A vida Continua...
CAPÍTULO III
Três meses à frente. Com bastante trabalho, os advogados conseguiram, finalmente, desvendar o cartório onde Marco Aurélio houvera sido registrado. Pediram o registro e, dele, várias cópias. Deram entrada na Justiça ao pedido de adoção e diversas audiências aconteceram. O que se buscava nessas audiências? Tinham como objetivo tentar descobrir
parentes do garoto, mas, até então, tudo fora infrutífero. Só na sexta audiência, após percorrerem várias estradas, localizaram senhor Manoel, ex-amigo de Alexandre, pai de Desdêmona. Velho, porém ainda lúcido, senhor Manoel fora levado à audiência, pois, ele como avô de Marco, tinha em si, em primeiro direito, a prerrogativa de ficar com o menino, contudo essa não foi sua disposição.
- Não posso ficar com ele - disse - além de estar quase caduco, faltam-me condições financeiras para dar-lhe uma boa educação. Definitivamente, não posso tê-lo em minha companhia.
- Sendo assim - afirmou o Juiz - aceitarei a solicitação do Senhor Flávio Vasconcelos que deseja adotá-lo.
- Pois que se cumpra a vontade deste senhor - dispôs senhor Manoel - além do mais, não sou verdadeiramente avô deste jovem...
- Como não, vô ? - Indagou Marco Aurélio sem compreender o que Senhor Manoel afirmava - como pai de meu pai Fabian, o senhor é meu avô, sim...
- Essa é uma longa história - confirmou senhor Manoel - Fabian não era seu pai, na realidade. Você foi doado a Desdêmona e Fabian para ser registrado por eles como filho verdadeiro.
- Quem foram esses doadores? - Interrogou Marco.
- Seus verdadeiros pais: Esmengarda e Alexandre.
- Então, ao invés de ser filho de Desdêmona, eu sou irmão dela - asseverou Marco.
- Exatamente - concordou senhor Manoel.
- Mas... por que agiram dessa forma ? – Indagou Marco, impaciente.
- Porque Desdêmona não podia engravidar, logo doaram você assim que nasceu. Foi um ato de amor de Esmengarda e Alexandre a Desdêmona e Fabian.
- Moisés, então, era meu irmão e não tio...
- Está decepcionado ? - Perguntou senhor Manoel.
- Nem sei o que dizer – respondeu Marco - estou é surpreso, porém, decepcionado, nunca... sim, foi um ato de muito amor... muito amor...
Dizia e enxugava as lágrimas com a ponta da camisa.
- Compreendo tudo. Não tenho mais parente de sangue vivo... Mas acabo de ganhar uma família. Estou bastante feliz. Por favor, senhor Juiz, conceda a Flávio Vasconcelos minha adoção. Amo a ele, sua esposa e meu irmão, Lucas. Deus me abençoou...
Assim foi feito. Marco Aurélio até pediu para adotar o sobrenome Vasconcelos, no que foi prontamente atendido. Todos saíram do fórum sorridentes e felizes. Imediatamente se dirigiram à escola onde Lucas estudava, ali Marco Aurélio igualmente estudaria. Foi feita a matrícula numa série inferior a de Lucas, no entanto tal fato pouco importava, o que interessava mesmo era que o jovem já pertencia oficialmente à família, era irmão de Lucas e filho de Flávio e Margarida, tão quanto o próprio Lucas. Marco Aurélio contara em que escola houvera estudado e para lá rumaram em busca de sua documentação de transferência. O diretor do estabelecimento, professor Juvenal, parabenizou-o.
- Que bom, Marco. Você está vivo e ganhou uma família, isso é tão importante! Meus sinceros parabéns e que Deus ilumine você e seus novos familiares.
- Grato, professor. Deus também o ilumine.
Agora eram dois a se acordarem cedo para ir à escola. A condução ganhara mais um passageiro. Marco precisou de empenhar-se bastante nos livros, porque o nível daquela escola era alto, muito puxado, todavia como inteligente que era, venceu facilmente esses obstáculos. Sua relação com Flávio, Margarida e Lucas era de profundo amor.
Sábado. Festa na escola. O aniversário de fundação do colégio foi comemorado com um grande baile que se iniciou às 20 horas. Havia muita gente, quase todos os alunos compareceram e ainda levaram seus convidados. A festa prometia. Marco ficou visivelmente encantado com Pollyanna, uma garota que ali estava a convite dos amigos e que, por sua vez, também se impressionara com Marco.
- Vamos dançar ? - Pediu Marco.
- Sim, é um prazer! - disse a moça.
Dançaram a noite inteira, não se largaram mais. Beijaram-se, trocaram carícias e Marco perguntou.
- Onde você mora?
Pollyanna forneceu-lhe o endereço. A festa acabara, porém Marco não tirou Pollyanna da cabeça. Na primeira oportunidade que teve, foi vê-la em sua casa num dia à tarde, pois, não saía à noite e, nos fins de semana, estava fora, com a família.
- Posso subir? -Perguntou Marco.
- Estou só em casa, mas pode...
E, ambos sozinhos, deixaram-se levar pela ousadia dos sentimentos e tudo aconteceu...
Pollyanna também conhecera Lucas e, da mesma maneira, impressionara-se com ele. Igualmente a Marco, tinha Lucas em suas mãos. Só que Lucas não imaginava que Marco se relacionara tão intimamente com Pollyanna. Nem mesmo desconfiava que havia namoro entre eles e se deixou seduzir pela moça. Encontrou-a da mesma forma em sua própria habitação , Pollyanna, estando outra vez sozinha, entregou-se por completo a Lucas Vasconcelos.
Pollyanna namorava a ambos. Conseguia despistar um do outro e, em horários distintos, consumia-os. Na verdade, estava indecisa em relação aos dois jovens... Lucas ou Marco? Esta dispunha-se a ser sua grande dúvida. Conscientemente sabia que haveria de decidir-se por um deles, entretanto quando por um se decidia, o outro chegava em sua mente. Não conseguia escolher! Estava apaixonada por ambos... Assim levou por algum tempo,
mas houve um momento que não deu para livrar-se dos dois ao mesmo tempo. Foi no dia do seu aniversário. Lucas e Marco, apegadíssimos um ao outro, viram-se de repente envolvidos por numa situação que poderia manchar aquela amizade, aquele sentimento que os unia cada vez mais.
- O que você faz aqui, Marco? - Perguntou Lucas.
- Eu que pergunto: o que você faz aqui, Lucas ?
E se olharam, ambos, com os olhos molhados, pois, em seus íntimos, já desvendavam ser a mesma razão.
- Vim ver minha namorada - retrucou Lucas - hoje é o aniversário dela.
- Que coincidência! - afirmou Marco - eu também vim ver minha namorada, hoje é, da mesma forma, o aniversário dela.
- Qual o nome de sua namorada? - Questionou Lucas.
- Pollyanna! - disse Marco.
- Não pode ser... – frisou Lucas - Pollyanna é minha namorada...
Neste exato momento, Pollyanna aparece. De imediato entende o que se passa. Havia em si a consciência de que isto um dia aconteceria.
