrevem,
Elas revelam amores indissolúveis
E retratam a magia da entrega...
Encontros e desencontros
Que se perderam no tempo
São revistos como púrpura
E, em cada paragem,
Há um sol que brilha
E uma lua que agasalha
Os amantes de ontem, hoje...
Amar é descrever sensações
Indeléveis e infinitas,
Pois o amor é infinitesimal!


DE Ivan de Oliveira Melo


segunda-feira, 6 de junho de 2016

TOLERÂNCIA

No seio dos homens
A angústia faz morada
E o sol que se cultiva
Durante o dia
Em seu íntimo
Morre à noite
Com a chegada da lua...

Nem sempre
O primeiro caminho
É o último,
Sempre há veredas
Por onde se foge
Das aflições
E as sensações mais fortes
Ensinam a viver...

A paciência é a bússola
Que comanda o destino
E a consciência
O retrato que guarda
As lições da vida...
Os tropeços são avisos
De que os estudos
Necessitam de atenção
E a boa vontade
A escola onde se prestam
Os exames...

A intolerância é a peçonha
Que maltrata e desvia
O aprendizado...
A mansidão, o açúcar
Que tempera a inteligência
E dá ao homem
O ingrediente
De ser criatura!


DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 5 de junho de 2016

LIÇÕES

O instante da partida
É grande mistério...

Muitos vivos estão mortos,
Porque não sabem viver...

Inúmeros mortos vivem
Em derredor dos que respiram,
Porquanto em seus exemplos
Se encontram corações que pulsam...

O nunca é sempre o agora,
Pois a experiência mostra
Que nada deve ser adiado
Em virtude da incógnita
Que é o futuro...

O passado é apenas foto
Que vira museu...
O presente, a alma que clama
Para ser compreendida,
Mas por estar anestesiada
É apenas sonho
E quem de sonho vive
Já pereceu...
E se esqueceu de enterrar-se!


DE Ivan de Oliveira Melo

EXORTAÇÃO

Sempre reconheço aquele que tomba
Nos pedregulhos das estradas.
As criaturas apanham, mas há teimosia,
Por isso são vencedoras das derrotas.
Comparo-as comigo mesmo:
Céticas, desequilibradas, tinhosas,
Mal-vestidas e cheirando à lama...
Interpelam-se a si mesmas:
Por que há lodo em minha face?
Por que me abandono à solidão?

Ora, são pessoas de mentes pequenas,
Não conseguem pensar mais alto,
Sempre se acham doidivanas e insepultas,
Estão sempre na contramão do destino ignorado!
Consideram-se estorvos sociais. Ignorância!
Não necessitam de ser nobres para serem gente,
Não necessitam de etiquetas para se alimentarem,
Não necessitam de água morna para o banho quente,
Não necessitam de mãos para se levantarem...
Precisam, sim, de si mesmas!

O mundo aí está e ele é de todos, todos!
Nada da terra pertence a quem quer que seja.
Tudo é empréstimo. Um dia prestar-se-á contas.
Por que então alimentar a miséria
Se a miséria está em suas próprias consciências?

São todos humanos, independentes de razão social,
Independentes de classe, cor, sexo, religião... idade!
Deixam-se abater pelas migalhas da vida.
Choram por um simples arranhão.
Gritam por se acharem esquecidas.


A pobreza é um estado de espírito.
A riqueza é de quem se reflete e não se entrega.
Abastados são os que trabalham.
Pobres são os que deserdam de si as oportunidades
E se permitem cair no lamaçal do nada.
É a vida que é assim. De uns. De outros. De todos!
Então se apegue às chances e não derrame
Lágrimas de crocodilo nem do sangue azul que não existe!
A existência segue.
O amanhã pode ser seu.
Depende exclusivamente de cada um.
De cada todos.
Somos o universo!


DE Ivan de Oliveira Melo

QUANDO A ALMA ESCUTA...

Não me atiro sobre a gritaria que assola o mundo...

Há bocas bizarras que estremecem as palavras
E uma sonoplastia incauta inunda todos os espaços.

Os tímpanos ambientais necessitam da calmaria
E as enseadas estrondam na areia plenas de zombaria
Enquanto as línguas desfilam os vermes da peçonha...

Isolo-me na mudez que me faz interpretar os sons
E desvendo resquícios de tons desconexos e aviltantes
Produtores do desequilíbrio que eleva níveis de surdez
E torna a audição nula, relativa aos dons da realidade.

Pesco em meu silêncio o antídoto que combate miasmas
E apenas escuto o ribombar dos meus passos lentos...
Serenamente meus olhos absorvem o balouçar das árvores
E meus ouvidos são aurículas dementadas a ruídos fortes
Embora o áudio que em mim existe seja a audição da alma!


