sexta-feira, 28 de novembro de 2014

ARTESÃO DE VIDAS - I

S E R I A D O
ARTESÃO DE VIDAS
CAPÍTULO I
Tádzio entrou em pesado sono na cama de Joab. Joab deitou ao seu lado na cama de solteirão, bastante larga. Mas Joab não adormecera. Começou a pensar nas perguntas que sempre fazia ao seu espelho. Ali estava a resposta. Estava diante de um belíssimo garoto. Loiro tal qual si mesmo, mais loiro, ainda, talvez, olhos bastante azuis e uma pele alvíssima. Um tórax magro, mas bem dividido e bonito, peitos pequenos, umbigo menor que o próprio e mais fundo. Partes íntimas bem torneadas e protegidas por uma grande quantidade de pelos, quase loiros, como os seus. Corpo perfeito... Será que Tádzio era mais bonito que ele? Esta era a pergunta que teimava permanecer em sua mente. Tentou livrar-se destes pensares e, igualmente, adormeceu. O sono foi intranquilo, pois, a concorrência ao seu lado não o deixava em paz. Acordou-se suado... Tádzio ainda dormia. Joab não conseguiu mais dormir, levantou-se, foi ao banheiro, escovou os dentes e procurou pela bolsa da escola,
abandonada molhada no chão da sala. Recolheu-a e agradeceu ao Alto, porque os livros não foram afetados. Com livros e cadernos às mãos, sentou-se no tapete da sala e iniciou-se a estudar. Estava em semana de provas e precisava preparar-se para o exame do dia seguinte.
Concentrou-se e estudou até anoitecer. Neste momento, Tádzio se acorda e o encontra absorvido, tendo um livro às mãos. Para não tirar-lhe a concentração, caminhou devagar até o sofá e ali sentou-se. Es-
peraria que seu “salvador” concluísse os estudos, o que não demorou muito.
- Você gosta de estudar, não é Joab?
- Sim, eu adoro. Você não gosta?
- Como você, também adoro, mas...
- Mas...
- Minha madrasta e o marido dela não me permitiam estudar. Eles sempre me diziam: “Para quê você quer estudar? Para você é pura perda de tempo, posto que sua função já está determinado até o fim de seus dias... será um eterno secretário do lar... lavar louça, lavar roupa, varrer, lavar banheiro...”
- Pare! – Joab pediu – Isso me dá náuseas – Você não vai se especializar em nada disso... você vai estudar, ser alguém na vida...
- Como? – indagou Tádzio – eles não me deixarão, nunca...
- Vamos esperar minha mãe chegar – informou Joab – contarei tudo a ela, inclusive a razão pela qual você fugiu de casa. Tenho certeza de que minha mãe fará alguma coisa para ajudá-lo, tenho convicção disso.
- Oh, Joab, isso seria um sonho...
- Não sonhe, você está perante uma realidade bem próxima.
- Como pode ter tanta certeza? – Inquiriu Tádzio.
- Minha mãe sempre soube de um desejo meu, um desejo quase que secreto...
- Pode me dizer que segredo é esse?
- Posso. Sempre sonhei em ter um irmão... Você se encaixa dentro desse meu desejo...
- Sério?
- Óbvio! Detesto ficar sozinho... Preciso de companhia, de alguém que converse comigo, que seja além de meu irmão, meu amigo... Você gostaria de ser esse alguém?
Outra vez os olhos de Tádzio se encheram de lágrimas. Estava se emocionando.
- Uau! Gostaria, sim... Terminariam todos os meus tormentos...
- Tudo vai depender de minha mãe, porque de minha parte é isto o que quero...
Novamente se abraçaram...
- Estou faminto – disse Joab – vamos lá para cozinha comer.
Fizeram um lanche, isto é, jantaram. Deixaram a cozinha em ordem e retornaram à sala, onde se aboletaram no sofá. Estavam novamente a conversar.
