sábado, 31 de janeiro de 2015

MORTE

O mundo  se acaba a cada instante,
O último suspiro leva o fio da vida,
Nada existe na morte de elegante
E ela reina alhures, incompreendida.

Trata-se de uma filosofia sem legado,
Um caramanchão de hipóteses na fé
Que vaticina verdades de Deus e Diabo
E ordenha as criaturas como bem quer.

O fim dos tempos é algo infinitesimal,
Cada qual tem seu apocalipse individual
Quando o coração decide parar de bater...

Em relação à morte a ciência é só ficção,
Na retórica da existência é o maior vilão
Que compêndios não têm como entender!





De  Ivan  de  Oliveira  Melo

GRITOS

De repente teu grito
Ecoou dentro de mim...
Juro que fiquei sem rumo,
A alma aflita,
A boca sem respostas...
Tudo repentinamente escureceu,
Um mar sem ondas
Inundou meu corpo
E tua voz raquítica
Nem pude ouvir...
Alvoroço,  emergência!
Era meu amor
Dando ciência
De que teu amor
Era meu...
O tempo se foi,
O amor diluiu-se,
Uma vegetação apócrifa
Fincou raízes
Num solo árido
Onde a esperança dormita...
Novamente teu grito
Ecoou...
Trouxe flores
E em meu jardim
Foste a rosa mais bela!





De  Ivan  de  Oliveira  Melo

SOBRE OS MARES

Ergo-me setentrional e orador no Mediterrâneo,
Sou filho do tempo e adorador do Pacífico,
Navego em águas cristalinas com dons específicos
E sobre altares de pedra sou lutador espontâneo.

Desbravo as correntezas coadjuvantes do Atlântico
Perambulando sobre vagas revoltas e bravias,
Venço aos mares, não sou enciclopédia doentia
Que se envolve em torvelinhos que causam pânico.

Batalho inimigos que cruzam afoitos o Índico
E os faço prisioneiros por serem cruéis e cínicos
Através das meridionais cavernas do grande porto...

Descanso dos bacanais de guerra assaz constrangido,
Na aurora boreal dos ventos sou soldado destemido
Que abandona sua fibra nas águas do Mar Morto!






De  Ivan de Oliveira Melo 

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

CIRCUNSTANCIAIS

Durmo sonhos na brancura do catre
E me vejo vulto sob o brilho noturno.
Meu pensamento no silêncio desnuda
A sombra que vagueia tonta e perdida
Pelo soalho de cascalho rente à areia.

Pelo olhar onírico desvendo nuances
De cores amorfas traçando caminhos
Em busca da saída entrecortada pelos
Ventos que sopram utopias nos vales
E levam consigo o respirar da mentira.

Pesadelos atrozes flutuam na mente
E assisto a cenas que traduzem terror...
Minha inconsciência se agita.  Febre!
Desperto amalgamado por intenso sono,
Ruína das tempestades do corpo quente...

Imenso deserto de solidão reina na noite
Cutucando o vácuo sombrio dos açoites
Que sibilam granizos que tocam o chão
E adornam a enseada da passarela morta
De vagas que zunem na imensidão inóspita.

A verdade sobrevive à agonia extrema
Soterrando a hipocrisia nas montanhas frias
E libertando a esperança dentre os cárceres
Enlameados por pântanos ignóbeis e cruéis,
Porém envenenados pelas próprias peçonhas!





De  Ivan  de  Oliveira  Melo

CONSCIÊNCIA ETÉREA

Levaste meu caixão até a última morada,
Meu sangue coagulado parecia apodrecido,
Mas em meu coração de cadáver hei vivido
Os derradeiros instantes de alma enamorada.

Puseste alegres flores sobre meu sepulcro
E em cada pétala uma lágrima de saudade,
Em meu sono eterno só algo será verdade:
Ser alimento de vermes e sofrer assaz estupro.

Meu corpo padeceu... na consciência há vida
E se pensas tu que meu féretro foi despedida
É que não sabes que infinito é ninho de amor...

Leva à minha campa sempre tua linda presença,
Meu pensamento é um olhar que não dispensa
Ver teu vulto e tua sombra  cultivando tua flor!



De  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

DONZELAS

Deitai vosso sono, donzelas!
Suspirai as flores de maio,
Vinde sonhar em minhas quimeras...
Enxugai vossas lágrimas, donzelas!
Levai convosco os arautos da primavera
Para que o amor floresça em vosso ventre...
Ofertai vossos beijos, donzelas!
Rendei júbilos ao crepúsculo
A fim de que no novo dia haja graças...
Sabei que vossas vidas são infinito regaço!




De  Ivan de Oliveira Melo

...MAIS UM SEGUNDO...

Dar-te-ei meu nome e serás uma dama,
A mulher a quem  o rouxinol deu asas
Para que me catasse entre taças largas
E me tornasse o mancebo de sua cama.

Falar-te-ei aos ouvidos palavras de amor,
Pois sou o homem que teu carinho vela
E mesmo perante tempestades e procelas
Cantarei a melodia que o sabiá me ensinou.

Afogar-te-ei nas águas dos meus beijos,
Porque navegar em tuas ondas eu desejo
Mesmo conhecendo teus mares profundos...

Abraçar-te –ei com a volúpia que esbanjo,
Pois sinto que estou diante de um anjo
Que me será eternidade, mais um segundo!



De  Ivan  de  Oliveira  Melo


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

AURORA

Desposar a aurora... Ah, pensei deveras!
O arrebol mudou de face, ressabiado...
Fi-lo perceber que sou poeta, vivo alado
Pela fantasia e descrevo assaz as quimeras!

Quão intenso amor eu sinto e me dedico tanto
A compilar da natureza tão excelso manjar
Que faz de mim talento, menestrel do sonhar
E contrito por estradas afora espalho meu canto!

Oh, aurora! Sou esposo do indescritível orvalho
Que madruga, desperta e sutilmente detalho
A autópsia de um poeta que sobrevive apaixonado...

Perfume... Coloração de amêndoa inunda o espaço
E me seduzo pela magia de desenhar cada pedaço
Que a fotografia das horas retalha ao meu lado!




