terça-feira, 30 de agosto de 2016

ENTRE SER E ESTAR

CRÔNICA


ENTRE SER E ESTAR


Ivan de Oliveira Melo




No que se ESTAR hoje pode não se ESTAR amanhã. O que é SER hoje certamente também será SER amanhã. Eis uma escala de valores que deve ser analisada não somente por um ângulo psicológico, mas especialmente sob um ponto de raciocínio filosófico. Entre SER e ESTAR há um imenso viaduto
que congrega realidades e circunstâncias distintas.
Não é razoável que o ser humano seja fotografado por um posicionamento de momento. Várias são as razões para que um indivíduo se equacione num determinado grau de comportamento. Em conta é fundamental que se averigue o estágio emocional porque passa, o meio ambiente em que vive, o conhecimento que armazena em seu íntimo além de outros fatores, como por exemplo, a educação com que foi formado ao longo dos anos.
Com efeito, no estágio ESTAR é natural que possa ocorrer mudanças visto que a própria semântica do verbo assinala que o ESTAR é efêmero. Claro, totalmente inverso é o significado de SER, porque naquilo que se É tem-se uma configuração diferente de entendimento. SER é imutável, intransferível e insurreto, logo, SER é para sempre.
Absolutamente ninguém muda o caráter de SER algo, o que se É forma-se no âmago e adquire profundas raízes que, na passagem do tempo e através das experiências vivenciadas, torna-se parte integrante de sua essência. Aqui e ali podem surgir pequenas alterações, contudo não se tratam de alterarações radicais que tenham o poder de transformar, apenas se dão retoques do chamado amadurecimento, nada mais que isso.
Quando alguém ocupa um posto público, um cargo de carreira, é evidente que somente ESTAR, temporariamente. Em seguida, como é natural, deixará de ESTAR e voltará ao seu nível de praxe. Se uma certa criatura demonstra caracteres estranhos em seu modo de agir, fugindo teoricamente ao que se diz normal, decerto demonstra características de SER e, por mais tratamento e soluções medicamentosas que possa vir a ter, jamais perderá ou transformará este apêndice que é parte significativa do seu eu. Às vezes pode acontecer um certo esquecimento de SER, entretanto na primeira oportunidade, es-
boçará, naturalmente, aquilo que é ingrediente de sua formação intelectual e pessoal, pois no caso, apenas estava adormecido.
Até ontem, exemplificando, eu ESTAVA professor, já não o ESTOU mais, aposentei-me. Agora ESTOU poeta e escritor, até o fim de meus dias, ou até o instante em que eu decida parar.



FIM

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

INSPIRAÇÃO

O artista possui inspiração em estoque…

Aos poucos, deliberadamente, consome-se
O que a imaginação retira do inconsciente

Que mantém acesa em sua linha metafísica
Temas que imploram para serem lembrados
E trazidos ao lume da razão que os seleciona.

De forma metódica a arte reside num âmago
Que a conhece e sabe trilhar seus enigmas,
Dando-lhe vida e colorido, assentando seu conteúdo
A fim de que sua magia alimente o conhecimento.

Não é tão fácil compreender a emanação da inspiração…
São vários os fatores que contribuem à sua essência.
Estágios oníricos, percepções da realidade, efeitos emocionais…
Trata-se de uma evocação espontânea à sensibilidade
E é fundamental ter aguçada a capacidade de ser sensível!



DE Ivan de Oliveira Melo


domingo, 28 de agosto de 2016

O BURAQUINHO

Pelo buraquinho do mosqueteiro
Pulou uma rã…
E no silêncio da noite
Ouviram-se gritos…
Gritos abafados,
Pedidos de socorro.
E a hora se fez tardia.
Entre os soluços que se escutavam
O bichinho começou a cantar,
No que foi um tormento,
Mas ao mesmo tempo
Um belo e puro sentimento!
Dispensaram a melodia,
Saíram em debandada,
Contudo o pobrezinho não fazia nada…
Mesmo assim, o medo agigantava-se
E o indefeso virou monstro!
Na noite escura todos se esconderam!