- Você nunca foi à escola? – Perguntou Joab.
- Claro que fui, mas apenas enquanto meu pai era vivo. Depois que ele morreu, iniciou-se minha via crucis...
- Faz quanto tempo que seu pai morreu?
- Três anos. De lá pra cá, só tormentos ocorrem em minha vida, por isso fugi, eu não aguentava mais, juro que não...
- E sua mãe? – Indagou Joab.
- Morreu quando eu tinha 4 anos... Tempos felizes passei ao lado de meu pai, até que, para minha infelicidade, ele resolveu casar-se outra vez...
- E depois ele morre, deixando você em companhia da madrasta... Que sorte madrasta! Entretanto isto vai se acabar... você, se Deus quiser, ficará aqui para sempre.
- Que Deus esteja falando através de sua boca!
E se abraçaram mais uma vez.
Ligaram a TV e assistiram a alguns programas, porém o sono chegou ao mesmo tempo para ambos. Desligaram a televisão e rumaram para o quarto.
- Onde dormirei? – Tádzio quis saber.
- Aqui em minha cama.
- E você?
- Eu durmo, por enquanto, na cama de minha mãe. Caso ela resolva de você ficar, aí então veremos como procederemos.
E a noite passou rapidamente. No dia seguinte, pela manhã, pela primeira vez nos últimos tempos, Joab não houve de se contemplar no espelho. Na verdade, ficara bastante intrigado, de certa forma o espelho dera –lhe uma resposta, já que todos os dias formulava a ele as mesmas perguntas. Sentou-se na cama. Com a ponta dos dedos limpou os olhos, nem houvera se espreguiçado, como de costume. Levantou-se e pé ante pé, dirigiu-se ao seu quarto, onde Tádzio ainda dormia, tranquilamente.
Despiu-se totalmente ali mesmo e entrou no banheiro. Era cedo ainda, havia tempo mais do que suficiente para um banho demorado. Foi o que fez. Para despertar-se plenamente, molhou-se com água fria. Findou o banho, enxugou-se e penteou os cabelos. Enrolado na toalha, entrou no quarto. Desta vez Tádzio estava desperto.
- Bom dia! – cumprimentou Tádzio.
- Bom, dia! – Joab respondeu. – Vai tomar banho agora? Se for, espero por você para fazermos o desjejum juntos...
- Não vai se atrasar?
- Não, é bastante cedo ainda... não são nem 6 e meia e eu só saio às 7 horas.
- Está bem, tomarei um banho rápido.- Disse Tádzio.
- Quer um outro calção?
- Este está bem, está limpo ainda.
Tádzio foi o para o banho e Joab ficou a vestir-se para ir à escola. Estava calçando as meias e os sapatos, quando o amigo retornou.
- Já? – Inquiriu Joab.
- Meu banho normalmente é rápido.
Foram à cozinha e fizeram o desjejum. Antes de sair, Joab disse.
- Fique à vontade, a casa é sua também. Deverei voltar da escola doze e meia.
- Tranquilo – colocou Tádzio – ficarei à sua espera para almoçarmos juntos.
Joab encaminhou-se à escola e Tádzio ficou na sala, assistindo à TV. Eram 12 e 35 quando Joab chegou.
- Oi, falou Joab – como passou a manhã?
- Inteirinha aqui sentado e vendo TV.
- Já tomou banho para almoçar?
- Ainda não! – respondeu Tádzio.
- Vá tomar seu banho, depois tomo o meu.
Tádzio num instante tomou banho e estava no quarto desnudo, Joab entrou.
- Está querendo uma roupa limpa, não é?
- Sim, agora é bom eu vestir uma limpinha. Você não se incomoda de eu estar usando seu vestuário?
- De forma alguma.
E foi ao guarda- roupa e deu-lhe uma bermuda.
- Cueca não precisa, estamos dentro de casa, assim não sujamos tanto, não é mesmo?
