segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

ESTIO




Soturno olho pela janela
A chuva é castigo dos deuses
Após estiada de longos meses.

Vento forte. As portas batem
E as janelas tremem de soslaio
Enquanto o frio é apenas ensaio
Permitindo que calores retratem
As luzes pálidas dos embates...
Assim estarei mais e mais vezes
Após estiada de longos meses.



DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 17 de fevereiro de 2019

MÁ SORTE



Azar, jogo da vida.
Ó azar!
Como o Sol
Que queima invariável
Naturalmente bronzeando
E tostando
A existência inusitada!

Inicialmente reprime,
Depois enfeitiça,
Porque a consciência é aleatória...
Riqueza das massas!
Desejar o inóspito,
Derreter as ideias
E um destinatário
Repleto de dúvidas...

Mundo oco,
Azar dos povos,
És uma irreverência inaudita!
Em tua maldade
Sempre buscas o tudo
De forma aparente
E obviamente desajeitado...

Azar – Não podes abençoar,
Posto que és um trevo
E em meu corpo desnudo
Deixo ao relento
Tua maldição.

O futuro é inolvidável
E à saúde do planeta
Forneces e roubas
Tanto uma verdade platônica
Como o orgulho néscio.

Não és abolicionista
E rapidamente,
Agora,
Implode a realidade
Já que és a mentira
E a hipocrisia não é fraca,
É uma aparência mais virtuosa.
Salve-se quem puder!



DE  Ivan de Oliveira Melo

ESPAÇO TERRESTRE



  
Aqui, rasteja-se o dia...
Esplendorosa,
A Lua que inspirou à arte,
Esconde-se dentre as nuvens
Na imensidão...
Isso na superfície terrestre.

Pelos subterrâneos da vida,
A existência é um incenso
Onde as multidões respiram
O perfume da sobrevivência.

Perante os campos,
As flores derramam o êxtase
Que inebriam os olfatos
E as árvores se divertem
Expelindo os gases
Que mantêm vivos os seres.

Os ramos vergam-se enfeitiçados
Pelo brilho do verdor natural
Enquanto os vultos se descansam
Sobre as sombras onde há brisas.

A felicidade é o broto da natureza
E, diante do aroma que inunda a atmosfera,
Uma doce alegria se espalha
Trazendo o bálsamo do sorriso singelo.

Perante as naves
Donde os deuses são evocados
Há uma intensa energia que, anômala,
Penetra nos vagões dos organismos
E transforma o espaço em esperança...

Animais, vegetais, minerais, rios, oceanos...
Tudo é fruto de uma conquista intrínseca
Chamada carinhosamente de amor!



DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 16 de fevereiro de 2019

MASSA & ENERGIA




Tombar irão minhas pernas na rua
E meu vulto me alevantará do chão...
Meu espírito não voará como borbotão,
Pela penumbra fugirei da reles agrura...

Destarte fincarei meu pé no precipício,
Tenho unguento para sarar as feridas,
Meu pensamento cantará as despedidas
E estarei são e salvo desses vis indícios.

Fantasma a quem devo minha liberdade
É o vulto que me singrou da fatalidade,
Deixando-me envolto e livre nas sombras...

Meu corpo não ficou ferido... Sem defeito!
Sei que um dia serei cinzas, serei rarefeito
Para que no espaço possa tornar-me ondas!


DE  Ivan de Oliveira Melo


PRELÚDIO



Tudo
Acontece.
Estresse
Desnudo.

Nada
Converso.
Verso
Pirata.

Feliz
Quis
Renascer.

Triste
Inexiste
Você.


DE  Ivan de Oliveira Melo

( SONETO DE PALAVRA ÚNICA EM CADA VERSO )


Direitos Reservados.

CONFIGURAÇÃO



Falecido! – Eis como estou neste orbe hediondo!
Sem visão, sem sentimentos... Vida assaz dissipada
Pela morte que não perdoa... Já não sou mais nada
E minhas carnes devoradas e o corpo em estrondo!

Cemitério esdrúxulo! Corvos que saqueiam vermes
Dentre as parafernálias da gleba úmida... sem brilho!
E eu, destronado da Terra, permaneço sem estribilho,
Totalmente decepado por garras nojentas de germes!

