quinta-feira, 5 de julho de 2018

OLFATO MARINHO


Despertam-me, no mar, procelas intensas...
Sobre as vagas há o perfume das tempestades
Que levam consigo os odores das majestades
Onde, em grãos de areia, guardam-se diferenças.

Amparo-me nas rochas do real pensamento
E permito que os devaneios sejam bússolas,
Pois adormeço e desperto sem as esmolas
Que a existência impõe diante do sofrimento.

Acerco-me dos segredos que, sendo delírios,
São também fontes azougadas das labaredas
Que cerzem as ideias enfeitiçadas de seda...

E, assim, consumo todos os sonhos marítimos
Sem os atrozes atropelos dos irreais desenganos
Que, via de regra, são choros e sorrisos humanos!


DE  Ivan de Oliveira Melo


quarta-feira, 4 de julho de 2018

CINAMOMO



Não me desdenhes nesta seara longínqua,
Diante dos trevos da vida nos encontraremos
Mesmo com as estradas esburacadas e bueiros...
Certamente todo apanágio tem boca oblíqua!

Não me apoquentes perante dízimos de outrora,
Há encruzilhadas onde os cofres parecem cinzas,
Pois a pólvora dissipou todas as cédulas redivivas
E. obviamente, nada resta, senão o que é lorota.

Não me crucifiques no calvário dos vilões usurpados,
Porque até ali só chegam os trapaceiros condenados
À prisão perpétua ou à pena de morte da hipocrisia...

Não me pintes nas tatuagens egocêntricas dos pincéis,
Porque não sou miniatura nem caricatura de bordéis:
Sou insigne pintor das paisagens e criador de fantasia!



DE  Ivan de Oliveira Melo   

terça-feira, 3 de julho de 2018

HAVIA MUITA GENTE


Dentro de casa havia muita gente,
Havia muita gente dentro de casa
Dentro de casa
Dentro de casa havia muita gente.

Jamais vi algumas pessoas como ali,
Até parece que lá estavam cobrando
Os poucos níqueis que havia na casa,
Jamais vi tanta gente dentro de casa,
Havia muita gente,
Dentro de casa havia muita gente,
Havia muita gente dentro de casa.


DE  Ivan de Oliveira Melo


PS : Neste poema, HAVIA MUITA GENTE,
eu o escrevi como uma paráfrase do poema
de Drummond, NO MEIO DO CAMINHO, como
uma homenagem aos 90 anos de sua publicação.

Parabéns, Carlos Drummond!

TEAR FILOSÓFICO





Não se espera crises para entender a vida,
Jamais o dever supera a gratidão...
Sabe-se que o destino é o caráter do homem
E a existência se cumpre no prazer.

Nunca se morre por crenças, pode dar erro...
Na verdade, só quem perece sabe o que é o fim.
Vive-se compreendendo o passado, todavia
É lá na frente que tudo é deveras entendido.

Se a paciência apresenta um sabor amargo,
Certamente doce não é resultado do fruto,
Quando se desvia da lei, não há progresso.

E a lei é esta: sapiência é o único poder,
Pois tem mais quem é feliz com o menos...
Acima de tudo: o homem é a medida desse tudo!


DE  Ivan de Oliveira Melo


PS: Este poema foi escrito baseado em frases filosóficas famosas.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

ETERNO AMOR




Quando você pensa em mim,
O éter me traz seus pensamentos,
Então se desdobra em meu íntimo
Avassaladora inspiração...

Nesse instante não sei se rio ou choro,
Se corro pra lá e pra cá,
Ou se paro e tento compreender seu âmago...

Na verdade, surge dentro de mim
Um jardim imponente, incomparável e indefinível
Em que você é a mais bela das flores.
Seu aroma inunda meu ser
E meu olfato treme do prazer
Que é identificar seus eflúvios astrais.

Meu pensamento se funde ao seu
E nós dois, dois em um,
Navegamos rumo ao mesmo porto
Já que esse porto se chama solidão...

De mãos dadas e corpos entrelaçados
Somos o epíteto do amor
Que se multiplica pelos andaimes do Infinito
Visto que infinito somos nós: Eternidade!




DE Ivan de Oliveira Melo

domingo, 1 de julho de 2018

NATUREZA JOVEM



Tropeça-se com frequência
Perante o pensamento dos jovens.
A inconstância é réplica em todos,
Aliás é sua natureza íntima.
Assemelha-se à aura humana
Que muda de cor conforme
As reticências do momento.
Do que se gosta hoje,
Amanhã se buscam novidades.

Evidentemente isso é reflexo
Da inexperiência e da imaturidade.
Lentamente o mundo os ensina
A colocar uma trave nas indecisões
E a equidade se torna mais constante.

Sensatez é bem valioso
E, o jovem insensato do presente,
Será o adulto catedrático do futuro.
Certamente, também, é questão
De sabedoria pessoal, pois
É necessária a tranquilidade
Para consumar,
Bem como se precisa
De inteligência para solucionar.


DE  Ivan de Oliveira Melo


INFLAMÁVEL




Meu corpo deixei ao sabor dos ventos
Das tempestades do amor que me alucina;
Oh!, Mesmo surdo ouvia os tons da rima
Que sobre mim deitava nobre sentimento.

Incontáveis luas havia na noite em derredor
Duma existência cuja caricatura era a minha;
Eis que da natureza percebo preces e ladainha,
Todas tocadas e cantadas em harpas e dó maior.

Em meus sócios desejos almejei alimentar o pejo
E nutri minh’alma dum ortodoxo prazer em chamas
Que se fez em mim sob o ignóbil influxo da cama...

Momentos de intenso e sincrônico pudor eu revejo
Sobre dourados tapetes das imensas salas planas,
Todas preparadas com o esmero que o amor inflama!



DE  Ivan de Oliveira Melo