- Concordo com você, mas vá tomar seu banho que estou com fome...
Joab já havia tomado seu banho e ambos se fartavam à mesa.
- Sua mãe cozinha muito bem, sabia? Comida deliciosa, esta... – Elogiou Tádzio.
- Em nome dela agradeço.
E ambos riram. Ainda não haviam parado de rir, quando Elza adentrou à cozinha...
- Quem é este garoto lindo, amigo do meu filho?
Joab levantou-se num impulso e correu para os braços da mãe.
- Que saudade, mainha... Ainda bem que chegou... Ah, este é Tádzio, temos muito o que conversar sobre ele...
- Olá, Tádzio, que nome bonito! – Falou Elza.
Encabulado, Tádzio agradeceu.
- Muito obrigado, dona Elza, muito obrigado.
-Vou tomar um banho e também almoçar...
- Certo, mãe, quando você concluir seu almoço, nós conversaremos.
Elza foi para seu quarto. Trancou a porta, despiu-se e entrou em sua suíte. Nada demorou no banho, estava com a pulga atrás da orelha... O que estaria fazendo ali aquele menino? Joab não trazia amigos para dentro de casa assim em sua ausência. Alguma nova havia e ela estava “louca” para conhecer desta novidade.
Almoçou com vagar. Depois sentou-se na poltrona da sala e os meninos se aproximaram. Logo Joab discorreu sobre o assunto, relatando todos os detalhes que conhecia sobre Tádzio. Elza ficara perplexa, ao mesmo tempo bastante atordoada...
- Não sei o que dizer, Tádzio. Sua história de vida me comove, contudo é um grande abacaxi para ser descascado. Você não tem outros parentes da parte de seu pai ou de sua mãe?
Com os olhos vermelhos e com lágrimas pingando, Tádzio disse:
- Tenho, dona Elza, claro, mas ninguém quer saber de mim... Já fugi outras vezes para casa de parentes, porém me devolveram à minha madrasta.
- Que situação, a sua... Preciso pensar e pensar... Enquanto não tenho uma decisão formada, vá ficando por aí... Haveremos de encontrar uma solução... É complicado.
- O que a senhora fizer por mim, eu agradecerei. O que não posso é voltar de onde vim, desta vez serão capazes de matar-me... Tenho medo, muito medo...
- Tranquilize-se. Se não puder ficar com você, com seus familiares com quem vive é que não o deixarei mais ficar. Eles são desumanos.
E Tádzio mostrou as costas, comprovando os maus tratos de que era vítima.
- Entendo, Tádzio, isso é caso de polícia... o que percebo nisso tudo é tortura, e você ainda é uma criança, meu Deus...
Elza se levantou, volveu ao seu quarto e voltou arrumada para sair.
- Não irei trabalhar, meninos, irei ao escritório de um advogado amigo meu. A ele contarei seu caso, Tádzio e farei o que ele me orientar.
- Mãe, por favor, não esqueça... eu gostaria muito que você adotasse Tádzio... Gosto dele como a um irmão... Colocou Joab.
- Isto pesará em minha decisão, filho, mas não é coisa que se revolva do dia para a noite, temos de ter calma e agirmos dentro dos parâmetros da Lei.
- Eu sei que você tudo fará para manter Tádzio aqui conosco, eu sei que sim...
Elza mais nada falou. Tomou da bolsa e da chave do carro. Abriu a porta e saiu. Notava-se que ela estava um pouco apreensiva... Nunca se deparara com nada semelhante antes. Mas verdade que seja dita: Simpatizara igualmente com Tádzio, achava-o tão bonito quanto o filho, no entanto não podia ficar com ele dentro de casa sem ordem judicial. Isto traria problemas e problemas muito sérios...
AMANHÃ - O CAPÍTULO II