De  Ivan  de  Oliveira  Melo

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

CÃMBIO

Tenho ânsias de chegar-me a ti,
O dia nasce ruborizado de sol,
Deixa-me contigo estar no arrebol
Sugando números e os valores de pi.

Horas cansadas sem ter-te os braços,
Meu coração palpita sentimento denso,
É volúpia e cio, sinceramente penso
Que sem teu colo amado nada faço...

Pouso a cabeça em teu ombro e choro
Lágrimas que lágrimas e não há cloro
Para diluir verdugos que são parasitas...

Olha o dia... Quão esplêndido céu azul!
Espero na aurora câmbio: onde estás tu?
Porque hei  tocar o hino que o amor incita!




De  Ivan de Oliveira  Melo







domingo, 25 de janeiro de 2015

O IDIOMA E O POVO

Interessante mesmo é nosso linguajar...

Observam-se construções defeituosas,
Palavras fora de sua semântica original,

Pronúncias dantescas que ferem ouvidos...
Assassina-se o idioma e querem eloquência
Como se cada um ditasse as próprias regras...

Diante de um território que é continente,
Os regionalismos predominam às avessas,
Um mesmo significante tem várias cabeças
E isso é tutela que faz a língua ser diferente...

O português não é uníssono em todas as partes,
As construções sofrem, sim, bastantes  desvios,
O vocabulário é íngreme de acordo com o povo,
Os neologismos blasfemam, pois são tudo novo
Enquanto os arcaísmos sobrevivem graças à arte!


NADA


Sabes donde vem o céu?
Da visão metafísica do homem
Que em sua inteligência se consome
A saborear enigmas que parecem papel...

Sabes até onde se expande o infinito?
Intransigência do universo: é incomensurável!
O olhar se perde nas toucas do impalpável,
Pois, tudo é mistério do saber irrestrito.

Conheces as estradas do teu destino?
Essas são tertúlias que enganam cretinos
Perante o insondável que é desconhecido...

O que sabes então do que é a vida?
Talvez... nada! É que o conhecimento convida,
Mas a ignorância reina no seio do indivíduo!

PÂNICO


Na noite de olhos deveras escuros
A lua brilha pelas frinchas do quarto
E fico atônito, e me cubro, e me despedaço
Derribado pelo medo do que não escuto.

Silêncio sinistro evoca o assobio dos ventos
Que uivam qual lobo faminto do cerrado
E eu trêmulo a cuspir terror e cercado
Pela agonia ululante, semântica do sofrimento.

No esvoaçar das cortinas, um relâmpago clareia
E sinto no ribombar dos trovões em minhas veias
A tontura de um pânico sedento de magia...

Sentença lúgubre me deixa tétrico o ambiente,
É alimento que vulcaniza um corpo reticente
Tombado à cama pelo pavor hediondo da ventania!

CONCHAS DA MORTE

Não  quero  um  funeral cheio de pompas...
Livre-me, Ó Senhor, de ser vitrine de urubu,
Que minha campa seja flores, seja maracatu
E que as preces possam pagar minhas contas...

Não quero pranto... que todos possam sorrir...
Em meu ataúde joguem confetes, serpentinas,
Assim tristeza será alegria, a noite diamantina
E em sono profundo eu possa pensar no porvir!

Felicidade seja a tônica perante a sepultura,
Cantem-se marchas de consciência assaz pura
Para que na solidão da tumba eu durma em paz...

Levem consigo de  mim a lembrança mais cara,
Se a saudade roer... bem, isso será uma tara
Do cadáver que dorme e que queria viver mais!



Poema de Ivan de Oliveira Melo

SOMENTE EU...

Somente eu entendo meu coração
Que chora e sorri ao mesmo tempo,
Somente eu sou saudade e solidão,
Somente eu conheço meu sofrimento...

Somente eu que percebo minhas flores
Que brotam às vezes felizes, às vezes tristes...
Somente eu caduco por meus  amores,
Então sei que o amor em mim existe...

Somente eu vejo um mundo tão pequeno
E diante dele sou cascavel do meu veneno
Imprimindo dores para aprender a amar...

Somente eu sou testemunha deste circo
E perante minh’alma me elogio e me critico

Para que na vida eu saiba o que é sonhar!

sábado, 24 de janeiro de 2015

NEBULOSA

Os minutos tardam, a tarde parece azul,
Vagas de areia vagueiam sobre a lama
E o céu, repleto de nuvens, logo reclama
Porque se impede que o sol expanda luz!

Flocos de poeira se espalham pelo ar
Como névoas a derramar tímida chama
Que mansamente congela vitrais e trama
Brumas sedosas que ao dia vêm agitar...

No orvalho das horas o tempo sombrio
Traz neblinas no pálido farfalhar dos ventos
Que sopram no espaço tétricos sentimentos.

Coagula-se em palidez o firmamento frio,
A paixão rola sobre o sepulcro das noites

Quais tranças salpicadas por vis açoites!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

DESCRIÇÃO

Sou cúmplice de mim...
Meus acertos são erros,
Meus erros são acervos
Duma dinastia sem fim...

Sou conivente comigo...
Acerto, erro e conserto
O errado que é certo
E ando sempre despido...

Sou lei e  casulo meu eu
Nas entranhas do museu
Onde o velho nasce novo...

Sou forma do mundo são,
Degolo sem dó a emoção
E descrevo o que é o povo!



RODAGEM ROBUSTA

Realmente:  rir rebate rancor,
Reanima regimes rechaçados,
Repõe rituais rotos retratados,
Remorso rústico rege: recompor!

Riachos, regras... rol rudimentar
Rotula recíprocas, riscos rasantes,
Ruas retilíneas realçam ruminantes
Remoçando raparigas... revitalizar!

Relógios rugem, repicam roteiros
Refazendo retalhos...  reposteiros
Retrucam raivosos, resplandecentes...

