domingo, 26 de março de 2017

LÍNGUA ´PORTUGUESA

A língua que falo não é a mesma com que escrevo.
Há uma certa discrepância entre o oral e o escrito…
No rebuscamento do idioma há nuances belíssimas
Que enchem de magia os textos com a estilística
Própria dum lusitanismo adjacente do latim erudito.

Da Flor do Lácio bastantes pérolas nasceram
Sofisticando o glossário de vocábulos raríssimos
E edificando uma sintaxe de construções esmeradas
Que fotografam a eloquência com pensamentos clássicos
E uma inspiração que realça com a engenhosidade artística.

Na gramática a lírica deveras se renova…!
A Semântica é um torpedo de sutis ilusões,
Pois com o altruísmo da polissemia há erupções
De diversos conceitos para um radical comum…
Pobreza? Jamais! É a abundância do linguajar!

A sensibilidade é peculiar ao idioma de Camões
E de todos os gênios que alavancaram preciosidades!
Dos estrabismos da onomatopeia aos furúnculos da Morfologia
Há o que se chama diversidade do que é uma epopeia
E a língua não sorve o vulgar… Trata-se de uma enciclopédia!

Eclode-se o sentimentalismo das panaceias linguísticas!
Do Quinhentismo ao Modernismo surgem torneios psíquicos
Em que as palavras se alinham à autêntica criatividade
E, assim, o paisagismo das letras é o intenso esplendor
Dos que escrevem… Dos que falam… Dos que produzem amor!


DE Ivan de Oliveira Melo








sábado, 25 de março de 2017

SENSAÇÕES

Sou pedra do mundo; das horas, o tempo escasso,
Segundos e minutos nos mistérios deste universo…
Vaga, derramo sobre a areia a espuma que é sagrada
Deixando que as bolhas estourem em cada canto.

Como humano grito, quiçá, em busca do socorro
Perante as multidões que se introvertem alienadas,
Ou sou pirata que viaja diante das águas bravias
Dos oceanos que salgam a vida dos tecelões marinhos.

Sigo sendo gente – e diante das inconstâncias naturais
Sinto meu corpo flutuar aeróbico mediante os ventos
Que acariciam as procelas inibidoras do êxtase íntimo…

O infinito pranteia sobre as nuvens densas do orbe,
Contudo há no espaço algas atemporais que clausuram
De modo retilíneo e uniforme as sensações do prazer!


DE Ivan de Oliveira Melo






quarta-feira, 22 de março de 2017

SINTONIA

Quero sentir teus lábios pegarem fogo

E deixar que as labaredas me tostem
O corpo impregnado desse louco amor

Que me consome na ébria estação dum cio
Alucinado que me torna volúpia e tesão…
Somente em tua orgia há sofreguidão!

Teus carinhos são magia do doce orvalho
Que nutre minha alma da mais pura ternura
E em ti entrelaço os efeitos que na penumbra
Me enlouquece em êxtase o gozo do orgasmo!

Teus beijos penetram no éter do meu âmago,
Então viajo através das línguas emparelhadas
A se lamberem de sedução na noite estrelada…
Os corpos, uníssonos, dançam sobre o prazer
De ter em sintonia o dar e deveras o receber!


DE Ivan de Oliveira Melo



terça-feira, 21 de março de 2017

SENSO

Às vezes paro, olho, ouço, penso…

Minha mente vive cheia de abobrinhas
E, mesmo que me banhe de incenso,

Retrato cataratas das ilusões minhas
E me depuro ao extrair o estêncil
Inorgânico que me forma ladainhas

E sou obrigado a reiterar intenso
Todas as mazelas que revolvem sozinhas
Meus escrúpulos esculpidos na cozinha
De um intelecto que vive febril e tenso…

Às vezes paro, olho, ouço, penso…
E me vejo adormecido sem companhia,
Isolado dum mundo alegórico e imenso,
Sem condições de soletrar as modinhas
Esdrúxulas dum social caduco e denso...


DE Ivan de Oliveira Melo



quarta-feira, 8 de março de 2017

REDUNDÂNCIAS

Incorporando a brisa matinal da manhã,
Eu saí para fora das recordações inatas
E nas curvas sinuosas vi que as fragatas
Tropeçavam nas ondas das vagas malsãs…

Difícil era descer para baixo das rochas,
Porque o sol queimava com fogo as horas
E o tempo atirava faíscas sobre as malocas
Onde a tarde vespertina dormia de galochas.

Logo a noite estampava intensa luz noturna
E me fazia subir para cima o olhar sem luva
Onde as estrelas entravam para dentro do céu…

O ocaso era uma hemorragia de sangue tinto
E o belo cenário parecia um espetáculo lindo
Em que os devaneios sonhavam astros de mel!


DE Ivan de Oliveira Melo


terça-feira, 7 de março de 2017

DECLARAÇÃO INSÓLITA


DECLARAÇÃO INSÓLITA







O sossego era padrão em minha vida.

De repente… Intensa trovoada. Melancolia!

Tudo realmente se transforma à luz do dia

E a tranquilidade se borra e é destruída.



Cambaleio aqui e acolá. Tesão era fantasia,

Agora é uma verdade que me trucida lentamente

E faz de mim corpo e alma dum eloquente

Em busca do entender o que não é mais alegoria.



Tempo não perdoa… As horas me grisalham

E me vejo perante a mocidade… ilusão, talvez!

Não! Como ribomba meu coração e, essa maciez,

Renova as forças camufladas que me embriagam.



Estou cansado. Turbino em direção à morte,

Contudo estranha energia me ressuscita o viver

E novos horizontes se desenham em meu alvorecer

Embora desesperado eu lute… Afinal, pode ser trote!



Minha agonia detona todos os alicerces

Que edifiquei para ter em paz o passamento,

Entretanto observo que é tenaz o sentimento

Que me devora as entranhas e me enlouquece!



Sim! É o amor que fez a volta no espaço

E me amputa do silêncio em que vivia…

Chegou imenso e trovador… Mas é ousadia

Se eu me imagino solteiro em teu regaço!



Meus olhos falam. Calam-me diante dos teus

E vou e venho meio aturdido e meio sonâmbulo

Respirando teu néctar por todos os possíveis ângulos

E uma larga esperança de ter-te morfeu!



Por que surgiste? Roubaste-me minha paz!

Penso em ti alucinadamente. Deixaste-me febril

A copular contigo em minha mente sem fastio

E a subir e descer paredes do querer mais e mais…



Estou amalucado. Confesso-me então portador

De um bem-querer decerto sem qualquer retorno,

Pois são grandes os obstáculos que há em torno

E seguramente tenha eu que matar em mim este amor!


Sabe, nunca houve felicidade em mim…

Minha existência é retrato de sofrimento,

É torpedo que me fere até os unguentos

Que ponho em órbita em meu jardim!



Provavelmente jamais estreitemos nossos corpos…

É que a censura das idades não gosta

Que pontos extremos rebusquem respostas

E se enfeiticem de magia além dos portos!



Choro a amargura que me corrói o íntimo…

Mais uma vez a paixão me é traiçoeira

E eu desnudo e sem a tonicidade companheira

Para alimentar-me de sonhos em meu psíquico!



Ingrato destino o meu… Tudo me é desengano!

Enorme vontade de fugir pela morte em devaneio,

Porque a solidão é meu fim, meu único meio

E há muito sei que não mereço fazer planos!



Eis meus infortúnios de todos os anos!

Esta é a fotografia de um mero ancião

Que tem partidos os elos de um coração

Fenecido pela dor… Mesmo assim, eu te amo!





DE Ivan de Oliveira Melo