quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

DILÚVIO



No seio da floresta o vento assobia
E tenebrosa tempestade desaba...
Balouçam os galhos tépidos em agonia
E, pelo uivo dos lobos, fenece a mata.

Riscam os céus relâmpagos atrevidos,
Animais em polvorosa buscam refúgio
Nas fendas onde gritos são os gemidos
Que cantam sobre as notas do prelúdio.

Ressoam os austeros trovões cósmicos
Que assustam de medo todos os trópicos
Já cansados pela água que inunda os vales...

E a chuva castiga o solo arenoso e tíbio...
No frio se congelam as vozes do fascínio
Dos indivíduos acovardados em seus xales!



DE  Ivan de Oliveira Melo  

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

SALVE O VINHO!




Eis o vinho!
Eis a chuva!
Roxa é a uva;
Branco, o linho.

Desejo o ninho
Dos ovos de ouro!
Eis, então, o tesouro,
Botija do meu pinho.

Do vinho, bebo;
Do tesouro, gasto.
Bem-vindo ao pasto,
Aqui tudo é sebo.

Quero meu gole
Do branco ou tinto;
É que estou faminto
Do vinho que me engole...

Salve a videira dos anos!
O vinho é meu mestre;
Nele me afogo, pedestre
Do tempo e dos danos...

Eis o vinho, ainda!
Sabor dos parreirais;
Cambaleio, mas vou atrás
Dessa bebida assaz linda!

Dionísio me despertou
Através das doses da vida;
Agora já não há mais saída,
Beber que beber: vinho, amor!

À cata da noite estrelada,
Dá-se com o vinho a tiracolo;
E, para a festa, convido Apolo
 A brindar dos deuses à sua fada!


DE  Ivan de Oliveira Melo


ESTE POEMA É UM DITIRAMBO.

Na Grécia Antiga, poema dionisíaco.

MADRIGAL PASSIONAL



Vejo na penumbra apenas tua sombra
E teu vulto a escalar um desejo sóbrio;
Teu apetite é vasto e me jogas nas ondas
Dum mar revolto que me retira do ócio
E me faz ter profundas convulsões de amor.
Dardejo-te ao enviar a ti um beijo multicor
E de receber em troca rebeliões de carinho.
Minh’alma sorve-te o olhar e, de mansinho,
Copula em palavras um manancial de prazer
Onde o nada é tudo e tudo pode acontecer...
Apenas há convicção de que muito te quero
E a certeza de que teu amor em nada é estéril!


DE  Ivan de Oliveira Melo


domingo, 3 de fevereiro de 2019

TEMPERO INTELIGENTE



Grandes portas são abertas com pequenas chaves,
Esta verdade vem do coração, não das línguas...
Na realidade, os ventos levam para longe as palavras,
Pois aquilo que se inflama rapidamente, logo se extingue.

É cósmico ser taciturno,
Porque é no silêncio que se obtém prudência e sabedoria.
Com a tranquilidade aos nossos pés, observa-se o que convém,
Porquanto quando se vê apenas o que interessa,
Certamente se passa a ser cego por opção.

Na vida há muitas estradas:
Umas bem cuidadas; outras, esburacadas, cheias de obstáculos,
Porém aquele que se torna vencedor, é o que não pisa outrem.
O homem pode ser mais duro que o ferro,
Mais forte que uma pedra,
Contudo é mais frágil que uma rosa.
E o bom samaritano é o indivíduo
Que sabe escutar cem vezes, ponderar mil,
No entanto só em uma oportunidade abre sua boca.

É necessário ser sábio, compreensivo, solidário,
Visto que se a chama que há no íntimo da criatura apagar-se,
As almas que estiverem ao lado passarão a sentir frio.
O bom servo está sempre pronto a intervir...
É bom lembrar que por amor a uma rosa
O fiel jardineiro serve a mil espinhos.

Nada é tão difícil, nem tudo é tão fácil.
A própria água não discute com os obstáculos,
Não obstante contorna-os!
As vitórias não são perenes,
Elas são como um lago que ganha forma gota a gota.

Pequenos detalhes não analisados
Podem ser veredas para derrotas,
Basta lembrar que a mosca é ínfima,
Entretanto grande é o tormento que causa.
Não se deve dar tino ao orgulho,
A humildade é a alavanca do sucesso,
É como as palavras que são prolatadas com amabilidade:
Elas têm o poder para abrir portas de ferro.

O conhecimento é essencial para a vida.
Aquele que não ilustra seus filhos do saber,
Ensina-os a ser ladrões.
Tudo é passageiro:
A beleza passa, a riqueza às vezes se perde,
O saber é eterno.
Olhe sempre seus pertences, seus afazeres, sua casa...
O anfitrião é deveras empregado do convidado!


DE  Ivan de Oliveira Melo


POEMA INSPIRADO EM PROVÉRBIOS TURCOS.



sábado, 2 de fevereiro de 2019

PRESUNÇÃO



Se um dia eu morrer, canta para mim!
Meu lábios rijos hão de acompanhar-te
E, assim, mesmo morto, serei tom e arte
A embalsamar uma melodia até o fim.
Caso eu morra, ah! Não quero preces,
Desejo que a música estribilhe o funeral
E, assim, mesmo morto, serei infinitesimal
Perante os acordes que tanto me apetecem!

Contanto que eu morra, ah! Quero festa,
Desejo escutar canções sob égide de seresta
E, assim, mesmo morto, ébrio, serei eterno!

Desde que eu morra, oh! Não quero valsas,
Arpas celestiais expurgarão as notas falsas
E, mesmo morto, vivo estarei em teu caderno!


DE  Ivan de Oliveira Melo



BÁLSAMO




O sol devaneia sobre as nuvens febris,
O éter saboreia inconsciente os astrais
Donde se sente a essência dos funerais
Que sepultam as estrelas ainda infantis.

Sobre as almofadas do espaço vagueiam
As ondas magnéticas invisíveis ao olhar,
Contudo ebúrneas cicatrizes estão a rolar
Perante a abóbada onde sonhos permeiam.

Enquanto no solo pálido a vida é revanche,
Os ventos sopram em verdadeira avalanche
Desnutrindo a natureza tímida que se cala...

Furtivas, as almas se fitam assaz pavorosas,
Escondem-se nos vagões das rosas libidinosas
E daí se extrai um perfume aziago de opala!


DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

FREE POEM





Once I was a child.
Twice I grew up.
Now It’s very dark
The time on my side.

Three times I cried.
Four times I smiled.
Now I see my mind
Sleeping. Little tired.

Once I was a teen.
Twice I was seen
With a crazy dream…

Many times I was old.
Now I seem a stone
Or a flower of Spring!


BY  Ivan de Oliveira Melo