Ribombam ruínas... relíquias rudes...
Ricas regiões ressurgem, reúnem
Ranzinzas...  retrós, rumor reticente!



quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

GERAÇÕES - PARTE III - CAP. III ( FINAL )

GERAÇÕES
PARTE III
CAPÍTULO III ( FINAL )
Foi Maurício T. Ferraz, atual Vice-Presidente da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes que, utilizando a mídia do Grupo, fez um pronunciamento em rede nacional no mesmo dia em que Demetrius Antunes fechou a transação que envolvia a transferência do controle acionário para o Governo Americano. O pronunciamento foi ao ar à noite, em horário nobre. Maurício utililizou-se de gráficos, dados contábeis e uma ampla retórica em que mostrava e provava por a+b a razão que levou Demetrius Antunes a concretizar o negócio. A Nação bebia as informações e, em muitos lares, houve derramamento de lágrimas. Não obstante, estavam comprovadas as intensas e urgentes necessidades da transferência do controle acionário. Que Deus abençoasse
as atitudes tomadas. Através do ilustre Vice-Presidente, Demetrius pedia desculpas ao povo e prometia iniciar-se, com o numerário da venda, novos negócios e quem sabe, num longo prazo, investir na abertura de uma nova Fundação.
A notícia pegou a todos de surpresa. Ninguém de sã consciência poderia imaginar as dificuldades que Demetrius vinha enfrentando ultimamente. Para muitos, foi até um ato de heroísmo e inteligência, especialmente para os entendidos em negócios, porque percebiam, pelo que foi
mostrado, que as dificuldades poderiam ter consequências graves, como a total perda do patrimônio sem que houvesse qualquer ressarcimento em troca. O povo chorou, lamentou, porém compreendeu que não havia outra saída.
Na manhã seguinte, Demetrius chegou acompanhado da mulher, dos filhos e dos assessores mais diretos ao cartório, onde assinaria a transferência e receberia os valores que concretizavam a transação. Foi assediado pela imprensa, porém em nenhum momento se
disponibilizou para qualquer esclarecimento a mais. Tudo ali naquele cartório se resolveu e o numerário depositado em sua conta foi instantâneo.
Logo estava em casa, rodeado da mulher e dos filhos.
- Vamos arrumar nossas malas. Iremos fazer uma longa viagem e, no retorno, pensar como serão nossos novos dias. – Informou Demetrius.
Em companhia da família viajou. Visitou muitos países europeus, foi ao Oriente Médio, à Oceania, menos aos Estados Unidos. Levou dois meses só passeando e conhecendo lugares e pessoas. No início de fevereiro do ano seguinte estavam de volta e recomeçariam a existência. Tivera tempo mais do que suficiente para refletir, dialogar com a esposa e os filhos e decidir como investir. Buscou inteirar-se dos negócios, das bolsas de valores e da situação das empresas.
Tomou conhecimento através de suas buscas, que famosa rede de organização bancária estava em sérias dificuldades pecuniárias. A rede tinha agências espalhadas por todo o território nacio- nal e algumas filiais no exterior. Tomou banho, vestiu-se impecavelmente e se despediu dos familiares.
- Aonde você está indo, Demetrius? – Perguntou Fábia, sua esposa.
- A São Paulo. Daqui a uns dias estarei de volta. Leia isto aqui e você entenderá o motivo de minha jornada. – Afiançou Demerius.
De fato. Passou apenas seis dias fora e voltou como Presidente do Conselho de Administração da referida rede bancária. Seu tiro dera sorte, pois, com a sequência dos messes, a organização começou a dar lucros impressionantes, a ponto de, no mesmo ano, Demetrius investir na aquisição de importante rede de hotéis, com matriz no Rio de Janeiro e filiais espalhadas pelas mais badaladas cidades do mundo, incluindo New York, Londres, Paris, Madrid, Lisboa, etc.
Os bons tempos estavam a fazer parte dos Antunes. Os gêmeos cresceram, ambos se dedicaram a estudar e se formaram em Administração de Empresas, isto porque Demetrius necessitava de
maneira urgentíssima dos serviços e abnegação dos mesmos. Esqueceram-se daquelas relações íntimas que haviam em si em relação a Ricardo Leitwig. Na cabeça deles, aquilo fora coisa de adolescência, em que, muitas vezes, de tudo se quer conhecer e decidir-se por qual caminho da vida trilhar. Ambos se formaram aos 20 anos e, aos 22, conheceram um par de gêmeas em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde se casaram e estabeleceram residência, devido aos interesses
das empresas da família. Tiveram muitos filhos, dois casais, cada casal. O futuro e a descendência estavam garantidos para darem prosseguimento aos negócios que passavam, de geração a geração.
Demetrius abriu uma nova fundação para controlar os
empreendimentos: Fundação Antunes Pais & Filhos. Um conglomerado de vinte empresas já estavam agregadas ao novo patrimônio.
Demetrius Antunes viria a falecer aos 89 anos e, Fábia, sua mulher, aos 85. Os gêmeos conseguiram ultrapassar a barreira dos 100 anos.
Hum... Mas é importante frisar que, coincidência ou não, com a venda da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes algo não mais aconteceu: repentinamente, cessou, de vez, a terrível herança biológica que se alastrou dentre os jovens Antunes. Da descendência de Miguel e Cláudio não se teve mais notícia de fatos concernentes à referida problemática.
FIM