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

ARTESÃO DE VIDAS

A T E N Ç Ã O - N O V O S E R I A D O
ARTESÃO DE VIDAS
P R Ó L O G O
Joab Matias despertou ainda sonolento. Virou-se para o lado da janela e, pelos vidros, percebeu que chovia torrencialmente. Espreguiçou-se uma, duas, três vezes... Intensa falta de coragem o dominava. Lembrou-se de que havia prova no primeiro horário e deu um salto da cama. Desvencilhou-se das vestes e correu para o banheiro. Pôs o chuveiro elétrico em água morna e se banhou, demoradamente. Finalizado o banho, retornou ao quarto enrolado na toalha. Diante do espelho que havia bem em frente à sua cama, deixou a toalha cair e ficou a contemplar-se, maravilhado que era com seu próprio corpo. Nestes momentos se esquecia do mundo, porque nada para ele era mais importante do que vislumbrar a própria beleza. Realmente, era belíssimo. Estava no auge dos seus 15 anos, os hormônios à flor da pele. Conversava consigo mesmo: “Diga, meu espelhinho, há outro garoto nesta terra tão lindo quanto eu?” Nada do espelho responder. Mais uma vez perguntava: “Vamos, espelhinho, não me deixe assim... preciso saber: existe um outro menino neste mundo tão lindo quanto eu?” E passava as mãos pelos bonitos e lisos cabelos loiros, tão amarelos quanto o sol. E levava as mãos a acariciar as maçãs do rosto, rosadas e que contrastavam com sua pele alvíssima.
Depois permitia que caíssem até o tórax e, levemente, massageava o peito, redondinhos e pequenos, bem desenhados. Sua contemplação não parava por aí, as mãos desciam e cutucavam o pequenino e fundo umbigo, sentindo um leve prazer. Custava mais a apreciar-se em suas partes íntimas. Achava-as perfeitas, ornamentadas que eram por imensa quantidade de pelos, meio aloirados. Para concluir sua análise de todas as manhãs, dobrava o corpo e, num bom ângulo de visão, podia ver suas nádegas carnudas, bem torneadas e lisas. Considerava-se o máximo e não admitia que houvesse outro garoto que chegasse perto de si.
Dizia-se mentalmente: “Nem Narciso foi também lindo e perfeito quanto eu...”
De repente, deu-se conta das horas. Estava atrasado. Rapidamente vestiu-se e pôs sapatos e meias, arrumou livros e cadernos dentro da bolsa e correu para a cozinha. Não comeu, engoliu o que achou... Saiu às pressas, tomou o elevador e ganhou a rua. Mesmo debaixo da chuva, que agora era fininha, esperou a condução. Para sua sorte, não demorou. Conseguiu chegar em tempo, no instante em que a sineta tocava, anunciando entrada à sala de aula.
Joab Matias era filho único de Elza, uma mulher ainda jovem. Era mãe solteira. Houvera, há quinze anos, tido uma profunda relação com Fábio Matias, um rapaz irresponsável e cretino. Na verdade, apaixonara-se por ele e não mediu as consequências de seus atos. Quando soube que Elza estava grávida, Fábio simplesmente desapareceu e Elza só veio a saber de seu paradeiro perto do parto de Joab. Fábio fora acidentado por uma moto e levado às pressas a um hospital, contudo não resistira aos ferimentos, falecendo no local.
Elza Santiago era uma mulher de fibra. O pai não aceitara sua inconsequente gravidez e ela foi obrigada a sair de casa. Alugou um apartamento pequeno, de dois quartos e ainda nele residia. Após o parto, teve a assistência de algumas amigas que lhe deram total apoio. Graças a isso, pôde driblar instantes de profunda necessidade. Passados os meses de resguardo, uma de suas colegas indicou-a para uma fábrica de tecidos e nesta indústria têxtil trabalhava até o presente. Era exímia vendedora e ganhava excelentes comissões, o que lhe era suficiente para viver razoavelmente em conforto com o filho. Dos seus rendimentos tirava o sustento, pagava uma boa escola para Joab e nada permitia que falfasse. Comprou um carro seminovo e viajava bastante, vendendo seus produtos. Estava agora a juntar na poupança uma quantia que desse para comprar seu próprio imóvel, queria livrar-se de aluguel.
