quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Linearidade


Tomei um café.
Acendi um cigarro.
Cheguei à varanda.
Olhei lá embaixo.
Gente. Gente. Muita gente.
Pessoas de todas as idades.
Crianças, jovens, adultos, velhos...
Vi deliberadamente aquele povo.
Olhei em mim.
Eu era apenas mais um...
Pus-me à reflexão.
Indivíduos semelhantes.
Gerações distintas.
Gostos desiguais.
O tempo roda.
É linear.
Maturação.
Os idosos sucumbem.
Novos seres nascem.
Multiplicam-se.
Esfera viva da vida.
Costumes se transformam...
As horas são as mesmas,
Os minutos são os mesmos,
Os segundos... idem!
Ciência evolui.
Descobertas.
Amores. Ciúme. Separação.
Solidão. Saudade...
Novos sóis. Novas luas...
Existência uniforme.
Criaturas... idênticas?
Sim... iguais!
Mas numa atmosfera heterogênea!

Penumbra Social



Veto  a  insubordinação  que  segrega  o  bem
E  assassina  da  honra  o  ideal  da  compostura,
Os  alicerces  estão  condenados  por  atitudes  prematuras
Que  se  alastram  pelo  meio  físico  num  constante  vaivém.

O  tempero  da  indigestão  campeia  nobre  e  solene
Pelas  alcatifas  aveludadas  de  sagrados  castelos,
Vê-se  a  multidão  amotinada  sobre  restos  de  farelos
Desviando-se  dos  porões  homicidas  com  camuflados  lemes.

Ingredientes  fantasmagóricos  saciam  da  fantasia
A  sede  infinita  que  reveste  os  degraus  da  utopia
E  faz  da  modernidade  uma  imagem  côncava  de  progresso...

Sobre  os  pilares  do  pudor    o  latrocínio  da  sensualidade
E  o  mal  que  cerceia  os  bons  costumes  da  humanidade
É  a  razão  que  impede  a  fotossíntese  do  sucesso!



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Cara a Cara

Sou matriz de mim mesmo
E alimento minhas filiais,
Em meu íntimo divido-me mais e mais
Para dar conta do que está enfermo.

Ser polivalente: atributo do mundo moderno...
Ter várias faces é necessidade premente
Que a vida reclama de forma urgente
Embora uma só seja a do perfil eterno.

Preserve-se a idoneidade no dia a dia,
Apresentar caricaturas distintas não é hipocrisia,
É comportar-se conforme o modelo exige...

Ecletismo da personalidade que vive atenta,
Que combate equívocos e que consciente enfrenta
Os distúrbios sociais que não se extinguem!

Viagem Semântica

CRÔNICA 
 
 
Às vezes me debruço sobre a semântica da língua portuguesa buscando
compreender um emaranhado de palavras que se distinguem entre si apenas com a mudança de gênero. Será que tais vocábulos têm uma mesma origem? a mesma raiz?
São inúmeros esses casos, senão vejamos nos exemplos expostos abaixo:
1) O LAUDO médico foi impresso em várias LAUDAS.
2) Debaixo do POSTE como várias POSTAS de salmão.
3) O TRAÇO que fiz no papel foi roído pelas TRAÇAS.
4) Compro lençóis BARATOS porque em casa há muitas BARATAS.
5) O PRATO em que como não é de PRATA.
6) Bebo vinho TINTO, mas a TINTA da sala não me agrada.
7) Ele tem QUADROS bonitos na parede e vive na QUADRA 5 da rua onde mora.
8) O COBRE é um elemento químico, porém a COBRA pode apresentar peçonha.
9) Naquele BECO estreito roubaram minha BECA.
10) Gosto de assistir a filmes de ZORRO, mas a vida está uma intensa ZORRA.
Etc., etc., etc....
Não posso explicitar com exatidão se tal fenômeno é uma riqueza ou pobreza do idioma. A verdade é que estamos diante de casos diversos, que não são raros e que confundem àqueles que estudam e pesquisam a língua em seu manancial primário. Por mais que me dedique à análise diacrônica, não encontro respostas plausíveis, nem resultados convincentes. Não sei, porém há uma possibilidade de o intuitivo mostrar a forma masculina como a origem primeira e, por extensão semântica e contribuição popular, o fenômeno se haver entrelaçado ao léxico. Isso é apenas uma hipótese, pois, não tenho coragem transformar tal afirmação em tese, é deveras perigoso arriscar-se numa opinião sem apresentar provas concretas.
Fica-se à espera de que algum outro estudioso e curioso manifeste seu ponto de vista, por enquanto vou amargando essa dúvida que corrói meus brios de professor e propagandista da língua portuguesa.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Carcaça Impúbere

 Beleza plástica e um nirvana de futilidades...

A vaidade é marca registrada dos seus perímetros
E no íntimo a frivolidade acomoda-se como arrimo...

Desenha-se seu perfil mirando-a como modelo
Que assanha as passarelas encantadas do universo infantil
Num desfile em que as imagens são um vazio platônico...

Nada em si retrata qualquer sinal de eloquência,
Seus idealizadores são uma fotografia travestida
Do pensamento desértico que segrega como inseticida
Qualquer vislumbre que possa dar vida à sua essência...

