sábado, 10 de janeiro de 2015

GERAÇÕES - PARTE I - CAP. III

GERAÇÕES
PARTE I
CAPÍTULO III
Raimundo Thiné era só alegrias. Imediatamente providenciou a troca de turno no curso que fazia e se iniciou em seu novo emprego. Ultimou a mudança dos pais e com eles residia num primeiro andar confortável. Para ir trabalhar, bastava descer as escadas. Estava mais do que contente. Era tudo o que desejava: retirar os genitores do Vale das Cobras e poder alugar um apartamento fora daquele antro e com eles morar. Tudo estava dando certo em relação aos seus projetos. Quanto ao seu desempenho profissional, nada a contestar, muito pelo contrário, em sua ficha havia notas de elogio do chefe, que simpatizara bastante com ele. Não tivera mais notícias de Beto. Ao mudar de turno, perdera por completo o contato com o amigo que o ajudara de forma tão prestimosa. Esforçava-se cada vez mais em suas obrigações, pois,
queria que queria ser o mais competente possível, haja vista que os negócios dos seus patrões eram largos e ele poderia galgar oportunidades de entre eles fazer carreira. Era só no que pensava: em seu futuro, contudo havia uma máxima em seu íntimo: “o futuro se faz agora.”
Tivera sorte de ser acolhido numa organização que só fazia crescer: era tanto lucro que Beto e seu pai cada vez mais investiam. Raimundo não tinha tempo para mais nada durante o horário de expediente: vivia ocupadíssimo. A imobiliária recebera escrituras dos mais novos pa-
trimônios adquiridos: casas de praia, clubes de campo, fazendas, novas lojas e apartamentos e três postos de gasolina. Pensava consigo: “Eles são espertos, sabem investir...”
Dois anos se passaram. Raimundo Thiné estava mais do que satisfeito. Era muito trabalho? Sim, no entanto era muito bem remunerado. Além do apartamento em que morava sem pagar nada de aluguel, seus proventos giravam, agora, em torno de R$ 4.000 e ainda cursava o 3º.
de Administração de Empresas. Iria formar-se muito novo e já com uma larga experiência administrativa. Estava no auge de seus 18 anos. Aprendera a gostar de andar arrumado, impecável. Sempre era destaque nos ambientes em que comparecia. Alto, um pouco magro, cabelos meio castanhos e lisos, moreno claro. Um rosto juvenil, ninguém dizia que vivia o esplendor de suas dezoito primaveras. Largo sorriso enfeitava sua face, estava sempre alegre... Também não
teria como existir tristeza dentro de si, a existência abençoou seus caminhos e ele progredia paralelo aos negócios dos patrões.
Foi com imensa surpresa que, numa sexta-feira, quase ao final do expediente, recebeu inesperada visita. Era Roberto Antunes, Beto, que adentrava naquele instante no escritório da imobiliária. Abandonou o assento e foi receber o patrão.
- Boa tarde, Beto! – Cumprimentou – Que satisfação recebê-lo aqui!
- Boa tarde, Raimundo! Vim buscá-lo para termos uma conversa deveras importante. – Frisou Beto.
- Há alguma falha em meus serviços? – Inquiriu preocupado.
- De forma alguma, de você só tenho elogios e mais elogios. Nem pense em coisas negativas.
- Puxa, ainda bem! – Suspirou.
Ambos saíram alegremente conversando. Entraram no automóvel importado de Beto e seguiram estrada que os levava às portas da cidade. Escolheram um local aprazível e elegante para dialogarem, ali não haveria quem os incomodasse.
- Estou bastante curioso, Beto... – disse Raimundo – Depois de dois anos que trabalho para você, esta é a primeira vez que me procura...
- É verdade, porém jamais o esqueci, sempre acompanho seu desempenho, por sinal maravilhoso.
- Obrigado! – Raimundo agradeceu.
- Não agradeça, nós é que temos de agradecê-lo por sua dedicação profissional. É um funcionário de minha inteira confiança, por isso é que estou aqui hoje ao seu lado a fim de, entre outras coisas, informá-lo de nossas pretensões para o futuro. – Colocou Beto.
- Fico muito feliz em saber que fui escolhido por você para fazer parte dos planos da organização.
-Você faz parte de planos que nem sonha...
- Quanta honra! – Raimundo se expressou.
- Primeiramente, você trabalha num setor que tudo sabe sobre nossos negócios. Tudo o que temos, obrigatoriamente, encontra-se registrado nos arquivos da imobiliária.
- Positivo.
- Eu e meu pai conversamos muito... Nossos investimentos cresceram e hoje atuamos no ramo imobiliário, no ramo da beleza, postos de gasolina, fazendas, clubes de campo... Para que chegássemos até aqui, Raimundo, foi muito suor derramado, muitas noites de sono perdidas, contudo, valeu a pena. Confesso que estamos mais do que milionários...E é devido a isso que resolvemos investir em outro setor: no de supermercados. Acabamos de adquirir o controle acionário do Visconde, a terceira do ranking nacional. Claro está que a imobiliária receberá por estes dias todas as escrituras dos imóveis que compõem tal organização.
- Parabéns, Beto! –