C O M E N T Á R I O
Um dia começou-se do nada. Aos poucos e, progressivamente, o nada se transformou em tudo.
Às vezes se fica a pensar como determinadas pessoas, as quais, nada aparentam ter, de repente se mostram possuidoras de talentos que as fazem buscar a vitória e a conquistarem todos os ideias. Nada é questão de sorte... sorte tem quem luta, quem desbrava os caminhos e trilha as veredas do sucesso que são imantadas pelo amor ao próximo, pelo respeito, pelo desprendimento e pelo senso de justiça. Quem nada consegue, não é porque tenha sido invadido pela azar...
Azar simplesmente não existe... O que há é a falta de interesse pela vida, o que há é o “olho gordo”, que se compraz em desejar o que é alheio e não vai em busca da realização de objetivos próprios, conquistados mediante a faina limpa, justa e cristalina.
Hum... há também determinados aspectos no ser humano que carecem de uma explanação mais evidente... Como se explicar a hereditariedade? Os genes de Beto Antunes foram passados a todas as gerações de sua família e todos os jovens, exceto Otávio, provaram do sexo com o mes-
mo sexo, todavia mais tarde retrocederam e levaram vidas bipartidas até determinados pontos de suas existências, quando, repentinamente, romperam e seguiram pelas vias do que é considerado normal... Mas o que é normal? O que é anormal? Pode o amor existir em relações que não sejam as tradicionais? Ou o que ocorre é enfermidade biológica que, em alguns casos como na história, consertam-se com o passar do tempo?
Que fiquem estas reflexões, amadurecidas pela observação do que é a vida, mas que ainda estão imaturas, precoces e carentes de uma análise mais profunda e consistente e que dê ao ser humano a possibilidade do conhecimento total de si mesmo e do cotidiano que o rodeia.
Obrigado!
Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

GERAÇÕES - PARTE III - CAP. II

GERAÇÕES
PARTE III
CAPÍTULO II
Demetrius Antunes pediu com urgência ao setor de contabilidade a posição de todas as empresas ligadas ao sistema da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes. Era necessário percorrer com os olhos todas as contas, detalhe por detalhe. Os referidos pedidos chegaram à sua mesa de trabalho. Demetrius coçava o queixo... não era crível o que estava a contemplar. Nunca, durante todos esses anos de funcionamento, as contas apresentaram sinais vermelhos... Pelo menos metade dos afiliados se encontravam neste nível. Marcou, então, uma reunião urgente com os dirigentes que respondiam pelas respectivas empresas, pois, era mais do que urgente combater o mal pela raiz. O encontro foi acirrado e culminou com o afastamento imediato de alguns diretores, suspeitos que estavam de envolvimentos em fraudes e em negócios ilícitos em nome da Fundação. Era deveras preocupante a situação. Marcou uma reunião especial com o departamento jurídico, tinha em mente a reformulação dos Estatutos e desejava estudar com os advogados todos os pontos e ver onde poderia mexer e quais as linhas imexíveis. Ou fazia algumas mudanças, ou poderia levar ao colapso total um empreendimento histórico e que era orgulho da família e do povo.
Foi exatamente durante este espaço de tempo que, mais uma vez, os americanos voltaram a insistir pela compra do controle acionário do Grupo. Não havia com quem dialogar, seus assessores pareciam incompetentes, porque não eram capazes de opinar corretamente, sempre falavam que falavam e nada diziam que se aproveitasse. Justiça seja feita, a bem da verdade o próprio Demetrius não carregava em seu bojo de competência o sangue dos seus antepassados em relação a atos administrativos. Era esforçado, porém carente de uma inteligência que a muitos enganou... Demonstrou possuir em sua adolescência um perfil capaz de administrar com o tino dos antecessores que brilharam na cadeira da Presidência...Ledo engano, fogo de palha...Agora corria contra o tempo, os traços vermelhos que encontrou nas contas tinham de desaparecer e lucros saudáveis voltarem a ser a religião da Fundação.
Recebeu os americanos em seus escritórios. Para não ser um anfitrião solitário, convocou o chefe do jurídico para recepcionar os gringos junto consigo.
- Senhores, estamos abertos a negociações. No momento, passamos por um amplo estudo de reforma dos Estatutos e verei em que pontos dos mesmos poderemos mexer. Afianço-lhes, antecipadamente, que passar o controle acionário da Fundação ainda é coisa precoce, contudo pode-
mos conversar e abrir espaço para uma injeção de recursos...
- Estamos dispostos a investir 8 bilhões de dólares pela compra definitiva do conglomerado. Não vamos injetar recursos parciais, isto está fora de cogitações. – Explicou Gregory Tommy, o chefe da delegação que ali se encontrava.
- Com certeza é baita proposta... Todavia, peço mais alguns dias, até que tenhamos uma posição consolidada do quadro em que nos encontramos.- Pediu Demetrius.
- Trinta dias e nem uma hora a mais. – Concluiu Gregory.
Os americanos se retiraram. Demetrius e o chefe do departamento jurídico prosseguiram reunidos, haveriam de encontrar, dentro dos próprios Estatutos, uma mágica que os livrasse de negociar com os americanos da maneira como eles propunham.
Alguns dias depois, a Polícia Federal conseguiu desarticular uma quadrilha especializada em lavagem de dinheiro. Entre os envolvidos se encontravam 10 ex-diretores de empresas conglemeradas à Fundação e ficou provado um grande escândalo: tais diretores receberam altíssimas propinas para fraudarem as empresas as quais dirigiam... Um negócio sujo e ilícito. Não se pôde colher maiores detalhes: os referidos envolvidos foram misteriosa e sumariamente eliminados em pleno cárcere. A coisa parecia mais grave do que aparentava ser.
Enquanto isso, totalmente alheios aos problemas em que estava envolvido o grande orgulho da família Antunes, Cláudio e Miguel se fartavam na troca de carícias com Ricardo Leitwig. Formou-se, entre eles, um triângulo amoroso. Ambos os gêmeos estavam caídos de amores pelo garoto e, Leitwig, como não sabia diferenciar quem era quem, ora estava com Miguel, ora estava com Cláudio. Assim viveram muitos dos seus dias e, quanto mais o tempo avançava, mais apaixonados ficavam.
Demetrius conseguiu mexer em alguns pontos dos Estatutos e fez bruscas mudanças onde foi possível. Por exemplo, estavam abertas as possibilidades para qualquer funcionário ou pessoa indicada pelos Antunes para a ocupação da Presidência do sistema. Conseguiu, igualmente, mudar uma norma, que proibia injeção de capital estranho aos interesses da Fundação. Com a mudança, tanto capital nacional como estrangeiro eram bem-vindos desde que comprovadamente
necessários à saúde financeira e sobrevivência dos negócios.
Estava satisfeito. Os trinta dias estipulados por Gregory Tommy se esgotaram e, mais uma vez, Demetrius recebe a delegação em seus escritórios. Explicou aos gringos as mudanças realizadas e abriu imenso espaço para que os interessados na aquisição do controle acionário da Fundação pudessem investir livremente.
- Temos em nome do nosso Governo a última de todas as propostas que podemos fazer. Não nos interessa investimentos parciais, queremos o bruto do negócio – disse Gregory – pela última vez fazemos uma proposta: dez bilhões de dólares em espécie nas contas particulares daqueles que detêm o controle acionário. Mais nada faremos. Se nos der uma resposta negativa, tenha certeza, mais nunca receberá aqui em seus escritórios qualquer delegação americana interessada no mesmo assunto.
- E vocês farão este depósito de imediato? – Quis saber Demetrius.
- Sim. Sou o responsável pela transação. Sou secretário do Tesouro do meu país e, no mesmo instante em que assinar a venda do controle acionário, farei a transferência do numerário para sua conta particular.
Demetrius pediu uma hora para decidir. Teria uma conversa privada com seu chefe do departamento jurídico e no tempo previsto daria uma resposta definitiva.
- Veja, Dr. Agnaldo, sabemos que a saúde da Fundação está em derrocada. Mesmo com as mudanças que providenciamos, os efeitos são a longo prazo. Eu estou em cima do muro. - Falou Demetrius.
- Eu não pensaria duas vezes, Demetrius Antunes. Não importa quais sejam os verdadeiros interesses destes gringos, importa ser consciente e saber que, caso jogue fora, mais uma vez, a oportunidade, muito brevemente poderá estar amargando uma falência total... aí, nem Fundação, nem dez bilhões de dólares... – Emitiu Dr. Agnaldo seu parecer.
Mesmo diante de tantas evidências, Demetrius Antunes não tinha em seu íntimo uma decisão formalizada. Sabia que, com dez bilhões de dólares, poderia iniciar tudo outra vez e edificar um novo império, contudo vinha à sua lembranças a luta dos antepassados em preservar algo que fora construído com tanto sacrifício e amor. Estava desesperado... Mordia os lábios, roía as unhas... Pensou também: Dr. Agnaldo tinha plena razão: ou vendia e pegava na “grana preta” ou num espaço de tempo estaria sem nada... sem o dinheiro, sem a Fundação...
Pediu que os gringos retornassem. Havia, finalmente, chegado a um consenso consigo mesmo e que Deus abençoasse sua decisão, pois, dependia apenas de si decidir e assinar...
- Amanhã, às dez horas da manhã, no cartório de ofícios responsável, estaremos concluindo esta negociação., - Disse Demetrius.
- Meus parabéns, sr. Demetrius, sua decisão é inteligente... – Aplaudiu e o abraçou, Gregory.
AMANHÃ - CAPÍTULO III DESTA PARTE III - CAPÍTULO FINAL