- Preciso explicar-me - disse - sou a culpada por isto. Eu namoro a ambos porque os amo do mesmo jeito. Não consigo escolher um...
Lucas e Marco se olharam. Tomaram a mesma decisão. Marco, que trazia um fino ramalhete, jogou-o no rosto da jovem... Lucas, que trazia consigo um presente, atirou-o ao chão.
- Esqueça –me a partir de hoje, Pollyanna - disse Lucas chorando - você não presta!
Marcos imitou-o.
- Vagabunda! Não me procure mais...
Aos prantos, Pollyanna interveio.
- Esperem! Tenho uma solução para este impasse - sugeriu - ficarei com um só dos dois, com aquele que vencer a luta. – Propôs.
- Que luta ? - Interrogou Marco.
- Proponho que vocês briguem, lutem e, aquele que vencer, fica comigo e eu só com este...
Lucas topou...
- Aceito, porém não pense que esta luta seja em sua frente, nós resolveremos em casa. O que aqui retornar será o vencedor e ficará com você. O que perder a esquece e se conforma.
- Concordo - disse Marco - aguarde o vencedor.
Partiram em silêncio. Grande angústia os dominava. No íntimo não deviam medir forças por uma garota que já demonstrara não possuir caráter e ambos sabiam que haviam si- do enganados. Chegaram em casa sem dizer palavra. Só em seus olhares se percebia o momento difícil que haviam de enfrentar. Os pais não estavam, tinham viajado a negócios e os garotos estavam sós. Cada qual ficou em si mesmo, no aguardo do instante em que uma conversa definitiva haveria de ocorrer. Esperaram anoitecer. Após o jantar e
logo que os empregados se foram, afinal, resolveram pôr em pratos limpos aquele desagradável incômodo.
- Então, Marco, ela é sua namorada? - Perguntou Lucas.
- Sim... e também é sua ?
- Sim, mas ela é minha...
- Nada disso, Marco - ele é minha.
- É minha!
- É minha!..- contestou Marco.
- Eu a beijei várias vezes - afirmou Lucas.
- Ah, eu também por diversas vezes a beijei. – confessou Marco.
- Eu tive relações íntimas com ela – Lucas disse.
- Grande coisa! - debochou Marco - Eu a tive, igualmente.
Chegaram junto um do outro. Choravam... Ironicamente Lucas passou a mão pelo rosto de Marco. Este devolveu, provocantemente... Lucas foi para cima de Marco, agarrou-o, esbofeteou-o no tórax, várias vezes. Marco livrou-se do golpe e o prendeu entre as pernas, espancando-o nas costas, depois no tórax. Lucas conseguiu escapar e o atacou pelas costas, esmurrando-o, repetidamente. Ambos caíram e rolaram pelo chão, abraçados e tentando atacar-se mutuamente. Lucas fugiu, empurrando-o para longe, Marco foi ao seu
encalço. A luta estava eletrizante, contudo, nos golpes que davam, embora fortes, havia um tremendo respeito dos dois lados para que um não machucasse o outro.
- Chega! - gritou Lucas - estamos brigando por uma causa pedida - Eu amo a Pollyanna, mas muito maior é o que sinto por você...
A estas alturas, estavam ambos rasgados, sujos, com marcas de mãos em seus corpos.
- Realmente - replicou Marco – sejamos prudentes. Muito mais forte é o que existe em meu coração em relação a você. - Confessou Marco - vale a pena, Lucas, levar adiante uma luta por alguém que não nos merece ?
Lucas Vasconcelos não deu resposta. Apenas sorriu. Depois despiu-se totalmente , colocou as vestes rasgadas sobre uma cadeira da piscina e caiu na água. Marco o imitou. Despiu-se, juntou àquele vestuário esfarrapado , suas roupas, no mesmo lugar onde Lucas pusera as dele e também caiu na água.
- Não - disse Lucas - é claro que não vale a pena. Nunca valerá...
Brincaram na piscina até 3 horas da manhã. Saíram. Com as roupas imprestáveis se enxugaram e entraram em casa. Foram direto para o quarto e adentraram ao mesmo tempo no chuveiro e tomaram um banho de verdade. Estavam em silêncio e com uma enorme vontade, ambos, de se abraçarem e apagar de suas mentes aquela luta que tiveram. Finalmente aconteceu o abraço, choraram um no ombro do outro. O restante da
madrugada foi criança para a intensidade de sentimentos que os envolveu. Nunca mais haveriam de esquecer aqueles instantes, momentos que seriam guardados para sempre em suas memórias.
FIM DA CAPÍTULO III
sábado, 2 de novembro de 2013
A Vida Continua...
A vida Continua...
CAPÍTULO III
Três meses à frente. Com bastante trabalho, os advogados conseguiram, finalmente, desvendar o cartório onde Marco Aurélio houvera sido registrado. Pediram o registro e, dele, várias cópias. Deram entrada na Justiça ao pedido de adoção e diversas audiências aconteceram. O que se buscava nessas audiências? Tinham como objetivo tentar descobrir
parentes do garoto, mas, até então, tudo fora infrutífero. Só na sexta audiência, após percorrerem várias estradas, localizaram senhor Manoel, ex-amigo de Alexandre, pai de Desdêmona. Velho, porém ainda lúcido, senhor Manoel fora levado à audiência, pois, ele como avô de Marco, tinha em si, em primeiro direito, a prerrogativa de ficar com o menino, contudo essa não foi sua disposição.
- Não posso ficar com ele - disse - além de estar quase caduco, faltam-me condições financeiras para dar-lhe uma boa educação. Definitivamente, não posso tê-lo em minha companhia.
- Sendo assim - afirmou o Juiz - aceitarei a solicitação do Senhor Flávio Vasconcelos que deseja adotá-lo.
- Pois que se cumpra a vontade deste senhor - dispôs senhor Manoel - além do mais, não sou verdadeiramente avô deste jovem...
- Como não, vô ? - Indagou Marco Aurélio sem compreender o que Senhor Manoel afirmava - como pai de meu pai Fabian, o senhor é meu avô, sim...
- Essa é uma longa história - confirmou senhor Manoel - Fabian não era seu pai, na realidade. Você foi doado a Desdêmona e Fabian para ser registrado por eles como filho verdadeiro.
- Quem foram esses doadores? - Interrogou Marco.
- Seus verdadeiros pais: Esmengarda e Alexandre.
- Então, ao invés de ser filho de Desdêmona, eu sou irmão dela - asseverou Marco.
- Exatamente - concordou senhor Manoel.
- Mas... por que agiram dessa forma ? – Indagou Marco, impaciente.
- Porque Desdêmona não podia engravidar, logo doaram você assim que nasceu. Foi um ato de amor de Esmengarda e Alexandre a Desdêmona e Fabian.
- Moisés, então, era meu irmão e não tio...
- Está decepcionado ? - Perguntou senhor Manoel.
- Nem sei o que dizer – respondeu Marco - estou é surpreso, porém, decepcionado, nunca... sim, foi um ato de muito amor... muito amor...
Dizia e enxugava as lágrimas com a ponta da camisa.