- Parabéns para nós todos. Dialogando com meu genitor, chegamos à conclusão de que temos de abrir uma empresa que congregue e administre todos os negócios. Claro que todas permanecerão independentes, porém regidas sob o controle de um Centro Administrativo, um Conselho de Administração. Será a Fundação Mercantil Dagoberto Antunes, da qual meu pai já me elegeu Presidente. Ele está se aposentando, está cansado e deixa todos os
empreendimentos em minhas mãos.
- Caramba! Mais uma vez , parabéns! – falou Raimundo.
- E você não me pergunta onde Raimundo Thiné se encontra inserido nisto tudo?
- Eu? – Raimundo se exprimiu nervosamente – eu estou dentro de todos estes planos?
- Está, Raimundo. Entre outra coisa, que falarei depois, é por isso que estamos aqui.- Confirmou Beto.
- Santo Deus! – Havia lágrimas nos olhos brilhantes de Raimundo – E onde eu entro?
- Você está sendo escolhido por mim para ser meu Vice-Presidente... aceita?
- Vice-Presidente do Conselho de Administração da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes?
- Exatamente.
- Credo! E eu mereço tudo isso, Beto?
- Merece... mas...
- Mas, o quê?
- Isto está condicionado a algo bastante particular entre eu e você...
- Não estou entendendo...
- Serei claro o suficiente.
- Seja, é bom que nada fique obscuro.
- Com certeza. Você se lembra do dia em que lhe disse que chegaria a hora certa de você agradecer-me por tudo quanto tenho feito por você?
- Sim, lembro... e daí? Como tenho de te agradecer, repito o que disse naquela oportunidade, tanta caridade?
- Eu e você temos a mesma idade... 18 anos! Logo, somos possuidores de intensa força juvenil, os hormônios dançam e fervem em nosso organismo...
- Disto eu tenho certeza...- Confirmou Raimundo.
- Então... somos jovens, modernos, cabeça feita, não temos preconceitos de nada, ou você tem?
- Nenhum.
- Ótimo! Fica então tudo mais fácil...
- Mais fácil para quê?
- Para nós dois nos acertarmos...
- Nós dois???
- Sim... Faz tempo que gosto de você, não é de hoje...
Raimundo compreendeu onde Beto queria chegar. Seu rosto se contraiu, suava como se estivesse a correr trezentos quilômetros por hora. Nervosíssimo, levantou-se da cadeira em que
estava e passou a andar de uma ponta a outra dentro do salão do restaurante...Poucas pessoas frequentavam aquele sofisticado ambiente. Não sabia o que dizer... era aceitar ou certamente perder tudo o que alcançara até então e não galgar mais nenhuma esperança de prosseguir subindo...
- Você está me propondo um caso íntimo comigo, é isso? – Interpelou, com forte brilho no olhar.
- Vejo que entendeu muito bem minha proposta. É isso mesmo.- Beto asseverou.
- Você me dá algum tempo para eu pensar e decidir?
- Lamentavelmente, não! É pegar ou largar, tem de resolver aqui e agora, se aceita ou não.
Todo o esforço dos últimos dois anos de dedicação vieram à sua mente. Todas as possibilidades de um futuro grandioso rasgavam o seu pensar. Estava em cima do muro... num momento em que uma decisão errada poderia pôr abaixo todas as suas aspirações.
- Você soube esperar o momento certo para dar-me esta alfinetada... Tenho um bom salário, resido com meus pais num apartamento confortável sem nada pagar de aluguel, enfim, você aguardou ver-me amarrado por todos os lados e agora cobra o que acha que lhe devo...- Raimundo disse.
- Você não me deve nada, Raimundo... Eu que gosto de você, fazer o quê? Ou aceita ou não...
Raimundo coçou o queixo. Estava mais calmo, já não suava tanto... Conseguiu prolongar o diálogo e mentalmente analisou todas as possibilidades... Chegou a uma conclusão:
- Eu aceito!
- Que bom! Sua decisão me deixa feliz, afinal prova o quanto inteligente você é... –Beto falou.
- Não me resta outra saída... Bem lá do fundo do poço, acho que também sinto alguma coisa por você... Isso me ajudou a decidir.
- Gostou do carro que viemos até aqui? É zero, tirei esta semana da agência e está em seu nome. É um presente que ofereço por sua arguta posição.
- Apenas temo uma coisa – Raimundo afiançou.
- O quê? Fale!
- Nos comentários dentro da organização, somente isso...
- Não há razão para preocupar-se com isso: ninguém precisa tomar ciência, seremos os mais discretos possíveis, não será uma relação aberta., até porque não quero e não devo decepcionar meus pais... E também há Eugênia, minha namorada, com quem me casarei brevemente.
- Terá como conciliar os dois lados de sua intimidade?- Raimundo quis saber.
- Sim... Um dos meus apartamentos já está montado para nós dois, será lá que nos encontraremos para nossas particularidades.
E entregou a Raimundo a chave do imóvel.
- Não quero chaves de lá para não levantar suspeitas. Vamos até lá agora, levo-o a conhecer nosso ninho...
O apartamento localizava-se nos arredores da cidade, num condomínio simples. Estava bem mobiliado, tinha de tudo do bom e do melhor. Certo ou errado, o que se passava na cabeça de Raimundo Thiné era não jogar no lixo as oportunidades que a vida lhe oferecia. O tempo encarregar-se-ia de mostrar se sua decisão houvera sido um engodo ou uma opção de acerto.
Neste mesmo dia conheceram-se intimamente e tiveram uma noção de como seria o futuro entre si.
AMANHÃ - O IV CAPÍTULO DESTA I PARTE