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

GERAÇÕES - PARTE III - CAP. I

GERAÇÕES
PARTE III
DECADÊNCIA
CAPÍTULO I
Nada segue sempre em linha reta se as atitudes postas em prática não estiverem de acordo com objetivos traçados e não apresentarem o digno desejo de vencer. A Fundação Mercantil Dagoberto Antunes sempre palmilhou estradas em que o bem e a justiça caminhassem juntos. Seus dirigentes máximos eram devidamente preparados para atuarem dentro de uma mesma linha de conduta: a organização e os negócios fazem parte de uma grande família; os funcionários são irmãos e, de mãos dadas, todos se dedicam na busca da grande vitória: o progresso. Assim, todos ganham e a Entidade cresce e distribui igualitariamente os pendores conquistados. Ninguém é maior que o outro, desde os mais humildes ao Presidente, a essência do pensar é a mesma: fraternidade, solidariedade e respeito.
Cláudio e Miguel estavam sentados, um de frente para o outro, no alpendre da mansão em que residiam. Tinham em mãos a cartilha da Fundação onde rezavam todos os alicerces de comportamento profissional praticados e aprendiam, discutindo entre si, ponto por ponto do que foi, é e será eternamente os preceitos de trabalho e crescimento que compunham a Fundação e todos os seus conglomerados.
- Muito legal a forma como se caminha dentro dos nossos estabelecimentos, não acha Miguel?
- Sim, Cláudio, é por isso que chegamos onde estamos e vamos continuar andando dentro desses mesmos preceitos.
- Quem um dia estará sentado naquela cadeira de Presidente: eu ou você? – Cláudio aventurou.
- Ou eu ou você, o que ali sentar-se seguirá com determinação o que ensina esta cartilha. – Frisou Miguel – Um de nós será o Presidente e, o outro, o Vice, sempre alinhados perante a concórdia e o bom-senso.
Dali se levantaram e foram tomar banho, havia uma festa na escola, festejos de enceramento do ano letivo e eles não queriam estar ausentes.
Irmãos gêmeos e muito unidos, tudo faziam juntos, inclusive o banho. Enquanto se banhavam também conversavam e trocavam ideias.
- O que você acha de Ricardo Leitwig, Cláudio?
- Um bom colega de classe... Por quê?
- Ele tem uma maneira esquisita de falar com a gente...já percebeu que com ninguém mais ele tem um jeitinho todo especial de tratar? – Inquiriu Miguel.
- Sim, tenho os mesmos olhos clínicos que os seus... Ele só fala comigo e com você alisando nossos cabelos, passando a mão de leve em nossos tórax... realmente, meio esquisito. – Cláudio concordou – Você gosta de ser tratado assim por ele?
- Se gosto ou não, francamente não sei... Só sei que há momentos em que fico todo arrepiado e até excitado em outros...Confessou Miguel.
- Como nunca houve e jamais haverá segredos entre eu e você, digo: também me sinto exatamente do mesmo jeito... é uma sensação gostosa... Parece-me que ele é bastante carinhoso...
Disse Cláudio.
- Que ele é carinhoso, não tenho dúvidas... – Miguel falou – Você deixaria ele acariciar seu corpo inteiro se houvesse uma oportunidade?
Cláudio olhou para o irmão que se enxugava e percebeu que a pergunta fora feita num instante em que o mesmo estava num estado de bastante excitação.
- Eu gostaria de passar por esta experiência – Cláudio afirmou e tocando de leve num membro que saltava faíscas, completou – e, pelo visto, você também...
Miguel sorriu e balançou a cabeça como a dizer que estava de acordo com ele.
Sofia Antunes e Demetrius conversam na sala da Presidência. Um tema importante estava sendo tratado pela Diretoria administrativa da Fundação.
- O que você acha, meu filho, de fazermos esta abertura nos Estatutos? – Questionava Sofia.
- Seria pôr um fim a uma dinastia que a história do nosso grupo consagrou... Abrir espaço para quem não é um Antunes poder sentar na mesa do Presidente é algo que precisa ser bastante analisado e discutido. De minha parte, sou contra esta emenda. – Demetrius se colocou.
- Necessitamos de pensar no futuro, meu filho – defendia-se Sofia – a família Antunes é pequena. Caso chegue o dia em que não houver um representante da família para ocupar o cargo, o Governo encampa e a Fundação passa a ser órgão estatal, é o que rezam os estatutos.
- Temos aí Cláudio e Miguel que darão seguimento aos nossos descendentes, não vejo motivo para esta sua preocupação. – Frisou Demetrius.
Sofia Antunes, dias depois, começou a sentir-se enjoada, cansada e indisposta. Julgou não ser nada demais tais sintomas e ficou calada, nada comentando. O mal se agravou. Ela fora dormir com uma forte dor de cabeça e não mais se acordou... falecera de mal súbito.
