quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

DIACRONISMO



Há espectros selvagens, não muito sinceros...
Todos prolatam que o amor não mais existe
E que há tão somente afeição fora do limite
Dentre a volúpia humana em seus hemisférios.

Tudo é efêmero num mundo que está em crise,
O sentimento se afogou perante vários critérios
Que a vida promulgou sem haver laços etéreos
E que provam à alma que sem amor não se vive.

O bem-querer é uma dádiva que nunca se altera
E dissipa os obstáculos, vivenciando-se a quimera
A fim de que a felicidade seja sempre uma tônica...

Embora o universo navegue sobre as águas turvas,
Além das retas há também inúmeras linhas curvas
Donde se obtém o real sabor duma vida diacrônica!



DE  Ivan de Oliveira Melo


ALÉM DA MORTE



Sou cadáver e durmo eternamente.
Sobre meu túmulo colocaram flores,
Murcharam tais como meus amores
E ébrio tornou-se meu inconsciente.

A vida esvaiu-se assim tão de repente
E no infinito sono eu guardo rancores
Duma existência donde só senti dores
Diante dum povaréu falso e descrente.

O tempo sublevou-me perante a morte,
Mesmo habitando numa cova, sou forte,
Pois minha memória se tornou imortal...

Pouco importa se meu corpo é carnificina,
Agora mais do que nunca sigo numa sina
Até que renasçam em mim mar e litoral!



DE  Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

RETOQUE



Sobre um chão de barro vive a esperança,
Perante um teto de palha a chuva desaba,
Em portas e janelas de madeira de cascata
O vento sopra e a tempestade me alcança.

Sobre os móveis rústicos de velhos troncos
Apinho meus pertences de alumínio e vidro,
Meu corpo se deita sobre as folhas do trigo
E meu sono é tiroteio sem cessar de roncos.

Diante do dia que amanhece sou névoa fria
Que, sem agasalho, me torturo sem agonia,
Porque na vida todos os rumos são distintos...

Sobre o massapê que desforra a minha cama,
Observo que meus sonhos sempre enganam
O tempo para que eu renasça no que sinto!



DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

IRRUPÇÃO




Amiúde há um complô em data vênia
Que enriquece tudo o que foi destarte,
Embora haja uma reflexão doravante
Estratificando os enunciados pusilânimes.

Uma balbúrdia incidental trouxe alarido
Dentre as ardilosas manifestações trucidas,
Todavia manietou-se a operação bélica
A fim de se aquietar o êmbolo de indexação.

Conquanto se permita parodiar o elixir vital,
Nada mais concorre para a euforia fleumática
Em virtude do homizio de certas construções.

Tudo parece pândego perante as venetas,
No entanto as raízes tergiversam-se isoladas
E não há qualquer individualidade pachorrenta.   



DE  Ivan de Oliveira Melo

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

TERRA MARINHA



O mar em que nado é de areia,
Pedregulhos são seus peixinhos,
As rochas maiores são as baleias
E, os seixos, são seus golfinhos.

Na alta poeira que sobe, às vezes,
Aí estão os terríveis maremotos
Que poluem o ar e são ainda estes
Causadores dos resfriados remotos.

As depressões são os redemoinhos
E estes provocam os afogamentos
Dos que se atrevem a fazer ninhos
Nas enseadas onde há movimentos.

Pássaros que voam são as gaivotas
E também outros que são albatrozes,
Mas há os tubarões que dão voltas
E vivem armados... parecem ferozes!

Esses oceanos são imensos, sem fim...
Neles, os camarões são camundongos
E, as lagostas, os gambás; no ínterim,
Tais painéis são tsunamis oblongos!




DE  Ivan de Oliveira Melo  

TERROR NOTURNO



Um grito ensandeceu a madrugada...
As luzes se apagaram. Vi o horror!
Vultos provocaram grande torpor
E meus olhos olhavam para o nada.

Gigantescas sombras sopravam medo
E nas cortinas havia muitos espectros,
Pois balançavam hediondos e eretos
As janelas que ruíam pavor e degredo.

Grande chuva invadiu o tempo denso,
As árvores mostravam a fúria do vento
E no céu havia relâmpagos e trovoadas.

Noite estranha que importou das trevas
E dos umbrais mefíticos as vis egrégoras
Das vicissitudes lúgubres das covas rasas.



DE  Ivan de Oliveira Melo

CICLO DAS IDIOTICES





Às vezes o homem se pergunta:
Onde é que estou?
Ah, não importa onde se esteja,
O que interessa é que sempre
Se estará lá!

Não se deve dar importância às horas,
Porque aquele que cedo desperta,
Certamente no dia todo estará sonolento.

A reciprocidade nem sempre funciona:
Vez por outra, entre dois, um não quer,
Mas sempre haverá quem saia apanhado.

A preguiça tomou conta da maior
Parte das pessoas:
De repente, alguém se lembra de trabalhar,
Contudo a espera faz com que
Tal desejo se dissipe....

Vive-se num mundo enlouquecido
Devido ao fascínio pela hipocrisia...
Algo deve ser dito sobre isso:
Quem mente fala verdades
Que nunca acontecerão...

O amor desse ser plantado e cultivado,
No entanto não se pode esquecer
Que, em qualquer dia,
O cavalo chega e acaba com tudo!

Sabe-se que a felicidade é efêmera,
Porém Adão a teve por excelência
Visto que nunca teve uma sogra...

Assim é a existência:
Ninguém pede para nascer
E se morre sem querer,
Então é sapiente aproveitar-se o hiato...

É importante ficar alerta,
Porquanto chefia é semelhante às nuvens,
Quando se ausenta,
O dia se torna maravilhoso...

E não se constranja:
Amigos existem, é verdade, mas...
Parecem-se demasiado com parafusos,
Só são enxergados na hora do aperto!


DE  Ivan de Oliveira Melo


POEMA INSPIRADO EM IDIOTICES DO DIA A DIA.