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

GERAÇÕES - PARTE I - CAP.II

GERAÇÕES
PARTE I
CAP. II

Dagoberto Antunes da Silva era um homem rude. Não tinha estudo, mal sabia assinar seu nome. Viu-se perturbado diante de tanto dinheiro, contudo sabia que precisava manter silêncio sobre a fortuna que bateu à sua porta. Conseguiu espetacularmente driblar o assédio da imprensa e sumiu com mulher e filho por alguns dias. Instalaram-se num hotel fazenda de uma cidade do interior, levando consigo enorme quantia para fazer jus as despesas que teria. Era necessário esconder-se, pois, em momentos como este aparecem amigos que nunca foram amigos, surgem familiares que jamais deram o ar da graça, enfim, trata-se de romper-se uma solidão à custa da inveja e do famoso “olho grande” que algumas pessoas têm.
- Quantos dias ficaremos aqui, pai? – Perguntou Beto.
- Não sei, filho, ainda. O tempo suficiente para que esqueçam, então poderei voltar à nossa casa, apanhar o que de lá possa nos interessar e sumir de vez, construir uma nova vida para nós.
Exatamente assim procederam. Vinte dias depois, durante uma certa madrugada, Dagoberto deixou Alzira e Beto no hotel e rumou até sua antiga residência. Combinou com a esposa o que podia trazer da antiga habitação e fretou um caminhão. Sua passagem foi rápida e
desapercebida, num átimo fez o que precisava e abandonou o local. Havia comprado neste intervalo de tempo uma boa casa na cidade W, muito distante da cidade K, onde residira. Levou os apetrechos para
lá e retornou ao hotel.
Na manhã seguinte, lá estavam os três dando voltas pelo comércio e comprando mobília nova, tudo novo... incluindo aí vestuário e objetos de uso pessoal para cada um. Estavam radiantes e nem mais se
lembravam do Vale das Cobras. Alzira pôde contratar serviços de secretárias do lar e Beto foi matriculado numa boa escola. Tudo era executado após muita conversa entre pai, mãe e filho, pensado, planejado. .. Discutiam agora a que tipo de empreendimento iriam dedicar-se:
- O que você acha, Alzira? Dê sua opinião... – Pedia Dagoberto.
- Não sei, marido... Temos de pensar com calma, nada pode dar errado.
- O que você acha de abrirmos um bom restaurante? – Dagoberto propôs.
Beto, atento ao diálogo, opinou...
- Não acho que seja uma boa, pai. Trabalhar com comida, além de ser muito cansativo, requer muita disposição e olhares vigilantes nos empregados por causa da limpeza e da higiene...
- Mas veja só, um garoto de 12 anos metendo o bedelho no lugar certo. – disse Dagoberto - você está certíssimo, filho, certíssimo... O que sugere, então?
- Minha mãe é cabeleireira... acho que devíamos abrir um sofisticado salão de beleza para ela num bairro nobre e contratar os melhores profissionais do mercado para trabalharem conosco. Se esse primeiro empreendimento der certo, passaremos a abrir em outros bairros e, até, em outras cidades, formando uma cadeia de salões. Você ficaria controlando a parte financeira geral do negócio... já estamos ricos, ficaríamos mais ricos ainda...
-Grande ideia, meu filho – concordou Alzira – hoje tanto mulheres como homens frequentam salões... Gostei, se seu pai aceitar, vejo que é por aí que vamos iniciar. E aí, Dagoberto, concorda?
- Sim... pelo menos não é com comida, porém com a beleza das pessoas que vamos mexer.
