quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

LIAMES




Nuvens de chumbo desabam sobre a terra
E deixam sequelas sobre cerrados e campos...
Quando viaja, a madrugada acende o dia,
Ofuscando a noite diante do febril horizonte.

O Sol dardeja sua luz dentre mares que choram
A impossibilidade de umedecer o chão gretado,
É como se fosse proibido gotejar sobre a vida
E alimentar a natureza que ruge e ruge, sedenta!

O tempo, amiúde, resvala-se nas horas cansadas,
Oblitera-se na vaidade das paisagens, o espaço vazio
Que, retém do solo, o húmus restaurador do enlevo
Edificador da saúde e das peripécias oníricas...

Traduzem-se as liberdades, enterra-se a escravidão
E tudo se metamorfoseia perante odisseias sutis!



De  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

ARQUIVOS



Os pensamentos que voam sem destino
São transeuntes na esplanada dos astros
Que os recolhem incólumes, sem rastros
Do engarrafamento trépido do desatino.

As consciências que navegam no infinito
São criaturas endógenas do viver incerto
Que trucidam os reflexos que estão perto
Do tímido arrebol que macula o psíquico.

Os prazeres desnudam da alma a volúpia
Que submerge diante da inconsciência vil
E leva até o palco da turba a foto do perfil
De uma individualidade carente, estúpida!

Da indigestão onírica que perfura a mente,
Há uma fantasmagórica imagem, somente!



DE  Ivan de Oliveira Melo  

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

ARTE ESPACIAL




Mergulhei no metafísico
Para navegar sobre os astros;
Atônito, nadei alucinado no éter
E velejei conforme meu psíquico.

Sem afundar, tampouco sem afogar-me,
Consegui boiar sem os cadastros
Que se infiltram pelo catéter
E que inspira a sensibilidade da arte.

No cosmos há sensualidade sombria
E uma volúpia que assaz arrepia
Qualquer cio que se aventure escrever...

No infinito, transbordam-se alegorias
Para no tesão imaginativo que se cria
Possam as obras formar um ateliê!


DE  Ivan de Oliveira Melo



sexta-feira, 22 de novembro de 2019

EVOLAÇÃO DAS CRIPTAS



Noite escura. Ventos fortes.
Mortalhas cruzam os céus
E, do alto da árvore, sinistro...
Os corvos piam famintos!

Momento arrepiante se faz
E o medo se instala sem dó...
Vultos alucinógenos correm
Sobre os cadáveres sem leito.

Tremendo, a Lua se esconde
Dentre as insensatas nuvens
Que espalham pânico e dor
Em sua negritude metafísica.

Sombras dos umbrais cantam
O verdor luxuriante do pavor
E convidam os mortos-vivos
A saborearem o sangue fresco

Das carnificinas já apodrecidas
Dentre os inorgânicos fósseis
Que dormem à luz das covas
Abertas à visitação dos abutres.

Um orvalho negro que escorre
Diante dum manjar gangrenado,
É néctar da ignomínia que exala
Da morte tétrica e pustulenta.

Bacanais dos olfatos hediondos
Que rondam da Terra macabra
As fúnebres emanações do palor
Que atraem alicerces de loucura!



DE  Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

ORTODOXO

           


          Já me permiti ser a quem admiro, Contudo é uma experiência sem sabor,
          Em que a personalidade perdeu o crédito, E me tornou um ser descrédito,
          Pusilânime e ascético diante do figurino, Totalmente intrépido sobre o amor.

          Já me deixei banhar de infinita alegoria, Todavia fui fantoche do meu senso,
          Em que o caráter se enfeitiçou de lama, Contrariando tudo o que se inflama
          Perante os rituais de um intensa literatura, Engajada em tudo o que penso.

          Já me observei um tanto morto-vivo, Bebendo do sangue das donzelices,
          Em que virgindade diante de um vampiro, É um teor que eu apenas respiro
          De acordo com os naipes de uma usura, Planejada nos alpes das tagarelices.

          Já me analisei de dentro para fora e vice-versa, Encontrei um mundo insólito,
          Bem semelhante desta vida que anda submersa, Sem os traços que impeçam
          De eu ser o que eu queira sem muita conversa, Pois meu deserto é inóspito!



          DE  Ivan de Oliveira Melo 

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

CONTRABANDO




Madrugada de tempestades, alvoroço íntimo;
Minha inconsciência devaneia o silêncio
E, na força dos ventos, os astros gritam,
As folhas murcham e a solidão sente sede...
Eu sei que a chuva não molha, mas a fome devora
O apetite sonambúlico do prazer iníquo.

Dorme-se... O dia nasce na escuridão da saudade
E as árvores dos campos desnudam das estrelas
O brilho sardônico e empedernido da luz opaca
Que o orvalho da manhã desbotou dos sonhos.

Naufraga-se sob a égide das vagas peremptórias
Que se jogam diante das inverdades crepusculares,
Cultivadoras do sentimento impuro e cobarde,
Mas contrabandista do amor que atravessa o destino!


DE  Ivan de Oliveira Melo



domingo, 17 de novembro de 2019

REVIVÊNCIA






Troto pelas avenidas; nos sonhos, cavalgo
E galopo sobre os seixos da metamorfose;
Tempestades de areia agasalham a psicose
E, diante do Saara que há em mim, sou algo...

Embaralha-me a neve salpicada pelos ventos
E me derreto pleno sobre as geleiras da muda;
Temporais solares me aglutinam na espuma
E, diante da saudade, justaponho sentimentos.

Perambulo solene sobre os astros cadentes
E, sobre a metafísica dos corpos ainda carentes,
Sou uma bússola que demarca as distâncias...

Enveneno-me o âmago de sutil poeira cósmica
E, diante da existência assaz esdrúxula e caótica,
Mato-me a fim de que obtenha novas infâncias!


DE  Ivan de Oliveira Melo