domingo, 18 de janeiro de 2015

GERAÇÕES - PARTE II - CAP. V

GERAÇÕES
PARTE II
CAPÍTULO V
Sigmund havia em si a mesma faixa etária de Demetrius. Os primos não se conheciam, era a primeira vez que se topavam frente a frente. Logo que se viram se identificaram e se tornaram grandes e inseparáveis companheiros. Comunicavam-se em português...Sigmund, devido à mãe, falava muito bem o idioma de Demetrius, todavia este nada sabia em alemão. A convite de Demetrius, saíram num sábado pela manhã com destino a uma reserva florestal próxima à casa do primo brasileiro para caçar. Sigmund estava adorando a companhia de
Demetrius e demonstrou ser exímio caçador.
- Viu, só atirei uma vez e o bicho caiu morto. Gostou da pontaria? – Falava alegre Sigmund.
- Você é notável...parabéns! Eu vim já inúmeras vezes e confesso a você que nunca peguei nada. _ Esclareceu Demetrius.
E caíram na risada. Gargalharam até...
- Sabe, primo Demetrius, é lógico que tenho outros primos na Alemanha por parte de meu pai, não obstante, nenhum deles chega aos seus pés. – Sigmund colocou.
- Não chegam aos meus pés em que sentido? – Demetrius indagou.
- Em todos... nenhum tem sua alegria, nenhum é camarada como você, nenhum é tão bonito quanto você... Desculpe, mas é a verdade e sempre pauto pelo que é sincero...
Sem entender o porquê, Demetrius ficou felicíssimo por escutar tais elogios. Retribuiu-os:
- Vai ver que nenhum deles também é tão lindo quanto Sigmund... – Disse Demetrius, assim meio sem querer...
- Muito obrigado... Tenho imensa vontade de beijar seu rosto... Posso?
- Claro que pode. Também beijarei o seu. – Respondeu Demetrius.
Cada um beijou a face do outro. Depois, deram-se as mãos e um forte abraço...
- Como é quentinho seu corpo... como é delicioso abraçar você. – Frisou Sigmund.
-Eu que o diga: como é deveras gostoso curtir este abraço. – Retrucou Demetrius.
Separados do abraço, sentaram-se debaixo de frondosa árvore. Abriram as bolsas que trouxeram e lancharam. Sanduíches de queijo e presunto, acompanhados por suco de acerola.
- Como é deliciosa a fruta que nos fornece este sujo. Não a conhecia. Como é mesmo o nome?
- Acerola- Respondeu Demetrius – porém há ainda uma porção de frutos tropicais e genuína- mente brasileiros para você provar. Tenho certeza de que gostará mais do que a acerola.
- Pode ser que em relação aos frutos você tenha razão, mas em relação a outros primos não há a partir de agora nenhum mais importante para mim do que você.
- Puxa, Sigmund, muito obrigado por tantas gentilezas. – Demetrius agradeceu.
Terminaram de lanchar, Com um guardanapo limparam as mãos e as bocas, entretanto permaneceram sentados debaixo daquela sombra tranquila e acolhedora.
- Põe aqui tua cabeça para que possa eu acariciar teus cabelos. – Pediu Sigmund.
Demetrius deitou-se sobre as folhas e colocou a cabeça na coxa direita de Sigmund. Um gostoso cafuné dedilhou os loiríssimos e sedosos cabelos de Demetrius. Sigmund não ficou apenas nos cabelos, suas mãos passearam pelo pescoço e pelo tórax do primo, a estas alturas já sem a devida camisa a fim de receber as carícias.
- Gostei tanto, tanto, tanto de você, primo... você é muito lindo!- Sigmund afirmou.
- Também gostei muito, muito, muito de você... você também é lindíssimo... – Demetrius elogiou.
- É, porém as horas são avançadas. É melhor voltarmos para casa. – Sugeriu Sigmund.
- Exato. Levantemos e pés na estrada. – Disse Demetrius sorrindo.
Ambos se levantaram e volveram pelas mesmas veredas que haviam tomado até chegarem onde estavam. Demetrius não recolocou a camisa de volta ao corpo, deixou amarrada na cintura. Melhor para Sigmund que caminhava abraçado a ele, acariciando-o até o umbigo, pequeno e fun-
do. Deixaram a floresta para trás e, já na rodovia que os levava para casa, Demetrius, afinal, repôs a camisa.