A inconsciência é minha fotografia dentro do túmulo.
Desmoronou meu coração dilacerado de dor! Absurdo
É o engenho miasmático que destrói a consciência sã!

Amarga desventura é presenciar as mazelas deste fim...
Alucinógeno estarei configurado eternamente assim,
Sem a oportunidade de vomitar minha estrutura pagã!  



DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

CONVERSÕES




As horas se passam, os costumes se perpetuam,
Trocam-se os assuntos, transformam-se as ideias...
Por isso se vive num universo de metamorfoses,
Onde se muda de roupa em todos os instantes.

O que é velho caduca, o que é novo se sobressai,
Distintos são os minutos que o tempo configura...
Gravam-se as tragédias como ensinamentos sãos
E as bem-aventuranças são bonanças do futuro.

O solo é massageado pela espera que se aglutina
Perante as melodias em cujos naipes há esperança
Enquanto as canções indigestas tornam-se silêncio...

Diante das trocas que se anunciam como retratos,
Há espasmos que se justapõem à cretinice das eras,
Dizimando tradições enfurnadas no esquecimento!


DE  Ivan de Oliveira Melo



ETAPAS ÍNGREMES



Ideias que se chocam numa consciência abstêmia,
Doutrinação eclipsada pela ortodoxia do conhecer
Que, através de longas jornadas existenciais, pariu
Do pensamento uma cosmovisão isenta do néctar.

As reflexões instrumentais vivem num campo a sós
E transmudam de recinto à mercê da vontade ímpar,
Que é a associação dos bens materiais com o irreal,
Atormentando o íntimo que não respira ar excelso.

Há mutações do éter que congregam feixes de dor,
Todavia soletram, a cada passo, os enigmas da vida
Sem que se saiba, ao certo, onde obter fotografias...

No espaço metafísico há transcendências noctívagas
E, nos espelhos que traçam a beleza deste universo,
Ficam dissipados os negativos dos retratos oníricos!



DE  Ivan de Oliveira Melo   

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

ANTAGÔNICOS




Caduquei diante duma fantasia
Que era uma augusta estrela...
Na verdade, era uma anatomia
E muito difícil me foi esquecê-la.

Sapiência ardente, cruel confete!
Discorri sobre um átomo beato...
Todavia havia um ponto abstrato
Onde a serpentina era o escrete!

De dentro para fora e vice-versa,
Tal alegoria era a mera conversa
Entre as mechas do cabelo pixaim...

Rasguei do coração anátemas vis
E percebi que em utopia há ardis
Donde o mau é bom; o bom, ruim!


DE  Ivan de Oliveira Melo


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

PALPITES




Sabe-se que a noite é uma boa conselheira...

A mente precisa de estar em constante operação,
Pois dizem que cabeça vazia é oficina do diabo.

Amontoem-se o que não convém e o que convém,
As conclusões serão necessárias para o dia a dia
E que os gostos fiquem de lado, à espera da cirurgia...

É verdade que gostos não se discutem, lamentam-se!
É o produto que interessa, basta lembrar sempre:
As melhores fragrâncias estão nos menores frascos,
Paciência e calma:  devagar se chega bem distante.

É deveras importante ser dono da própria boca
A fim de que não se torne escravo das palavras...
O mundo é exato o que se vê, portanto atirar certo:
Só se atira pedras em árvores que dão bons frutos, mas
Não esquecer que esta mesma árvore dá frutos maus.

Ah! Após dias de chuva intensa, vem o Sol acolhedor,
É quando se aplica o ensinamento: depois da tempestade,
Certamente vem a bonança e, de tostão em tostão, milhão!
Que a cabeça seja o guia... Às vezes, por falta de um grito,
Perde-se toda a boiada, nem os dedos das mãos são iguais.

Estar deveras atento em derredor de si mesmo, ter cuidado!
Por quê? Porque quando a cabeça não pensa, o corpo padece.
Trabalhar que trabalhar... O cesteiro que faz um cesto, faz cem
E é o acúmulo das boas ações que faz um homem milionário!

Na boca de quem não presta, quem é bom não tem valor...
O silêncio deve ser a alma de qualquer empreendimento,
Porquanto em boca fechada não há perigo de entrar moscas!