- Compreendo tudo. Não tenho mais parente de sangue vivo... Mas acabo de ganhar uma família. Estou bastante feliz. Por favor, senhor Juiz, conceda a Flávio Vasconcelos minha adoção. Amo a ele, sua esposa e meu irmão, Lucas. Deus me abençoou...
Assim foi feito. Marco Aurélio até pediu para adotar o sobrenome Vasconcelos, no que foi prontamente atendido. Todos saíram do fórum sorridentes e felizes. Imediatamente se dirigiram à escola onde Lucas estudava, ali Marco Aurélio igualmente estudaria. Foi feita a matrícula numa série inferior a de Lucas, no entanto tal fato pouco importava, o que interessava mesmo era que o jovem já pertencia oficialmente à família, era irmão de Lucas e filho de Flávio e Margarida, tão quanto o próprio Lucas. Marco Aurélio contara em que escola houvera estudado e para lá rumaram em busca de sua documentação de transferência. O diretor do estabelecimento, professor Juvenal, parabenizou-o.
- Que bom, Marco. Você está vivo e ganhou uma família, isso é tão importante! Meus sinceros parabéns e que Deus ilumine você e seus novos familiares.
- Grato, professor. Deus também o ilumine.
Agora eram dois a se acordarem cedo para ir à escola. A condução ganhara mais um passageiro. Marco precisou de empenhar-se bastante nos livros, porque o nível daquela escola era alto, muito puxado, todavia como inteligente que era, venceu facilmente esses obstáculos. Sua relação com Flávio, Margarida e Lucas era de profundo amor.
Sábado. Festa na escola. O aniversário de fundação do colégio foi comemorado com um grande baile que se iniciou às 20 horas. Havia muita gente, quase todos os alunos compareceram e ainda levaram seus convidados. A festa prometia. Marco ficou visivelmente encantado com Pollyanna, uma garota que ali estava a convite dos amigos e que, por sua vez, também se impressionara com Marco.
- Vamos dançar ? - Pediu Marco.
- Sim, é um prazer! - disse a moça.
Dançaram a noite inteira, não se largaram mais. Beijaram-se, trocaram carícias e Marco perguntou.
- Onde você mora?
Pollyanna forneceu-lhe o endereço. A festa acabara, porém Marco não tirou Pollyanna da cabeça. Na primeira oportunidade que teve, foi vê-la em sua casa num dia à tarde, pois, não saía à noite e, nos fins de semana, estava fora, com a família.
- Posso subir? -Perguntou Marco.
- Estou só em casa, mas pode...
E, ambos sozinhos, deixaram-se levar pela ousadia dos sentimentos e tudo aconteceu...
Pollyanna também conhecera Lucas e, da mesma maneira, impressionara-se com ele. Igualmente a Marco, tinha Lucas em suas mãos. Só que Lucas não imaginava que Marco se relacionara tão intimamente com Pollyanna. Nem mesmo desconfiava que havia namoro entre eles e se deixou seduzir pela moça. Encontrou-a da mesma forma em sua própria habitação , Pollyanna, estando outra vez sozinha, entregou-se por completo a Lucas Vasconcelos.
Pollyanna namorava a ambos. Conseguia despistar um do outro e, em horários distintos, consumia-os. Na verdade, estava indecisa em relação aos dois jovens... Lucas ou Marco? Esta dispunha-se a ser sua grande dúvida. Conscientemente sabia que haveria de decidir-se por um deles, entretanto quando por um se decidia, o outro chegava em sua mente. Não conseguia escolher! Estava apaixonada por ambos... Assim levou por algum tempo,
mas houve um momento que não deu para livrar-se dos dois ao mesmo tempo. Foi no dia do seu aniversário. Lucas e Marco, apegadíssimos um ao outro, viram-se de repente envolvidos por numa situação que poderia manchar aquela amizade, aquele sentimento que os unia cada vez mais.
- O que você faz aqui, Marco? - Perguntou Lucas.
- Eu que pergunto: o que você faz aqui, Lucas ?
E se olharam, ambos, com os olhos molhados, pois, em seus íntimos, já desvendavam ser a mesma razão.
- Vim ver minha namorada - retrucou Lucas - hoje é o aniversário dela.
- Que coincidência! - afirmou Marco - eu também vim ver minha namorada, hoje é, da mesma forma, o aniversário dela.
- Qual o nome de sua namorada? - Questionou Lucas.
- Pollyanna! - disse Marco.
- Não pode ser... – frisou Lucas - Pollyanna é minha namorada...
Neste exato momento, Pollyanna aparece. De imediato entende o que se passa. Havia em si a consciência de que isto um dia aconteceria.
- Preciso explicar-me - disse - sou a culpada por isto. Eu namoro a ambos porque os amo do mesmo jeito. Não consigo escolher um...
Lucas e Marco se olharam. Tomaram a mesma decisão. Marco, que trazia um fino ramalhete, jogou-o no rosto da jovem... Lucas, que trazia consigo um presente, atirou-o ao chão.
- Esqueça –me a partir de hoje, Pollyanna - disse Lucas chorando - você não presta!
Marcos imitou-o.
- Vagabunda! Não me procure mais...
Aos prantos, Pollyanna interveio.
- Esperem! Tenho uma solução para este impasse - sugeriu - ficarei com um só dos dois, com aquele que vencer a luta. – Propôs.
- Que luta ? - Interrogou Marco.
- Proponho que vocês briguem, lutem e, aquele que vencer, fica comigo e eu só com este...
Lucas topou...
- Aceito, porém não pense que esta luta seja em sua frente, nós resolveremos em casa. O que aqui retornar será o vencedor e ficará com você. O que perder a esquece e se conforma.
- Concordo - disse Marco - aguarde o vencedor.
Partiram em silêncio. Grande angústia os dominava. No íntimo não deviam medir forças por uma garota que já demonstrara não possuir caráter e ambos sabiam que haviam si- do enganados. Chegaram em casa sem dizer palavra. Só em seus olhares se percebia o momento difícil que haviam de enfrentar. Os pais não estavam, tinham viajado a negócios e os garotos estavam sós. Cada qual ficou em si mesmo, no aguardo do instante em que uma conversa definitiva haveria de ocorrer. Esperaram anoitecer. Após o jantar e
logo que os empregados se foram, afinal, resolveram pôr em pratos limpos aquele desagradável incômodo.
- Então, Marco, ela é sua namorada? - Perguntou Lucas.
- Sim... e também é sua ?
- Sim, mas ela é minha...
- Nada disso, Marco - ele é minha.
- É minha!
- É minha!..- contestou Marco.
- Eu a beijei várias vezes - afirmou Lucas.
- Ah, eu também por diversas vezes a beijei. – confessou Marco.
- Eu tive relações íntimas com ela – Lucas disse.
- Grande coisa! - debochou Marco - Eu a tive, igualmente.
