sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Jogo Íntimo



O fogo se alastra dentro da gente
Acionando turbinas que são labaredas,
Sensações e emoções agoniam as cabeças
Que não sabem o que os corações sentem.

A introversão se confunde com a excentricidade
E as peripécias da extroversão tornam-se abaladas,
Qualquer passo em falso é ringue para as ciladas
Que roubam as cenas e fomentam a adversidade.

O palco restringe o que manifesta a expressão
Que, em dúvida, titubeia ingredientes de ocasião
E faz o sentimento navegar entre realidade e fantasia...

No espírito da consciência está a escolha do destino,
Que a decência seja repórter com chuva ou sol a pino,
Pois, o mundo já não suporta temperos de utopia!

Carnaval



Rios de confete e serpentina,
Frevo rasgado em cada esquina,
Samba alucinado na ponta do pé...

Bailado tresloucado do trio elétrico,
Multidão que dança firme e frenético
Sob o ritmo contagiante do axé...

Requebrado louco que transmuta o povo
E derrama cicatrizes pelo tempo a fora,
Pierrôs e columbinas demarcam a História
Que a cada ano escreve enredo novo.

Folclore típico de uma nação rica
Que se diversifica em espaço continental,
Melodias de ontem e hoje fazem do carnaval
A tradição de um costume que enfeitiça!

Energias Sensuais



A natureza nunca está nua,
O sol a veste de calor,
Na noite os astros copulam amor
Sob o manto protetor da lua.

As estrelas me beijam de paixão
E eu as acaricio com cumplicidade,
Entre nós há um clima de paridade
Em que o assédio é a solidão.

Sedução em ondas transcendentais
Onde se mergulha em vales de cristais
Das estâncias do paladar psíquico...

Viço e volúpia são teares da atmosfera
E do cio metafísico que fica à espera
Do orgasmo etéreo que são poemas líricos!


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Sonhos Depredados



Meu sonho despencou da janela
E foi pisoteado por alhures transeuntes,
Eis meus segredos que agora se difundem
Pelas bocas atrevidas de indivíduos tagarelas.

Clamei com meu vozeirão: indigestos!
Saracoteiam sigilos que não são seus,
Exprimem sarcásticos sorrisos dum coliseu
Que bebia de minh’alma o licor do sucesso!

Nas feições das criaturas joguei insultos
E sobre os pilares de devaneios insepultos
Debutei lágrimas arredias e constrangidas...

Empalhei do sonho ideais sobreviventes
Para fazê-los de inspiração aos descendentes
Na configuração secular de uma nova vida!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O tempo



As horas são lentas, devagar...
O ócio é um obstáculo que enfrento,
Às vezes até tento matar o tempo,
Mas ele é imortal e vai me dissipar...

O tempo é implacável, cobarde...
Segue em linha reta rumo ao futuro
Deixando para trás o passado impuro
E um presente hipócrita que tudo fere e me invade...

No silêncio taciturno das tempestades
Os ventos que semeiam as novidades
São tragados pelo tempo que tudo torna velho...

No futuro que um dia será passado
O tempo dar-me-á por singelo regalo
Açoites que adormecem insondáveis mistérios!



Poema publicado em meu livro
SEARA DE RITMOS,  Paco Editorial,
São Paulo, 1ª. Edição, 2011.

Ópera de Flores

Cobre-me com tuas suntuosas avencas
E deixa livre o canteiro das samambaias,
Preciso de regá-las para que não caia
Sobre mim o agrotóxico que as torna prenhas.

Perfuma meu corpo com tuas insignes dálias
E depois me banha com o aroma das rosas,
Necessito de fecundar-me com flores viçosas
Para dissipar de mim sensualidades otárias.

Beija minha sensibilidade com teus jasmins
E observa o que retiro de dentro de mim...
A inspiração que doira palavras de ardor!

Acaricia-me com cravos e orquídeas a eloquência
E percebe que, assim, tenho sublime consciência

Para dilapidar com semântica divina o amor!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Insano



Insano!
Quebrastes as asas das ilusões,
Pintastes o canto dos pássaros
E partistes vossos sonhos em dois...

Insano!
Chorastes nas lágrimas dos crocodilos,
Sorristes as desventuras dos mares
E agora desconheceis quem vós sois...

Insano!
Escrevestes sobre a miséria das gentes,
Bebestes do vinho que é o sangue
Da esperança única que se foi...

Insano!
Andastes pelos cascalhos da música,
Aterrastes vossos segredos nos pântanos
Sem precaver-se do que seria  depois...

E, agora, insano?
Por que dormis sobre a cripta do medo?
Esqueceis que estais vida e viveis vossos erros?
A solidão não vos libertareis...ele é alma, pois, pois...


Válvula de Escape



Sei que a preguiça rebola no seio das gentes
E que dormir é tudo quanto de verdade se quer,
Não saboto de mim vez por outra um soninho qualquer,
Mas confesso que em cada sono há propósitos diferentes.

No cinzel de cada sono deveras me programo,
Durmo sempre com um olho fechado e outro aberto,
Assim diante de uma emergência estou desperto
Para não permitir que as chacotas da vida me deem cano.

Quem se abraça a sonos prolongados possui carências
Que só no sonho não se manifestam como tendências
Porque o estágio onírico é particular, de acesso proibido...

Vive-se, então, duas vidas: uma real, outra fictícia
E nas fantasias de ficção tudo é possível e sem perícia,
Por isso dorme-se cada vez mais isentando-se dos perigos!