O velho provérbio vale muito: palavra é prata, silêncio é ouro.
Não esquecer que durante a noite todos os gatos são pardos

E que perante à luz do Sol quem rir por último, rir melhor!


DE  Ivan de Oliveira Melo

POEMA INSPIRADO EM PROVÉRBIOS DO NORDESTE BRASILEIRO.

( TALENTAI DUPLO )




domingo, 10 de fevereiro de 2019

BEBERAGEM



Não me permita que a fome me mate
Nem me deixe sedento e tão escarlate,
Porque o sangue não coagula e morro,
Por isso meu espírito vagueará de novo
E ficará perdido dentre frias nebulosas...
Não me permita que o silêncio me tolha,
Pois diante do vozerio da turba a escolha
Se faz mediante as horas ainda dengosas
E dos cálices das bebidas assaz capitosas...
Bebamos do outono, a polpa das folhas!



DE  Ivan de Oliveira Melo

sábado, 9 de fevereiro de 2019

AURORA




É a manhã a porcelana de um dia,
Desperta-se a terra ante o orvalho
De uma sensibilidade que é o talho
Donde se obtém poema em sangria.

A sensualidade opera no amanhecer
A inspiração da neve que cai no crisol
E se alastra na atmosfera e no arrebol
Oferecendo o bálsamo do real prazer.

Sempre se tem a certeza que agonia
O êxtase que se manifesta no âmago...
Quando o trovão sucede ao relâmpago,
Há a voz do tempo que é a nostalgia...

Cedo ou tarde o amor que era ausente
Descortina-se diante do húmus luzente!


DE  Ivan de Oliveira Melo


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

DILÚVIO



No seio da floresta o vento assobia
E tenebrosa tempestade desaba...
Balouçam os galhos tépidos em agonia
E, pelo uivo dos lobos, fenece a mata.

Riscam os céus relâmpagos atrevidos,
Animais em polvorosa buscam refúgio
Nas fendas onde gritos são os gemidos
Que cantam sobre as notas do prelúdio.

Ressoam os austeros trovões cósmicos
Que assustam de medo todos os trópicos
Já cansados pela água que inunda os vales...

E a chuva castiga o solo arenoso e tíbio...
No frio se congelam as vozes do fascínio
Dos indivíduos acovardados em seus xales!



DE  Ivan de Oliveira Melo  

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

SALVE O VINHO!




Eis o vinho!
Eis a chuva!
Roxa é a uva;
Branco, o linho.

Desejo o ninho
Dos ovos de ouro!
Eis, então, o tesouro,
Botija do meu pinho.

Do vinho, bebo;
Do tesouro, gasto.
Bem-vindo ao pasto,
Aqui tudo é sebo.

Quero meu gole
Do branco ou tinto;
É que estou faminto
Do vinho que me engole...

Salve a videira dos anos!
O vinho é meu mestre;
Nele me afogo, pedestre
Do tempo e dos danos...

Eis o vinho, ainda!
Sabor dos parreirais;
Cambaleio, mas vou atrás
Dessa bebida assaz linda!

Dionísio me despertou
Através das doses da vida;
Agora já não há mais saída,
Beber que beber: vinho, amor!

À cata da noite estrelada,
Dá-se com o vinho a tiracolo;
E, para a festa, convido Apolo
 A brindar dos deuses à sua fada!


DE  Ivan de Oliveira Melo


ESTE POEMA É UM DITIRAMBO.

Na Grécia Antiga, poema dionisíaco.

MADRIGAL PASSIONAL



Vejo na penumbra apenas tua sombra
E teu vulto a escalar um desejo sóbrio;
Teu apetite é vasto e me jogas nas ondas
Dum mar revolto que me retira do ócio
E me faz ter profundas convulsões de amor.
Dardejo-te ao enviar a ti um beijo multicor
E de receber em troca rebeliões de carinho.
Minh’alma sorve-te o olhar e, de mansinho,
Copula em palavras um manancial de prazer
Onde o nada é tudo e tudo pode acontecer...
Apenas há convicção de que muito te quero
E a certeza de que teu amor em nada é estéril!