Aquele passeio ficara marcado na mente dos dois primos. Eles estavam sempre juntos. Combinaram que, no sábado seguinte, ali voltariam e trariam sungas de banho para aproveitarem as águas de uma linda cachoeira que haviam descoberto.
Sofia Antunes recebia um grupo de americanos em seu escritório. Não os recebeu sozinha, pediu a presença de seu marido e Vice-Presidente da Fundação.
- O Governo Americano triplica os valores da oferta: pomos, se assim o desejarem, três bilhões de dólares em suas contas particulares pela venda irrestrita da Fundação e de todos os bens a ela ligados. – Disse Charles Martin, o mais velho daquela delegação ali presente.
- Como já disseram nossos antepassados, repetimos agora: a Fundação
não está à venda. – Colocou Sofia – Nossos bens são inegociáveis.
-Não sei porque vocês são tão teimosos – Frisou Charles – Com três bilhões de dólares estarão não milionários, mas bilionários para o restante de seus dias. Ademais, se quiserem, com um dinheiro desses em mãos, poderão iniciar a edificação de outro império.
- Por que vocês não pegam os três bilhões de dólares e começam vocês a construção de um império? Por que insistem na aquisição de algo que nunca estará à venda? Isso que não entendo, senhores... Isso que não entendo!
- Nós, americanos, quando colocamos na cabeça uma coisa, dela jamais desistimos até alcançarmos nossos objetivos. – Charles disse – Cinco bilhões de dólares e não se fala mais nisto.
- Desistam – mais uma vez colocou Sofia – é inegociável. Com licença, senhores.
Abriu a porta e os dispensou. Ficou a matutar com seu marido.
- Não sei, Fernando, qual o interesse deles na aquisição da Fundação. Por mais que pense, não consigo atinar porque tanto insistem.
- Ora, querida, entre os bens da Fundação está o controle acionário de uma organização bancária de origem americana e que nós arrebatamos há alguns anos.- Falou Fernando.
O assunto voltou à tona durante o jantar em casa de Sofia. Demetrius, até então calado, matou de uma vez por todas a charada.
- Tem a nossa Fundação alguma propriedade ou negócios a ela ligados na Amazônia? Demetrius inquiriu.
Foi Fernando quem respondeu.
- Tem e muitos...
- Aí está a razão da insistência deles. Claro que o banco que era americano e que está sob o nosso controle é também de interesse deles, no entanto na Amazônia há água e, daqui a alguns anos no futuro, o mundo estará carente do precioso líquido, logo, eles que não têm nada de imbecis, desejam a Fundação para terem o que faltará aos outros. – Certificou Demetrius.
- Mas é isto mesmo! Que cabeça maravilhosa! Excelente dedução, filho. Venha cá, dê-me um abraço. – Parabenizou e solicitou Fernando Azim, seu pai
O sábado tão desejado pelos garotos chegou. Logo cedo se levantaram, fizeram o desjejum, arrumaram-se e saíram. Andaram que andaram e chegaram ao destino.
- Hoje não vamos caçar – disse Sigmund – hoje quero apenas curtir esta natureza e meu primo lindo.
- Eu também tenho os mesmos desejos deste primo inigualável. – Falou Demetrius.
Procuraram um lugar seguro e se instalaram. Havia bastantes árvores em derredor e suas sombras eram convidativas. Retiraram as roupas e ficaram só de sunga de banho.
- Vem, coloca aqui a cabeça para um cafuné antes de adentrarmos na água. – Pediu Sigmund.
Demetrius deitou-se esticado e colocou a cabeça sobre as pernas do alemão. Este acariciou longamente seus cabelos, depois levou as mãos a produzirem carícias no pescoço e no tórax, viajando até o apertadinho umbigo de Demetrius. As mãos rondaram os quadris e, lentamente, pe-
netraram pela sunga, atingindo os pelos púbicos do primo que, se calado estava, calado permaneceu, curtindo as delícias daqueles instantes.
Momentos em seguida, estavam ambos nus em pelo saboreando as águas cristalinas da belíssima cachoeira. Nem é preciso dizer que, loucamente, ambos se amaram perante uma natureza verde e sem testemunhas...
AMANHÃ - CAPÍTULO VI DESTA PARTE II
A reta final de aproxima...