Seu desaparecimento causou grande inconformismo diante da família e do povo. Era uma mulher notável, muito amada por todos. Seus funerais ocorreram debaixo de intensa comoção.
Demetrius assumiu a cadeira de Presidente. Embora formado em Administração, Demetrius Antunes não possuía em suas veias os mesmos caracteres de competência que tiveram seus antecessores. Para completar, escolhera muito mal seu Vice-Presidente, pondo no cargo
uma pessoa que não havia em seu íntimo o desprendimento e o interesse de crescer, o que desejava tão somente era olhar a conta bancária e sorrir, vendo-se possuidor de grande fortuna e a capacidade que tinha o dinheiro de tudo resolver... nem tudo!
A festa de encerramento do ano letivo fora um sucesso. Cláudio e Miguel ficaram todo o tempo em companhia de Ricardo Leitwig. Ricardo estava na mesma faixa etária dos gêmeos, havia 15 anos, perto de chagar aos 16. Era também loiríssimo e possuía belos olhos azuis,
que chamavam bastante atenção e que eram ponto forte de sua beleza. Sua pele brilhava de tão alva e parecia seda, de tão macia.
- Ricardo – falou Miguel – venha amanhã tomar banho de piscina conosco lá em casa.
- Eu não, seus pais podem não gostar. – Respondeu Ricardo Leitwig.
- Não seja por isso – explicou Cláudio – Estaremos sós em casa, eu e Miguel. Todos viajarão e participarão de um congresso no Sul do país e poderemos ficar bem à vontade.
- Está bem, irei. Em que horário querem que eu esteja lá?
- Oito horas da manhã – retrucou Miguel – e teremos o restante do dia só para nós.
Na manhã seguinte, Ricardo Leitwig chegava no horário aprazado. Os gêmeos já estavam de sunga, à sua espera.
- Trouxe sunga? – Questionou Cláudio.
- Claro. – Respondeu Ricardo.
- Venha, deixe suas roupas aqui debaixo desta coberta. Aí nos vestiários providenciamos uma toalha para você se enxugar após o banho de piscina.
Ricardo retirou as vestes e ficou igualmente apenas de sunga sob os olhares dos gêmeos que o vislumbrava atônitos. Molhou-se com água do chuveiro e mergulhou. Os irmãos fizeram o mesmo. Estavam todos alegres e brincando. Ficaram na piscina até três horas da tarde, quando
saíram, enxugaram-se e foram comer alguma coisa na cozinha. Não voltaram mais para a piscina, os gêmeos o levaram até o andar superior, onde se localizam os aposentos.
- Toma banho junto conosco, Ricardo? – Perguntou Miguel.
- Rapaz... sou meio vergonhoso... mas... – Disse Ricardo.
- Fique tranquilo. Fechamos a porta do quarto e só nós estamos em casa, podemos estar à vontade – Falou Cláudio.
- Sem problemas, vamos lá...
E os três despiram-se totalmente e entraram dentro do “box” na maior algazarra. Brincaram de jogar água um no outro e fizeram todos os tipos de estripulias, numa alegria contagiante.
- Fico pasmo em olhar para vocês dois – confessou Ricardo – além de serem belos, são exatamente iguais, não consigo desvendar qualquer diferença entre vocês.
- Somos gêmeos idênticos – colocou Miguel – há em nós os mesmos gostos, desejos e aspirações...
- E o que vocês mais desejam, digamos, neste momento? – Ricardo questionou.
- Hum... – Cláudio fingia pensar – digamos, como você diz, que tanto o meu desejo quanto o de Miguel seja ter a possibilidade de fazer carícias neste corpo lindo que você tem...
- É este também o seu desejo, Miguel? – Ricardo quis saber.
- O desejo de um gêmeo normalmente é o do outro. – Miguel retrucou.
E se entregaram as mais excitantes carícias, os três. No fim, o trio mostrava-se plenamente satisfeito.
- Vamos tomar outro banho – sugeriu Ricardo – preciso voltar para casa. Contudo, gostaria de que vocês mantivessem sigilo sobre tudo o que aqui se passou.
- Tranquilo – falou Cláudio – é interesse nosso que este sigilo se concretize.
Ricardo retornou ao seu lar. Os gêmeos estavam contentíssimos.
- Nunca imaginei ser tão bom participar de uma relação desse tipo. Estou, ainda, no mundo da lua. – Disse Miguel,
- Nossa! Que delícia! E com um carinha tão lindo quanto Ricardo, hein? Ufa! É de tirar o fôlego...
As coisas não andavam bem na mesa da Presidência da Fundação. Demetrius parecia bastante preocupado com a situação de alguns negócios... Foi obrigado a desfazer-se de dois conglomerados a fim de equilibrar a receita... a estas alturas, muito mal direcionadas e gerenciadas.
AMANHÃ - CAPÍTULO II DESTA PARTE III ( RETA FINAL )

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

FANTASIA

Gostaríamos bastante de entender... o que é uma fantasia?