De dentro do esconderijo
Sentiram abandono e solidão…
Os corações aceleraram-se,
O que não é salutar
Para pessoas anciãs,
Todavia se lembraram do amanhã
E começava a clarear
Dentro de uma madrugada de inverno
E todos vivenciando aquele inferno
Em derredor de insuportável calor…

O afogueamento que o receio causa
Dilacera corações
Embora haja em tudo
Uma bela e natural canção…
Entretanto, apesar da cantoria,
Não houve emoção,
Pois suor e lágrimas
Fizeram um concerto
Meio sem jeito e fora do tom…
Porém, tomados de súbita inspiração,
Remendaram o buraquinho do mosqueteiro!



DE Socorro Caldas / Ivan de Oliveira Melo


sábado, 27 de agosto de 2016

PARECE-ME

Parece-me que a verdade acredita na mentira
Consoante estratagemas do ócio sobre a luta
Que incorpora retalhos dos detalhes previstos
Nas manifestações ocas da realidade inócua…

Perece-me que os sonhos não creem no destino
Visto que se vestem de farrapos ante a riqueza
Que pulveriza as paupérrimas acepções da vida
E descrevem alfarrábios sem o labor da escrita.

Parece-me que o mar desconfia de suas ondas
Uma vez que se quebram perante finas rochas
E ensaboam a areia de uma espuma azeda e fria
Catalisadora das dunas que tragam tempestades.

Parece-me a vigília dorme e o sono é o produtor
De um dialeto que comunica a simetria do tempo!




DE Ivan de Oliveira Melo

FÁBRICA DE SONHOS

Sabe-se lá o que vai em suas “ventas”…

No sal e no açúcar a inspiração tece
E logo, de repente, tudo deveras acontece

Em seus planos que nada realmente aparentam,
Mas que são fluidos dum carnaval íntimo
E a mistura salgada e doce é o psíquico

Atuando festivamente diante do que é obscuro…
Sabe-se lá… Incrível é o que se apresenta
Amiúde do que seja hortelã e pimenta
Criando raízes e se precavendo do estupro…

Assim é a imaginação das mentes vazias…
Ter tudo e ter nada ao mesmo tempo
E edificando nos prazeres de uma orgia
A iniquidade e a seriedade dum passatempo
Que se consorciam e se elaboram nas fantasias!



DE Ivan de Oliveira Melo


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

NOVOS RUMOS

Dinamita-se o que é gramática,
As gírias implodem o dicionário
E o coloquial que é consuetudinário
Desenvolve-se e se torna norma enfática.

Do estilo, é do povo a construção…
Do erudito apenas se tem história,
Pois do conceito virtual é a vitória
Que se implanta com ênfase e conexão.

Infeliz é quem tem o tom da escrita…
A fome homicida o poeta e o romancista
Embora haja o serviçal dom de escrever…

Professor é o que possui nova estrutura,
O clássico perece perante uma aventura
Que, como o mundo, tende a apodrecer!



DE Ivan de Oliveira Melo




quinta-feira, 25 de agosto de 2016

JARDIN DEL AMOR

En mi corazón nasció una hermosa rosa…

Delante de su colorido había una sensación
Llamada tiesura dónde los pájaros cantaban

Y volaban de entre las nubes del mi pecho…
Mi cuerpo sentía las vibraciones de la magia,
Luego la inspiración escrebía el sonido blanco

Que era la serenidad de uno amor borreguil
Y blando inquilino de la emoción que vivía sólo…
Los pétalos de la rosa sembraron en mi suelo
Y cuándo secaron la tierra estaba húmeda de luz…

Una terrible congoja gritaba adentro de mi cerebro
Y mis órganos ahora eran sacrificio y soledad, agobio…
Nuevas rosas difundieron el olfato de mi sangre
Que espabilaba por las venas de un jardin florido,
Pero el mantillo del suelo era el amor eternizado!




DE Ivan de Oliveira Melo  

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

MISTÉRIOS

Repousa em mim o queixume de tua voz
E sobre minh’alma um orvalho de ciúme
Que me fecunda o olfato com o perfume
Das ervas sedutoras que me deixam a sós.

Há um néctar inebriante dum puro torpor
Relaxante e afrodisíaco… Tensa idolatria
Dos remelexos sensuais que são fantasia
E que fertilizam a essência do puro amor.