LITORAL DE ILUSÕES

Ó mar de águas cristalinas!
Ó águas do meu coração...
Ó vagas de solidão!
Sou alma tão pequenina...

Ó procelas de além-mar!
Ó torvelinhos que rodopiam...
Ó nuvens que tudo espiam!
Não me deixais sozinho cantar...

Nas areias do litoral sou poesia,
Sobre as pedras sou tesão, magia
E voo junto às gaivotas...

Ó lua que alumia mares e campos!
Oh... Sob o luzeiro dos pirilampos
O amor sacia as enseadas mortas!



sábado, 17 de janeiro de 2015

PESADELO

Bem que tentei ser tua imagem em mim...

Quebrei espinhos por onde andei,
Nadei na lama em busca de ti,

Mas na chuva das incertezas despenquei
E meus braços ergueram minhas pernas
Já trôpegas pelas andanças mundo afora...

Segui capenga por um destino incerto,
Naveguei  pelos mares das agonias
E dormi sobre o regaço da natureza  mãe
Acampado nos areais dos vales escuros...

Bem que tentei trazer-te à luz dos olhos,
Porém teu vulto era apenas sensações
Que me traziam arrepios no intenso calor
E nem tua sombra se compadeceu do idílio
Que me fez chorar perante dunas de solidão...

Deixei que o tempo amainasse a tempestade
De uma saudade que me corroía a existência,
Todavia as horas me pareceram desertas
E meu pensamento perdeu-se num porto vazio
Onde as embarcações enclausuravam suas velas...

Lágrimas amargas lamberam minha face nacarada
E eu não sabia onde pôr meus pés ressabiados...
Nas estradas divisei bueiros e minerais pedregosos,
Prontos para asfixiar-me uma coragem já combalida

E atolada nos pântanos selvagens das madrugadas...
Profundos precipícios circundavam meu sentimento
E meu sol transformou-se em lua em pleno dia...

Sonolento e imberbe, levei olhar para dentro de mim
E me pude despertar dum pesadelo vindo dum poço


Que me fez adormecer acordado diante do amanhecer!