Chegaram junto um do outro. Choravam... Ironicamente Lucas passou a mão pelo rosto de Marco. Este devolveu, provocantemente... Lucas foi para cima de Marco, agarrou-o, esbofeteou-o no tórax, várias vezes. Marco livrou-se do golpe e o prendeu entre as pernas, espancando-o nas costas, depois no tórax. Lucas conseguiu escapar e o atacou pelas costas, esmurrando-o, repetidamente. Ambos caíram e rolaram pelo chão, abraçados e tentando atacar-se mutuamente. Lucas fugiu, empurrando-o para longe, Marco foi ao seu
encalço. A luta estava eletrizante, contudo, nos golpes que davam, embora fortes, havia um tremendo respeito dos dois lados para que um não machucasse o outro.
- Chega! - gritou Lucas - estamos brigando por uma causa pedida - Eu amo a Pollyanna, mas muito maior é o que sinto por você...
A estas alturas, estavam ambos rasgados, sujos, com marcas de mãos em seus corpos.
- Realmente - replicou Marco – sejamos prudentes. Muito mais forte é o que existe em meu coração em relação a você. - Confessou Marco - vale a pena, Lucas, levar adiante uma luta por alguém que não nos merece ?
Lucas Vasconcelos não deu resposta. Apenas sorriu. Depois despiu-se totalmente , colocou as vestes rasgadas sobre uma cadeira da piscina e caiu na água. Marco o imitou. Despiu-se, juntou àquele vestuário esfarrapado , suas roupas, no mesmo lugar onde Lucas pusera as dele e também caiu na água.
- Não - disse Lucas - é claro que não vale a pena. Nunca valerá...
Brincaram na piscina até 3 horas da manhã. Saíram. Com as roupas imprestáveis se enxugaram e entraram em casa. Foram direto para o quarto e adentraram ao mesmo tempo no chuveiro e tomaram um banho de verdade. Estavam em silêncio e com uma enorme vontade, ambos, de se abraçarem e apagar de suas mentes aquela luta que tiveram. Finalmente aconteceu o abraço, choraram um no ombro do outro. O restante da
madrugada foi criança para a intensidade de sentimentos que os envolveu. Nunca mais haveriam de esquecer aqueles instantes, momentos que seriam guardados para sempre em suas memórias.
FIM DA CAPÍTULO III
CAPÍTULO III
Três meses à frente. Com bastante trabalho, os advogados conseguiram, finalmente, desvendar o cartório onde Marco Aurélio houvera sido registrado. Pediram o registro e, dele, várias cópias. Deram entrada na Justiça ao pedido de adoção e diversas audiências aconteceram. O que se buscava nessas audiências? Tinham como objetivo tentar descobrir
parentes do garoto, mas, até então, tudo fora infrutífero. Só na sexta audiência, após percorrerem várias estradas, localizaram senhor Manoel, ex-amigo de Alexandre, pai de Desdêmona. Velho, porém ainda lúcido, senhor Manoel fora levado à audiência, pois, ele como avô de Marco, tinha em si, em primeiro direito, a prerrogativa de ficar com o menino, contudo essa não foi sua disposição.
- Não posso ficar com ele - disse - além de estar quase caduco, faltam-me condições financeiras para dar-lhe uma boa educação. Definitivamente, não posso tê-lo em minha companhia.
- Sendo assim - afirmou o Juiz - aceitarei a solicitação do Senhor Flávio Vasconcelos que deseja adotá-lo.
- Pois que se cumpra a vontade deste senhor - dispôs senhor Manoel - além do mais, não sou verdadeiramente avô deste jovem...
- Como não, vô ? - Indagou Marco Aurélio sem compreender o que Senhor Manoel afirmava - como pai de meu pai Fabian, o senhor é meu avô, sim...
- Essa é uma longa história - confirmou senhor Manoel - Fabian não era seu pai, na realidade. Você foi doado a Desdêmona e Fabian para ser registrado por eles como filho verdadeiro.
- Quem foram esses doadores? - Interrogou Marco.
- Seus verdadeiros pais: Esmengarda e Alexandre.
- Então, ao invés de ser filho de Desdêmona, eu sou irmão dela - asseverou Marco.
- Exatamente - concordou senhor Manoel.
- Mas... por que agiram dessa forma ? – Indagou Marco, impaciente.
- Porque Desdêmona não podia engravidar, logo doaram você assim que nasceu. Foi um ato de amor de Esmengarda e Alexandre a Desdêmona e Fabian.
- Moisés, então, era meu irmão e não tio...
- Está decepcionado ? - Perguntou senhor Manoel.
- Nem sei o que dizer – respondeu Marco - estou é surpreso, porém, decepcionado, nunca... sim, foi um ato de muito amor... muito amor...
Dizia e enxugava as lágrimas com a ponta da camisa.
- Compreendo tudo. Não tenho mais parente de sangue vivo... Mas acabo de ganhar uma família. Estou bastante feliz. Por favor, senhor Juiz, conceda a Flávio Vasconcelos minha adoção. Amo a ele, sua esposa e meu irmão, Lucas. Deus me abençoou...
Assim foi feito. Marco Aurélio até pediu para adotar o sobrenome Vasconcelos, no que foi prontamente atendido. Todos saíram do fórum sorridentes e felizes. Imediatamente se dirigiram à escola onde Lucas estudava, ali Marco Aurélio igualmente estudaria. Foi feita a matrícula numa série inferior a de Lucas, no entanto tal fato pouco importava, o que interessava mesmo era que o jovem já pertencia oficialmente à família, era irmão de Lucas e filho de Flávio e Margarida, tão quanto o próprio Lucas. Marco Aurélio contara em que escola houvera estudado e para lá rumaram em busca de sua documentação de transferência. O diretor do estabelecimento, professor Juvenal, parabenizou-o.
- Que bom, Marco. Você está vivo e ganhou uma família, isso é tão importante! Meus sinceros parabéns e que Deus ilumine você e seus novos familiares.
- Grato, professor. Deus também o ilumine.
Agora eram dois a se acordarem cedo para ir à escola. A condução ganhara mais um passageiro. Marco precisou de empenhar-se bastante nos livros, porque o nível daquela escola era alto, muito puxado, todavia como inteligente que era, venceu facilmente esses obstáculos. Sua relação com Flávio, Margarida e Lucas era de profundo amor.
Sábado. Festa na escola. O aniversário de fundação do colégio foi comemorado com um grande baile que se iniciou às 20 horas. Havia muita gente, quase todos os alunos compareceram e ainda levaram seus convidados. A festa prometia. Marco ficou visivelmente encantado com Pollyanna, uma garota que ali estava a convite dos amigos e que, por sua vez, também se impressionara com Marco.
- Vamos dançar ? - Pediu Marco.
- Sim, é um prazer! - disse a moça.
Dançaram a noite inteira, não se largaram mais. Beijaram-se, trocaram carícias e Marco perguntou.
- Onde você mora?
Pollyanna forneceu-lhe o endereço. A festa acabara, porém Marco não tirou Pollyanna da cabeça. Na primeira oportunidade que teve, foi vê-la em sua casa num dia à tarde, pois, não saía à noite e, nos fins de semana, estava fora, com a família.
- Posso subir? -Perguntou Marco.
- Estou só em casa, mas pode...
