domingo, 9 de fevereiro de 2014

COLHEITA

As palavras me futucam
E eu cutuco a inspiração,
Amacio displicente a sensibilidade,
Perfumo o papel de ideias...

Os temas fazem longa fila,
Querem ser manchete em poesia...
Alvoroçam-se, a caneta fica tonta
E eu sorrio diante dessa agitação.

Estabeleço ordem, promulgo concurso,
Deixo claro que as chances são iguais,
Vence o que me tocar mais fundo...

Todos se apresentam abastados,
A escolha é difícil... Adormeço!

Mergulho no sonho...Então, versejo!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Extremos

Tanto eu grito como choro...
Sorrir é tempero e meu eu confessa
Que minhas lágrimas são obesas
E em meu grito há miligramas de cloro...

Tanto eu falo como me calo...
Meu silêncio é sinopse dum glossário
Onde as palavras dissipam o eu perdulário
Que rama inconsciente indiferente ao meu talo...

Tanto eu ando como corro...
Parar é recomeçar tudo de novo
E minha exegese só caminha em frente...

Tanto eu durmo como acordo...
Meus sonhos são pirataria, às vezes corvos

Que me sugam da essência pitadas da mente!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Afeições Inorgânicas

Meu olfato capta o odor nauseabundo de mim,
Minhas vísceras estão velhas e gangrenadas,
Enquanto o sangue coagula em disparada,
Intenso rebuliço povoa o que era um jardim...

O cheiro nefasto intoxica até as palavras
Que prolato ou escrevo após esforço inaudito,
Minhas afeições estão mortas e fico contrito
A observar em minha imundície a faina das larvas.

Em desespero, penso em gritar, pedir socorro,
Porém a morte já consumou o fim do estorvo
E meus olhos são lambidos por esdrúxulas bactérias...

Sinto a invasão dos parasitos e vermes em festa,
Percebo a angústia dos corvos que, zangados, protestam

A propriedade do corpo carcomido pela inorgânica etérea!

Censuras

Não curto amor, o amor que me curte...
Sou joia cara, não sou iogurte
Que se viça tresloucado pelo sabor...

Não procuro beijos, o beijo que me procura...
Meus lábios são ouro, não são dentaduras
Que se contentam com beijos de isopor...

Não faço abraços, é o abraço que me tara
E me enreda em sensações de arrepios...
Consome minhas forças, deixa-me no cio
A remexer-me numa excitação intensa e rara...

Não dou carinho, é o carinho que se dá a mim...
Violenta-me com ternura e emoções fortuitas
Que me assediam meigas vibrações e me imputam

As seduções que o mundo teima em não pôr fim!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Vento

O vento soprou entre as nuvens e naufragou
Dentro de um penhasco de profunda solidão,
Diante da intensa correnteza teve de si compaixão
E se transformou em vagas para evitar a dor...

Cambaleou por entre pedras e atingiu o cume
Da aventura rodeado por infernais precipícios,
Voltou a soprar lento para afastar homicídios,
Mas novamente despencou e não ficou impune...

Magistralmente ferido, pranteou saudades
De ver-se livre e de comandar as tempestades
Que carregam em si o dogma das destruições...

O tempo o reabilitou perante suas cicatrizes
E, assim, copulou e fecundou brisas felizes
Que aprenderam tão somente a refrescar corações!


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Crepúsculo Sentimental

Numa estrada nua e de areia fina
Sob os auspícios de uma lua meio apática,
Dois corpos se abraçam sem qualquer tática
E tresloucadamente buscam desejos que contaminam.

No silêncio escrevem páginas dum amor sem fim
Patrocinadas alhures pelo ardor de beijos ferozes,
As horas enredam a história em novelos e retroses
Para que se obtenha a afrodisíaca bênção de São Valentim.

Cenário atapetado pelo cintilar das estrelas românticas
Que, voluptuosas, massageiam o crepúsculo de um cio
Donde se extraem orgasmos de delírios eloquentes e arredios
Da noite que contempla o coito da sensualidade atlântica.

O vento sopra sobre as nudezes eróticas e apaixonadas
Que se completam em simbiose na solitária estrada!



sábado, 1 de fevereiro de 2014

Consecutivos...

Simplesmente vivo sempre a imaginar-te
Numa odisseia sentimental do querer-te
E por mais que penses de mim esconder-te
Encontra-me o desvairado desejo de abraçar-te!

Sentir teu calor e o sonho de possuir-te
Paira em meu corpo o ardor de beijar-te
Para que num mergulho íntimo possa acariciar-te
E ter-te saborosa para meu ego consumir-te!

O viço me assanha louco a desejar-te
E entre murmúrios sustenidos quero amar-te
Até que na consumação do amor possa prender-te...

Em teus voluptuosos delírios espero ouvir-te
A suplicar-me a magia do orvalho diluir-te
Para no sabor do orgasmo em definitivo pertencer-te!