GERAÇÕES - PARTE II - CAP. IV

GERAÇÕES
PARTE II
CAPÍTULO IV

Gilberto era a menina dos olhos de Arthur Antunes. Controlava até os minutos e segundos que o filho dormia. Estava atento a tudo,
principalmente às suas amizades. “Experiência própria”, pensava. Lembrou os longos anos em que seu amor ficou dividido entre sua mulher e Vicente Brusque. Absolutamente não desejava que o sentimento de Gilberto fosse bipartido como houvera sido o seu. Almejava para ele o amor único de uma mulher que pudesse dar-lhe muitos filhos e, assim, assegurar a continuidade da família dentro do puro sangue dos Antunes, sem que houvesse a necessidade de uma adoção, isso partiria a genealogia primitiva da família.
Arthur estava absorto em seu trabalho. Havia urgentes soluções a serem dadas e ele precisava de toda a tranquilidade possível. Estava em pauta a aquisição de uma rede de comunicações em que havia televisão, rádio, jornal, gravadora e uma editora. Estudava firme os prós e os contras do
possível investimento nessa área. Foi bruscamente interrompido em seus pensamentos pela chegada de Evandro Muniz, seu Vice-Presidente.
- Peço licença, Arthur, mas estou de saída e gostaria de uma rápida conversa com você.
- Pois não, Evandro, sente-se. Em que posso ser útil? – Perguntou Arthur.
- Eu e minha mulher vamos fazer uma longa viagem de recreio a fim de aproveitar o tempo de férias que você me concede. Mas este é um período em que Renan está em aulas e não tenho onde deixá-lo. Gostaria de saber se há alguma inconveniência que fique em sua casa em companhia de Gilberto.
- Nenhuma inconveniência, Renan pode ficar em minha casa durante sua ausência. – Respondeu Arthur.
- Agradeço esta gentileza de sua parte. Ainda hoje o levarei lá, visto que embarcamos pela madrugada. – Confirmou Evandro.
Ás dez horas da noite, Evandro deixava Renan em casa de Arthur debaixo de forte recomendação.
- Seja educado e atencioso com Gilberto e Arthur. Eles o hospedam, mas não têm em si qualquer obrigação em relação a isso. Trata-se de uma gentileza. – Advertia Evandro.
- Eu sei, meu pai... Que sua viagem seja maravilhosa, saberei comportar-me. – Prometeu Renan.
Renan era um ano mais novo que Gilberto, havia 15 anos. Belo garoto: moreno-claro, olhos escuros, pele lisa, cabelos pretos e ondulados. Gilberto o recebeu com alegria.
- Seja bem-vindo, Renan. Meu pai saiu, porém me preveniu que você viria.- Recebeu-o Gilberto. Em meu quarto, que é suíte, há duas camas. Você escolhe: quer ficar no quarto comigo ou prefere um aposento de hóspedes, onde ficaria sozinho e isolado?
- Se não há inconveniência, prefiro ficar no mesmo espaço que você, assim um faz companhia ao outro. – Escolheu Renan.
- Tudo bem, venha.
Gilberto separou uma parte em seu guarda-roupa, onde Renan pôde arrumar seus pertences. Depois, pegou a toalha e entrou na suíte, nunca dormia sem que antes tomasse um banho. Achou o banho delicioso, por isso demorou-se um pouco. Abandonou o banheiro enrolado na toalha.
- Você não costuma tomar banho antes de dormir? – Renan indagou.
- Sim, mas eu já tomei. – Retrucou Gilberto.
Por baixo da toalha Renan vestiu a cueca e, assim, pôde retornar ao banheiro e estendê-la.
- Seu quarto é bem equipado – Renan elogiou. – No meu não há nem metade do que há aqui.
- Gosto que seja assim, Renan, Não gosto muito de estar andando pela casa à cata do que possa precisar.
As camas ficavam bem separadas, uma em cada canto de parede, deixando um largo espaço em meio da alcova.
- Você está com sono, Renan?
- Este danado ainda não chegou. Por quê? Você está?
- Também não. Costumo dormir um pouco mais tarde. – Disse Gilberto.
- E o que você fica fazendo até que o sono chegue?
- Ah... uma porção de coisas. Lendo, vendo TV, conversando através do computador com as meninas... Depende muito da ocasião. Quer assistir à TV?
- Seria uma boa... A esta hora no canal Y passa filmes pornôs, você gosta? – Questionou Renan.
- Adoro! Boa ideia! – Colocou Gilberto.
- E seu pai, não reclamaria se nos visse assistindo a esses tipos de filme?
- Claro, todavia meu pai não dormirá em casa hoje. Foi para uma de nossas fazendas, ele está bastante concentrado nuns relatórios, analisando-os, porque está para investir aí pesado numa
mídia. Vamos então aos filmes pornôs, que legal! – Vibrava Gilberto.
Ligaram a TV num canal onde só havia cenas de sexo explícito. Cenas pesadas que os deixaram muito excitados.
- Olha só, Gilberto, como estou... – Mostrava Renan.
- E eu... não fico por menos.. – Gilberto apontava.
E mais cenas e mais sexo deixaram os dois a ponto de explodirem...
- Vou pedir licença a você – confessou Renan – mas vou ao banheiro descarregar esta energia.
- Eu também estou indo, não há como esperar mais...
Tiraram as cuecas e entraram nuzinhos na suíte. Ficaram de pé dentro do “box”, exercitando a musculatura das mãos...
- Está demorando muito...- Reclamou Renan.
- O mesmo ocorre comigo... Gilberto falou.
Longos minutos se passaram e eles não conseguiam a satisfação, foi quando Renan propôs:
- Que tal trocarmos as mãos? Talvez consigamos mais rápido...
Foi assim que atingiram o clímax. Pior que não ficaram apenas nisto, foram bem mais além e muito houve entre eles. Depois tomaram banho juntos e se deitaram para dormir.
- Nunca havia experimentado nada disso antes – Confessou Renan.
- Igual a você, jamais havia me concedido conhecer os prazeres de uma relação.
- Teremos de ter o máximo de cuidado... ninguém pode nem sonhar o que houve entre nós. – Pediu Renan.