Suave sensação do consumo duma magia
Meio mitológica e lendária que é alquimia
Dos sonhos coadjuvantes da alma solitária…

Emoção que se cultiva num âmbito ilustre
Onde dor e saudade incendeiam os abutres
Dos mistérios duma sensibilidade urticária!




DE Ivan de Oliveira Melo

domingo, 21 de agosto de 2016

APOSTASIA

Perante as verdades do mundo, sou apóstata…

Por que? Porque o mundo é um vício de hábitos
Que traduzem a ausência de uma essência nova.

Diante de mim mesmo sou extremoso déspota…
Por que? Porque há desequilíbrio na tirania alheia,
Então obedeço apenas ao que em mim me ordeno.

Respiro mediante os sofismas que me rodeiam
E sou abduzido por uma ilusão que mascara…
Mil faces alienam o conteúdo do que chamo real
E me chamo niilista das convulsões sociais…

Renego as inconveniências das incongruências,
Pois sou bastardo transeunte do que hoje se planta.
A vida tem se tornado função apelativa de engodos
Que massacra a fé do indivíduo adepto do autêntico…
Destarte as controvérsias, sou incontroverso cidadão!




DE Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

DIGNIDADE

Ignorem-se os hipócritas que bailam na mentira!
No gigantismo do mundo destacam-se lados perversos
Embora se saiba que a verdade seja a dona do universo
E que nas gentes está o senso moral que jamais delira!

Danem-se os modernos fariseus que fabricam impostos,
Que tecem a usura dentre os sofredores e proletários!
Enquanto os fidedignos labutam, outros são perdulários
E se regem da vigarice para obterem mais e mais votos!

Rejeitem-se fraudulências que assaltam o que é público!
Ponham-se nos trombones as bocas em todos os púlpitos
E rechacem-se as imoralidades políticas com aversão!

Já passou da hora… Que os larápios sejam deveras punidos
E que o povo carregue a decência nos braços, todos unidos
A fim de que se possa ver o verdadeiro sorriso do coração!



DE Ivan de Oliveira Melo




domingo, 14 de agosto de 2016

ENERGIA TELÚRICA

Maior que o espigão da perigosa esquina
É a vontade que nasce dentro do meu ser
De estar e ser autossuficiente para vencer
Obstáculos que mexem com a adrenalina.

Há labirintos disfarçados em vários pontos
E é necessário atenção máxima do humano
Que percorre as estradas do grande oceano
De areia e pedras que são fortes confrontos.

É dantesca a euforia que move os devaneios,
Porém tudo parece ter nome e ser do alheio
O que traz profunda e incomensurável ânsia.

No afã de desarticular imbróglios venenosos,
Teço planos que são tenazmente angustiosos
A fim de desnutrir o degrau da inconstância!



DE Ivan de Oliveira Melo


PAIS & FILHOS

Os tempos não mudam. Transformam-se…

O que foi ontem e o que é hoje será amanhã.
Adiciona-se o termo “época” aos períodos de

Tempo apenas para identificar-se o momento.
O instante é histórico; sua fotografia, museu.
E o ser humano, o que é? Retrato das horas!

Diante de muitos instantes constrói-se a vida,
Perante múltiplos momentos vivem-se épocas
Que se acumulam nos álbuns e marcam fatos,
Historiando epopeias ou tragédias no espaço…

O ser humano é produto de outros indivíduos
Que se interagem na intimidade e multiplicam
Os gens a fim de que a espécie seja protegida
E possa seguir habitando as arenas do mundo,
Mundo de searas salgadas e, também, doces…

Universo programado para expandir-se amor,
Mas o que se vê? Flagelos, guerras, hipocrisia,
Ambições desenfreadas, orgulho ímpio, inaudito
E uma sementeira de traições e vícios petulantes.
Corrói-se a existência mediante inveja e ciúme…

Do coração humano é preciso erradicar-se o mal,
É fundamental banir-se de seu íntimo o pecado
Para os chamados pais não destruírem Bernardos
E os cognominados filhos não assassinarem os pais…

Que o clima se harmonize e dO amor se apreenda
O Bem que perambula dissociado do entendimento,
Que as famílias vivenciem o perdão e a fraternidade

E, assim, respire-se o clamor da dignidade unilateral
Formadora do caráter e das personalidades, perfis

Que são exemplos dentre pais e filhos… amor único!