Começaram com o primeiro salão...Deu tão certo que saíram abrindo filiais pelas cidades circunvizinhas. Excelente a ideia de Beto, faturavam bastante, pagavam bem aos funcionários e todos ficavam satisfeitos.
Mesmo praticamente analfabeto, Dagoberto Antunes tinha tino para negócios. Por incrível que possa parecer, encontrou em Beto um fantástico conselheiro. Em tudo que dava sua opinião, os resultados eram surpreendentes, as coisas prosperavam abundantemente. Certo dia, em casa, à noite, saiu-se com esta:
- Pai, tanto você como minha mãe necessitam de se cuidarem. A aparência pessoal é muito importante, especialmente porque são empresários. Vá a um dentista, cuide de seus dentes...Usem roupas de marca, sapatos de grife. Nosso empreendimento está no auge e logo seremos considerados comerciantes bem sucedidos e vamos aparecer na imprensa... Pense nisso!
Beto estava coberto de razão. Dagoberto deu valor às palavras do filho. Tempos depois, tanto ele quanto Alzira, só andavam impecáveis... até carro de luxo compraram. Abriram filiais em outros Estados, o fruto do trabalho rendia grande fortuna e continuava crescendo, crescendo...
Alguns anos se passaram. Aquela humilde família do Vale das Cobras eram, agora, milionários, souberam com argúcia empregar o dinheiro e, a conselho de Beto, também aplicaram seus ganhos noutros setores. Investiram em imóveis e se tornaram proprietários de inúmeros apartamentos, casas, lojas e, até, prédios. Estavam consolidados.
Beto Antunes acabara de completar 16 anos. Havia se transformado bastante. Crescera, tinha agora quase 1,80cm de altura, possuía um corpo bonito e bem cuidado... nem lembrava mais o menino franzino e raquítico do antigo Vale das Cobras. Tornara-se estudante de peso e sonhava cursar administração de empresas a fim de que pudesse gerir os negócios da família. Era este o teor da conversa que mantinha com os pais, num domingo à tarde no alpendre da mansão onde residiam, o mais novo lar da família.
- Meu filho, tem certeza de que deseja essa formatura? – Indagava Dagoberto.
- Sim, pai, é interessante que eu estude. Nossos empreendimentos deram um salto muito alto, logo você e minha mãe vão precisar que eu esteja à frente de tudo, afinal tem trabalhado demais e breve desejarão o devido descanso, só sombra e água fresca.- Respondeu Beto.
- Beto tem razão, Dagoberto. – Concordou Alzira – é de suma importância que ele estude, sim. Não vivemos para sementes, um dia estaremos cansados e quem cuidará de tudo? Beto, claro, nosso único filho.
- Está bem, aliás, sempre ouvimos e praticamos o que coloca nosso filho. Assino embaixo, vá se preparar, mais cedo do que possa imaginar, será responsável pelo que houvermos construído. Retrucou Dagoberto.
No final deste mesmo ano, Beto foi aprovado numa universidade federal. Dava início a uma nova fase em sua vida. No convívio acadêmico era muito respeitado e querido pelos amigos. Todos ficavam abismados quando contava a história de sua vida, mostrando suas raízes, sua pobreza e a consequente mudança no estilo de vida. Era um exemplo que mexia com os objetivos e planos dos colegas. Um deles, chamado Raimundo, esperou o instante adequado para ter com Beto um diálogo. Aguardou pacientemente a ocasião, não desejava que acontecesse em frente aos demais.
- Beto... você não se recorda de mim? – Questionou.
- Para ser sincero, não. De onde deveria recordar-me de você?
- Do Vale das Cobras...
- Você era morador daquele lugar?