DE  Ivan de Oliveira Melo


domingo, 3 de fevereiro de 2019

TEMPERO INTELIGENTE



Grandes portas são abertas com pequenas chaves,
Esta verdade vem do coração, não das línguas...
Na realidade, os ventos levam para longe as palavras,
Pois aquilo que se inflama rapidamente, logo se extingue.

É cósmico ser taciturno,
Porque é no silêncio que se obtém prudência e sabedoria.
Com a tranquilidade aos nossos pés, observa-se o que convém,
Porquanto quando se vê apenas o que interessa,
Certamente se passa a ser cego por opção.

Na vida há muitas estradas:
Umas bem cuidadas; outras, esburacadas, cheias de obstáculos,
Porém aquele que se torna vencedor, é o que não pisa outrem.
O homem pode ser mais duro que o ferro,
Mais forte que uma pedra,
Contudo é mais frágil que uma rosa.
E o bom samaritano é o indivíduo
Que sabe escutar cem vezes, ponderar mil,
No entanto só em uma oportunidade abre sua boca.

É necessário ser sábio, compreensivo, solidário,
Visto que se a chama que há no íntimo da criatura apagar-se,
As almas que estiverem ao lado passarão a sentir frio.
O bom servo está sempre pronto a intervir...
É bom lembrar que por amor a uma rosa
O fiel jardineiro serve a mil espinhos.

Nada é tão difícil, nem tudo é tão fácil.
A própria água não discute com os obstáculos,
Não obstante contorna-os!
As vitórias não são perenes,
Elas são como um lago que ganha forma gota a gota.

Pequenos detalhes não analisados
Podem ser veredas para derrotas,
Basta lembrar que a mosca é ínfima,
Entretanto grande é o tormento que causa.
Não se deve dar tino ao orgulho,
A humildade é a alavanca do sucesso,
É como as palavras que são prolatadas com amabilidade:
Elas têm o poder para abrir portas de ferro.

O conhecimento é essencial para a vida.
Aquele que não ilustra seus filhos do saber,
Ensina-os a ser ladrões.
Tudo é passageiro:
A beleza passa, a riqueza às vezes se perde,
O saber é eterno.
Olhe sempre seus pertences, seus afazeres, sua casa...
O anfitrião é deveras empregado do convidado!


DE  Ivan de Oliveira Melo


POEMA INSPIRADO EM PROVÉRBIOS TURCOS.



sábado, 2 de fevereiro de 2019

PRESUNÇÃO



Se um dia eu morrer, canta para mim!
Meu lábios rijos hão de acompanhar-te
E, assim, mesmo morto, serei tom e arte
A embalsamar uma melodia até o fim.
Caso eu morra, ah! Não quero preces,
Desejo que a música estribilhe o funeral
E, assim, mesmo morto, serei infinitesimal
Perante os acordes que tanto me apetecem!

Contanto que eu morra, ah! Quero festa,
Desejo escutar canções sob égide de seresta
E, assim, mesmo morto, ébrio, serei eterno!

Desde que eu morra, oh! Não quero valsas,
Arpas celestiais expurgarão as notas falsas
E, mesmo morto, vivo estarei em teu caderno!


DE  Ivan de Oliveira Melo



BÁLSAMO




O sol devaneia sobre as nuvens febris,
O éter saboreia inconsciente os astrais
Donde se sente a essência dos funerais
Que sepultam as estrelas ainda infantis.

Sobre as almofadas do espaço vagueiam
As ondas magnéticas invisíveis ao olhar,
Contudo ebúrneas cicatrizes estão a rolar
Perante a abóbada onde sonhos permeiam.

Enquanto no solo pálido a vida é revanche,
Os ventos sopram em verdadeira avalanche
Desnutrindo a natureza tímida que se cala...

Furtivas, as almas se fitam assaz pavorosas,
Escondem-se nos vagões das rosas libidinosas
E daí se extrai um perfume aziago de opala!


DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

FREE POEM





Once I was a child.
Twice I grew up.
Now It’s very dark
The time on my side.

Three times I cried.
Four times I smiled.
Now I see my mind
Sleeping. Little tired.

Once I was a teen.
Twice I was seen
With a crazy dream…

Many times I was old.
Now I seem a stone
Or a flower of Spring!


BY  Ivan de Oliveira Melo