DE Ivan de Oliveira Melo


sábado, 13 de agosto de 2016

MEU CORPO

Engendro a saúde dentre as extravagâncias do destino…

Meu corpo é meu templo, apesar de ser muito franzino,
Ele absorve as maluquices a que o exponho diariamente

E se mantém de pé embora receba do exagero presentes
Que em nada combinam com seu porte educado e quieto.
Simplesmente desrespeito suas nuances de fidalgo, ético

E o elevo às altas potências que o deslumbramento exige
Sem importa-me diante das circunstâncias que são cinzel
Da maturidade… Uso e abuso dos quinhões que a granel
Sustentam-no perante as maravilhas que indicam velhice.

Eis meu corpo! Salpicado das experiências que o grisalho
Guarda como troféus das conquistas e derrotas do tempo,
Das lições que aprendeu e lecionou plenas de fundamento,
Se bem que algumas vezes haja se consorciado à desilusão
E deixado fluir os anátemas que viciam e ferem o coração!




DE Ivan de Oliveira Melo 

SONETO DE FIGURAÇÃO

Assoalho minha mente mediante tapetes
Que são orientais e me orientam a relaxar
Diante das hipotenusas obscuras do radar
Onde habitam os catetos persas e cacoetes.

Atoalho em meu corpo os retângulos hostis
Em que os ferimentos parecem vis radianos
Que me sugam a vitalidade dos meus anos
Deixando meu sangue na raiz dos imbecis…

Cirzo meus desejos dentre as tangentes alfa
Que me furtam da memória a Estrela Dalva
A fim de que venha eu perecer entre cossenos…

Tapeio minhas horas brincando com os raios
E do todo infrutífero denomino irreais lacaios
Donde se compra e se vende os climas amenos!




DE Ivan de Oliveira Melo


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

ENCRUZILHADA

Pequei, meus amores! E não hei de estar arrependido!
Minha fadiga e meus anseios zombaram do meu silêncio
E dentro de minha inspiração fantástica produzi incêndio
Que se alastrou pela metempsicose do meu sisudo libido.

Perdoem-me, meus anjos! Donde estou o fogo se afasta
Qual pássaro audacioso que canta em ritmo de apoteose,
Sinto em minh’alma doce manjar consumido em overdose
E minha cabeça repousa sobre os degraus da mesa farta!

Adormeço perante os dízimos que pagarei do sono chiste
Enquanto melodias aladas provam de mim sagrado alpiste
Que deixarei no solo lodoso de minha consciência brumosa…

Desperto ante a multidão de pensamentos que me assanha,
Porém resvalo diante da covardia e duma hipocrisia tamanha
Que meu âmago revolve os atropelos da encruzilhada gasosa!




DE Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

SONETO DE INTIMIDADE

Percebo-me, sem olvidar-me acanhado
Diante da chuva que sacia minha sede,
A fome em minhas entranhas mui fede
E no perfume do meu corpo sou talhado.

Corro sem compreender-me nesse móvel
Que mesmo longe de mim tanto me desafia,
É que sou talvez a doce açucena de alegoria
E de vez em quando nada corro, fico imóvel.

Sorrio em pontos extremos um longo choro
Que descontrai minha alma dum tom louro
E me confidencia: se corro ou fico, sou errado.

Porém confinado estou na tagarelice do mundo,
Enquanto as sílabas voam, sou sempre fecundo
E às vezes me perco do senso, erro o tablado!




DE Ivan de Oliveira Melo  

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

LOS PENSAMIENTOS

Hay una inmensa montaña delante de mis ojos
Y yo me quedo a imaginar en la altura del pensar…
El pensamiento del hombre puede soñar libre
Y traer del espacio los misterios que hacen de la vida
El mayor ensueño de cualquier individuo que razone.