- Meus pais ainda moram lá, Beto. É verdade que tive pouco contato com você, todavia sempre nos víamos nas peladas do campinho... Só que nunca atuamos no mesmo time, eu era adversário em todas as partidas, pelo simples fato de não fazer parte do seu grupo. Você era um líder!
- Caramba, não lembro mesmo... E você hoje, onde mora? – Beto questionou.
- Depois que fui aprovado no vestibular, saí de casa. Arranjei um emprego à noite, trabalho como garção no restaurante do Malaquias, aqui perto. Ainda bem que esta universidade é pública, pois o que ganho não daria para pagar uma privada.
- Além de ser garção, o que você sabe fazer, Raimundo?
- Lembra que lá perto do Vale das Cobras havia a farmácia do Geraldo Negão?
- Lembro... meu pai fazia conta lá e pagava todos os meses, esse fato está bem vivo em minha memória. – Beto falou.
- Pois eu trabalhei durante muito tempo para Geraldo, no escritório da firma dele...
- Eu acho que já entendi onde você quer chegar... Está ansioso por uma oportunidade nos negócios de minha família, não é isto?
- Bem... é! Caso você possa ajudar-me... Meus pais estão velhinhos, meus outros irmãos se mandaram para São Paulo em busca de trabalho há dois anos e não deram mais notícias... Preciso de um salário fixo e melhor do que ganho para que tenha condições de ajudar meus velhos...
- Verei o que posso fazer por você... qual sua idade, Raimundo?
- A mesma que a sua: 16 anos!
Beto anotou em sua agenda o número do celular de Raimundo e prometeu tentar alguma coisa para ele ou nos escritórios dos salões, ou na imobiliária do pai, órgão que controlava os imóveis que eles tinham.
Um mês se passou. Certa tarde, Beto convidou Raimundo para uma conversa privada.
- Tenho novidades para você, Raimundo. Conversei longamente com meu pai. Nós resolvemos oferecer uma oportunidade a você em nossa imobiliária. Só há um “porém”...
- Qual? – Raimundo perguntou.
- Você estuda durante o dia... como quer um outro trabalho se o que eu tenho para oferecer é nos dois expedientes? – Beto colocou.
- Eu peço transferência de turno, passo a trabalhar durante o dia e a estudar à noite.
- Quanto você tira por mês como garção?
- Muito pouco... Quando o movimento do mês é bom, eu consigo ganhar R$ 500,00...
- Pouquíssimo... Tenho um salário de R$ 1.500 para ofertar e, caso você se dê bem e passe pelo período de experiência, depois dos noventa dias seus rendimentos chegam a R$ 2.000...
- Nossa! Que coisa boa, Beto! Eu topo, eu quero esta oportunidade...
- E ainda tem mais: há um bom apartamento nosso desocupado no mesmo prédio onde se localiza a imobiliária... tem três quartos, varanda, suíte, área de serviço e é totalmente gradeado.
Este apartamento me pertence, meu pai o colocou em meu nome...- Contou Beto.
- O que você quer dizer ao me falar sobre este seu apartamento? – Interpelou Raimundo.
- Não entendeu?
- Não...
- Vou dizer: coloco este apartamento à sua disposição para que retire seus pais do Vale das Cobras e venha com eles nele residir...
- E quanto de aluguel você me cobrará?
- Nada... Sem mexer em seus proventos, considere este apartamento como parte dos seus ganhos... Beto confirmou...
Podia-se perceber que os olhos de Raimundo estavam brilhando... eram as lágrimas que teimavam em não cair...
- Obrigado, Beto... não sei como agradecer tamanha caridade...
- No momento certo eu direi como você poderá agradecer-me...
AMANHÃ O CAP. III DESTA I PARTE