Mundo imaginário? Sublevação do raciocínio ao êxtase?
Ah... Talvez apenas seja uma supra-realidade,  nada mais...

Na consciência há um universo imaterial de múltiplas formas
Que se adequa aos compassos traçados pela mente que cria
Uma aparente realidade de acordo com arquiteturas possíveis.

São traços surreais plenamente abstraídos por uma ideologia
Que fomenta a invenção do que não existe perante o olho nu
Que tudo identifica, tudo toca, tudo digere sem platonismos,
Porém democraticamente subornado para acatar como real...

É o enxoval artístico que embeleza o cenário da sensibilidade
Tão saturada pela semântica de nomenclaturas diversificadas,
Mas que trazem em seu bojo a legítima tradução que expressa
O dinamismo do talento engendrado para construir o belo...
Adereços, alegorias, inconsciência... Fantasia é isto: sonho!


GERAÇÕES - PARTE II - CAP. VI

GERAÇÕES
PARTE II
CAPÍTULO VI
Como o tempo é senhor da vida do homem, logo estavam os alemães retornando à Europa após quarenta dias de curtição em solo brasileiro. Sigmund e Demetrius choraram abraçados no aeroporto e isto provocou comentários entre seus familiares.
- Nossa, Sofia, como eles se gostam! – Comentou Carla.
- Pois é, tornaram-se verdadeiros amigos e agora se despedem. Vão sentir muito a falta um do outro. – Disse Sofia.
Demetrius adoeceu com a partida de Sigmund, contudo, semanas depois estava recuperado e de retorno às costumeiras atividades.
Os americanos voltaram a insistir, mas sempre ouviam “não” às suas pretensões.
Demetrius completava 20 anos e concluía o curso de Administração. Seu pai, Fernando Azim, havia falecido há dois anos e Sofia apenas esperou que o filho completasse os estudos a fim de introduzi-lo nos negócios da Fundação, nomeando-o Vice-Presidente. Demetrius conheceu uma
linda moça, que se candidatava a ser estagiária na Fundação. Ficou deveras impressionado com sua beleza e surgiu um namoro entre eles. Fábia era descendente de ingleses e de uma beleza indescritível. Os dois estavam apaixonados e se casaram dois anos depois. Viajaram pelo mundo em lua de mel e, na Alemanha, Demetrius reencontrou Sigmund, na atualidade um advogado de muita competência e bastante sério. Também se casara e já era pai de uma menina de um ano e meio. Conversaram pouco e não tocaram no assunto que os envolveu na adolescência, agora morto e sem perspectivas de futuro.
Voltaram da lua de mel. Demetrius retornou com uma ideia fixa na cabeça: iria dedicar-se, também, à politica. Esta decisão não achou ressonância em Sofia, que temeu pelo futuro do filho.
- Não acho uma boa... Somos pressionados por todos os lados pelos americanos a fim de vendermos nosso patrimônio e, lendo documentos antigos de nossos antepassados, a política trouxe uma grande tragédia à nossa família. Ìgor Antunes, que foi político de renome e candidato à
Presidência da República, foi assassinado traiçoeiramente por questões ligadas a tudo isso e,até hoje, sua morte nunca foi esclarecida, nem será... Você quer ter o mesmo fim, meu filho?
- Indagou Sofia, preocupada.
- Mãe, para cada momento, uma história. Tenho meus projetos, lógico, mas não os escancararei como fez o “bestão” do Ígor, com todo o respeito que ele possa nos merecer. Minha plataforma de Governo só será conhecida depois que eu tomar posse e estiver governando, aí o povo e o mundo saberão quais são meus projetos para o país. – Frisou Demetrius.
- Como você é bobo e inexperiente, Demetrius. Não observa que hoje as investidas deles sobre nós são muito mais frequentes de que naquela época? Pense e repense e veja que estou com a razão. – Finalizou Sofia.
Demetrius levou a sério todas as considerações colocadas por sua mãe diante de si. Realmente ela estava certa. Desistiu de enveredar pelo caminho da política. Um fato o faria nem tão cedo fazer tal cogitação: Fábia estava grávida de gêmeos. Eram os primeiros gêmeos na história da família Antunes. Nove meses depois, nasciam de parto cesariano Cláudio e Miguel Antunes.
Sofia deu uma festa para comemorar e os festejos duraram um fim de semana inteiro, pois, como os Antunes eram adorados pelo povo, as festividades tiveram a participação do público, com almoços e danças entre todos, numa mistura alegre e salutar.
Os anos evoluíam no calendário. Fábia não quis mais engravidar e fez ligação de trompas. Demetrius estava muito feliz com seus filhos, que eram lindos e tinham, para não perderem as caracterizações típicas dos Antunes: eram loiros e de profundos olhos verdes.
Os gêmeos completavam 15 anos. Demetrius programou um mês inteiro de festividades. O povo babava, ninguém queria ficar de fora ou perder qualquer que fosse o festejo, todos faziam questão de mostrar e lembrar que os Antunes eram uma tradição e que esta família pertencia eles, em qualquer lugar da Nação, especialmente nas cidades de W e K.
Cláudio e Miguel faziam sucesso onde chegavam. Lindíssimos, extrovertidos, alegres, tudo faziam para encantar, desde os mais novos, aos mais velhos. Sofia envelhecia a olhos vistos, mas nem por sonho falava em entregar a Presidência da Fundação, o maior orgulho do povo e dos familiares.
Os americanos prosseguiam insistindo, porém o “não” igualmente seguia sendo a resposta dos Antunes. Acredita-se que eles pensassem assim: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, e como os Antunes eram “osso duro de roer!”. Foi por esta época que os donos da Funda-
ção perderam entes queridos. Carla, irmã de Sofia, falecera na Alemanha. Posteriormente, fora a vez de Esmeralda, vitimada pelo mal de Parkinson.