Joab Matias fizera boa prova. Estava a comentar com os amigos o que respondera e seus olhos verdes brilhavam de contentamento.
- Estão vendo, até para ter sorte é preciso ser bonito. Dizia.
- Que nada, Joab! – retrucava Márcio – Você pegou cola com Aninha, pensa que não vi? Nem cego eu sou!
- Por isso mesmo, idiota! Se eu fosse feio ela não me ajudaria. Ria-se.
O tempo continuava fechado. A chuva parecia mais intensa. Joab teria de voltar para casa. Na pressa de chegar em tempo à escola, esquecera-se do guarda-chuva. Esperou que esperou e nada de haver uma estiada. Resolveu enfrentar o aguaceiro e se foi. Já entrou no ônibus ensopado, protegendo a bolsa por baixo da blusa. Ao chegar em seu ponto, desceu. Buscou caminhar o mais rápido que pôde. Antes de dobrar em sua rua, presenciou algo que o chocou deveras. Quatro trombadinhas espancavam um garoto solitário. Tomaram sua bolsa, arrancaram o relógio do pulso, um trancelim vagabundo que enfeitava o pescoço estavam tirando-lhe as vestes. Joab ficou sem ação debaixo de uma marquise. A tudo assistia, porém o medo tomou conta de si. Os trombadinhas deixaram o garoto totalmente desnudo em pleno meio da rua, esticado no asfalto e com ferimentos espalhados pelo corpo.
Escorria sangue por seu nariz... Joab se apiedou. Gritou: Polícia! Polícia! Polícia!
Os delinquentes, ao escutarem, debandaram-se e Joab chegou perto do menino, todo machucado e nu. Deu-lhe a mão e o levantou. Tirou sua própria camisa e pediu ao garoto que cobrisse sua vergonha.
- Proteja suas partes íntimas e venha comigo. Moro aqui perto e vou ajudá-lo.
Ainda debaixo de forte chuva, caminharam e chegaram ao edifício em que Joab residia. Por sorte não havia ninguém na portaria e ambos se deslocaram rapidamente até o apartamento. Joab abriu a porta e ambos entraram.
- Siga-me- Pediu Joab.
O menino estava meio que autômato, obedecia singularmente a tudo o que Joab propunha.
- Este é meu quarto. Permita que me apresente: chamo-me Joab Matias e tenho 15 anos. E você? Qual seu nome? Que idade tem? De onde vem?
O menino não conseguiu responder de imediato. Segurava firme a camisa que protegia seus tesouros e caiu num convulsivo pranto. Joab teve compaixão. Aragarrou-o e o abraçou.
- Não tenha medo... Não vou fazer mal a você. Quero apenas ajudá-lo. Permita-me! Joab falou.
Lentamente o desconhecido foi dominando o choro. Estava visivelmente perturbado com o que lhe acontecera. Estava em estado de choque.
- Não se envergonhe... Ponha-se à vontade. Aqui só há eu e você. Vou levá-lo até o banheiro para que se banhe. Além de todo sujo, está muito ferido. Bateram bastante. Vou cuidar destes ferimentos e dar-lhe uma roupa limpa para que vista. – Joab prometeu.
Conduziu o garoto até o banheiro e o colocou debaixo de chuveiro. Ligou na água quente.
-Dê-me a camisa. Vá, banhe-se... A água está gostosa. Pode usar de tudo aí: xampu, sabonete, condicionador... vou pegar uma toalha para você.
Bastante constrangido, o menino devolveu-lhe a camisa e iniciou um longo e gostoso banho. Depois Joab deu-lhe a toalha e ele se enxugou.
- Voltemos para o quarto, separei umas vestes para você. A sorte é que tem um corpo muito similar ao meu. Minhas roupas o vestirão muito bem, mas não as vista ainda. Vou tirar estas roupas molhadas, igualmente tomar um banho e venho cuidar dos seus ferimentos, só depois você se veste, está bem?