SUCURSAL SECRETO

Saboreio seu suntuoso sorriso,
Sinto sensível satisfação servil,
Sensações sufocam sua saudade
Sobre sedenta sensibilidade sutil.

Sempre sou semântica solidão
Sobrevoando sertões selvagens,
Salpico sempre sutra sensualidade
Somente suturada,  sem solução.

Socorro! sofro sofreguidão solene,
Suculenta simbiose suga sozinha
Sonhos solitários simplesmente...

Seguro sigilosas sentenças sucatas
Soterrando samambaias soltinhas
Sob sementes sedutoras somente!



quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

GERAÇÕES - PARTE I - CAP. I

INICIAMOS A PARTIR DE AGORA MAIS UMA NOVELA - GERAÇÕES -
SERÁ POSTADA EM CAPÍTULOS DIÁRIOS - GERAÇÕES É UM ROMANCE QUE ESCREVI E QUE TRANSFORMO EM TRAMA NOVELESCA. ESPERO QUE GOSTEM. HÁ MUITA AÇÃO, HÁ DE TUDO.
BOA LEITURA!
PARTE 1
“...e tudo começou do nada...”
I
Ventos sopravam forte. Peças estendidas nas janelas balouçavam ao sabor da ventania. Pessoas que caminhavam pelas ruas, vez por outra, necessitavam de segurar-se em algum apoio, pois, poderiam perder o equilíbrio e estatelarem-se no chão seco. Plenamente indiferentes àquele cenário, os meninos corriam afoitos pelas campinas... As meninas davam dengos às suas bonecas e outras, um pouco mais velhas, sustentavam entre os dedos seus vestidos amarelados pelo tem-po. O campo de peladas fervilhava de garotos que brigavam entre si numa acirrada disputa pela bola quase murcha, que rodava de pé em pé. Apesar dos açoites que se escutavam, o calor era escaldante. Veículos enferrujados levantavam a poeira que penetrava os casebres de taipa que
desenhavam o perfil da comunidade. Alguns cachorros doentes
desfilavam tranquilos, outros, pomposamente esticados nas soleiras de suas casas, lambiam seus pelos, ou dormiam despreocupados. Esgotos corriam a céu aberto e um odor nauseabundo invadia os olfatos já acostumados àquela podridão. Esta a fotografia do Vale das Cobras, paupérrima vila de moradores da cidade K. O local parecia esquecido pelas autoridades: não havia escolas, nem delegacia de polícia, nem supermercados... Não havia nada! Somente uma praça mal cuidada, suja e uma igreja evangélica adornavam este ambiente nefasto. Havia carência de energia e água. Nos quintais de algumas propriedades ainda se podia ver o uso da cacimba, mas o líquido ali existente era
salobro e meio escuro. Foi exatamente nesta tarde enferma que Alzira gritava e saiu às pressas à procura do filho.
- Beto! Beto! Beto!
E se enfurecia, porque gritava que gritava e nada do menino aparecer. Prosseguia:
- Beto! Beto! Beto!
E se lastimava: “Onde se meteu esta criatura, meu Deus?” Percorreu a vila inteira e foi encontrá-lo no único lugar onde não poderia deixar de estar: no campo de peladas, a correr doidamente atrás da bola.
- Beto! Venha! Tenho algo para dizer a você, menino sapeca. Venha, menino!
E a criança largou os amigos e a redonda e foi ao encontro da mãe:
- O que a senhora quer? Não vê que estou treinando para meu futuro? Que impertinência! – Dizia Beto.