E, ambos sozinhos, deixaram-se levar pela ousadia dos sentimentos e tudo aconteceu...
Pollyanna também conhecera Lucas e, da mesma maneira, impressionara-se com ele. Igualmente a Marco, tinha Lucas em suas mãos. Só que Lucas não imaginava que Marco se relacionara tão intimamente com Pollyanna. Nem mesmo desconfiava que havia namoro entre eles e se deixou seduzir pela moça. Encontrou-a da mesma forma em sua própria habitação , Pollyanna, estando outra vez sozinha, entregou-se por completo a Lucas Vasconcelos.
Pollyanna namorava a ambos. Conseguia despistar um do outro e, em horários distintos, consumia-os. Na verdade, estava indecisa em relação aos dois jovens... Lucas ou Marco? Esta dispunha-se a ser sua grande dúvida. Conscientemente sabia que haveria de decidir-se por um deles, entretanto quando por um se decidia, o outro chegava em sua mente. Não conseguia escolher! Estava apaixonada por ambos... Assim levou por algum tempo,
mas houve um momento que não deu para livrar-se dos dois ao mesmo tempo. Foi no dia do seu aniversário. Lucas e Marco, apegadíssimos um ao outro, viram-se de repente envolvidos por numa situação que poderia manchar aquela amizade, aquele sentimento que os unia cada vez mais.
- O que você faz aqui, Marco? - Perguntou Lucas.
- Eu que pergunto: o que você faz aqui, Lucas ?
E se olharam, ambos, com os olhos molhados, pois, em seus íntimos, já desvendavam ser a mesma razão.
- Vim ver minha namorada - retrucou Lucas - hoje é o aniversário dela.
- Que coincidência! - afirmou Marco - eu também vim ver minha namorada, hoje é, da mesma forma, o aniversário dela.
- Qual o nome de sua namorada? - Questionou Lucas.
- Pollyanna! - disse Marco.
- Não pode ser... – frisou Lucas - Pollyanna é minha namorada...
Neste exato momento, Pollyanna aparece. De imediato entende o que se passa. Havia em si a consciência de que isto um dia aconteceria.
- Preciso explicar-me - disse - sou a culpada por isto. Eu namoro a ambos porque os amo do mesmo jeito. Não consigo escolher um...
Lucas e Marco se olharam. Tomaram a mesma decisão. Marco, que trazia um fino ramalhete, jogou-o no rosto da jovem... Lucas, que trazia consigo um presente, atirou-o ao chão.
- Esqueça –me a partir de hoje, Pollyanna - disse Lucas chorando - você não presta!
Marcos imitou-o.
- Vagabunda! Não me procure mais...
Aos prantos, Pollyanna interveio.
- Esperem! Tenho uma solução para este impasse - sugeriu - ficarei com um só dos dois, com aquele que vencer a luta. – Propôs.
- Que luta ? - Interrogou Marco.
- Proponho que vocês briguem, lutem e, aquele que vencer, fica comigo e eu só com este...
Lucas topou...
- Aceito, porém não pense que esta luta seja em sua frente, nós resolveremos em casa. O que aqui retornar será o vencedor e ficará com você. O que perder a esquece e se conforma.
- Concordo - disse Marco - aguarde o vencedor.
Partiram em silêncio. Grande angústia os dominava. No íntimo não deviam medir forças por uma garota que já demonstrara não possuir caráter e ambos sabiam que haviam si- do enganados. Chegaram em casa sem dizer palavra. Só em seus olhares se percebia o momento difícil que haviam de enfrentar. Os pais não estavam, tinham viajado a negócios e os garotos estavam sós. Cada qual ficou em si mesmo, no aguardo do instante em que uma conversa definitiva haveria de ocorrer. Esperaram anoitecer. Após o jantar e
logo que os empregados se foram, afinal, resolveram pôr em pratos limpos aquele desagradável incômodo.
- Então, Marco, ela é sua namorada? - Perguntou Lucas.
- Sim... e também é sua ?
- Sim, mas ela é minha...
- Nada disso, Marco - ele é minha.
- É minha!
- É minha!..- contestou Marco.
- Eu a beijei várias vezes - afirmou Lucas.
- Ah, eu também por diversas vezes a beijei. – confessou Marco.
- Eu tive relações íntimas com ela – Lucas disse.
- Grande coisa! - debochou Marco - Eu a tive, igualmente.
Chegaram junto um do outro. Choravam... Ironicamente Lucas passou a mão pelo rosto de Marco. Este devolveu, provocantemente... Lucas foi para cima de Marco, agarrou-o, esbofeteou-o no tórax, várias vezes. Marco livrou-se do golpe e o prendeu entre as pernas, espancando-o nas costas, depois no tórax. Lucas conseguiu escapar e o atacou pelas costas, esmurrando-o, repetidamente. Ambos caíram e rolaram pelo chão, abraçados e tentando atacar-se mutuamente. Lucas fugiu, empurrando-o para longe, Marco foi ao seu
encalço. A luta estava eletrizante, contudo, nos golpes que davam, embora fortes, havia um tremendo respeito dos dois lados para que um não machucasse o outro.
- Chega! - gritou Lucas - estamos brigando por uma causa pedida - Eu amo a Pollyanna, mas muito maior é o que sinto por você...
A estas alturas, estavam ambos rasgados, sujos, com marcas de mãos em seus corpos.
- Realmente - replicou Marco – sejamos prudentes. Muito mais forte é o que existe em meu coração em relação a você. - Confessou Marco - vale a pena, Lucas, levar adiante uma luta por alguém que não nos merece ?
Lucas Vasconcelos não deu resposta. Apenas sorriu. Depois despiu-se totalmente , colocou as vestes rasgadas sobre uma cadeira da piscina e caiu na água. Marco o imitou. Despiu-se, juntou àquele vestuário esfarrapado , suas roupas, no mesmo lugar onde Lucas pusera as dele e também caiu na água.
- Não - disse Lucas - é claro que não vale a pena. Nunca valerá...
Brincaram na piscina até 3 horas da manhã. Saíram. Com as roupas imprestáveis se enxugaram e entraram em casa. Foram direto para o quarto e adentraram ao mesmo tempo no chuveiro e tomaram um banho de verdade. Estavam em silêncio e com uma enorme vontade, ambos, de se abraçarem e apagar de suas mentes aquela luta que tiveram. Finalmente aconteceu o abraço, choraram um no ombro do outro. O restante da
madrugada foi criança para a intensidade de sentimentos que os envolveu. Nunca mais haveriam de esquecer aqueles instantes, momentos que seriam guardados para sempre em suas memórias.
FIM DA CAPÍTULO III
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
A Vida Continua...
A vida Continua...
CAPÍTULO II
Fartura. É o que se pode afirmar do jantar em casa de Flávio Vasconcelos. Todos perceberam que Marco Aurélio havia em si bons modos. Fora encontrado maltrapilho e vagabundo pelas ruas, mas ali, naquele instante, mostrava-se educado e sabedor do comportar-se à mesa. De tudo comeu, estava faminto, contudo com uma elegância que chamou a atenção de Flávio Vasconcelos.