O desconhecido balançou a cabeça afirmativamente. Enrolado na toalha, deitou-se na cama de Joab e... adormeceu.
Joab pegou uma bermuda e uma cueca e se dirigiu ao banheiro. Tomou seu banho, enxugou-se e botou as vestes. Penteou os cabelos e trouxe o pente para pentear os do menino. Ao entrar em seu aposento, viu que o mesmo dormia, de forma profunda.
- Caramba! Ele está exausto, porém terei de acordá-lo, é necessário ver os ferimentos e vesti-lo.
Delicadamente Joab tirou a toalha que cobria o corpo do ferido, que abriu os olhos, meio sonolento.
- Não se avexe – disse Joab – estou a cuidar dos seus ferimentos. Sei que vai arder um pouco, é sanativo. Ainda bem que são apenas arranhões. E havia arranhões pelo tórax, pernas e nádegas.
- Pronto – afirmou Joab – agora fique de pé e ponha este calção.
Joab entregou a ele o pente e, logo, os cabelos ficaram impecavelmente penteados.
- Eu estou com fome – asseverou Joab – você não está?
Pela primeira vez Joab escutava sua voz.
- Sim, estou – respondeu – estou bastante faminto.
- Acompanhe-me e traga esta toalha para estender na área de serviço.
Os dois se dirigiram até a cozinha. Elza estava viajando, mas deixava pronta no “freezer” as refeições de Joab, era só esquentar.
Comeram em silêncio e beberam suco de goiaba. Deixaram tudo limpo e voltaram ao quarto.
-E aí, deu para matar sua fome? – Joab quis saber.
- Sim. Estou bem agora.
- Podemos conversar ou você prefere dormir, posto que está cansado?
- Podemos conversar. Quero agradecer tudo o que está a fazer por mim. Eu estava em choque, mas já passou. Meu nome é Tádzio, tenho 14 anos.
- De onde você vinha e para onde ia, Tádzio?
- Eu fugi de minha casa... Não estava mais a suportar as malvadezas de minha madrasta e de seu marido.
- E para onde ia?
- Não havia em mim um destino certo. Iria dormir na rua, inicialmente. Depois iria em busca de um serviço em casa de família a fim de me manter. Sei fazer tudo dentro de uma casa: varrer, faxina completa, lavo roupa...
- Eles obrigavam você a fazer isso todos os dias? – Quis saber Joab.
- Sim... E com um chicote às mãos... eu cumpria essas obrigações ou apanhava e apanhava muito... Não viu as manchas em minhas costas?
- Vi e iria até perguntar o que eram... Meu Deus!
- Agora estou meio perdido, Joab. Levaram todos os meus pertences, aí incluindo meus documentos pessoais...
- Não se preocupe... Você ficará aqui em casa até minha mãe chegar, ela trabalha viajando e vendendo confecções., deve estar voltando por esses dias, amanhã ou depois, no mais tardar.
- E você manterá em sua casa alguém como eu, um desconhecido? E se eu for um ladrão?
Joab riu muito. Chorou de tanto rir. Depois respondeu:
- Desconhecido sim, ladrão sei que não é. Você tem aparência... Percebe-se que é um garoto de família. Você fica aqui comigo... Gostei de você, Tádzio, apesar das circunstâncias em que nos conhecemos.
- Puxa, muito obrigado! – Agradeceu Tádzio e em seus olhos viam-se as grossas lágrimas que, finalmente, inundavam seu rosto.
- Não chore – os olhos de Joab igualmente se encheram de lágrimas – você está bem e acolhido.
- Eu sei – Tádzio falou – é porque só agora consigo compreender a extensão do que me abateu e a sorte que haver encontrado uma pessoa como você, que cuidou de mim de forma tão delicada e prestativa. Posso dar-lhe um abraço, Joab?
- Sim – Joab retrucou – é claro que pode!
E ambos se abraçaram e deixaram que as lágrimas rolassem livremente em suas faces.
AMANHÃ - O CAPÍTULO I