- Não fale assim comigo, seu moleque...Quebro sua cara aqui mesmo, diante de todos. – Ameaçava Alzira. – Venha, temos algo importante para contar a você e seu pai o espera, impaciente.
E lá se foram ambos, cada qual resmungando para um lado.
Chegaram em casa. Entraram. Dagoberto estava com uma dose de pinga à mão e os dentes podres à mostra, num sorriso pouco comum para a população daquele lugar.
- Quer falar comigo, pai? – Foi logo inquirindo Beto.
- Quero. Sente-se e ouça com atenção o que vou dizer. Não me interrompa. Finalmente você vai poder realizar todos os seus sonhos. Vamos sair deste lugar nojento e viver como gente grande e importante...
- O senhor conseguiu um bom emprego? Foi isso?
- Que menino teimoso! – queixou-se Dagoberto – eu disse para você não
me interromper. Não consegui emprego algum, pelo contrário, eu que darei trabalho aos outros. Deus foi muito misericordioso, Deus fez de mim o único acertador da Loteria, Beto... estamos ricos, meu filho!
Os olhos de Beto mal podiam crer naquilo que eu pai estava dizendo. Será que não era efeito da cachaça?
- Pai, faz tempo que está bebendo?
- Por que? Pensa que estou delirando?
Dagoberto pegou o pedaço de jornal que havia em um dos seus bolsos e do outro retirou o recibo da casa lotérica.
- Está aqui. Confira você mesmo. Confira!
E Beto conferiu o resultado. Fez em seguida algo que nunca fazia...só em festas de fim de ano...
Deu um forte abraço em seu genitor e o derrubou no velho sofá.
- Pai... pelo amor de Deus! Nós estamos ricos, ricos, ricos! – Repetia que repetia e as lágrimas desciam pelo rosto. – Já sabe de quanto é o prêmio?
- Sei. Oitenta e cinco milhões de reais... Oitenta e cinco milhões... Falava e chorava abraçado ao filho.
- Venha, Alzira, fazer parte deste aconchego. – Dagoberto chamava pela esposa.
Dagoberto e Alzira eram casados há 13 anos e sempre moraram no Vale das Cobras. Não tinham outros filhos, apenas Roberto, garoto de 12 anos. Roberto era baixinho, não chegava a ter 1,60cm, era o máximo que poderia ter. Moreno claro, cabelos pretos e lisos, olhos também pre-
tos. Possuía um nariz afilado e tinha as orelhas pequenas. Sua boca era meio grande e seus lábios bastante carnudos. Sua pele era lisa e macia, isenta de pelos, somente os tinha e em pouca quantidade na região púbica. Estava em plena puberdade.
- Venha, Beto, tomar banho, nós vamos sair. – Ordenou Alzira.
- Quantas vezes já lhe disse que não precisa mais de dar banho em mim? Sou um rapazinho, por favor, respeite minha intimidade. – Reclamou Beto.
- Você está vendo isto, Dagoberto? – Frisou Alzira. – Já quer botar as asas de fora, este moleque.
- Alzira, venha até aqui. – Pediu Dagoberto. – Já conversamos sobre isto. Deixe o menino tomar o banho dele sozinho... É como ele diz, está ficando um rapazinho, já tem até pentelho...
E Alzira saiu dali. Ficava aborrecida com estas coisas. Para ela, Beto ainda era um bebê e necessitava, sim, dos cuidados de mãe.
Todos tomaram banho e se vestiram. Fecharam a casa e saíram. Foram à Caixa, os três, e Dagoberto identificou-se como único acertador e foi contemplado com o recebimento do prêmio.
AMANHÃ O CAPÍTULO II DA I PARTE