Hay un inmenso cielo em mi boca, pero no hay estrellas
Ni cualquier otro astro que tenga el brillo de la saliva…
Los dientes son árboles de huesos sin hojas y sin flores,
Pero la lengua es la carretera que lleva el pensar al cielo…
Seguramente es un cielo de la imaginación y de la fanatasía.

Los pensamientos pueden construir y hacer desplomar
Todas las alegorías y también edificar un nuevo mundo…
Mientras el ser humano pensar pequeño, la vida será ínfimo.
Este nuevo mundo está dentro de cada uno; basta sólo vivir!




DE Ivan de Oliveira Melo  

VALORES

Dicen que soy un antídoto…

Yo no sé… Quizá sea lenitivo
Donde se extrae el aperitivo

Que ablanda de verdad el dolor…
Dicen que soy fábrica del amor,
Pero no sé… Soy una inflación

Que lucha a lo largo del tiempo
Para establecer todo el sentimiento
Entre las personas que desean vivir
Cada minuto y elaborar el porvenir.

Otros dicen que soy sólo la palabra
Que expone el sentido de la vida,
Que la guerra es algo sin sentido
Y los hombres debían tener percibido
Que la vida sin amor es muy pobre!




DE Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 9 de agosto de 2016

SERES À DERIVA

Há espinhos em certas saudades
Que machucam o coração, varando a alma…
Às vezes a inspiração acalma
Ou faz transbordar a dor mais doída
Perante sentimentos de vanguarda
E é tão difícil outros compreenderem
Como também fácil ferir-se pela própria espada.

Nos momentos de fragilidade
Observa-se o corpo esmorecer,
Entretanto cabe à consciência
Guardar o que for dossiê
E de forma segura para não serem decifrados,
Pois os hieróglifos são mistérios
Que bem seguros n’alma
Não há quem os desvendem…
Desde que ultrapassem o tempo,
Vencem juntos, entre saudade e melancolia
Até que os fardos da vida
Dissipem todos os tormentos!

Vez por outra se perde a alegria
E até a força do amar…
Contudo em meio a tantos obstáculos
Surgem as possibilidades…
É verdade!
Os desencantos são tantos
Que esquisito é confiar…
Assim mesmo perseverar é antídoto
E esperar-se por um resgate
É o que faz reviver
E ribombar um coração tresloucado!

De amor também se morre
No silêncio das palavras,
Por isso é importante saber interpretar…
Mas se a interpretação não for real,
Certamente aumenta o penar
E a criatura fica sem navegar…
Então melhor é contrair-se,
Deixar o outrem avançar
Pelas esquinas das águas turbulentas
E despencar-se
Diante dos reveses onde habita o sono!


DUETO DE Socorro Caldas / Ivan de Oliveira Melo


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

HUMANICÍDIO

Sobre os louros de uma vitória para muitos morena,

Os amarelos asiáticos treinam terror à luz do dia
E derramam negros horrores pelos mundos brancos

Que se esvaem vermelhos dentre a carnificina hedionda.
Vida e morte são apetrechos naturais vinculadas ao tempo
E, no deserto das aspirações, as catástrofes se acumulam.

Compara-se o terrorismo moderno ao massacre de judeus
Ocorrido em câmaras de gás… Genocídio de multidões!
Assim se espalham tragédias que dizimam gente inocente
Transformando a seara da vida num campo de atrocidades.

Perdeu-se o respeito à vida… O mundo sucumbe lentamente.
Refugiados se largam pelos corredores dos mares desconhecidos
Em busca de uma terra ainda não prometida por seus deuses…
Acumulam-se os ódios. Enterram-se os amores. Bombas no ar!
No seio de uns a ordem é matar; no de outros, a lenda do mártir!



DE Ivan de Oliveira Melo



domingo, 7 de agosto de 2016

PARTILHA

Percebo-me aquinhoado perante um mundo
Que me reza sete velas diante de sete vidas…

Noto-me usurpado pela minha própria índole
Que me retém prisioneiro da minha insanidade
E me faz confessar as legendas da minha arte
Que se encontra submersa dentre rios perituros.

Sinto-me nababo e distribuo as ideias de prata

Que me tornam em pleno solo infértil, um nauta!