- Com quem aprendeu tão elegantes modos, Marco ? - Interrogou Flávio.
O jovem sorriu e deixou à mostra seus dentes perfeitos.
- Com meus pais! – Respondeu tranquilo.
- E onde eles estão agora ? – Novamente perguntou Flávio.
- No céu! – Disse Marco.
- Oh, Flávio, deixe o garoto acabar de comer, depois ele relata sua história. - Pediu Margarida.
E o silêncio se fez. Após o jantar, todos se destinaram ao longo e ventilado terraço. Lucas estava curioso e foi ele a solicitar que Marco Aurélio iniciasse a história de sua vida. Sem omitir detalhes, Marco Aurélio tudo contou. A plateia acompanhava atenta, sem interromper. No final, o rosto de Marco se encontrava repleto de lágrimas.
- Santo Deus – replicou Flávio Vasconcelos - conheço esses episódios, tudo foi retratado pela televisão... Aconteceu há alguns meses numa cidade bastante distante daqui. Então você é o sobrevivente que a polícia procurou e não encontrou...Que coisa, Santa Virgem!
- Sim - disse Marco - sou eu mesmo. No instante em que senti a fumaça, percebi que tudo se destruía e que a janela ali aberta era a minha única salvação. Foi o que fiz... bem, o restante vocês conhecem.
Lucas chorou tão quanto Marco Aurélio. Estava visivelmente emocionado.
- Meu coração jamais me enganou - disse - percebi que você não era qualquer um assim que o avistei. Louvado seja Deus!
A emoção contagiou a todos ali presentes. Todos prantearam. Depois, Lucas interrogou o pai.
- O que vamos fazer agora, painho ? Vai entregar Marco às autoridades a fim de que ele seja destinado a um orfanato ?
Flávio Vasconcelos não sabia quê dizer. Lembrava-se perfeitamente de que, na época do ocorrido, emocionara-se profundamente. Encontrava-se sem ação.
- Não sei, filho. Neste momento não sei que atitude tomar - respondeu - deixemos o tempo passar, coloquemos as ideias no lugar, posteriormente veremos o que deve ser feito.
- Painho, adote-o! Ele é o irmão que sempre quis ter. Tenho convicção de que ele quer ficar conosco, não quer, Marco ?
A essas alturas, Marco parecia meio perdido nas divagações, entretanto ouviu e entendeu o que perguntara Lucas.
- Tantos meses depois daqueles terríveis acontecimentos, vocês foram os primeiros a me ouvirem, a me acolherem. Ninguém se interessou por mim por onde perambulei... pelo contrário, fui enxotado por todos - claro, achavam que eu era de rua, viciado em drogas e provavelmente ladrão - só que nunca tirei nada de quem quer que seja, meu pai me ensinou a ser um homem e, minha mãe, era uma mulher exemplar.
Margarida enxugava as lágrimas com as mãos. Pasma perante a história de Marco Aurélio, disse:
- Por enquanto, Marco, vá ficando por aqui. Eu e meu marido conversaremos e veremos o que podemos fazer por você. Certamente este desejo de Lucas em tê-lo como irmão pesará muito forte em nossa decisão. Afinal, assim como Lucas, eu me apaixonei por você e por sua história...
- Igualmente eu - completou Flávio - mas é o tipo de coisa que não pode ser resolvido assim numa simples conversa. O tempo está a nosso favor, vamos optar pelo mais lógico, porém controlemos inicialmente nossas emoções. Amanhã partiremos para nossa casa de praia e você vem conosco. Aos poucos vamos nos conhecendo melhor, combinado?
Um longo sorriso estampou-se nos rosto de Marco Aurélio.
- Combinado. Saberei contentar-me com o quê vocês decidirem sobre mim.
Continuaram a conversar até quase meia noite. Foi Margarida quem chamou a atenção para o adiantado das horas.
- Gente, vamos dormir, amanhã partiremos cedo e a viagem é longa.
- Marco Aurélio dorme em meu quarto comigo. – disse Lucas - prepararei uma boa mala para nós dois. Tenho muitas roupas e, por enquanto, posso dividi-las com ele.
- Faça isso, meu filho. – Concordou Flávio - Breve compraremos roupas para Marco.
Todos se destinaram aos aposentos para dormir. Lucas levou Marco Aurélio pela mão. Entraram no quarto e Lucas fechou a porta. Puxou a cama que havia debaixo da sua.
- Você dormirá aqui, Marco. – Explicou - bem ao meu lado. Podemos conversar bastante antes que nossos olhos se fechem.
Despiram-se daquelas roupas e puseram calções. Deitaram-se e Lucas iniciou um diálogo.
- Você aceita ser meu irmão ? - Interrogou, louco por uma resposta afirmativa.
- É lógico que sim. Seremos grandes amigos, antes de qualquer coisa. Deus não poderia guardar coisa melhor para mim.
A mão de Lucas buscou a de Marco e ambos as apertaram com bastante força.
- Deus me deu você de presente, Marco. – Afirmou Lucas - tudo o que existir dentro deste quarto você pode considerar também seu.
- Inclusive você ? - brincou Marco.
- Sim, inclusive eu...
Ambos sorriram, no entanto o sono os dominou e adormeceram profundamente. No dia seguinte acordaram cedo. Lucas abriu os olhos e notou que Marco já estava acordado.
- Bom dia, irmão! - Cumprimentou Lucas.
- Bom dia! - Marco respondeu.
- Vá tomar seu banho, Marco, enquanto preparo a mala para levarmos à praia. Você gosta de praia ?
- Adoro! - Respondeu Marco - só não sei nadar.
- Nem eu...
Marco levantou-se, despiu-se e entrou no banheiro. Tomou um gostoso banho. Quando retornou, Lucas já preparara a mala e estava pronto para tomar o banho dele.
- Espere aqui. Logo que terminar meu banho, dou-lhe roupas para vestir.
Logo voltou e passou para Marco vestes limpas e elegantes. Depois vestiu-se, pegaram a mala e desceram. Flávio e Margarida também estavam a caminho da copa para o café da manhã. Cumprimentaram-se e se sentaram à mesa.
- Dormiu bem, Marco? - Indagou Margarida.
- Muito bem. Sono bom, obrigado!
Após o desjejum, todos foram para o carro e se iniciou a viagem com destino à casa de praia. Três horas de estrada e chegaram a um litoral distante, numa praia quase deserta.
- Adoro este mar - Disse Flávio - um final de semana aqui e recupero todas as minhas energias.
- Realmente é muito bonito. – Concordou Marco - mas há poucas casas por aqui.
- Por isto mesmo - Retrucou Flávio - não gosto de tumulto ou de onde há muita gente. Gosto de tranquilidade.
Logo arrumaram as coisas dentro de casa e foram caminhar pela areia e cair na água. O dia estava lindo, um sol causticante para queimar e bronzear a pele. Havia uma pequena palhoça à beira-mar, era um improvisado restaurante, lugar onde almoçaram e retornaram à praia e ficaram até 17 horas.
A casa de praia de Flávio Vasconcelos era luxuosa. Na parte térrea apenas salas, terraços, um banheiro, copa-cozinha, biblioteca e área de serviço. O dormitório ficava no primeiro andar e em todos os quartos havia suíte.