Esta é a moldura das bonecas que fomentam o passatempo estéril...
Barbies, Susies e outros tantos nomes que alimentam a cobiça
Das cabeças inúteis que saciam a fisiologia da preguiça
E trazem às mentes imberbes e ingênuas o testemunho da trapaça
Que incorpora numa maquete humana o que é pura cascata!

Perseverar...Sempre!

Não há por que desistir,
A esperança apenas está enferma... não morreu!
Se fecho os olhos para os ideais meus,
Meus passos trilharão incertos pelas estradas do porvir!

É verdade que intensa fogueira deixa cinzas em minha vida,
Labaredas lambem meus projetos... tudo são ruínas!
Mesmo capengando e tostado ainda vislumbro esquinas
Por onde caminharei trôpego em busca da vitória destemida!

Meu sangue não se entrega, torna-me tenaz lutador...
Só a morte é única adversidade que me faz fantoche
Perante as encruzilhadas da existência e do deboche
Que incineram corações covardes e carentes de amor!

Meu pranto dissipa ilusões e é essencial vitamina
Que me fortalece a sanha do espírito que não adormece,
Diante do galardão que me impulsiona venço o estresse
E os obstáculos se transformam em energia da minha oficina!

Não se permite que os espinhos perfurem a perseverança,
Pois é certo que após tenebrosas tempestades advém a bonança!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Indolência



Vejo  tantos  conflitos  que  poderiam  ser  evitados,
Percebo  tantos  disse-não-disses  do  quotidiano
Que  às  vezes  remancho  na  elaboração  de  planos
Por  sentir-me  acanhado  e  deveras  ressabiado.

Numa  overdose  de  vergonha  adormeço  no  dissabor
De  ver  fluir  o  tempo  dentre  ilusórios  aperitivos
Que  incendeiam  a  marcha  de  patéticos peregrinos
Que  não  enxergam  que  a  ração  do  mundo  é  o  amor.

As  horas  percorrem  perante  as  fraturas  da  existência
E  os  andaimes  que  se  alevantam  caem  pela  indolência
Dos  olhares  viciados  pela  contramão  nas  estradas...

Sonhar  é  antídoto  para  viver-se  isolado  em  cavernas,
O  chão  da  vida  exige  alento  e  perambular  de  pernas
Que  sejam  indiferentes  ao  galanteio  de  mãos  acomodadas!


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Arte Lusitana


No palco de minha consciência vejo
Grandes artesãos da arte de além-mar,
Florbela, a incompreendida, sofreu por amar
E nos deixou incomparável obra do país de Alentejo.

Minha observação jamais se destoa
E paira sobre as composições dos heterônimos,
Rasga-se a trivialidade diante do fenômeno
Que deu ao deleite poético o talento de Fernando Pessoa.

Diagnosticar-se o gênio sem ser mago
É tarefa da voz que acaricia os corações,
Exultar Eça de Queirós e reverenciar Camões
Trata-se de editar continuísmo na excelência de Saramago.

Outros nomes me fazem beijar este pedestal
Que é o esplendor artístico em que se guarda Portugal!

Oficina de Adeereços


Horas e horas numa oficina de construção pessoal
Trazem ao pensamento raízes de novos objetivos...

A vida em si é tão somente incentivo
Para compreender-se o universo imaterial...

O que os olhos não veem o coração se ressente,
Pois não tem como edificar a natureza de um mundo
Que pulula na imaginação criativa da mente...

Desnuda-se a fantasia perante o transcendental
E a consciência desenha adereços que parecem vivos,
Mas que perecem na vigília dos ideais intuitivos!

Princípio e Fim


Sombras são rascunhos dos mistérios da vida...

A existência é eclética, mas plena de segredos
Que atordoam a mente do homem a cada amanhecer...

O conhecimento esbarra em seu quesito de origem
Nomeando especulações que desnorteiam no ciclo vital
Também a relação que compreende a esfera do destino...

Donde vim? Aonde vou? Isto são enigmas
Que corroem a consciência humana de todas as estações...
Preceitos religiosos através da fé consolam os corações
Que se contentam com as veiculações desse paradigma.

Ao longo da História filósofos elaboraram hipóteses
Que a ciência moderna rechaça e atribui ao psiquismo
De um estágio do raciocínio que navega em falsos juízos...
O que dizer dos vultos estranhos em derredor dos indivíduos?
São efeitos de uma imaginação desequilibrada pelo altruísmo?

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Advertência



Não  se  atira  pedras  no  escuro,
Também  não  se  grita  no  silêncio,
Aroma  nefasto  se  combate  com  incenso
E  perante  o  nada  se  pensa  em  tudo...

Não  se  joga  a  tolha  diante  do  insucesso
Nem  se  chora  derrotas  se  a  guerra  não  acabou,
Batalhas  perdidas  são  estratagemas  que  o   amor
Tece  à  revelia  do  mal  que  é  réu  confesso.

Jamais  se  cuspa  no  prato  em  que  comeu
Nem  na  noite  se  revele  segredos  a  Morfeu,
Pois  nos  ouvidos  das  paredes  reside  Judas...

Não  se obtenha  felicidade  à  custa  de  protesto,
A  massa  ressabiada  pode  não  entender  o  gesto
E  tudo  culmina  numa  pizza  insossa  e  impura!