sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Nudez de Amor


Plumas  sobrevoam  teu  corpo  inerte,
Lágrimas  umedecem  tua  face  rígida,
Muito  cedo  partes... Por  que  esta  despedida
Se  o  amor  que  prometeste  não  me  deste?

Navegas  agora  pelos  paetês  da  vida  eterna
E  eu  mergulho  numa  solidão  moribunda  sem  fim...
Tempo  ingrato...  horas  ermas...  Que  será  de  mim
Se  o  paladar  daqueles  beijos  meus  lábios  conservam?

Saudade... Palavra  vazia  do  que  não  há  espera,
Pois  o  mundo  dissipou  todas  as  quimeras
E  a  noite  dorme  no  mausoléu  dos  meus  sonhos...

Morte...  em  meu  jardim  sinto  teu  olfato...
Por  que  tuas  flores  negras  perfumaram  meu  regaço
Abandonando-me  desnudo  perante  um  respirar  tristonho?



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sabores Platônicos


Meus  olhos  fotografaram  teu  corpo  delgado
E  na  imaginação  o  trancafiei  a  sete  chaves,
Meu  coração  alucinou-se  porque  nunca  foi  praxe
Ver-me  ribombado  pela  magia  de  um  retrato.

Decodifiquei  cada  centímetro  de  esbeltos  ângulos
Deixando-me  seduzir  por  curvas  sutis,  quase  rarefeitas...
Monumento  de  uma  escultura   passional  que  deleita
A  estrutura  do  meu  esqueleto  sensível  e  sonâmbulo.

Assediado  pelos  trejeitos  sensuais  de  tua  arquitetura,
Desabilitei  as  trancas  fulgurantes  de  minha  censura
E  me  vi  envolto  pelas  carícias  que  tinham  teu  nome...

Deitei  sobre  a  catre  orgia  com  desejos  perfumados
De  ter-te  e  possuir-te  entre  lençóis  macios  e  aveludados

Que  guardassem  o  segredo  do  tesão  que  me  consome!                                                   

Viés da Natureza


Muitos  novelos  são  falsos  diamantes,
Pedras  brutas  que  enfeitam  do  litoral  as  enseadas,
Grãos  hirtos  de  areia  titubeantes
Se  espalham  pelo  solo  úmido  da  costa  dourada.

Vagas  incandescentes  se  agitam  furiosas  nos  ares
E  caem  sobre  recifes  formadores  de  piscinas,
Os  efeitos  são  energia  de  causas  elementares
E  sua  consequência  uma  magia  que  não  desafina.

Os  ventos  sopram  feitiços  em  átomos  de  vida
Que  se  reproduzem  em  ninhos  de  venturosa
Dentre  as  substâncias  ímpias  da  massa  gasosa...

No  espaço  a  atmosfera  festeja  destemida
A  chuva  que  despenca  sobre  as  várzeas  dos  mares
Numa  metamorfose  que  sacia  a  eloquência  dos  paladares!




Caricaturas Inversas


O  mundo  escreve  solidariedade  com  violência,
Também  desenha  o  amor  por  puro  interesse,
Se  o  senso  evitasse  que  a  vergonha  se  escondesse,
Certamente  ao  redor  do  povo  haveria  decência.

Fraternidade  é  adjunto  determinante  da  hipocrisia
Que  reina  sorrateira  sobre  os  alicerces  do  poder,
Na  desventura  analítica  os  traços  dão  a  entender
Que  o  absolutismo  traveste  a  inflação  de  carestia.

Os  menos  favorecidos  são  carreatas  da  ambição
Levados  por  promessas  de  fundo  falso  às  redes  do  alçapão
Que  agasalham  suas  lágrimas  protegendo-as  do  frio...

Sede  e  fome  de  justiça  enfermam  a  pança  da  verdade
Cujos  intestinos  obram  vedetes  que  são  promiscuidade

Que  dilatam  o  organismo  deixando  o  estômago  oco  e  vazio!