- Quer ficar sozinho num quarto ou fica comigo ? - Perguntou Lucas.
- Não há mais de uma cama em cada aposento? - Questionou Marco.
- Sim - disse Lucas - em todos há três camas, só no quarto de meus pais que há uma cama só - de casal!
- Então fico com você - Respondeu - já estive muito tempo sozinho.
E entraram de uma só vez debaixo do chuveiro. Posteriormente se vestiram e desceram para o jantar.
- Gostou daqui, Marco? - Interrogou Flávio.
- Tudo aqui é lindo! - replicou - natureza pura.
- Vá desculpando - preveniu Margarida - aqui na praia eu sou a cozinheira e a comida não é saborosa quanto à da cidade.
- Não se preocupe com isto, mamãe...
Marco disse, assim, sem pensar no que afirmara. Margarida ficou paralisada, surpresa...
- Você me chamou de mamãe, Marco...
Só então Marco se deu conta do que dissera. Ficou vermelho de vergonha.
- Desculpe-me... saiu sem eu perceber.
Margarida, então, abraçou-o, beijou-lhe as faces e, assim, descobriu a maciez de sua pele.
- Eu que digo, Marco - não se preocupe. Adorei como se expressou.
Ambos choraram abraçados.
- Que comovente! - Aplaudiu Lucas - você nos conquistou a todos, Marco.
- Positivamente eu lutarei para adotá-lo - frisou Flávio - em tão poucas horas você está conseguindo transformar uma família inteira.
- Estou feliz - gritou Lucas - ganhei meu irmão!
- E eu estou ganhando uma nova família - completou Marco Aurélio - como são interessantes os desígnios de Deus!
Flávio não se segurou e apertadamente o abraçou.
- Já posso dizer-lhe que o amo como filho - confessou - segunda=feira, sem perda de tempo, colocarei meus advogados em ação. Quero-o logo oficialmente como membro da família, afinal, você precisa estudar e ter tudo quanto possui Lucas, sem distinção.
Lucas roubou-o de Flávio para um abraço. O abraço foi forte e se beijaram nas faces.
Acabaram de jantar e foram para o alpendre, onde conversaram até uma hora da manhã. Havia entre eles intensa e inexplicável afinidade, como se conhecessem há muito tempo.
Da cama em que estava, Lucas Vasconcelos disse baixinho até à cama vizinha...
- Marco, meu irmão, eu amo você!
Marco Aurélio, com os olhos úmidos de lágrimas sinceras, respondeu-lhe:
- Lucas, meu mano, eu também amo você!
No domingo à noite, já bem tarde, por volta das 20 horas, o carro tomou a estrada no retorno à cidade.
Primeira providência de Flávio Vasconcelos na segunda-feira em seu escritório:
- Senhores meus advogados, desejo que resolvam isto o quanto antes. Tenho pressa!
FIM DO CAPÍTULO ii
CAPÍTULO II
Fartura. É o que se pode afirmar do jantar em casa de Flávio Vasconcelos. Todos perceberam que Marco Aurélio havia em si bons modos. Fora encontrado maltrapilho e vagabundo pelas ruas, mas ali, naquele instante, mostrava-se educado e sabedor do comportar-se à mesa. De tudo comeu, estava faminto, contudo com uma elegância que chamou a atenção de Flávio Vasconcelos.
- Com quem aprendeu tão elegantes modos, Marco ? - Interrogou Flávio.
O jovem sorriu e deixou à mostra seus dentes perfeitos.
- Com meus pais! – Respondeu tranquilo.
- E onde eles estão agora ? – Novamente perguntou Flávio.
- No céu! – Disse Marco.
- Oh, Flávio, deixe o garoto acabar de comer, depois ele relata sua história. - Pediu Margarida.
E o silêncio se fez. Após o jantar, todos se destinaram ao longo e ventilado terraço. Lucas estava curioso e foi ele a solicitar que Marco Aurélio iniciasse a história de sua vida. Sem omitir detalhes, Marco Aurélio tudo contou. A plateia acompanhava atenta, sem interromper. No final, o rosto de Marco se encontrava repleto de lágrimas.
- Santo Deus – replicou Flávio Vasconcelos - conheço esses episódios, tudo foi retratado pela televisão... Aconteceu há alguns meses numa cidade bastante distante daqui. Então você é o sobrevivente que a polícia procurou e não encontrou...Que coisa, Santa Virgem!
- Sim - disse Marco - sou eu mesmo. No instante em que senti a fumaça, percebi que tudo se destruía e que a janela ali aberta era a minha única salvação. Foi o que fiz... bem, o restante vocês conhecem.
Lucas chorou tão quanto Marco Aurélio. Estava visivelmente emocionado.
- Meu coração jamais me enganou - disse - percebi que você não era qualquer um assim que o avistei. Louvado seja Deus!
A emoção contagiou a todos ali presentes. Todos prantearam. Depois, Lucas interrogou o pai.
- O que vamos fazer agora, painho ? Vai entregar Marco às autoridades a fim de que ele seja destinado a um orfanato ?
Flávio Vasconcelos não sabia quê dizer. Lembrava-se perfeitamente de que, na época do ocorrido, emocionara-se profundamente. Encontrava-se sem ação.
- Não sei, filho. Neste momento não sei que atitude tomar - respondeu - deixemos o tempo passar, coloquemos as ideias no lugar, posteriormente veremos o que deve ser feito.
- Painho, adote-o! Ele é o irmão que sempre quis ter. Tenho convicção de que ele quer ficar conosco, não quer, Marco ?
A essas alturas, Marco parecia meio perdido nas divagações, entretanto ouviu e entendeu o que perguntara Lucas.
- Tantos meses depois daqueles terríveis acontecimentos, vocês foram os primeiros a me ouvirem, a me acolherem. Ninguém se interessou por mim por onde perambulei... pelo contrário, fui enxotado por todos - claro, achavam que eu era de rua, viciado em drogas e provavelmente ladrão - só que nunca tirei nada de quem quer que seja, meu pai me ensinou a ser um homem e, minha mãe, era uma mulher exemplar.
Margarida enxugava as lágrimas com as mãos. Pasma perante a história de Marco Aurélio, disse:
- Por enquanto, Marco, vá ficando por aqui. Eu e meu marido conversaremos e veremos o que podemos fazer por você. Certamente este desejo de Lucas em tê-lo como irmão pesará muito forte em nossa decisão. Afinal, assim como Lucas, eu me apaixonei por você e por sua história...
- Igualmente eu - completou Flávio - mas é o tipo de coisa que não pode ser resolvido assim numa simples conversa. O tempo está a nosso favor, vamos optar pelo mais lógico, porém controlemos inicialmente nossas emoções. Amanhã partiremos para nossa casa de praia e você vem conosco. Aos poucos vamos nos conhecendo melhor, combinado?
Um longo sorriso estampou-se nos rosto de Marco Aurélio.
- Combinado. Saberei contentar-me com o quê vocês decidirem sobre mim.