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

JAZIGO DO TEMPO

Frágeis pinheiros se dobram aos ventos
Num balouço que faz tremer suas raízes,
Há açoites que pintam imensas cicatrizes
Na caricatura dos vendavais que enfrento.

No assobio das brisas a natureza é pânico
Açodada por cachoeiras de folhas mortas
Que sobrevoam perante as horas amorfas
Dum tempo em que sobreviver é titânico.

Nuvens negras cobrem a atmosfera densa
Salpicando ferrugem sobre pilares e crenças
Num mundo corroído por intensa indigestão...

Tempestade de valores mistifica o cosmos
Saturado pela abadia de vocábulos mornos

Que jazem intrusos no seio pífio da emoção! 

MAGIA DA MADRUGADA

Meia noite. O galo estrala seu canto nos ares.
Meu pensamento se embala no ritmo da sonata
E remói reminiscências que a memória contrata
De longes madrugadas tecidas ao longo dos vales.

Enquanto goela em sinfonia, os pés puxam areia
Dum solo aveludado pela brisa que espirra o pó
Que leva minúsculos grãos numa viagem sem nó
Até os mais altos picos onde a natureza pranteia.

Serenata que é silencio no alpendre das estrelas
Embevecidas pelo tom reiterado de notas iguais,
Às vezes roucas e gripadas pelo frio que contrai
A garganta já extenuada, sem brilho e centelha.

Zero hora... fronteira... dia nasce,  outro morre,
A esperança é que o nada no tudo se transforme! 


sábado, 3 de janeiro de 2015

500 POEMAS

ESTA VOCÊ NÃO PODE PERDER !
IVAN DE OLIVEIRA MELO EM 500 POEMAS

OPORTUNIDADE DE OURO, NÃO PERCA!
UMA OBRA INESQUECÍVEL!
EM UM SÓ ARQUIVO – 500 POEMAS DO POETA.
VOCÊ ADQUIRE POR APENAS R$ 10,00
DEPOSITE O VALOR DO ARQUIVO NO
BANCO ITAÚ
AGÊNCIA – 0364
CONTA POUPANÇA - 65.410-3/500
COMPROVE SEU DEPÓSITO ATRAVÉS DO E-MAIL
imelo10@gmail.com
OU ATRAVÉS DO CHAT DO FACEBOOK E RECEBA
IMEDIATAMENTE A OBRA EM SEU E-MAIL
IMPERDÍVEL!