- Claro, tudo isto é algo que só pertence a duas pessoas: a mim e a você. – Gilberto frisou.
- Combinado! – Respondeu Renan.
Adormeceram.
E se tornaram amantes, a relação entre eles duraria alguns anos...
Como o tempo não gosta do ser humano... Não oferece trégua. Avança que avança e as idades vão chegando e enchendo as pessoas de cicatrizes ou de inefáveis experiências.
Gilberto completava 19 anos e era concluinte do curso de Administração de Empresas. Arthur sofrera um AVC há um ano e não pôde mais seguir Presidente da Fundação. Precocemente Gilberto assumiu o cargo. Antes de adoecer seriamente, Arthur concluíra as negociações com o
grupo de imprensa em que passara quase dois anos estudando a possibilidade de aquisição. Finalmente se decidiu e fechou negócio, expandindo ainda mais o conglomerado de empresas ligadas e pertencentes à Fundação Mercantil Dagoberto Antunes.
Numa tarde, na sala da Presidência, Gilberto recebia Renan em visita.
- Estive pensando, Renan... ah, obrigado por haver atendido meu chamado. – Agradeceu Gilberto – amo você e por isso mesmo é necessário que mantenhamos as aparências como se nada
houvesse entre nós, como sempre foi até aqui.
- Concordo com você. Também o amo, e muito! Que tem em mente? – Indagou Renan.
- É preciso vermos belas moças e nos casemos a fim de que nossa relação nunca venha a ser comentada. Verifique que estamos muito juntos e tal fato levanta suspeitas... – Explicou Gilberto.
- Assino embaixo, agora dividir você com outra pessoa... isso é o fim da picada...
- Também penso assim, mas não nos há outra saída...
Gilberto começou um namoro com uma moça de nome Regina e Renan conheceu Amanda, por quem perdidamente se apaixonou. O tiro dado por ambos saiu pela culatra, porque a relação deles foi esfriando até que, certo dia, em comum acordo, puseram um ponto final.
Arthur não assistiu ao casamento do filho, falecera um mês antes... Renan se casou em foi morar nos Estados Unidos, os familiares da esposa haviam negócios importantes em Hollywood e pa- ra lá eles embarcaram e fizeram suas vidas. Nunca mais Renan e Gilberto haveriam de cruzar seus caminhos.
Gilberto não era de perder tempo. Em menos de um ano de casados, Regina trazia ao mundo Magnólia, sua primogênita. Sucessivamente chegaram: Carla, Esmeralda e Sofia... O sexo feminino coloria a galeria dos filhos de Gilberto.
Era extraordinário executivo, dirigia com mão de ouro a Fundação e os negócios ligados à Dagoberto Antunes. Os americanos desejavam marcar audiência com Gilberto, que os recha- çou mesmo ali na sala de espera e perante outras pessoas que esperavam para falar consigo:
- Gringos de uma figa, perdem o tempo de vocês... a Fundação não está à venda e nem estará nunca. Sumam daqui, já!
O tempo não ressona, voa... As filhas de Gilberto cresceram e todas estudaram e se formaram em Administração de Empresas. Todas elas sonhavam, um dia, sentar na cadeira de Presidente da Fundação. Tal fato enchia o coração de Gilberto de alegria. Como seu pai sempre dizia: ”Nossa família precisa crescer para que nunca falte o legítimo sangue dos Antunes na gerência principal dos empreendimentos.”
Gilberto resolve abdicar da Presidência. Mesmo não tão velho, sentia-se cansado. Resolveria em casa qual de suas filhas seria sua sucessora. O sonho estava embutido no coração de todas elas.
- Não vou fazer sorteio – disse – através de nomeação provisória darei chance a todas de sentarem naquela cadeira. Por um período de dois anos cada uma de vocês vai reger os negócios. Depois que todas passarem pelo teste, estarei sempre atento, analisando o desempenho de cada uma, eu me decidirei quem ali ficará em definitivo.
Gilberto fora muito feliz em sua decisão, assim não cometeria injustiças e todas teriam as mesmas oportunidades. Findo o prazo, ganhou a mais nova o direito de prosseguir no posto, visto que fizera uma notável administração. Sofia Antunes, era por direito de competência, a verda-
deira intérprete de um grande império e, para evitar possíveis contendas futuras, tudo ficou registrado e assinado em ata, devidamente autenticado em cartório.
Carla Antunes se casou com um alemão e fora residir na Europa. Magnólia, ao ser preterida à Presidência da Fundação, suicidou-se e Esmeralda vivia, mas jamais se casaria, porque aberta- mente confessara gostar de uma amiga de infância, Catarina Brown, e com ela residia e vivia em parceria amorosa.
Sofia contraiu núpcias com Fernando Azim, que logo viria a ocupar a Vice-Presidência da Fundação. Era um casal feliz, mas Sofia só pôde engravidar uma vez e trouxe ao mundo um único filho, de nome Demetrius. Pelo menos se contava como certa, num futuro próximo, a ascensão de Demetrius Antunes à cadeira da Presidência da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes.
Gilberto e sua esposa foram à Europa em visita a uma das filhas que lá residia, Carla. Infelizmente houve um acidente e o avião em que viajavam caiu no mar... sem sobreviventes!
O tempo dava a graça de mostrar-se. Os anos ganharam asas e eis que Demetrius estava a completar 15 anos. Diretamente da Europa, Carla viera com Gerard, seu marido , e com Sigmund,
seu filho único. Vieram ao acaso e nem sabiam que Demetrius estaria aniversariando. Ficaram hospedados em casa de Sofia Antunes. Sigmund era um garoto lindíssimo e , além dos traços da etnia alemã que possuía, igualmente havia em sua formação e em sua aparência os genes loiros e genéticos da família Antunes.
AMANHÃ - CAPÍTULO V DESTA PARTE II