Continuaram a conversar até quase meia noite. Foi Margarida quem chamou a atenção para o adiantado das horas.
- Gente, vamos dormir, amanhã partiremos cedo e a viagem é longa.
- Marco Aurélio dorme em meu quarto comigo. – disse Lucas - prepararei uma boa mala para nós dois. Tenho muitas roupas e, por enquanto, posso dividi-las com ele.
- Faça isso, meu filho. – Concordou Flávio - Breve compraremos roupas para Marco.
Todos se destinaram aos aposentos para dormir. Lucas levou Marco Aurélio pela mão. Entraram no quarto e Lucas fechou a porta. Puxou a cama que havia debaixo da sua.
- Você dormirá aqui, Marco. – Explicou - bem ao meu lado. Podemos conversar bastante antes que nossos olhos se fechem.
Despiram-se daquelas roupas e puseram calções. Deitaram-se e Lucas iniciou um diálogo.
- Você aceita ser meu irmão ? - Interrogou, louco por uma resposta afirmativa.
- É lógico que sim. Seremos grandes amigos, antes de qualquer coisa. Deus não poderia guardar coisa melhor para mim.
A mão de Lucas buscou a de Marco e ambos as apertaram com bastante força.
- Deus me deu você de presente, Marco. – Afirmou Lucas - tudo o que existir dentro deste quarto você pode considerar também seu.
- Inclusive você ? - brincou Marco.
- Sim, inclusive eu...
Ambos sorriram, no entanto o sono os dominou e adormeceram profundamente. No dia seguinte acordaram cedo. Lucas abriu os olhos e notou que Marco já estava acordado.
- Bom dia, irmão! - Cumprimentou Lucas.
- Bom dia! - Marco respondeu.
- Vá tomar seu banho, Marco, enquanto preparo a mala para levarmos à praia. Você gosta de praia ?
- Adoro! - Respondeu Marco - só não sei nadar.
- Nem eu...
Marco levantou-se, despiu-se e entrou no banheiro. Tomou um gostoso banho. Quando retornou, Lucas já preparara a mala e estava pronto para tomar o banho dele.
- Espere aqui. Logo que terminar meu banho, dou-lhe roupas para vestir.
Logo voltou e passou para Marco vestes limpas e elegantes. Depois vestiu-se, pegaram a mala e desceram. Flávio e Margarida também estavam a caminho da copa para o café da manhã. Cumprimentaram-se e se sentaram à mesa.
- Dormiu bem, Marco? - Indagou Margarida.
- Muito bem. Sono bom, obrigado!
Após o desjejum, todos foram para o carro e se iniciou a viagem com destino à casa de praia. Três horas de estrada e chegaram a um litoral distante, numa praia quase deserta.
- Adoro este mar - Disse Flávio - um final de semana aqui e recupero todas as minhas energias.
- Realmente é muito bonito. – Concordou Marco - mas há poucas casas por aqui.
- Por isto mesmo - Retrucou Flávio - não gosto de tumulto ou de onde há muita gente. Gosto de tranquilidade.
Logo arrumaram as coisas dentro de casa e foram caminhar pela areia e cair na água. O dia estava lindo, um sol causticante para queimar e bronzear a pele. Havia uma pequena palhoça à beira-mar, era um improvisado restaurante, lugar onde almoçaram e retornaram à praia e ficaram até 17 horas.
A casa de praia de Flávio Vasconcelos era luxuosa. Na parte térrea apenas salas, terraços, um banheiro, copa-cozinha, biblioteca e área de serviço. O dormitório ficava no primeiro andar e em todos os quartos havia suíte.
- Quer ficar sozinho num quarto ou fica comigo ? - Perguntou Lucas.
- Não há mais de uma cama em cada aposento? - Questionou Marco.
- Sim - disse Lucas - em todos há três camas, só no quarto de meus pais que há uma cama só - de casal!
- Então fico com você - Respondeu - já estive muito tempo sozinho.
E entraram de uma só vez debaixo do chuveiro. Posteriormente se vestiram e desceram para o jantar.
- Gostou daqui, Marco? - Interrogou Flávio.
- Tudo aqui é lindo! - replicou - natureza pura.
- Vá desculpando - preveniu Margarida - aqui na praia eu sou a cozinheira e a comida não é saborosa quanto à da cidade.
- Não se preocupe com isto, mamãe...
Marco disse, assim, sem pensar no que afirmara. Margarida ficou paralisada, surpresa...
- Você me chamou de mamãe, Marco...
Só então Marco se deu conta do que dissera. Ficou vermelho de vergonha.
- Desculpe-me... saiu sem eu perceber.
Margarida, então, abraçou-o, beijou-lhe as faces e, assim, descobriu a maciez de sua pele.
- Eu que digo, Marco - não se preocupe. Adorei como se expressou.
Ambos choraram abraçados.
- Que comovente! - Aplaudiu Lucas - você nos conquistou a todos, Marco.
- Positivamente eu lutarei para adotá-lo - frisou Flávio - em tão poucas horas você está conseguindo transformar uma família inteira.
- Estou feliz - gritou Lucas - ganhei meu irmão!
- E eu estou ganhando uma nova família - completou Marco Aurélio - como são interessantes os desígnios de Deus!
Flávio não se segurou e apertadamente o abraçou.
- Já posso dizer-lhe que o amo como filho - confessou - segunda=feira, sem perda de tempo, colocarei meus advogados em ação. Quero-o logo oficialmente como membro da família, afinal, você precisa estudar e ter tudo quanto possui Lucas, sem distinção.
Lucas roubou-o de Flávio para um abraço. O abraço foi forte e se beijaram nas faces.
Acabaram de jantar e foram para o alpendre, onde conversaram até uma hora da manhã. Havia entre eles intensa e inexplicável afinidade, como se conhecessem há muito tempo.
Da cama em que estava, Lucas Vasconcelos disse baixinho até à cama vizinha...
- Marco, meu irmão, eu amo você!
Marco Aurélio, com os olhos úmidos de lágrimas sinceras, respondeu-lhe:
- Lucas, meu mano, eu também amo você!
No domingo à noite, já bem tarde, por volta das 20 horas, o carro tomou a estrada no retorno à cidade.
Primeira providência de Flávio Vasconcelos na segunda-feira em seu escritório:
- Senhores meus advogados, desejo que resolvam isto o quanto antes. Tenho pressa!
FIM DO CAPÍTULO ii
Coerência
Em meio à
velocidade da luz
Meu
pensamento agitado, voa...
Consumo
átomos vitaminados pelos
cometas,
Faminto... sugo
das róseas tetas
Das asas ligeiras
das borboletas azuis.
Neste “streap-tease” da
linguagem,
A semântica ganha
novas formas,
Na decoração do
que as palavras
enfocam
Há atritos entre
juízos erudito e
plebeu
Que
transcendem magnéticos de
dentro do meu
eu.
Dos sintagmas partem-se
alvéolos dos paradigmas
E as construções
viciosas mergulham em
metamorfose,
Vocábulos e expressões
sentem os efeitos
da dose
Que a etimologia
linguística as têm
como fidedignas!
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