domingo, 8 de setembro de 2013

Cronologia da Existência


A  vida  é  sempre  um  aconchego
Seja  de  tristezas,  seja  de  alegrias...
A  felicidade  é  terna,  não  eterna,
Pois  são  dispositivos  de  tempo
Denominados  momentos...
As  horas  são  mágicas...
Em  cada  minuto  vivido
Percebem-se  truques  da  sobrevivência
Intitulados  instantes...
Assim  caminhamos  pelas  estradas
Da  cronologia  de  uma  existência  breve,
Ora  nos  alimentando  da  eloquência,
Ora  vomitando  vermes...
O  Todo  é  infinito,
Mas  o  Tudo  é  efêmero,
Quase  Nada...
Entre  o  Tudo  e  o  Nada
Os  sintomas  acontecem
Deliberando  coisas  que  apetecem,
Ou  injetando  o  suplício  da  dor...
O  sorriso  e  o choro
São  sistemas  fugazes  e  antagônicos
Que  coabitam  entre  si
Nas  profundezas  do  universo...
Todas  as  adversidades  são  traiçoeiras,
Eis  que  os  fins  são  o  mesmo  chão...
A  beleza  e  a  feiura  dormem  juntas,
Pobreza  e  riqueza  não  têm  sentido...
Vale,  então,  a  pena  viver?
Sim,  vale...
Desde  que  a  moral  seja  o  discurso
E  a  idoneidade  do  caráter,  o  retrato...
Quando  assim  se  caminha,  reto  e  uniforme
Perante  as  veredas  alcatifadas  do  espaço,
É  porque  o  tempo  se  faz  inteligente...

E  nada  mais  importa!

Desvario


Talvez  já  não  viva  o  doce  despertar  da  vigília,
Um  sono  acrobático  cerra-me  a  decência  do  olhar
E  no  sonho  paraquedista  desço  sonâmbulo  sobre  o  mar
Provando  da  demência  o  néctar  da  atmosfera  dulcíssima.

Os  torvelinhos  fazem-me  rodopiar  no  astral  da  inconsciência
E  meu  raciocínio  adormecido  retém  do  fulgor,  a  sonoplastia...
Devaneios  íngremes  cirurgiam-me  uma  atroz  melancolia
E  meu  corpo  valsa  sobre  os  andaimes  das  vagas  sem  clemência...

Minhas  reflexões  se  perdem  dentre  o  meneio  das  águas
Que  balouçam  reticentes  diante  do  fluxo  e  refluxo  da  maré,
Num  delírio  de  sussurros  destaca-se  um  burburinho  de  fé
E  em  minha  face  sazonada  pelo  tempo  lágrimas  deságuam.

Através  da  corrente  marinha  sou  abandonado  num  banco  de  areia
E  salvo  da  tempestade  onírica  pelo  belíssimo  canto  da  sereia!



Sedentarismo


Operando  meu  computador,  faço  higiene  mental...

Minha  vida  é  um  celeiro  de  delícias  e  estresses,
Mergulho  nas  horas  irregulares  duma  existência  frugal

E  diariamente  consumo  do  cotidiano  doces  e  quermesses
Adicionadas  a  uma  rotina  companheira  do  ataúde,
Pois,  nas  frituras  e  no  sal  controlo  minha  saúde...

Os  dias  são  máquinas  que  me  condicionam  aos  cursos
E  em  meu  corpo  redondo  armazeno  gama  de  conhecimentos,
No  tempo  desvendo  o  inimigo  que  me  corrói  os  sentimentos
E  diante  da  Tv  entrego  às  pipocas  e  refrigerantes  meus  impulsos...

Esqueço-me  de  que  existem  natureza  e  brincadeiras  de  garotos...
Minha  tensão  ganha  números  e  me  deixa  mais  rico
Num  sedentarismo  que  dissipa  minhas  energias  e  me  põe  em  risco...
Sobrevivência  salutar  requer  conforto  e  alimentação  adequada,
Propósitos  adversativos  do  viver  virtual  desta  vida  destrambelhada!


Atalho


De  mim,  sou  atento  retratista...
Do  universo,  ressabiado  observador,
Nauta  que  busca  desvendar  o  amor
Dentre   caipiras  duma  existência  niilista.

Dos  olhos  humanos,  sou  devorador  de  sonhos...
Estadista  de  uma  política  sentimental
Que  vive  em  corda  bamba,  entre  o  bem  e  o  mal,
Sobraçando  as  noites  dum  mundo  menos  enfadonho.

Da  vida,  sou  um  docente  que  leciona  esperanças
Mesmo  com  os  pés  mutilados  por  desvairadas  andanças
E  as  mãos  calejadas  pela  fadiga  do  trabalho...