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Antídoto Sensual

Simplesmente o amor aconteceu
Afogado em volúpia entre eu e você...
Sexo não foi apenas tônica de prazer,
É sentimento puro que não feneceu.

Delírios sussurrados expelem magia
Em átomos de sofreguidão feito pavio
Que quando acesos acariciam o cio
E ejaculam feitiços que a mente fantasia...

Aconchego de uma orgia que é incolor
Em que tudo é válido em nome do amor
E da estância onde flores fecundam carinho...

Mãos dadas, corpos uníssonos, isso é religião
Que sacia do mundo o dar e o ter no tesão

O sorriso que tira da alma a tristeza e o espinho!

sábado, 22 de novembro de 2014

Vitrine

Hei de plantar um pé de verdades sobre teu sepulcro...

Mistificaste teus próprios sonhos e bebeste das mentiras
O ópio que engorda falcatruas e confecciona fantasias

Que fazem das nuvens no céu o mar alegórico das utopias...
Nos adereços da imaginação as ondas se quebram rubras,
É o sangue deteriorado da realidade que coagula enfeitiçado...

Hei de semear sobre tua cova o mito de todas as veracidades
Já que tapeaste as horas com as alegorias de falsos ventos
E edificaste sobre o tapete da vida só  irreais monumentos
Que desabam quando as virtudes soterram áridos defeitos...

Hei de transformar o mausoléu em que dormes em atalhos
Que desnutrem as inverdades e as jogam em precipícios
A fim de que a sinceridade ressurja para um novo tempo
Em que a audácia do mundo seja um repertório de trabalho
E as iniquidades feneçam perante a arte, vitrine de fidelidade!


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Hospedagem

(  Indriso  )




Sinto calafrios... Estou cor de azeitona...

Excêntrico remate sobre a velha cama
Põe meu corpo carcomido em chamas
Após dantesca operação de fino coito...

Minhas pernas bambas fotografam azia
Pelo consumo de carne que é a alotropia
Dum processo sensual... papel carbono!


Queda...Levanto... Sou hóspede da dona!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Espinhos

Rodopiei na ganância de consumir teu pejo...

Latrocinei tua timidez e só agora sinto e vejo
Que o destempero da paixão é avião vexatório

Que escancara a decência perante o auditório
Que veste o mundo de ilusão e assassina o tudo,
Confeccionando ladainhas que não são veludo...

Deixei tua inocência num camburão de peçonha
E me percebo o larápio que contaminou teu ópio,
Cético é o anfiteatro que precisa usar microscópio
Para desvendar o endereço incógnito da vergonha...

No solo que fora ingênuo há vagões enferrujados...
Alavanquei meu senso diante de um amor proibido
E te fiz provar da maçã que descortina fogo e perigo
Que ceifam a angelitude  dentre matagais floridos,
Mas que são contrabandos de arames farpados!




segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Profilaxia do Conhecimento

Toma deste cálice, bebe do elixir da vida
Que é sangue que te ensina a sonhar,
Não com espinhos que ferem teu caminhar,
Mas com rosas cujo perfume é suntuosa bebida.

Come deste prato, sacia tua indomável fome,
Não com palavras que te revelem mentiras,
Mas com gestos em que prudentemente atiras
Todas as verdades dum verdadeiro homem.

Faze leilão com dúvidas que confundam o pensamento,
Assim podes enxergar o erro e o sofrimento
E com argúcia tu aprendes o que é amar...

Segue teu destino sem olhar o que há atrás,
Pois, as vespas contaminam o equilíbrio e a paz
E as águas dos rios têm medo de desembocar no mar!