DE Ivan de Oliveira Melo  

sábado, 6 de agosto de 2016

ALMAS EM DESALINHO

O corpo humano é água
E, quando se mergulha no íntimo,
Corre-se o risco de afogamento…
Pular para a vida
É não permitir naufragar-se,
Então que se navegue com a consciência
De proteger-se os sentimentos,
Pois os guardando no coração
Certamente estarão seguros
Mesmo que as vagas estejam altas
E na areia haja venenos…

Que se encontre no amor
O antídoto para todos os venenos,
Ou pelo menos uma ressonância
Em que tudo se transforma em carícias
Para que as almas ao se encontrarem
Possam saciar os mais ímpetos desejos…
Desejos que alimentam os sonhos
E dão à vida uma aparência de realidade…
Mesmo distantes são os sonhos que se aproximam
E tecem caricaturas daquilo que se almeja ser…

A presença dissipa as dúvidas,
Apaixona-se ou renega-se,
Embora renegando
O quintal íntimo necessita de limpeza…
O encantamento pode desencantar-se
E fazer ruírem sonhos,
Contudo úmidos pela água do corpo
Possam transcender-se
E completarem-se num oceano de esperanças!

Assim é o âmago que edifica
E desbarata as razões da existência!
Perpetuam-se mistérios a serem desvendados,
Ou afogam-se as fantasias
Que lubrificam as vontades
Perpetuando os medos de novas descobertas
Ainda que tais descobertas sejam nada mais
Que os velhos devaneios
Que se acham subnutridos,
Escondidos no infinito da alma
E de forma auspiciosa sedentos
De uma nova oportunidade de sobrevivência!




DUETO de Socorro Caldas / Ivan de Oliveira Melo

PARADOXAL

Deduzo que nos limites e derivadas da vida
Haja uma estrada onde os logaritmos vivam…
Por outro lado, há as análises combinatórias
Que se desfazem dos exponenciais viadutos.

As paralelas flagelam as adnominais gamas
De binômios que invadem a seara semântica
Sem traduzirem as potências de preços altos
Que relativamente rendem todos os ângulos.

Há funções quadráticas que são bem lineares
Quando são observadas as bissetrizes dum lar
Que momentaneamente esteja num quadrado.

Os radicais que rejeitam estruturas negativas
Devem batalhar contra as inequações do ente
Que busca gramaticalmente o valor das letras!



DE Ivan de Oliveira Melo


BRILHANTE INTERPRETAÇÃO DO POEMA FEITA POR

José Pires de Lima


Deduzo que, quando analisamos o comportamento da vida pelo que acrescenta ou diminui (limites para mais e menos, rumo ao infinito) e pelo que surge em função dela (derivadas)... haja uma estrada onde vivam aqueles que vivem baseados em outros (logaritmos)... (ou seja: a análise da vida e de tudo que a ela acrescenta ou diminui, ou que dela surge, nos conduz a perceber que só podemos nos entender em comparação com os nossos semelhantes.)

Por outro lado, também é possível entender o conjunto (a vida) por meio da análise dos grupamentos humanos, sem que para isso tenhamos de percorrer longos caminhos (exponenciais viadutos). A análise combinatória permite comparar conjuntos e entender as possibilidades de acontecerem outros conjuntos a partir dessa combinação.

As paralelas (crenças do homem que podem transitar pacificamente , lado a lado) mostram a insuficiência, ou a inutilidade, das divergências ou da multiplicidade conceitual, que criam a confusão dos entendimentos (semântica). Ou seja, me parece que foi dito aí que o paralelismo pacífico de opiniões é mais vantajoso do que a confusão gerada pela discordância.

A terceira estrofe (que fala das funções quadráticas) eu entendo dela o seguinte: Que há coisas muito complexas (funções quadráticas) que podem ser, na verdade, muito simples quando as analisamos dentro de circunstâncias mais reduzidas, como a singularidade de um lar.

Na quarta e última estrofe eu entendo: que os "radicais" são aquelas pessoas que estão elevadas a algum grau (potência) que poderia ser o saber e que não admitem, por princípios e por sabedoria, ser reduzidos desse grau elevado a outro negativo... Essas pessoas têm o dever de batalhar contra aqueles que interpretam tudo com um sentido estrito, reduzido e único (sentido gramatical).