sábado, 31 de janeiro de 2015

MORTE

O mundo  se acaba a cada instante,
O último suspiro leva o fio da vida,
Nada existe na morte de elegante
E ela reina alhures, incompreendida.

Trata-se de uma filosofia sem legado,
Um caramanchão de hipóteses na fé
Que vaticina verdades de Deus e Diabo
E ordenha as criaturas como bem quer.

O fim dos tempos é algo infinitesimal,
Cada qual tem seu apocalipse individual
Quando o coração decide parar de bater...

Em relação à morte a ciência é só ficção,
Na retórica da existência é o maior vilão
Que compêndios não têm como entender!





De  Ivan  de  Oliveira  Melo

GRITOS

De repente teu grito
Ecoou dentro de mim...
Juro que fiquei sem rumo,
A alma aflita,
A boca sem respostas...
Tudo repentinamente escureceu,
Um mar sem ondas
Inundou meu corpo
E tua voz raquítica
Nem pude ouvir...
Alvoroço,  emergência!
Era meu amor
Dando ciência
De que teu amor
Era meu...
O tempo se foi,
O amor diluiu-se,
Uma vegetação apócrifa
Fincou raízes
Num solo árido
Onde a esperança dormita...
Novamente teu grito
Ecoou...
Trouxe flores
E em meu jardim
Foste a rosa mais bela!





De  Ivan  de  Oliveira  Melo

SOBRE OS MARES

Ergo-me setentrional e orador no Mediterrâneo,
Sou filho do tempo e adorador do Pacífico,
Navego em águas cristalinas com dons específicos
E sobre altares de pedra sou lutador espontâneo.

Desbravo as correntezas coadjuvantes do Atlântico
Perambulando sobre vagas revoltas e bravias,
Venço aos mares, não sou enciclopédia doentia
Que se envolve em torvelinhos que causam pânico.

Batalho inimigos que cruzam afoitos o Índico
E os faço prisioneiros por serem cruéis e cínicos
Através das meridionais cavernas do grande porto...

Descanso dos bacanais de guerra assaz constrangido,
Na aurora boreal dos ventos sou soldado destemido
Que abandona sua fibra nas águas do Mar Morto!






De  Ivan de Oliveira Melo 

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

CIRCUNSTANCIAIS

Durmo sonhos na brancura do catre
E me vejo vulto sob o brilho noturno.
Meu pensamento no silêncio desnuda
A sombra que vagueia tonta e perdida
Pelo soalho de cascalho rente à areia.

Pelo olhar onírico desvendo nuances
De cores amorfas traçando caminhos
Em busca da saída entrecortada pelos
Ventos que sopram utopias nos vales
E levam consigo o respirar da mentira.

Pesadelos atrozes flutuam na mente
E assisto a cenas que traduzem terror...
Minha inconsciência se agita.  Febre!
Desperto amalgamado por intenso sono,
Ruína das tempestades do corpo quente...

Imenso deserto de solidão reina na noite
Cutucando o vácuo sombrio dos açoites
Que sibilam granizos que tocam o chão
E adornam a enseada da passarela morta
De vagas que zunem na imensidão inóspita.

A verdade sobrevive à agonia extrema
Soterrando a hipocrisia nas montanhas frias
E libertando a esperança dentre os cárceres
Enlameados por pântanos ignóbeis e cruéis,
Porém envenenados pelas próprias peçonhas!





De  Ivan  de  Oliveira  Melo

CONSCIÊNCIA ETÉREA

Levaste meu caixão até a última morada,
Meu sangue coagulado parecia apodrecido,
Mas em meu coração de cadáver hei vivido
Os derradeiros instantes de alma enamorada.

Puseste alegres flores sobre meu sepulcro
E em cada pétala uma lágrima de saudade,
Em meu sono eterno só algo será verdade:
Ser alimento de vermes e sofrer assaz estupro.

Meu corpo padeceu... na consciência há vida
E se pensas tu que meu féretro foi despedida
É que não sabes que infinito é ninho de amor...

Leva à minha campa sempre tua linda presença,
Meu pensamento é um olhar que não dispensa
Ver teu vulto e tua sombra  cultivando tua flor!



De  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

DONZELAS

Deitai vosso sono, donzelas!
Suspirai as flores de maio,
Vinde sonhar em minhas quimeras...
Enxugai vossas lágrimas, donzelas!
Levai convosco os arautos da primavera
Para que o amor floresça em vosso ventre...
Ofertai vossos beijos, donzelas!
Rendei júbilos ao crepúsculo
A fim de que no novo dia haja graças...
Sabei que vossas vidas são infinito regaço!




De  Ivan de Oliveira Melo

...MAIS UM SEGUNDO...

Dar-te-ei meu nome e serás uma dama,
A mulher a quem  o rouxinol deu asas
Para que me catasse entre taças largas
E me tornasse o mancebo de sua cama.

Falar-te-ei aos ouvidos palavras de amor,
Pois sou o homem que teu carinho vela
E mesmo perante tempestades e procelas
Cantarei a melodia que o sabiá me ensinou.

Afogar-te-ei nas águas dos meus beijos,
Porque navegar em tuas ondas eu desejo
Mesmo conhecendo teus mares profundos...

Abraçar-te –ei com a volúpia que esbanjo,
Pois sinto que estou diante de um anjo
Que me será eternidade, mais um segundo!



De  Ivan  de  Oliveira  Melo