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

DONO DE MIM...

Sou conexão entre o que penso e escrevo,
Em derredor de mim há arraigadas piratarias
Que tentam inundar-me de febris utopias
A fim de manipularem livremente meu acervo.

Sou estilo formatado num conteúdo definido
Em que a sensibilidade sigila planos fabricados
E dá à argumentação estradas sem ser atalhos
Por onde vagueio e exponho meus arquivos.

Sou particular dos enredos... Tenho oficinas
Que tecem meus retalhos e são minhas minas
Onde a criatividade adormece...  e desperta!

Sou privacidade... Não receio colorir pecados,
A arte libera o senso que descreve conchavos

Produzidos no íntimo que está sempre alerta!

GERAÇÕES - PARTE II - CAP. III

GERAÇÕES
PARTE II
CAPÍTULO III
Arthur Antunes baixou a cabeça e ficou pensativo. Uma onda de pensamentos invadiu sua mente. Tomar banho em companhia de Vicente poderia despertar, tanto em si mesmo como no companheiro, desejos que não conhecia e que talvez ali, em derredor daquele ambiente, não fosse o momento adequado. Seu pensar dava voltas, visitava as estrelas e aterrissava sem uma resposta, sem uma decisão...
- Não sei Vicente... Não acho legal... Nossos companheiros podem desconfiar e maliciar a relação de amizade que há entre nós.. Ficaremos marcados e cartazes dos mais abjetos comentários. Não é isto que quero para mim... – Frisou Arthur.
- Como vão saber que tomamos banho juntos se a porta do quarto está fechada? - Interrogou Vicente... Da minha boca nada sairá... a não ser que a sua seja “dedo duro”...
Arthur olhou para a porta. Realmente, estava trancada, bem trancada...
- Minha boca não é “dedo duro”... Está bem, vamos...
Tiraram as roupas íntimas que vestiam e mergulharam no chuveiro. Cada qual tomou seu banho, somente se tocaram quando um esfregou as costas do outro. Saíram do banheiro, enxugaram-se e retornaram para o quarto.
- Viu como não houve nada demais num banho a dois? – Indagou Vicente.
- Vi... Porém não é bom ficarmos nos lembrando disso... – Arthur se expressou.
- De que você tem receio? – Vicente cutucava o leão com vara curta.
- De que eu ou você passe dos limites e que haja uma intimidade que não deve acontecer...
- Uma intimidade mais profunda entre duas pessoas só ocorre quando os
dois lados querem. Se um lado o deseja e o outro não, não se corre risco. Se você tem receio é porque sente algum desejo, ou estou enganado?- Vicente aventurou.
- Vamos nos vestir, os outros nos esperam para almoçar... – Apressou-se Arthur.
Todavia Vicente não suportou... Ambos ainda estavam nus e empurrou levemente Arthur que caiu deitado sobre uma das camas. Vicente, muito rápido e sem dar chances para que Arthur raciocinasse, deitou-se sobre ele de forma frontal e buscou avidamente os lábios do amigo... A
partir daí, pode-se imaginar o que sucedeu entre os dois jovens...
O tempo avançou. Alguns anos venceram as barreiras das horas. Arthur Antunes estava a completar 20 anos e se formara em Administração. Era noivo de Thainá e amante de Vicente Brusque há cinco anos. Conseguia satisfazer os dois lados de suas paixões sem levantar suspeitas sobre suas aventuras.
Ígor, um pouco mais novo, lutava para ingressar numa faculdade de Engenharia. Curtia planos ousados para o futuro. Estica-se mais um pouco este tempo que a ninguém respeita e vamos ver Ígor diplomando-se em Engenharia Civil. Por este tempo, Arthur já contraíra matrimônio e vivia feliz ao lado da mulher, que nunca imaginara ter o marido um amante de longas datas.
Ana incorporou ao patrimônio da Fundação duas novas linhas de atuação: comprara uma grande construtora e adentrara no ramos de hotéis, adquirindo o controle acionário de uma das maiores redes hoteleiras do mundo. A conselho do marido, Bruno Visconti, decidiu aposentar-se e entregou a Presidência a Arthur Antunes. Ígor assumiu a direção geral da construtora ligada ao Grupo e manifestou interesse de enveredar pela política. Era este o teor do diálogo que mantinha
em casa durante o costumeiro almoço do domingo.
- Você tem certeza de que deseja isto para você, filho? – Interpelava Bruno Visconti.
- Sim... Tenho planos audaciosos dentro da política. Trabalharei honestamente para o povo. Meu sonho é chegar a ser Presidente deste país... – Sonhava o jovem.
- Darei todo o apoio a você, Ígor – prometia Arthur – Conheço-o e sei que jamais se misturará aos falsos políticos, aos desonestos...
- Isto mesmo, meu irmão... Vou trilhar uma linha de respeitabilidade. – Colocou Ígor.
- Se é isto que quer, daremos nosso apoio. – Finalmente concordou Bruno.
- Já fiz meu alistamento no Partido e serei candidato a Deputado Estadual nas próximas eleições. Vou entrar quente... Já que meu irmão me apoia, vou começar por conquistar o povo do