Da  alma,  coleciono  carícias  para  sobreviver
Recheadas   por  temperos  de  ternura  que  são  o  dossiê
Onde  assento  retas  e  curvas  em  busca  dum  atalho!



sábado, 7 de setembro de 2013

Tertúlia Campestre


O  vento  bate,
Árvores  se  alvoroçam,
Pássaros  sofrem   enfarte
E  tombam  sem  vida  na  roça.

Solo  úmido...  minhocas  à  beça
Passeiam  desgovernadas  sobre  a  lama
Dando  trotes  nos  predadores  e  se  dispersam
Dentre  os  cascalhos  da  areia  plana.

Chega  o  frio...  a  noite  se  instala
E  a  chuva  com  gotas  de  opala
Inunda  os  campos  semeando  enxurradas...

Sapos  e  grilos  cantam  temas  desafinados,
Rãs  e  cigarras  respondem  em  tons  apaixonados

Enquanto  pirilampos  iluminam  arestas  da  madrugada!  

Bocas Desmedidas


Dizem  tantas  coisas  por  aí...
Inventam  que  a  vida  navega  em  destruição,
Imaginam  que  o  mar  vira  sertão
E  que  os  lábios  já  não  sabem  sorrir...

Bocas  afirmam  que  o  mundo  vai  acabar,
Que  as  catástrofes  soam  como  avisos,
Que  debaixo  do  sol  há  vultos  inimigos
E  que  os  corações  não  conseguem  amar.

Sim,  é  verdade... Pessoas  falam  às  avessas
De  sonhos  torturados  nas  próprias  cabeças
Por  tragédias  íntimas  que  desovam  melancolias...

Mundo  nunca  acaba... Gentes  que  passamos
Sequestrados  por  hediondos  vírus  e  desenganos

Que  não  sabemos  sonhar  nem  saciar  fantasias!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Erotismo Poético


Rastreio  com  o  olhar  minhas  conquistas
E  minha  boca  varonil  declama
Poemas  eróticos  que  destinam  à  cama
Donzelas  que  são  vedetes  em  capas  de  revista.

Meus  versos  encantam  com  voluptuoso  sabor
A  essência  íntima  da  maquete  feminina,
Nos  torneios  e  jogos  de  palavras  emprego  rimas
Que  provocam  cio  e  vontade   de  conhecer  o  amor.

Nas  beldades  desvendo  botijas  de  prazer
E  tesouros  inconfessáveis  que  as  fazem  conceber
Através  da  linguagem  a  magia  da  sofreguidão...

Na  escrita  há  mananciais  de  ardor  e  fantasia
Do  lirismo  eloquente  que  sensualiza  a  antologia
Trazendo  à  imaginação  o  gozo  que  enfeitiça  o  coração!


domingo, 1 de setembro de 2013

Não vale quanto pesa...


Ter  conhecimento  apenas  é  obscuro,
A  boa  índole  é  complemento  da  sapiência,
Junta-se  o  útil  ao  agradável  com  eficiência,
Então  o  mundo  torna-se  justo  e  puro.

Não  é  meritório  possuir  a  vida  na  palma  da  mão
Se  depravação  e  maldade  modelam  o  caráter,
No  tabuleiro  da  existência  bem  é  cheque-mate
Para  que  a  felicidade  seja  o  espelho  do  coração.

O  indivíduo  pode  até  destacar-se  pelo  que  sabe,
Mas  é  na  prática  que  mostra  o  quanto  vale
Perante  assembleias  de  semelhantes  do  cotidiano...

O  conhecer  exige  que  se  ande  em  linha  reta,
Que  se  retirem  das  estradas  placas  e  setas

A  fim  de  que  nas  curvas  não  haja  desenganos!

Grito de Chuva


O  campo  está  seco,
A  terra  rachada,
Minha  face  é  a  estrada
Por  onde  me  perco.

Árvores  desfolhadas,
Em  meu  íntimo  é  sertão...
Restos  de  vida  no  chão
Entristecendo  as  madrugadas.

Oásis  são  lágrimas  ao  relento,
Sol  a  pino  é  pico  de  chaminés
Que  tostam  as  envergaduras  dos  pés
Rolando  a  esmo  em  meu  sentimento.

Seios  róseos  alimentam  a  nostalgia
Que  a  esperança  nutre  do  novo  arrebol,
O  vento  tudo  sopra  em  caracol
Levando  consigo  a  fotossíntese  da  covardia.

Sol  e  calor...  Solidão  se  agita  e...

Com  o  grito  do  trem,  a  chuva  se  precipita!