Cláudio e Miguel saíam pontualmente da escola ao meio dia. Determinada sexta-feira, receberam um recado em sala de aula, antes do toque final, levado pela coordenação do estabelecimento em que estudavam. A condução enviada por seus pais todos os dias para os levarem para casa havia quebrado e eles deveriam acompanhar uma outra, contratada emergencialmente para esta ocasião. Ingenuamente as crianças seguiram as orientações...
Demetrius estava em seu escritório quando recebeu estranho telefonema:
- Tenho certeza de que o senhor ama muito a seus filhos e os quer de volta, não é mesmo? - Inquiria uma voz esquisita do outro lado da linha.
Demetrius perdeu o fôlego... Logo compreendeu que os filhos haviam sido sequestrados.
- Pelo amor de Deus, não façam mal aos meninos – Pedia desesperado.
- Ah...! Aqui somos nós quem mandamos, somos nós que estamos no comando...Arrogante!
- Diga logo quanto querem... quanto querem de resgate? Digam! – Demetrius gritava.
- Não grite, idiota! Pensa que porque tem dinheiro tudo pode? Ledo engano... De imediato não é dinheiro que desejamos. Você vai exigir de sua querida mamãe que assine, de uma vez por todas, a venda da Fundação aos representantes dos americanos... caso isto não se faça, tenha certeza, nunca mais verá seus filhos, nunca mais...
- Como vocês podem exigir algo que não depende de mim? Eu não sou o Presidente da Fundação, nem tenho este poder sobre ela... – Demetrius falou.
- Isto não é problema nosso... Tem mais: deixe a polícia fora do caso. Caso percebamos que a polícia foi acionada e até o Governo, seus filhos virarão alimento de abutres. Voltaremos a nos falarmos, palerma...
Desligou o telefone. Demetrius segurou o queixo com as mãos e chorou abundantemente. Jamais poderia imaginar que a situação chegasse a este ponto. Levantou-se e foi em busca da mãe na sala da Presidência.
- Não sei mais o que fazer, minha mãe... Eles sequestraram meus filhos e exigem...
- Calma, Demetrius. Não podemos entregar os pontos, haveremos de encontrar uma saída para resolvermos este impasse. Lembremos que os americanos estão envolvidos nisso... – Tentou acalmar Sofia.
- Enquanto isso meus filhos correm riscos de vida...- Lamentava-se Demetrius.
- O que eles querem: que eu formalize a venda da Fundação... Isso não podemos fazer... Tenho um plano de ação... – Sofia disse.
- Qual? minha mãe, qual?
- Reúna imediatamente nossos jornais, rádio, revista e televisão, mas apenas os nossos... – Pediu Sofia – Faça isto com urgência e sem perda de tempo.
Neste ínterim, Fábia entra totalmente fora de controle na sala da Presidência.
- Calma, Fábia, estamos tentando encontrar uma maneira de solver este assunto. Toda a calma neste momento é mais do que necessário... – Pediu gentilmente Sofia...
Fábia só fazia chorar que chorar, estava plenamente em estado de choque. Os médicos da Fundação foram solicitados a fim de atenderem a todos quantos manifestassem nervosismo.
Tudo o que Sofia encomendara a Demetrius acabava de entrar em sua sala.
- Preparem tudo porque irei fazer um pronunciamento em rede nacional. – Sofia exigiu.
Tudo preparado e Sofia falou em cadeia de rádio e televisão para todo o país, somente utilizando da mídia ligada ao seu complexo administrativo.
“Senhoras e senhores, boa tarde! Tenho meus netos, gêmeos, Cláudio e Miguel, 15 anos, sequestrados por um bando de marginais que agem sob o comando de um poder americano. Eles exigem que eu assine a venda da Fundação e de todos os nossos conglomerados para que soltem as crianças, caso contrário, segundo eles, nunca mais veremos os gêmeos. Peço, neste momento, que toda a Nação se una a nós, que elevem seus pensamentos ao Alto e perguntem a Deus, nosso Criador, se é justo o que fazem com dois meninos indefesos... Que tem eles com os problemas do mundo? A Fundação Mercantil Dagoberto Antunes é um patrimônio do povo brasileiro e eles querem nos tomar o que nos pertence...e sabem vocês a razão disto tudo? É que nossa
Fundação tem negócios sólidos na Amazônia... Estão conscientes do que isto representa? Representa água, a Amazônia é uma das regiões do planeta onde se concentra grande quantidade de água doce que, num futuro bem próximo, valerá ouro, pois, as águas do mundo estão se acabando, por este motivo eles há tantos anos insistem para que vendamos a Fundação e, assim se-jam os donos da água... Mas nós não arredamos nossos pés, não venderemos por nada o que
legitimamente foi edificado à custa de muita luta e sacrifício de muitos. Portanto, é justo o que fazem com dois jovens inocentes? É justo? É só senhores, muito obrigada pela atenção de todos. Boa tarde!”
A nação inteira tomou ciência do que se passava. Um misto de revolta e raiva tomou de conta da população. Governo e polícia entenderam que não deveriam entrar no problema e pacientemente aguardaram o encaminhar das negociações.
Os sequestradores a tudo assistiram. E a ordem veio de cima:
“Soltem os meninos... nada mais há a ser feito, por enquanto... Soltem os meninos, e logo...”
Cláudio e Miguel foram abandonados totalmente nus numa estrada deserta. Foram socorridos por um morador do campo que, reconhecendo-os, levou-os para sua casa e, de lá, entrou em
contato com Demetrius, que pegou seu carro e, em companhia de Sofia, foram resgatá-los.
Imediatamente a notícia do reaparecimento com vida dos meninos chegou ao público e todos fizeram, mais ou menos, os mesmos comentários, em todos os recantos:
“Não é à toa que Sofia Antunes ainda é Presidente da Fundação. Que mulher de fibra! Que mulher porreta!”
AMANHÃ - A RETA FINAL QUE SERÃO 3 CAPÍTULOS
AMANHÃ - PARTE III - CAP. I