Vale das Cobras, na cidade de K, e onde foram dados os primeiros passos para a edificação deste império fabuloso que temos em nossas mãos. – Ígor asseverou.
- O que pretende fazer? – Quis saber Arthur.
- Farei por lá um pré-campanha e vou usar a máquina poderosa da Fundação neste projeto. Pretendo transformar aquele antro de malfeitores e vagabundos num bairro nobre. Calçarei todas as
ruas, porei saneamento básico em toda a vila, construirei escolas, creches, praças e tudo o mais que for preciso, haverá uma total metamorfose, o lugar ficará irreconhecível, vocês verão...
Posso fazer uso de recursos próprios para construir tudo isso? – Indagou.
- Pode – respondeu Arthur – como disse, darei total apoio aos seus projetos.
Arthur era dotado de bastante inteligência e criatividade. Acabara de adquirir o Estaleiro de Leandro Thiné, que entrara em concordata. Por sua vez, Leandro estava muito doente e viria a falecer meses depois, vitima de cirrose hepática. É que enveredara na bebida e bebia que bebia. Igualmente faleceram Juan e sua esposa, Vanusa. Os novos personagens chegavam e, os dobrados pela velhice, entregavam impunemente suas almas ao poder da morte.
Ígor pusera em prática seus ideais. Visitou o Vale das Cobras e caminhou por toda a extensão daquele bairro. Parava, dialogava com um e com outro e, assim deixou a população atenta ao futuro, a um futuro que ele prometia de realizações. E cumpriu tudo o que se predestinara a fa-
zer. Ordenou que todos abandonassem suas casas, porque elas seriam derribadas e novas e decentes moradias seriam edificadas. Num espaço de dois anos a transformação se concretizava e veio o dia da inauguração do que fora um dia o Vale das Cobras, nome que ficaria para sempre esquecido, agora batizado como Via Burguesa. O povo estava feliz. Tinham energia elétrica, água encanada de qualidade, praças públicas bem tratadas, saneamento básico e tudo o mais que
um lugar nobre pudesse conter. Ígor Antunes teria seu nome eternamente gravado no seio daquele povo. Elegeu-se Deputado, depois foi Governador e, agora sua campanha se alastrava pelo
país, era candidato à Presidência da República. Ígor era do povo e trabalhava para o povo, contudo, não tivera tempo de pensar em sua vida sentimental, permanecia solteiro e era o sonho de muitas mulheres conquistá-lo, o que jamais alguém conseguiria.
Arthur Antunes fora pai apenas uma vez: Thainá morrera em consequência do parto de seu único filho: Gilberto. Não se casara outra vez e seus dias eram para cuidar de Gilberto Antunes e dos interesses da Fundação, cada dia mais rica e poderosa.
Certa vez recebeu em seus escritórios uma delegação de importantes integrantes do Governo americano: traziam uma altíssima proposta de negociação. Os americanos desejavam assumir o controle acionário da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes e todas as suas ramificações.
- Eu lamento, porém nem a Fundação, nem qualquer ramificação a ela ligada está à venda. Perdem tempo se sonham em comprar nosso império. Tudo o que é a Fundação pertence ao povo e nós não o trairemos jamais. Como disse, sinto muito.
Os americanos insistiram em outras ocasiões, repetiram as visitas dezenas de vezes, no entanto, todas elas infrutíferas. Os Antunes não sonhavam em desfazer-se do que era orgulho da família e da Nação.
Arthur sofreria dois golpes muito perto um do outro: Vicente Brusque, o grande amor de sua vida viria a falecer num acidente de trânsito e sua mãe, Ana, entregara tranquilamente sua alma a Deus após sofrer de uma longa enfermidade: Lupus.
Estava com o coração partido. Mesmo profundamente melancólico, dedicou-se inteiramente à criação de Gilberto e dava atenções especiais ao pai, velho e cansado de guerra.
Ígor Antunes era unanimidade entre o povo. Certamente seria eleito com bastante facilidade, não havia qualquer outro candidato que lhe fizesse frente, tamanha a devoção e o amor que o povo lhe rendia. Estava em final de campanha e discursava em rede para a nação inteira, todos os canais televisivos transmitiam suas palavras:
“Meu povo, este país tem jeito, sim. Eu vou transformar de norte a sul, de leste a oeste esta Nação que sempre careceu de políticos cujos propósitos sejam apenas o de governar pelo povo e para o povo. A política em nosso país deixará de ser cabide em empregos... Só
realmente quem tiver vocação e o sincero desejo de servir, tomará as rédeas da política, porque em minha gestão: deputados, senadores, prefeitos, governadores, vereadores, presidente, ministros e secretários do executivo não terão mais salários... o trabalho será uma doação à Nação do seu tempo a fim de que possamos edificar uma pátria igual para todos, onde todos gozem dos mesmos direitos e aspirações...”