DE Ivan de Oliveira Melo

DIÂMETROS

Há distâncias que não se mensuram...

Mais fácil medir uma ausência sentida
E em sua dimensão calcular a perda...

Pode-se alçar voos sem limites, infinitos,
Todavia as transcendências não se calam,
Pois é a vontade que governa o íntimo...

Profundos labirintos expõem desilusões
E tecem na obscuridade o palor do tormento
Conquanto sem forma e sem fogo, é água...
Remotas são esperanças que por aí navegam!

O poeta amargura o verso e o depõe lírico...
Tortura as palavras e as impõe sentidos léxicos
Exigindo em seus malabarismos, o fio semântico.
Assim se calcula distâncias, constroem-se ausências
E se destrói a pureza que habita um sentimento!


DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 4 de junho de 2016

CENSURA

Certo dia, não me esqueço, eu a vi...
Estava pálida e serena, branca e parda...
Taciturna, envergonhada de ser magra,
Esse então o crédito com que a descrevi.

Com os pés desnudos apreciava o bosque
E longos cabelos lhe davam um ar triste...
Lentamente andava com o dedo em riste
Como a dizer a si mesma: alguém me toque!

Na natureza curtia as delícias das orquestras
Que enchiam os espaços em ritmo de festas
E adocicavam os tímpanos em suas melodias...

Lá se ia pelas trilhas e eu fitava-a enamorado,
Contudo me censurava por ser então casado
E não poder controlar essa paixão tão arredia!


DE  Ivan de Oliveira Melo

TORMENTA

Ouço os trovões que baculejam as naus,
O mar enfurecido sacoleja almas a bombordo
E as vagas irritadas diante do navio gordo
Fazem tremer pensamentos em tênues saraus.

Perante o barlavento o barco estremece à esquerda
Quando riscos no céu anunciam rigor à tempestade,
Soltam-se no ar as velas que equilibram calamidade
E torvelinhos tecem a agonia que as águas herdam.

Alaridos invadem as noites à convite das procelas
E a lua meio tímida inspira os artesãos tagarelas
Que, mesmo pálidos de terror, escrevem seus versos...

As horas se evaporam no tempo e o sol vem brilhar
Na aurora que desperta velhos marinheiros, e o mar,
Acanhado, subleva-se diante de temporais perversos!


DE Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 3 de junho de 2016

ILUSÃO

Não me canso de ver teu retrato.
Será que me hipnotizaste?
Pelo que sei, sou eu o traste,
Não tenho de ti o teu recato.

Abaixo as convenções sisudas,
Além das chamas há hemisférios,
Sei que ali flutuam ardores sérios
E eu me vejo ímpio sobre torturas.

Meu cálice derrama sangue idiota,
Pois meu coração rompe a aorta
Quando diante de ti sou e estou...

Ledo engano pensar ter-te comigo,
Meu desejo é algo terno e antigo,
Mas minha ilisão não me abandonou...


DE Ivan de Oliveira Melo

HIPOTÉTICO

Ao carinho profundo
O vento me leva
Ao passo que adormeço
Perante as incertezas.

Não sei onde estou.
O tempo é soberbo
E nas encruzilhadas
Assino o ponto.

Nada sei da vida,
Às vezes perene,
Às vezes dividida...

Logo mais,
Não logo menos,
Onde poderei estar?

Silêncio!


DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 2 de junho de 2016

MEU TRAVESSEIRO

Habilmente os anos me ensinaram a viver
E em todos houve permutas com as horas...
Coisas iguais, distintas, meramente similares
Deram-me uma carapuça invejável, sem retoques
E de uma singularidade irrepreensível, sem ilusões...
Muitas vezes vi-me no ar das conjecturas, sonhos
Mais que palpáveis transformados em imagens febris
E tresloucadamente vivenciados com a armadura da fé.
Segui os paradigmas da existência: plantei árvores,
Escrevi livros e até me introduzi no magistério,
Levando conhecimentos sobre a vida e suas emoções...

Se usei da fidelidade no passado, no presente retoquei
E posso pôr a cabeça tranquila sobre o travesseiro que
É confidente dos meus devaneios... Mas só ele me conhece!


DE Ivan de Oliveira Melo

SINTOMAS DO T

Tateio a escuridão em busca dum nome,
Tatuo as trevas com lantejoulas douradas,
Tenho a impressão de que vestes surradas
Também são ópio da vida que me consome.

Terrível ciclone que me assanha o cabelo
Tripudia no espaço os adereços sem cor,
Terno envolvimento da paixão com o amor
Trouxe a lume vestígios de antigos segredos.

Tipo semideus é o espírito que se conclama
Torpedos das mensagens do elo e da chama
Tão próximas estão das estátuas dos sonhos...

Tudo são alvíssaras do peito pintado de dor,
Tolos os amantes que creem o medo depor
Tantas rabugices que os denotam tristonhos!


DE  Ivan de Oliveira Melo

INSEGURANÇA

Necessito de consciência
Para implodir mazelas.

Estou trunfo combalido
Que a derrota incendiou.

Estou néctar azedo.

Estou barro molhado,
Produzo tijolos...

Vivo, mas não moro,
Estou nômade e rural,
Estou campo nu... caatinga!

Na vida que choro, sorrio...
No sorriso que encanta, choro...


DE Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 1 de junho de 2016

DICIONÁRIO

Algumas palavras não têm substância,
Elas precisam de esteriótipo para vingar,
São termos que necessitam de descascar
Rótulos e apêndices até a última instância.

Vocábulos que surgem dum nada semântico
Aterrorizando a gramática clássica do idioma,
Sem respaldos eruditos adormecem em coma
E despertam no seio do povo em todo canto.

Assim é a miscigenação do léxico: sem regras!
Muitas são tão esdrúxulas que se tornam piegas,
Porém à mercê do uso se firmam no dicionário...

Cristão e não-cristão introduzem centenas delas!
Daqui a algum tempo será normal dizer-se: vi ela...
Ah! Creio seriamente que o dicionário é otário!


DE Ivan de Oliveira Melo  

TRANSEUNTE

Sou tenente dentre os desocupados da vida.
Meus pés estão inchados de muita vadiação.
Ando que ando por estradas estéreis, sozinho...
Uma viva alma não vejo para cumprimentar.
Sigo então pelo meu deserto, sem destino
E vez em quando paro e olho a vegetação.
Ela é minha companheira e tenaz confidente.

Os pássaros sumiram da ótica e apenas insetos
Se fazem presentes diante dos meus olhos.
Aqui e ali pego um e trituro-o entre os dedos.
Talvez uma legião deles esteja a perseguir-me,
Porque são muitos os que me acoçam e me ferroam.
Estão zangados, eu assassinei seus comparsas
E eles se vingam de uma forma muito dolorosa.
Não têm compaixão de minha pacata solidão.

Desvendo pálidas trilhas e caminho sem pressa.
Meu pensamento tem preguiça de raciocinar
E em brancas nuvens fico: sem chuva, sem sol.
Também não há sobre o que refletir. Estou isento
Das caxumbas perniciosas que a mente fabrica.
Totalmente insosso perante meu próprio eu.
Liberto das guloseimas com que a consciência
Se alimenta. Não há fartura. Não há coisa alguma.

De tanto trotar, canso-me. Resolvo podar os passos.
Gostoso néctar invade meu olfato. Podo também
Meu olhar. Desejo enxergar apenas a tímida natureza.
Em silêncio ela me compreende e me intue a relaxar.
Deito-me sobre o chão batido coberto de folhas.
Estranha sensação se apodera dos meus sentidos.
De repente percebo que não estou só. Estou comigo.

As horas estão longe do meu entendimento. Libertas!
Ainda mais liberto estou eu, porém preso pelo tempo.
Sinto o sopro dos ventos que me assanham a alma.
Como gostaria de olhar para dentro de mim e ver-me...
Tentar decifrar os hieróglifos que meus órgãos escrevem.
Buscar explicar os códigos que me fazem humano
E deixar cair sobre mim as ondas telepáticas dos sons...

Tudo é um emaranhado de sinais secretos. Saber de mim?
Ah! Eis um enigma que nem os filósofos saberiam opinar.
Há em meu âmago um mundo distinto e incolor. É um nada!
Não me vislumbro em peripécias. De nada tenho saudade.
Meus sentimentos estão amorfos. Eu estou amorfo. Distônico!
Não há qualquer realidade que me possa explicar.
Sou indecifrável, inominável. Indubitavelmente seco, sem oásis.

Levanto-me. A jornada precisa ter um fim; eu, um recomeço.
Passeio agora por uma vereda onde há outros animais, irracionais.
Será que eles estão tão sós quanto eu? Será que são vagabundos?
Passo entre eles. Eles me olham, mas não me conhecem. Intruso,
Penso eu. Eu que sou o intruso. Meu universo não é este. E tenho?
Sim. Tenho. Só que está guardado a sete chaves em meu íntimo.
Destranco-me. Percebo-me névoa a invadir o espaço. Flutuo!



DE  Ivan de Oliveira Melo