Ígor chegou cansado esta noite em casa. Estava com forte dor de cabeça... Não se preocupou, sabia ser produto dos últimos dias, havia mergulhado de corpo e alma na reta final da campanha. Agora era aguardar o resultado das urnas e comemorar.
Na manhã seguinte acordou cedo. Tomou o costumeiro banho, fez o desjejum e saiu. Iria fazer uma visita ao pai e depois almoçaria com Arthur, irmão que lhe dera total e irrestrito apoio a todos os seus projetos dentro da política.
Estacionou o carro em frente da residência do genitor. Calmamente abriu a porta e desceu, contudo não conseguiu dar mais que dois passos... Dois tiros de espingarda o atingiram em cheio na cabeça: teve morte instantânea.
Arthur estava inconsolável... Chorava no ombro do filho, ainda pequeno demais para entender das coisas da existência. Bruno Visconti passou mal quando soube e foi levado às pressas para a emergência de um hospital. O povo chorava e a Nação inteira lamentava o trágico desaparecimento daquele que fizera brotar a esperança de novos tempos. Estava consumado: Ígor Antunes estava morto... parecia um pesadelo... Ígor Antunes morrera... o país morrera... Bruno Visconti
não suportaria a dor: pereceria no hospital.
Enquanto o país enterrava um grande líder, Arthur e Gilberto sepultavam Ígor e Bruno ao mesmo tempo. Coisa de quem nasceu para viver e... para sofrer!
Arthur convidara sua prima Valéria para morar em sua casa. Marcelo e Thaís haviam morrido e a família Antunes ficara reduzida a ele, Valéria e seu filho, Gilberto. Valéria não se casara, não possuía vocação para o matrimônio... Em verdade, às escondidas, tinha um grande amor: Ber-
nadete, que fora sua companheira na escola e no curso superior de Relações Públicas.
Dias e horas se passavam. Gilberto crescia e tinha em si as mesmas características físicas, já próprias da família: cabelos loiríssimos, olhos profundamente verdes e a pela alvíssima.
Gilberto era um príncipe e, cada dia que passava, mais lindo ficava. Era o orgulho de Arthur.
Gilberto acabara de completar 16 anos. Era estudiosíssimo e aplicado, muito tenente ao pai, a quem dedicava intensa afeição. Na verdade, Arthur fora seu pai e sua mãe, visto que sua genitora falecera em consequência do seu parto.
Foi por essa época que Arthur recebeu em seus escritórios a imprensa, que há muito insistia para dele obter uma entrevista. De tanto perseverarem, afinal conseguiram.
Arthur apenas limitou-se a fazer o seguinte comentário e logo em seguida dispensou os jornalistas: “Não tenho muito a dizer... Primeiramente agradecer ao povo do meu país pelo amor e atenção que dedica aos membros da família Antunes. Segundo, afirmar que, há alguns anos venho sofrendo forte pressão do Governo americano para que me decida pela venda da Fundação e de todos os seus conglomerados. Digo e reafirmo: enquanto eu for o Presidente e tudo estiver em minhas mãos, pode o povo colocar com tranquilidade sua cabeça no travesseiro e dormir em paz: Arthur Antunes Visconti não fará qualquer negócio com aquilo que pertence ao povo e à Nação, jamais! Um dia meu filho Gilberto se sentará em minha cadeira de Presidente, mas está a aprender comigo e com a história dos nossos antepassados: a Fundação que é orgulho da família Antunes e do povo, nunca será negociada, espero que o mesmo ocorra com a descendência de meu filho. Não tenham dúvidas, o trágico assassinato de meu irmão Ígor jamais será esclarecido, ele foi vítima de um conluio político que tem duas vertentes: o de não se deixar transformar a podridão que reina há séculos e também para pressionar a família a vender nosso império tão exaustivamente construído. Nada mais a acrescentar. Obrigado.”
O comentário de Arthur Antunes repercutiu em todos os recantos do país. Todos foram uníssonos em afirmar e a concordarem com o seguinte pensamento: “Este faz parte da nata dos Antunes, um homem íntegro e que não tem medo nem papas na língua para dizer, de peito aberto, o
que o país inteiro sabe, mas silencia para não sofrer represálias...”
AMANHÃ - CAPÍTULO IV DESTA PARTE II

FUGACIDADE

O mar chora por não banhar Minas,
Suas lágrimas são imensidões de cachoeiras
Que fecundam a face duma terra hospitaleira
E onde garotos silenciam o cio das meninas...

Oceano bravio das longes serras, solidão...
Matas verdes desconhecem o sabor da saudade
E as vagas sentem da Geografia a impiedade
Pelo isolamento que é mácula e ingratidão!

Crueldade do destino ao torvelinho salgado
E às tempestades que jazem sem procelas
Perante rios que correm constrangidos...

As gaivotas cobram da natureza este pecado,
Pois, nas Gerais edificariam passarelas
Onde o amor seria abundantemente consumido!
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Poema  de  Ivan  Melo  e  Flor  de  Afrodite